sábado, 29 de novembro de 2014


HOMINUS BRASILIS
 
 
(UM DESAFIO ARREBATADOR
ou
UM BRASIL QUE CABE NA PALMA DA MÃO.)
 
 
 
 
No dia 16 de setembro deste ano, dois dias antes de terminar sua temporada, assisti a um dos melhores trabalhos em TEATRO de 2014 e saí do Centro Cultural da Justiça Federal muito feliz e ratificando, mais uma vez, a minha já certeza de que existe uma quantidade incomensurável de gente de talento, artistas anônimos, ou quase, que, por não receberem as benesses da grande mídia, continuam esquecidos, oferecendo, porém, a quem tem a sorte de conhecê-los, o que há de melhor na arte que abraçaram.
 
            Foi isso o que aconteceu naquela 3ª feira, depois de ter assistido a HOMINUS BRASILIS, cuja temporada se encerraria dois dias depois, quando, em função do grande sucesso de público, graças à divulgação boca a boca, a melhor de todas as formas de divulgação, a peça foi apresentada também numa sessão extra.  Um amigo, a quem eu recomendara o espetáculo, foi no último dia e, de tão impressionado com o que vira, saiu de uma sessão e, imediatamente, comprou ingresso para a extra.  E me agradece, até hoje, pela indicação.
 
            Como achei que não valeria a pena, em termos de divulgação da peça, já que sairia logo de cartaz, escrever uma resenha sobre ela, e nem tempo eu teria para isso, como forma de proporcionar aos meus amigos a oportunidade de assistir a um espetáculo de extrema qualidade artística e profissional, e também para “dar uma força” aos envolvidos no projeto, limitei-me, na ocasião, a escrever, do fundo do meu coração, na minha página no Facebook, um comentário sobre o que vira e que me causara tanto impacto, deixando-me o gostinho de “quero mais”.  Os responsáveis pela página do espetáculo, naquele rede social, compartilharam meus comentários, que quase já valem como uma resenha, e que, aqui, reproduzo, com algum possível erro gramatical, justificado pela grande emoção com quando me pus a escrever:
 
 
 
 
 
A criação do mundo...
 
 
 
...e ele vai surgindo...
 
 
 
O mundo é maior que isto, quase igual ao tamanho do talento do elenco.
 
 
            Felizmente, esse espetáculo voltou ao cartaz, e eu fui revê-lo, ao lado de uma historiadora e uma educadora, que também se encantaram por ele.  Está sendo apresentado, apenas até o dia 14 de dezembro, no Teatro Maria Clara Machado (leia-se Planetário), um espaço simpático, porém muito mal localizado, ao lado da PUC, e pior ainda divulgado.  A começar pelo nome, uma vez que sempre foi chamado de “Teatro do Planetário”, mas, com a morte desse grande ícone do Teatro Infantil, que é Maria Clara Machado, a prefeitura resolveu fazer-lhe uma homenagem.  Em vez de construir um teatro e batizá-lo com o nome da grande e inesquecível Clara, trocaram o nome do outro, já bem conhecido, pelo da grande dramaturga, o que faz com que as pessoas o confundam com o Teatro Tablado, na Lagoa, fundado e administrado por ela, durante décadas, berço de tantos grandes nomes do TEATRO BRASILEIRO.  Conheço muita gente que já foi parar num, pensando estar indo ao outro.
 
            Mas voltemos ao nosso HOMINUS BRASILIS, que, na verdade, deveria até receber outro título, por mostrar o nascimento e a trajetória do HOMEM NO PLANETA.  A ênfase maior, porém, é dada ao homem brasileiro. 
 
Criatividade, originalidade, precisão, detalhismo, meticulosidade, síntese, apuro, talento são algumas das palavras-chave relacionadas a essa montagem.
 
 

2001, Uma Odisseia no Espaço.
 
 
            Uma parte da plateia poderá sair do teatro sem entender algumas passagens, mas não será outra a causa disso, senão sua própria falta de conhecimento da História da Humanidade, ainda que as mímicas sejam perfeitas e possibilitem a identificação de cada momento antropo-histórico encenado.  Tenho o hábito de ser um dos primeiros a sair do teatro, para poder observar as reações das pessoas e ouvir seus comentários sobre a peça, e, nas duas vezes em que tive a grata satisfação de assistir a ela, não ouvi um comentário negativo sobre o espetáculo.  A maior parte da encenação é de “mais fácil percepção” para os menos “preparados” para esse tipo de espetáculo. 
 
Algumas cenas são antológicas, como a da explosão do Big Bang, teoria que justifica, ou explica, a origem da Terra; a da luta entre os dinossauros, para garantir a sua sobrevivência, assim como a da sua destruição por um enorme meteoro, que atingiu seu hábitat, aproximadamente há 65 milhões de anos.  Não podem ficar de fora da lista de cenas marcantes, no espetáculo, o triste episódio da Inquisição, com a queima de humanos em fogueiras; o contato entre portugueses e indígenas e os métodos, “politicamente incorretos”, empregados na sua “pacificação”; os maus tratos do branco ao escravo negro; a miscigenação da nossa raça (europeus e índios, europeus e negros)...  E é claro que não poderiam ficar de fora, também, os eventos que marcaram as páginas negras da nossa história, escritas pelo Golpe Militar de 1964, e a luta do povo pela volta ao regime democrático.  Tudo isso, e muito ainda, do que foi mais marcante na trajetória do ser humano na face da Terra, lá está, mais representado por gestos e sons naturais do que por palavras.
 
 
 
Lambreta, na juventude transviada dos anos 50.  Haja criatividade!
 
 
A proposta do enredo bem poderia ser executada com o apoio de uma grande dramaturgia (texto escrito, para ser decorado); o espetáculo poderia ser muito longo, em vez de durar apenas 60 minutos, dividido num mosaico de cenas isoladas, representando cada momento histórico desejado pelo dramaturgo, com muitas mudanças de cenários, araras repletas de figurinos, uma superprodução.  Exatamente por não acontecer nada disso é que o espetáculo se reveste de todos os elogios que podem ser atribuídos a uma montagem teatral, além, só para começar, do inusitado fato de tudo ser representado por apenas quatro pessoas, sobre um praticável de cerca de 30 centímetros de altura, medindo dois metros quadrados (juntam-se dois praticáveis de um metro quadrado cada), que não se movem; não há um único elemento cenográfico ou que sirva de adereço; o figurino é único: uma roupa de malha elástica, branca, para cada ator/atriz; a luz é a mais simples e pouco variável possível; não há o emprego de qualquer parafernália técnica, eletrônica.  E o resultado de tudo isso?  Simplesmente, um espetáculo lindo, simples, original, encantador, de deixar saudade.
 
O elenco e o supervisor da montagem, Júlio Adrião.
 
 
 
Para finalizar, apenas um pouco sobre a técnica da “plataforma” e como os atores chegaram a ela, o que, certamente, dará aos que já assistiram à peça e aos que ainda irão fazê-lo, um entendimento maior deste pequeno GRANDIOSO espetáculo.
 
Busca ela utilizar um espaço de cena mínimo para a dramatização de histórias grandiosas e épicas.  Já vem sendo empregada, em excelentes espetáculos, no exterior e tem sido objeto de estudo da CIA DE TEATRO MANUAL, desde 2011, quando MATHEUS LIMA e HELENA MARQUES, casados, retornaram de um intercâmbio de pesquisa, na Inglaterra, financiado pela Funarte, na Lispa (Escola Internacional de Artes Performáticas de Londres), viagem fruto de um prêmio que MATHEUS ganhara, por um projeto seu. 
 
Foi lá que o casal foi apresentado a essa técnica.  Já em terras brasileiras, mostraram a ideia a DIO CAVALCANTI, irmão de MATHEUS, e PATRÍCIA UBEDA.  Foram três ou quatro anos de pesquisa e os ensaios de HOMINUS BRSILIS começaram em 2012.  Toda a construção do espetáculo é de responsabilidade dos quatro, mas conta com a luxuosa supervisão de JÚLIO ADRIÃO, grande ator e diretor, que já faz parte da galeria dos grandes nomes do TEATRO BRASILEIRO, por conta de seu irretocável trabalho em A DESCOBERTA DAS AMÉRICAS.
 
 
 
O mundo pela TV.
 
 
 
A propósito de JÚLIO ADRIÃO, encontrei-me com ele, na saída do CCJF, quando da primeira vez em que vi a peça, e conversamos um pouco sobre ela, o grupo e o casamento do grande ator com o elenco.  Era indisfarçável a sua emoção, ao falar sobre os atores, sua garra e talento.  Falou-me de toda a dificuldade que os quatro tiveram de superar para pôr em prática esse maravilhoso projeto, ao qual ele, JÚLIO, se incorporou, sem ter pensado duas vezes, e que espero que ainda continue em cartaz em outros teatros.
 
Não farei comentários sobre a ficha técnica, pois acho que, depois de tudo o que já disse, qualquer palavra se tornaria desnecessária.  Apenas para concluir e reforçar: DIO CAVALCANTI, HELENA MARQUES, MATHEUS LIMA e PATRÍCIA UBEDA SÃO QUATRO MAGNÍFICOS ATORES!!!
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lírico, emocionante, engraçado, épico, dramático, irretocável, genial... 
 
Assistam à peça e acrescentem os adjetivos que acharem necessários!
 
 
 
 
FICHA TÉCNICA:

Idealização: Matheus Lima e Helena Marques
Dramaturgia, Concepção e Direção: Cia de Teatro Manual
Supervisão de Cena: Julio Adrião
Elenco: Dio Cavalcanti, Helena Marques, Matheus Lima e Patrícia Ubeda
Colaboração Artística e Stand In: Camila Nhary, Bernardo Schlegel, Diego de Abreu
Iluminação: Gustavo Weber
Operação de Luz: Júlia Faria
Identidade Visual (Arte Gráfica): Thais Gallart
Desenhos: Nicole Schlegel
Ilustrações: Nicole Schlegel
Figurino: Camila Nhary
Assessoria de Imprensa: Clarissa Cogo
Produção Executiva: Bernardo Schlegel e Juliana Trimer
Produção: Botão Cultural
Realização: Cia de Teatro Manual (Dio Cavalcanti, Helena Marques, Matheus Lima e Patrícia Ubeda
 
 
 
 
 Diogo Cavalcanti, Helena Marques, Matheus Cavalcanti e Patrícia Ubeda estão no elenco
Não precisa de legenda.
 
 
 Toda a encenação se dá sobre uma plataforma de dois metros
Idem.
 
 
 
 
SERVIÇO:

Teatro Maria Clara Machado (PLANETÁRIO)
Temporada: Até 14 de dezembro
Dias e Horários: 6ªfeira e sábado, às 21h; domingo, às 20h
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 10 anos
Valor Ingresso: R$ 30,00 (inteira) R$ 15,00 (meia)
 
 
 
 De forma lúdica, os atores contam a história da humanidade, do Big BAng aos dias atuais
Patrícia, Helena, Matheus e Dio.
 
 
Um “selfie” com a plateia.
 
 
 
(FOTOS: BERNARDO SCHLEGEL, MARIANA BARCELOS e JAQUELINE SAMPIN)

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