domingo, 27 de outubro de 2013


FELIZ POR NADA   -  FELIZ POR TUDO
 
Entrada do Teatro das Artes
 
            Se há uma máxima em que acredito muito é a que diz que, “em time que está ganhando, não se mexe”.  E não se deve mexer mesmo. 

Isso pode ser, facilmente, comprovado quando se junta, para trabalhar, o trio formado por MARTHA MEDEIROS, REGIANA ANTONINI e ERNESTO PICOLLO.  “DOIDAS E SANTAS” que o diga, há mais de três anos em cartaz e vista por um público superior a 150 mil pessoas, fazendo, até hoje, uma linda carreira, ininterrupta, por todo o Brasil.

            Agora, o trio se juntou, mais uma vez, para levar ao palco do Teatro das Artes (Shopping da Gávea) “FELIZ POR NADA”, espetáculo que está em cartaz, desde a semana passada (ver serviço, no final).

            Como da vez anterior, REGIANA ANTONINI, escritora, dramaturga e roteirista, transpôs para o TEATRO um livro da consagrada escritora MARTHA MEDEIROS, “FELIZ POR NADA”, que traz uma coletânea de mais de oitenta crônicas.
 
            O espetáculo fala, principalmente da amizade, no caso a de duas mulheres, já maduras, que se cruzam, na corrida diária, ou quase, à volta da Lagoa, e acabam por se tornar as “melhores amigas de infância”. 

Não se trata de uma amizade construída ao longo de uma existência, mas que parece existir há uma longa existência. 

 
É, sim, uma amizade que surge no meio da vida, por acaso, e que passa a ser fundamental para o resto da vida de ambas.  Como as duas chegam a reconhecer, uma não consegue viver sem a outra, sem nenhuma conotação homoafetiva; amor de amigas mesmo. 

Assim pode ser caracterizada a amizade de Juliana e Laura.  Elas se conhecem aos 40 anos, apenas por acenos e rápidos cumprimentos e contidos sorrisos, quando se cruzam durante o exercício físico quase diário, entretanto passam a ser inseparáveis, após um episódio no aeroporto de Tóquio, quando Laura se perde das duas filhas, uma criança e uma adolescente.  Juliana é quem a ajuda a reencontrar as meninas, pelo que a mãe fica eternamente grata.  Nasce, então, uma belíssima amizade, que será posta à prova, por causa de um homem, o Joca, marido de Laura e grande paixão da adolescência de Juliana.

Apesar de o vil ciúme entrar em cena, para atiçar a fogueira da maldade e da desconfiança e tentar abalar aquela sólida amizade, “FELIZ POR NADA” não trata de um triângulo amoroso, e, sim, da relação humana: dos medos, das dúvidas, das inseguranças, das idiossincrasias do ser humano.

O texto trata da mulher, em toda a sua complexidade: seus medos, sonhos, insatisfações, inseguranças, realizações profissionais, o sexto sentido, a atração, a “traição”, a paixão desenfreada e o amor.  E, nessa área, MARTHA MEDEIROS reina absoluta.  Poucos escritores sabem tratar, de forma tão verdadeira, simples e, ao mesmo tempo, profunda, o universo feminino como ela.  Ninguém mais “mulherzinha” que MARTHA. 

É pura identificação – e também estamos falando dos homens - com o dia a dia, com as questões contemporâneas e que falam ao coração.  A plateia se identifica com os dramas e as dúvidas de cada personagem.

A peça recebe a classificação de “uma comédia romântica”, muito bem adaptada por REGIANA ANTONINI e dirigida, excepcionalmente, por ERNESTO PICCOLO, que vem se firmando, cada vez mais, como diretor, além de bom ator que é.  NECO chega a dirigir até três espetáculos ao mesmo tempo, numa demonstração de rara competência e resistência, física e emocional.  Um dos mais requisitados diretores dos últimos tempos, emplacando um sucesso após o outro.  Bem merecidos, diga-se de passagem.  Talento ali não falta, principalmente quando, neste caso, o diretor, por opção ou para não encarecer demais o projeto, resolveu não contar, fisicamente, com um dos mais tradicionais e importantes elementos do TEATRO: o cenário. 
PICOLLO encontra interessantes e objetivas saídas para fazer as cenas acontecerem num palco completamente despido de qualquer elemento cenográfico, embora as cenas se passem em ambientes diversos (interiores, externas, países de culturas totalmente opostas – Brasil e Japão...).

O elenco se comporta de forma brilhante: CRISTIANA OLIVEIRA e LUÍSA THIRÉ são, respectivamente, Laura e Juliana.  Completa ao elenco o ator GIL HERNANDEZ.

CRISTIANA e LUÍSA sabem explorar muito bem as oportunidades que o texto oferece a cada uma para fazer a sua personagem chegar aos espectadores da forma mais íntima e natural possível.  Ambas, muito equilibradamente, apresentam um rendimento de igual qualidade (EXCELENTES!) e conseguem, excepcionalmente, levar a plateia às gargalhadas em cenas hilárias, apoiadas, é óbvio, num texto de qualidade inquestionável. 
Cada uma conta com a generosidade da autora do texto, em seus respectivos “bifes” (falas longas), para demonstrar seu talento na arte de representar.  São duas atrizes que frequentam pouco, relativamente, os palcos cariocas – a primeira por causa de uma atuação mais ativa na TV e a outra por se dedicar, também, a outras áreas dentro do próprio TEATRO -, mas, quando o fazem, deixam sua marca e muita saudade.  Precisam nos dar mais oportunidades de aplaudi-las, como fiz, com explícita vontade e vigor, na última 2ª feira, em sessão reservada a convidados, os quais, certamente, compartilham comigo estas palavras.

Cristiana, Gil e Luísa - excelente química
 
Quanto a GIL HERNANDEZ, apesar de aparecer menos em cena e de representar um personagem, aparente e inicialmente, de menor importância na trama, o Joca, ou João Carlos (este último nome é como é chamado nos momentos em que desperta alguma cobrança ou a ira de uma das duas mulheres, prática comum entre os casais), o ator se comporta muito bem em cena e sabe representar a “escada” (SEM O MENOR SENTIDO PEJORATIVO; MUITO PELO CONTRÁRIO), para que cada uma das duas protagonistas consiga desenvolver a história, a qual, de tão agradável, leve e, até mesmo, despretensiosa, passa, sem que se perceba o ponteiro dos minutos cruzar o mesmo ponto, no mostrador do relógio.  Termina a peça e fica aquela vontade de “quero mais”.  E isso é muito bom. 

Na ficha técnica, estão outros nomes que sempre são garantia de um bom espetáculo:

- A ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO cabe a Bebel Lobo – Ótima, como sempre.

- Os FIGURINOS, variados e de muito bom gosto, são de Helena Araújo.

- A trilha sonora recebe a assinatura de uma das pessoas que mais entendem do assunto: Rodrigo Penna, já algumas vezes premiado e indicado a prêmios, em tantas outras ocasiões, nessa categoria.

- O espetáculo tem a iluminação de um “iluminado”: Aurélio di Simoni.  – Bom trabalho.

- A PREPARAÇÃO CORPORAL é de Kika Freire e a PREPARAÇÃO VOCAL foi feita por Rose Gonçalves.  As duas atrizes, duas belas figuras em cena, uma recém-entrada nos quarenta e outra quase atingindo os cinquenta (ambas não fazem segredo disso) parecem duas mocinhas em cena, demonstrando excelente preparo físico e vocal.  Mérito das duas, ou das quatro.

A DIREÇÃO DE PRODUÇÃO e a REALIZAÇÃO são de duas pessoas que já nos têm oferecido outros ótimos espetáculos: Rogério Fabiano e Valéria Macedo. 

Momento de rara tietagem: acompanhado (bem) de Martha Medeiros e Regiana Antonini
 
 
SERVIÇO: de quinta-feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h30.
                     Ingresso: R$ 80,00 (5ª e 6ª) e R$ 90 (sáb e dom).
                     Duração: 70 minutos
                     Temporada até 22 de dezembro

É ótimo sair de uma comédia, leve e feliz.  “FELIZ POR NADA”?  Não: FELIZ POR TUDO. 

Obrigado, gente!

Agradáveis companhias, dentro e fora da plateia: Jorge Leão e Regina Cavalcanti

 
(FOTOS DE DIVULGAÇÃO E/OU FEITAS E CEDIDAS POR REGINA CAVALCANTI)
 

Um comentário:

  1. Querido, mais uma vez uma crítica sensível, delicada, gostosa de ler. Obrigada pelo carinho, respeito e admiração. Quero vc em TODAS as minhas peças! Vc compreende tudo, porque assiste de coração aberto! Se permite sentir e voar com a interpretação do ator, ao escutar o texto, a trilha, a luz, enfim, se encanta porque está ali querendo se encantar. Obrigada, obrigada, obrigada! Bjs

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