domingo, 21 de setembro de 2014


BEIJE MINHA LÁPIDE

 

 

(WILDE? BALA? NANINI!!!)

 

 

 

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            Todo ano, no Dia de Finados, a mídia mostra, aqui, no Rio de Janeiro, e em outras capitais brasileiras, uma grande quantidade de pessoas, fazendo peregrinações aos túmulos de artistas e outras personalidades.  Em algumas cidades de outros países, porém, essa procura aos túmulos de gente famosa é uma atividade diária, e turística. 

Ir a Washington DC, por exemplo, e não visitar o Cemitério (militar) Nacional de Arlington é quase que como uma ida a Roma, sem conhecer o Vaticano (não precisa ver o papa).  Nele, os túmulos mais visitados são os de John Kennedy e de seu irmão, Bob. 

Ainda nos Estados Unidos, o Forest Lawn, uma cadeia de cemitérios, que abrange nove parques mortuários, espalhados pelo sul da Califórnia, serve de última morada para vips, como Michael Jackson, Walt Disney, Humphrey Bogart, Nat King Cole, Sammy Davis Jr., Bette Davis...

Em Buenos Aires, qualquer roteiro turístico inclui, pelo menos, uma passagem pela porta do Cemitério da Recoleta, onde a grande atração é o túmulo de Evita Perón.

Em Paris, esse nicho do turismo é bem desenvolvido.  O Père Lachaise, um dos cemitérios mais famosos do mundo, é um dos que mais atraem turistas, para visitar os túmulos de celebridades ligadas ao mundo das artes.  Estão sepultados ali, por exemplo, La Fontaine, Molière, Jim Morrison, Édith Piaf, Marcel Proust, Frédéric Chopin, Sarah Bernhardt... e o escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900), cujo mausoléu é um dos mais visitados.

            Um fato comum, ainda que bastante inusitado, publicado na mídia, e uma mente brilhante, como a do jovem e talentoso dramaturgo brasileiro JÔ BILAC, foram mais que suficientes para o surgimento de uma grande história, de um grande texto teatral e, consequentemente, de um grande espetáculo, que está ocupando o palco do Teatro do Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro.  Chama-se BEIJE MINHA LÁPIDE, dirigido por BEL GARCIA e protagonizado por MARCO NANINI, tendo como coadjuvantes “de luxo”, PAULO VERLINGS, CAROLINE PISMEL e JÚLIA MARINI.

            O texto, excelente, foi construído sobre um acontecimento real, que serviu de base ou de pretexto para o desenvolvimento de uma história.  O lado real da trama é o fato de os fãs de OSCAR WILDE, quase “devotos de um santo”, terem desenvolvido o bizarro ritual de beijar o túmulo do escritor, utilizando batom exageradamente vermelho, como marca dessa devoção, o que gerou, por conta da acidez da saliva e dos elementos químicos que entram na composição do cosmético, um processo químico de degradação da superfície em que as marcas eram “indelevelmente” fixadas.  Isso fez com que a administração da necrópole, em 2011, tomasse a decisão de blindar o túmulo, com uma redoma, um cubo, de vidro. 

Aqui, põe-se um ponto final na realidade e abrem-se as portas para a ficção.  Por conta dessa “arbitrariedade”, desse “absurdo”, do ponto de vista de BALA, um arrebatado e fervoroso de WILDE, o ardente fã, num gesto impetuoso e desprovido de qualquer mínimo sentido de bom senso, em sinal de protesto, viola a proteção, uma bela metáfora para a não-aceitação do autoritarismo, da imposição das regrais sociais, da intolerância, quebrando a barreira de vidro que o separa de seu “deus”, atitude que o leva à cadeia.  BALA, em um acesso de "loucura", reage contra um sistema opressor e aprisionador, ao mesmo tempo, paradoxalmente, ameaçado pela fragilidade do “infrator”, do “transgressor”.

 

 

 


 

 

            Numa brilhante sacada da direção e da cenógrafa, DANIELA THOMAS, a cela em que o prisioneiro está confinado é um gigantesco cubo de vidro, que o isola, totalmente, muito mais que grades, da sociedade, com a qual ele não tem o menor direito de conviver (a proteção de vidro é uma forma segura de isolar o bem do mal, o bom do mau), assim como ocorreu a OSCAR WILDE, homossexual assumido, que passou dois anos preso, no final de sua vida, por conta da acusação de “cometer atos imorais com rapazes”, feita pelo Marquês de Queensberry, pai do Lorde Alfred Douglas, apelidado de Bosie, com quem o escritor teria se envolvido.

            Mais uma vez, a terrível e destruidora hipocrisia humana campeando: a relação homossexual entre WILDE e Alfred era bilateral, mas a “culpa”, certamente, era da outra parte, “não do meu filho”.  Como nos dias de hoje: o filho do vizinho é que é o veado, a bicha, o pervertido; o meu, quando muito, é “homossexual”; na maioria das vezes, “gay”, termo com o qual a sociedade hétera menos implica.  De preferência, o melhor é não enxergar nada de “anormal” nele, a não ser um “excesso de sensibilidade”.

            Durante o período em que esteve preso, OSCAR WILDE, cuja obra máxima é O Retrato de Dorian Gray, uma autobiografia, para muitos, escreveu algumas outras obras, inclusive o famoso texto De Profundis, em 1897, em forma de uma longa carta, que teria sido endereçada ao seu amado Alfred Douglas, na qual, numa atitude de amor e ódio, WILDE o acusava de arruinar a sua vida, tendo sido o grande causador de seu sofrimento e da destruição da sua condição humana e de escritor.  Na cadeia, ele perdeu a saúde e a reputação.  Quando saiu, viu-se obrigado a viver de maneira humilde e morreu em 1900, de meningite, agravada pelo álcool e pela sífilis, fase retratada na peça.

O conteúdo de De Profundis, como já sugerido pelo título (Das Profundezas) encerra uma profunda autoanálise de consciência, por meio da qual WILDE “tece reflexões e observa, a distância, a sua própria tragédia.  Ali, ele se vê fora de sua vida de luxo e sucesso, que tinha, desde então, e mostra como a prisão redimensionou as suas percepções sobre a vida e a morte”, como afirma JÔ BILAC.  E eu completo: sobre a vida, a morte e o amor.

 

Cabéra/divulgação

 


 

            Mas não pensem que a proposta da peça é contar a vida de OSCAR WILDE, muito menos que seja uma adaptação de De Profundis, entretanto traz à tona, para reflexões, muito da posição do romancista, que está presente em De Profundis, sobre preconceitos e julgamentos.  Segundo MARCO NANINI, “Bala, que também é escritor, bissexual, e comunga com o pensamento de Oscar Wilde, questiona o absurdo do julgamento do escritor, a maneira como ele foi tratado.  De forma intencional, mas não panfletária, a peça tem um discurso contra essa onda violenta de nossa sociedade, que se manifesta não somente no preconceito sexual, mas também no racial”, o que pode ser conferido por quem for assistir ao espetáculo, sobre o qual, se pode dizer que é muito atual, no momento em que as pessoas sensatas, e que merecem a classificação de “seres humanos”, estão clamando por um verdadeiro e justo tratamento a todas as pessoas, independentemente de seus gostos, preferências ou lá o que sejam, em relação à prática sexual, o que só diz respeito a cada um.  Esta peça é mais um libelo contra a homofobia e a intolerância, de modo lato e irrestrito.

            Sobre o texto, magnífico (não me canso de elogiá-lo), podemos dizer que ele apresenta analogias com a vida e a obra de WILDE, com algumas citações mais explícitas e outras que se percebem nas falas e nas histórias das personagens.

            O roteiro foi feito em cima do livro, de Peter Ackroyd, “The Last Testament of Oscar Wilde”, um diário fictício sobre seus últimos dias.

É um texto que, apesar de denso, pelo assunto de que trata, consegue fluir fácil e delicadamente, atenuado pela presença de dosadas pitadas de um humor fino e, ao mesmo tempo, contundente, na grande maioria das vezes, traduzido pela irreverência do protagonista, o que faz com que o público fique atento e interessado na peça, sem perceber que correm 80 minutos de ação.

Faz rir, mas também toca fundo na alma do espectador.  Cada estocada do personagem BALA fere e provoca, no sensível e atento público assistente, sentimentos diversos de piedade, cumplicidade, vingança, revolta contra o “establishment”...

Mensagens muito interessantes são citadas explicitamente ou captadas no subtexto, nas entrelinhas.  Não se deixe dispersar (será difícil isso acontecer) e saboreie cada uma das frases ditas pelos atores.  E preste bastante atenção a tudo, pois, como é dito na peça, O diabo mora nos detalhes.

 

 

beije-minha-lapide_teatro

 

 

            Quanto à direção, de BEL GARCIA, não posso dizer nada diferente de que ela foi muito feliz em seu trabalho.  Inicialmente, o projeto, idealizado por NANINI e FELIPE HIRSCH, seria dirigido por este.  Os dois teriam a oportunidade de repetir o sucesso alcançado por Pterodáctilos.  Não podendo, porém, por conta de outros compromissos, FELIPE assumir o comando do barco, a dupla de idealizadores passou a função à atriz e diretora BEL GARCIA, que vem apresentando bons resultados em seus trabalhos de direção, o mais recente dos quais se constituiu num dos maiores sucessos da temporada 2013, ainda em cartaz, Conselho de Classe, no qual a diretora dividiu o trabalho de direção com Susana Ribeiro.

BEL contou, na direção, com a colaboração do elenco e do próprio JÔ BILAC, conhecido por sempre estar alterando o texto, durante a fase dos ensaios, o que é uma prática bastante interessante, pois uma coisa é ter um texto escrito, fruto de uma ideia, e outra é vê-lo sendo ensaiado, para ser representado.  E, quando algo pode, e deve, ser alterado, para ficar melhor, por não ter saído como fora idealizado pelo dramaturgo, nada mais natural que experimentar outras possibilidades.  Assim ocorreu, por exemplo, com o, já citado, excelente Conselho de Classe.  O mesmo se deu no espetáculo em tela.

            Ao elogiar o trabalho de BEL, chamo a atenção para o fato de que, tendo em mãos um personagem tão forte, como BALA, interpretado por um dos maiores atores brasileiros de todos os tempos, MARCO NANINI, e uma história incrível, ela soube dimensionar a importância de cada coadjuvante “de luxo” (insisto na adjetivação), pondo em evidência os arquétipos contidos em cada um, alguns até extrapolando os tradicionais.

            Acostumada aos textos de JÔ BILAC, a diretora parece conhecer bem cada uma das intenções do autor, canalizando-as para o palco, dando liberdade aos atores e, ao mesmo tempo, orientando-os quanto às características e reações que cada um deve demonstrar, a partir do texto e de sua pessoal interpretação deste.  Nesta peça, a “coadjuvância” ganha relevo, nas mãos de BEL.  Ela faz com que os três personagens que giram em torno de BALA sejam de grande importância no decorrer da trama.

 

 


 

 


 

 

            A mais generalizada análise do elenco poderia ser traduzida num único adjetivo: irretocável.  Fazem-se necessárias, porém, algumas palavras sobre cada um elemento deste fantástico grupo:

           

PAULO VERLINGS (TOMMY) – É o carcereiro, responsável por vigiar as atitudes de BALA e, de certa forma, dividir com este a solidão e o marasmo que caracteriza suas vidas, pelo menos naquele momento, naquele lugar, naquela situação.  O personagem é ambíguo, escorregadio, um candidato a escritor medíocre, e que revela sua real personalidade ao final da história, quando, de forma surpreendente, passa por uma transformação, chegando a trair a confiança do prisioneiro e a se apropriar do que não lhe pertencia.  Repetindo o que fez em personagens anteriores, a ator, muito seguro e dedicado em seus trabalhos, é uma bela presença em cena.

 

 


 

 

CAROLINA PISMEL (ROBERTA) - É uma advogada, contratada pela filha de BALA, INGRID, com a qual, no passado, tivera um relacionamento homoafetivo, cujo rompimento não fora ainda digerido por esta, para defender o pai e tentar livrá-lo das grades; ou melhor, da redoma.  A princípio, rejeitada totalmente, de forma até quase humilhante, por BALA, por sua aparência frágil e de uma profissional insipiente e incipiente, ROBERTA vai, aos poucos, se deixando encantar pelo modo de ser de seu “cliente” e, gradativamente, conquista sua simpatia e confiança.  É uma mulher de personalidade forte, por vezes mordaz, sarcástica, impertinente e intempestiva, contrastando com momentos de uma fragilidade, da qual BALA se utiliza, para tentar desqualificá-la e se livrar do incômodo de sua presença.  É bastante interessante a trajetória do relacionamento de ROBERTA e BALA no decorrer da história.  CAROLINA PISMEL é uma atriz que, apesar de muito jovem, já coleciona, em sua galeria de personagens, trabalhos dignos de todo o respeito, dente os quais destaco o da enfermeira, em CUCARACHA, outro dos vários e excelentes textos de JÔ BILAC.

 

            JÚLIA MARINI (INGRID) – É filha de BALA e, por conta da genialidade de , “por acaso”, ganha a vida como guia de turismo no cemitério em que o pai protagonizara a cena de vandalismo.  Por causa do comportamento paterno, “politicamente incorreto”, não mantém, com ele, uma relação normal e saudável de pai e filha, no entanto, condoída do sofrimento de BALA, na prisão, mesmo afastada, não mede esforços para livrá-lo daquele pesadelo, à revelia deste.  Por trabalhar junto com PAULO VERLINGS e CAROLINA PISMEL, há muito tempo, na Cia. Teatro Independente, JÚLIA contracena com os dois com muita naturalidade e cumplicidade.  Da mesma forma, comporta-se bem nas cenas em que “conversa” com a plateia, como se esta representasse os turistas que a acompanham nas visitas guiadas ao cemitério.  Um dos momentos mais tocantes do espetáculo é aquele em que, depois de muita resistência de BALA, INGRID vai visitá-lo na cadeia.  É muito comovente a cena, o diálogo entre os dois.  Naquele momento, deixei-me levar mais pelo texto, pois não consegui enxergar muito bem as imagens no palco, já que minha visão fora prejudicada por um “excesso de lubrificação nos olhos”.

   

 

 Marco Nanini contracena com jovens atores da Cia. Teatro Independente

 

 

            Os três “coadjuvantes” foram convidados pelo próprio NANINI, para o projeto, não por outro motivo que não seus talentos individuais e seriedade profissional.

 

Para o final da degustação, a tão aguardada cereja: MARCO NANINI, indiscutivelmente, um dos maiores talentos dos palcos brasileiros de todos os tempos.  Apesar de, como o bom vinho, se apresentar melhor, à medida que vai amadurecendo, NANINI, desde seus primeiros papéis, já deixava bem claro a que veio.  Nos moldes de como se concebe um ator, nos dias de hoje, não podemos afirmar que se trata de um profissional completo, uma vez que não domina a dança e o canto, ainda que já tenha atuado em musicais, sem fazer feio, entretanto, na arte de representar, encontra poucos iguais a ele, tanto no drama quanto na comédia.  Neste espetáculo, o ator exercita muito bem essas duas facetas da arte de representar.  Tudo o que se disser com relação a ele será redundante e, acima de tudo, insuficiente.  Parece ter nascido no palco.  Domina o espaço cênico com a proficiência de um sábio e a sabedoria de um mestre.  Sabe dizer, sabe gesticular, sabe “camaleonar” com uma gama enorme de máscaras faciais, sabe ocupar o espaço, sabe qual é o seu espaço.

 Assim como seu ídolo, BALA é brilhante, como pessoa, extremamente inteligente, sagaz, oportunista, ferino, sarcástico, corajoso...  Perdida a reputação, perdido também todo o pudor de lançar ao vento, a que ouvidos possa atingir, seu grito de revolta incontida, seu protesto contra a hipocrisia de uma sociedade medíocre, inquisidora, cruel e injusta.  Assim, o personagem pode ser identificado, facilmente, como o alterego do próprio WILDE.  Todas as minhas reverências a MARCO NANINI e seu incomensurável talento.

 

DANIELA THOMAS assina a cenografia e a direção de arte.  Deveria haver mais adjetivos, no léxico português, além dos já tão gastos, para qualificar a grandeza deste trabalho, infelizmente um pouco prejudicado (mas só um pouquinho) pelas diminutas dimensões do palco do Teatro do Centro Cultural Correios.  No período de 11 a 26 de outubro, quando a peça será transferida para o palco do Teatro Dulcina, certamente, o cenário e a luz poderão ser mais bem apreciados pela plateia, uma vez que terão uma maior oportunidade de evidência.  Ele é grande e grandioso, para ser exibido naquele acanhado espaço.  Certamente, num local maior, o público poderá admirar mais esse lindo cenário/instalação, idealizado por DANIELA.  Sem muitos detalhes, apenas um grande cubo de vidro, a cela em que BALA está confinado, e, do lado de fora, uma mesa, sobre a qual há um tabuleiro de xadrez, do qual se servem BALA e TOMMY para passarem o tempo; obviamente, as jogadas de BALA são orientadas para que o carcereiro as execute, movimentando as peças.  Ali, também, o talento do prisioneiro suplanta a do guarda.  Completa o cenário uma cadeira.

 

 


 

 

Dois outros ótimos elementos do espetáculo são a iluminação, de BETO BRUEL, e o VIDEOGRAFISMO, de JÚLIO PARENTE.  Aquela põe em relevo as situações que desfilam em cena, criando belos efeitos de sustentação dos conflitos.  Este, muito utilizado nos últimos tempos, em TEATRO, projeta, na cena, no cubo, imagens virtuais, atingindo expressivos efeitos, até com aparência de hologramas.  Não dominando o mundo tecnológico, não sei se incorro em erro, mas pareceu-me ver, projetados, nas paredes de gigantesco cubo de vidro, efeitos holográficos de profunda beleza e significação.  Não há de demorar muito e as instituições que promovem e patrocinam prêmios aos melhores do TEATRO deverão pensar em incluir a categoria “videografismo”, para concorrer a premiação, como um elemento independente de “cenografia”.

São bons os figurinos de ANTÔNIO GUEDES, amoldados aos personagens.  Também merecem destaques a trilha sonora original, de RAFAEL ROCHA; o design gráfico, de FELIPE BRAGA; a fotografia, de CABERÁ; a sonorização, de DB ÁUDIO, o visagismo, de RICARDO MORENO (o de MARCO NANINI está a cargo de GRAÇA TORRES e ROBERTA MIRANDA); a assistência de direção, de RAQUEL ANDRÉ e a produção de FERNANDO LIBONATI.  Assessoria de imprensa: FACTORIA COMUNICAÇÃO.

            Para terminar a peça, JÔ BILAC optou por uma bela homenagem ao talento de OSCAR WILDE e faz com que BALA termine o espetáculo com um texto do grande escritor, que, além de ser moderníssimo, até porque é atemporal, traduz tudo o que se viu durante os 80 minutos de duração do espetáculo e leva as pessoas às lágrimas.  Aqui vai transcrito o que WILDE intitulou de LOUCOS E SANTOS.

 


 
"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. 
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. 
A mim, não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. 
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. 
Deles, não quero resposta; quero meu avesso. 
Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. 
Para isso, só sendo louco. 
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. 
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. 
Não quero só o ombro e o colo; quero, também, sua maior alegria. 
Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto. 
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. 
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. 
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. 
Não quero amigos adultos nem chatos. 
Quero-os metade infância e outra metade velhice. 
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou. 
Pois, ao vê-los, loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril."
 

 

 

 


Aplausos para o elenco!

 

 

BEIJE MINHA LÁPIDE é impactante, surpreendente, comovente e, mais que um lindo espetáculo, que apresenta um excelente texto e interpretações irretocáveis, faz com que pensemos sobre a vida e a arte.

 

 


Marco Nanini + Oscar Wilde + Jô Bilac = Bala = SUCESSO.



 
SERVIÇO:
 
Temporada:
até 5 de outubro de 2014 – de sexta-feira a domingo, às 19h
Local: Centro Cultural Correios - Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro - Rio de Janeiro - RJ
Telefones: (21)2253-1580 (Recepção); (21) 2219-5165 (Bilheteria)
Ingressos: R$ 20 (R$ 10 meia-entrada) – de quarta-feira a domingo, das 15 às 19h
Classificação indicativa: 16 anos
Duração: 80 minutos 
 

 

 

(FOTOS: CABÉRA)

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