sábado, 22 de março de 2014


SILÊNCIOS CLAROS

 

 

(DELICADEZA E EMOÇÃO PRESENTES EM TUDO.)

 

 


 

 

            Há quem não aprecie; eu gosto muito. 

 

Estou falando de monólogos. 

 

Dois fatores, entretanto, são imprescindíveis, para que o espetáculo não se torne tedioso para o espectador: um bom texto e um bom intérprete.  É claro que, por ser TEATRO, outros elementos deverão ter, também, importância e ajudarão a valorizar o trabalho do autor e de quem o interpreta, como direção, luz, cenário, música...

           

Tudo isso foi muito bem conjugado para fazer de SILÊNCIOS CLAROS um ótimo e lindo espetáculo, um projeto que demorou anos para ser concretizado; uma, pode-se dizer, produção independente, fruto da coragem e do amor ao TEATRO da atriz ESTER JABLONSKI, que interpreta quatro dos tantos excelentes contos de uma das mais consagradas e respeitadas escritoras “brasileiras”, a despeito de ter nascido na Ucrânia (veio para o Brasil com pouco mais de um ano): CLARICE LISPECTOR.

 

 


 

 

            Os contos, na íntegra, são, por ordem de apresentação, O GRANDE PASSEIO, UMA TARDE PLENA, A FUGA e UMA GALINHA, este um dos meus favoritos.   Todos eles apresentam, em comum, a temática da solidão, ingrediente “arroz-de-festa”, nos textos de CLARICE.  Com um profundo mergulho na alma da mulher, na escritora, pode-se, também, perceber (Quem sabe?) uma mesma mulher em quatro fases de sua vida, quatro momentos distintos da sua solidão. 

 

            CLARICE já foi, tantas e tantas vezes, transposta das folhas dos livros para o piso dos palcos, algumas vezes em produções excelentes, como SIMPLESMENTE EU, CLARICE LISPECTOR, um outro monólogo, primoroso, que saiu, recentemente, de cartaz, após dois ou três anos de ininterrupto sucesso, garantindo à atriz BETH GOULART vários prêmios de TEATRO.  Em outras vezes, infelizmente, CLARICE merecia ser melhor e mais respeitada.  Coisas do TEATRO.  Coisas da vida!

 

            Nesta montagem, muito bem-sucedida, que permanecerá em cartaz, no Teatro Eva Herz, da Livraria Cultura, no Centro do Rio de Janeiro, até o dia 30 de abril, às 3ªs e 4ªs feiras, no horário das 19h, tudo é delicado e digno de elogios.

 

            O texto dispensa quaisquer comentários.  O difícil é selecionar textos de CLARICE para a montagem de um espetáculo teatral.

 

            O perigo de uma montagem coma esta vir a se transformar num enfadonho sarau escolar de cidade do interior não existe, graças ao talento e à sensibilidade de ESTER JABLONSKI, que, de forma impecável, sabe, e soube, captar as nuanças do universo clariceano e transmiti-las ao público, abusando, por exemplo, da capacidade de provocar, nos espectadores, todos os estímulos sensoriais, principalmente os táteis, tão comuns nas linhas da autora.  Um belo trabalho de ESTER, devidamente conduzido por FERNANDO PHILBERT, responsável pela direção.

 

 


 

 

            É muito boa a iluminação, de VILMAR OLOS, assim como o figurino, de KIARA BIANCA, que (permitam-me a brincadeira, por mais sem-graça que possa parecer) apesar de “clara” e “branca”, desenhou um traje preto, para a atriz, com alguns detalhes dos quais esta se utiliza, para alterar o modelo, a cada novo conto interpretado.     

 

            Foi composta, originalmente, uma música, pelo talentoso MARCELO ALONSO NEVES, que muito contribui para realçar detalhes de algumas cenas e criar climas diversos.

 

            Merece um destaque especial o cenário, delicado e harmonioso, de JORGE RORIZ, que é muito rico em detalhes e acabamentos.  Não pude assitir ao espetáculo nas temporadas anteriores, três ou quarto, encenadas em espaços diversos, contando, cada uma delas, segundo informação da própria ESTER, com cenários diferentes, do mesmo cenógrafo, confeccionados com materiais diversos, todos igualmente bonitos.  Pena não tê-los conhecido, a não ser por fotos.  Mas o que ora emoldura e ocupa o espaço do Teatro Eva Herz é digno de muitos elogios, predominando a arte de dobraduras em arame.  Delicadeza pura!  

 

 


Delicadezas em arame

 

 

 

(Foto: Guga Melgar)

           

            Recomendo a todos os que apreciam a obra de CLARICE LISPECTOR e que valorizam uma boa interpretação dramática a não perder este espetáculo, que é curto (apenas 50 minutos), mas que, exatamente por ser muito bonito, deixa, no espectador, aquele gostinho de “quero mais”.

 

(FOTOS – DIVULGAÇÃO / PRODUÇÃO)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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