segunda-feira, 3 de outubro de 2016


SALAMALEQUE

e

CARTAS LIBANESAS

 
 

(UM MERGULHO PROFUNDO,

E MUITO AFETIVO,

DE UMA “BRIMA” E UM “BRIMO”

NAS GAVETAS DOS ANTEPASSADOS.)

 
 
            Dois belíssimos espetáculos fizeram uma temporada relâmpago, no SESC Copacabana (Sala Multiuso) e, infelizmente, já saíram de cartaz. Como um meteoro, passaram numa velocidade que mal permitiu serem vistos por mais pessoas, porém, também, como um cometa, deixaram um rastro de luz, que permanecerá brilhando, por muito tempo, aos olhos dos privilegiados, como eu, que tiveram a oportunidade de ver e aplaudir,  muito, os dois.

            Estou falando de “SALAMALEQUE” e de “CARTAS LIBANESAS”, sobre os quais, mesmo já fora de cartaz, eu não poderia deixar de falar, sob pena de não ficar bem com a minha consciência, de crítico e apreciador do que é bom e belo.

            Os dois espetáculos têm vários pontos em comum: foram baseados em cartas de antepassados; não são produções recentes; ambos já foram indicados a vários prêmios, tendo conseguido alguns; foram apresentados no exterior; tratam de uma temática muito próxima, pois falam da memória de seus antepassados e os reverenciam; têm o povo sírio-libanês como alvo das memórias; são monólogos; são extremamente bem interpretados e dirigidos; são produções da CIA. TEATRAL DAMASCO. E o mais importante: são dois ótimos espetáculos!!!


 
SALAMALEQUE

 

 



 
SINOPSE: 
 
Entre pastas de grão de bico, água aromatizada com ervas e pão com zátar, ELIZETE (VALERIA ARBEX) recebe o público, na cozinha da sua infância.
 
Os espectadores, convidados a “sentar-se à mesa”, são conduzidos, através da memória da personagem, a compartilhar das histórias, dos aromas dos pratos e bebidas preparados na hora, e das cores e melodias do universo árabe.
 
Enquanto conta suas histórias, ELIZETE vai preparando uma típica ceia árabe, que será degustada pelo público ao final da peça.
 



 


            Passarei a sintetizar alguns dos trechos doa rico “release”, que me chegou, por meio da competente assessoria de imprensa (JSPontes – João e Stella), que, de certo, ajudarão, àqueles que não tiveram a oportunidade de assistir ao espetáculo, na sensação de imaginá-lo utilizando os cinco sentido, principalmente a visão, o olfato e o paladar, já que trata de uma peça “sensorial” 

O trabalho, resultado de cinco anos de pesquisa da atriz VALÉRIA ARBEX e da CIA. TEATRAL DAMASCO, foi criado a partir de 68 cartas de amor, trocadas entre um casal de imigrantes sírios, na década de 1930, Nicolau Antônio Arbex e Nadime Neif Name, avós de VALÉRIA e imigrantes árabes, que tiveram suas vidas cruzadas, após a chegada ao Brasil. “NADINE e NICOLAU ainda não se conheciam, pessoalmente, e se preparavam para um tradicional casamento, arranjado pelas famílias, o chamado ‘acordo de bigodes’, quando estavam prometidos um ao outro, durante o período de noivado até a véspera do casamento”. Além do conteúdo das referidas cartas, VALÉRIA, em sua pesquisa, também entrevistou árabes e descendentes destes, nas regiões da SAARA, no Rio de Janeiro, e da Rua 25 de Março, em São Paulo, conhecidamente dois polos de negociantes árabes, tendo colhido interessantes relatos, incorporados, direta ou indiretamente, ao texto da peça.

 
 
 
Toda a encenação se dá numa cozinha, onde a atriz prepara os pratos, durante a apresentação, para serem servidos, ao público, numa típica ceia árabe, ao final do espetáculo.

O monólogo tenta, e consegue, trazer, ao presente, uma época passada, marcada pela forte imigração do povo árabe e seus vizinhos, jogando um foco sobre os seus rituais e sua cultura, de uma forma bem poética, mostrando, com o máximo de realismo possível, a verdade sobre aqueles povos, desmitificando imagens negativas sobre eles.  A encenação passa ao público uma experiência de acolhimento e tolerância , diz ALEJANDRA SAMPAIO, autora da dramaturgia, ao lado de KIKO MARQUES.

Ao mesmo tempo, a peça propõe uma oportuna “reflexão sobre a questão da imigração nos dias de hoje , quando há tantos refugiados - em especial sírios - em busca do acolhimento de uma nova terra, para viver e criar seus descendentes, mas confrontados com a inabilidade de parte significativa do planeta em lidar com esta questão’. Aqui, o aspecto da (in)tolerância cria corpo.


 
 

De acordo com a atriz e idealizadora do projeto, VALÉRIA ARBEX, SALAMALEQUE” “é uma colcha de retalhos de histórias que ouvi, da memória de minha família, da pesquisa gastronômica e histórica que fiz”. É uma reverência aos imigrantes, é um caminho de volta à minha origem, um reencontro. Por meio de uma relato franco da personagem, ELIZETE, neta de sírios, pretendemos desmitificar uma imagem equivocada sobre o povo árabe, muitas vezes, associado à intolerância.

            O espetáculo traz uma dramaturgia leve, que provoca uma integração total entre a atriz e a plateia, muito por conta do carisma e do talento de VALÉRIA ARBEX, da sua naturalidade, na interpretação, do tanto de amor e de verdade que ela impõe ao seu trabalho, muito bem dirigido, a quatro mãos, por KIKO MARQUES e DENISE WEINBERG, dois premiados profissionais em seus ofícios.


 


Merece destaque o cenário realista, de CHRIS AIZNER, que reproduziu a cozinha de uma típica casa árabe, com muito apuro, não deixando passar um detalhe na direção de arte. Ele também é responsável pelo singular figurino da peça.

            GUILHERME BONFANTI caprichou na iluminação, e a música típica árabe esteve muito bem representada pela boa trilha sonora original, dos irmãos SAMI BORDOKAN e WILLIAM BORDOKAN, que compuseram músicas inspiradas nas canções do folclore sírio-libanês do começo do século XX, utilizando instrumentos típicos e originais, como alaúde, derbaki e nai (percussão e flauta árabes, respectivamente).


 


            Curiosamente, o espetáculo, que já ganhou vários prêmios, desde sua estreia, em 2013, no Viga Espaço Cênico, em São Paulo, mantendo, desde lá, sempre, várias temporadas, inclusive com apresentações no exterior, é apresentado, na rubrica “gênero”, não como “comédia”, “drama” ou outro qualquer; é apresentado como um “encontro”. De que com o quê? Ou com quem?

            Sendo, como já tive a oportunidade de dizer, um espetáculo “sensorial”, é possível falar que se trata de um encontro com cheiros e sabores e com a memória afetiva dos descendentes dos povos árabes.

            Sem dúvida alguma, um belíssimo e emocionante espetáculo, que merecia uma extensa temporada, e não apenas três semanas em cartaz. Oxalá (Ou seria melhor dizer Alá ou Allah?) possa surgir uma oportunidade para uma nova e mais longa temporada no Rio de Janeiro, que pudesse atender, principalmente, à imensa colônia sírio-libanesa que conosco convive e que amamos tanto!
 
 


            Em tempo: o espetáculo me lembrou outro grande, recente, com o qual guarda muita semelhança, e que também me emocionou bastante, nas três vezes a que assisti a ele. Refiro-me a “BRIMAS”, igualmente premiado e magnificamente representado por Beth Zalcman e Simone Kalil, também responsáveis pelo texto, com direção de Luiz Antônio Rocha.

 




 
FICHA TÉCNICA:

Realização e Coordenação Artística: Cia.Teatral Damasco
Dramaturgia: Alejandra Sampaio e Kiko Marques
Direção: Denise Weinberg e Kiko Marques
 
ATRIZ: VALÉRIA ARBEX
 
Cenografia e Figurinos: Chris Aizner
Trilha Sonora Original: Sami Bordokan e William Bordokan
Iluminação: Guilherme Bonfanti
Glossário Árabe-Português: Mamede Jarouche
Consultoria Gastronômica: Graziela Scorvo Tavares
Fotos: Lenise Pinheiro
Projeto Gráfico e Ilustrações: Aida Cassiano
Idealização do Projeto: Valéria Arbex
Cenotécnico: Mateus Fiorentino
Produção: Patrícia Gordo
Técnico  de Som e Luz: Ricardo Barbosa
Apoio: SESC Rio
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
 

 

 
 
 
"CARTAS LIBANESAS"



 



 
SINOPSE:
 
O enredo é ambientado no início do século XX, em São Paulo.
 
A peça conta a história de MIGUEL MAHFUZ (EDUARDO MOSSRI), um jovem mascate libanês, que chega ao Brasil, em 1914, fugindo da Primeira Guerra Mundial, com o intuito de prosperar financeiramente e, logo, voltar ao Líbano, onde deixou sua esposa grávida.
 
Após anos de trabalho e sofrimento, descobre-se apaixonado pela nova terra e decide convencer a mulher a vir morar com ele no novo país.
 



 
 

Em 2009, o ator EDUARDO MOSSRI, descobriu, por acaso, várias cartas que sua avó recebia do seu avô, imigrante libanês, o qual tentava ganhar a vida no Brasil, no início do século XX. Reunido esse material, EDUARDO apresentou-o a JOSÉ EDUARDO VENDRAMINI, dramaturgo, encenador, pesquisador e professor premiado, também descendente de libaneses, que as reuniu, juntando-as a uma pesquisa de relatos verídicos de outros imigrantes libaneses, no Brasil, para construir o texto da peça, um monólogo, que, antes de chegar ao Rio de Janeiro, fez um enorme sucesso em São Paulo, duas das cidades brasileiras com uma considerável comunidade árabe, muito maior, inclusive, entre nativos e descendentes, que a própria população local do Líbano.
 
 


            Segundo o excelente ator EDUARDO MOSSRI, A peça é a história de um mascate, contada por um ator mascate, que resgata suas próprias histórias, para refletir sobre a imigração. É uma ode de amor e gratidão a todos aqueles que imigraram e enriqueceram nossa identidade cultural.”.

Como ator, EDUARDO, além de muitos espetáculos de sucesso realizados no Brasil, também já nos representou no exterior, com outros espetáculos, em Santiago de Compostela e Lugo, na Espanha, e no Museu da Lousa, no Porto, Portugal, além de ter ampliado seus estudos de interpretação em Londres. Esse currículo justifica a brilhante presença do ator em cena e sua total entrega ao personagem, por competência profissional e por envolvimento emotivo/afetivo. É dono de um carisma e de uma simpatia a toda prova, postos em prática, desde antes de iniciar o espetáculo, quando pergunta a cada um dos presentes seu sobrenome (para, de uma forma muito carinhosa, fazer uso deles no final do espetáculo); algumas vezes, a pergunta vem acompanhada de um ligeiro “papinho”, com direito a um largo, belo e sincero sorriso do ator. 


 

            Segundo o diretor do espetáculo, que valoriza muito os sons contidos na peça, Quero que a voz do EDUARDO exista na mesma intensidade que a trilha. Nesta encenação, a música e os sons terão o mesmo volume e importância que a voz falada, uma história contada, principalmente, pelo som. E isso ele consegue, por parte do ator e da ótima trilha sonora original, de GREGORY SLIVAR.

            Como cenário, de RENATO BOLLELI, apenas uma enorme arca, do mascate, que o ator movimenta em cena, com grande esforço físico, apesar de seu considerável porte físico. Ao mesmo tempo, é o grande objeto que contém as quinquilharias e as novidades do Oriente, vendidas pelo ambulante, e que, também, guarda os segredos de uma família e de uma cultura milenar e, ainda, tão pouco conhecida e divulgada entre nós. Para completar a proposta de poucos elementos cenográficos, uma espécie de ribalta, misturada a ralos ramos de cedro, a árvore símbolo do Líbano, no formato de um semicírculo, torres de luz, ao fundo, e um pedestal com um microfone de modelo bem antigo.


 

            É impecável o figurino, criado pelo consagrado estilista FAUSE HATEN, também de ascendência libanesa: um terno de linho, de fino corte, em cores claras, um exemplo da elegância masculina do início do século XX.

            A iluminação, de MARCELO LASSARATTO, é bem discreta e acompanha as cenas naquilo em que elas merecem ser mais ou menos postas em foco.

Embora um pouco recente, pois estreou em 2015, a peça já participou, a convite, de festivais internacionais de TEATRO, no Marrocos e em Beirut, além de alguns outros brasileiros, conquistando prêmios e muitos aplausos e críticas positivas, tanto dentro como fora do país.
 



            Embora ambas as peças tenham ocupado, por tão pouco tempo a Sala Multiuso do SESC Copacabana, não me furto a dizer que dignificaram e honraram aquele espaço, sendo dois dos melhores espetáculos ali apresentados nos últimos tempos.
 

 
 

            Por oportuno, sinto-me inclinado a repetir o que já falei sobre “SALAMALEQUE”:

Sem dúvida alguma, um belíssimo e emocionante espetáculo, que merecia uma extensa temporada, e não apenas três semanas em cartaz. Oxalá (Ou seria melhor dizer Alá ou Allah?) possa surgir uma oportunidade para uma nova e mais longa temporada no Rio de Janeiro, que pudesse atender, principalmente, à imensa colônia sírio-libanesa que conosco convive e que amamos tanto!
 

 



 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: José Eduardo Vendramini
Direção: Marcelo Lazzaratto
 
ATOR: EDUARDO MOSSRI
 
Cenário: Renato Bolleli
Iluminação: Marcelo Lazzaratto
Trilha Sonora: Gregory Slivar
Figurinos: Fause Haten
Assistente de Direção: Wallyson Motta
Preparação Vocal: Rodrigo Mercadante
Visagismo: Nael Kassees
Fotós: Felipe Stucchi e Nanah D'Luize
Produção: Eduardo Mossri
Apoio: SESC Rio
Realização: Cia. Teatral Damasco
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
 
 

 

            Tanto numa como na outra, o público se sente abraçado, virtualmente, por VALÉRIA e EDUARDO, representando um abraço entre povos diferentes e de culturas tão diversas, mas que se entendem como irmãos.

E viva o amor entre os povos!

E que cessem, de uma vez por todas, as guerras e a xenofobia!

E que o TEATRO possa ser um dos vetores, para que isso aconteça!

E viva o TEATRO!

 

 

(FOTOS: LENISE PINHEIRO,

FELIPE STUCCHI

e

NANAH D'LUIZE)

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