segunda-feira, 9 de setembro de 2013

“PARA SEMPRE ABBA” - MINHA NOITE DE TIETAGEM
(Esta matéria foi escrita há cerca de um mês)
 
    
           A “tietagem” não se refere ao extinto grupo sueco ABBA, formado por Anni-Frid Lyngstad, Benny Andersson, Björn Ulvaeus e Agnatha Fältskong (as iniciais dos nomes dos quatro, que acabaram se tornando dois casais, serviram para batizar a banda).

           O quarteto foi formado em 1972 e encerrou suas atividades em 1982, com o fim dos dois casamentos, exatamente no auge do sucesso do grupo. Foram apenas dez anos de atuação, o suficiente para que se tornasse a banda que mais vendeu discos na década de 70 e um dos grupos de maior sucesso do mundo, com vendas estimadas entre 180 e 400 milhões em vários países.  Até hoje, são campeões de vendas em todos os continentes.

           Para falar a verdade, o que me interessava no ABBA (e me interessa até hoje) não eram tanto a vozes dos cantores nem a harmonia, quando reunidas, o que encanta a maioria dos fãs da banda.  O foco do meu interesse, em se tratando de ABBA, sempre foram as canções, mais ainda depois de constituírem a trilha do musical “água-com-açúcar” mais adocicado que já vi (e revi), “MAMMA MIA”, sucesso nos palcos, inclusive no Brasil, e tornado filme, em 2008, rodado em ilhas gregas. Que feliz combinação: canções do ABBA e paisagens paradisíacas da Grécia.

          Não condeno saudosismos, mas vamos falar do ABBA atual, “PARA SEMPRE, ABBA”, o musical, idealizado e produzido pela dupla Carlos Alberto Serpa, presidente da Fundação Cesgranrio, e Rodrigo Cirne, um dos mais completos atores de musicais dos últimos tempos.

           Graças a eles, está em cartaz, no Teatro Clara Nunes, para uma temporada bem longa (esperamos todos os que amamos os bons musicais) “PARA SEMPRE, ABBA”, com direção de Tadeu Aguiar e um elenco de dez dos melhores nomes dos musicais brasileiros. Falarei sobre eles adiante.

           O espetáculo é um musical, mas acho que nem deveria ser classificado como TEATRO.  Não importa.  É fantástico!  Absolutamente, sem interesse de estabelecer qualquer comparação, a coisa corre meio na linha de outro magnífico espetáculo, “BEATLES NUM CÉU DE DIAMANTES”, da imbatível dupla Charles Möller e Cláudio Botelho, ao qual eu assisti 55 vezes. Isso mesmo: CINQUENTA E CINCO VEZES.  Mas vou logo dizendo que não faço nenhuma questão de fazer parte do Guiness.  

           De acordo com o próprio programa do espetáculo, a “peça” gira em torno de “Um livro.   Uma trilha sonora.  E muitas histórias”.

           Como em “BEATLES...”, não há um texto a ser dito, mas a ser entendido, por meio de uma sequência de canções.  Assim, o espetáculo reúne 44 títulos do ABBA, divididos em blocos, a saber: APRESENTAÇÕES e CHEGADAS, ROMANCES, FLERTE, PAIXÃO, DECEPÇÃO, SEPARAÇÃO, RECOMEÇO e CELEBRAÇÃO.  O roteiro e a pesquisa musical ficaram a cargo de Rodrigo Cirne.

           Esqueça tudo e se fixe numa belísssima trilha sonora, interpretada por gente do maior talento nas artes de cantar, representar e dançar (por ordem alfabética): Analu Pimenta, Giulia Nadruz, Olavo Cavalheiro, Raul Veiga, Rodrigo Cirne e Sabrina Korgut.  Tem de ser em ordem alfabética, porque é quase impossível estabelecer uma gradação, em se tratando de talento, entre os seis.



           Vamos, agora, ao que interessa: as minhas modestas avaliações:

1) A PRODUÇÃO: Impecável.  O bom gosto e a preocupação com os mínimos detalhes têm marcado, sobremaneira, uma série de espetáculos musicais, produzidos pelo Professor Serpa, em sua deliciosa Casa de Cultura Julieta de Serpa, na Praia de Botafogo.  Atualmente, lá está em cartaz “HOLLYWOOD — A MAGIA DO CINEMA”, um excelente espetáculo musical, que conta com alguns dos intérpretes de “PARA SEMPRE, ABBA”.

2) A DIREÇÃO: Assina o espetáculo, Tadeu Aguiar, nome que dispensa maiores comentários, por seu reconhecido trabalho como ator e, atual,mente, mais como diretor e produtor.  É dele, também, a direção do espetáculo que está em cartaz no mesmo Teatro Clara Nunes, “O DIA EM QUE RAPTARAM O PAPA”.  Tadeu agregou, ao projeto, a sua sensibilidade no trato com os atores e seu refinado conhecimento e gosto musical, para que fosse atingido o produto final, de excelente qualidade.  Em conjunto com uma apurada coreografia (destaque adiante), extraiu, com profunda competência, de cada elemento do elenco, o que eles têm de melhor, nas três formas de arte: representação, canto e dança.  Quase ao apagar das luzes, o número em que todo o elenco canta, dança e “toca sinos” é inesquecível.  Uma obra-prima dos musicais brasileiros.  Não pode deixar de ser mencionado, também, o nome de Flávia Rinaldi, assistente de direção de Tadeu.

3) A COREOGRAFIA: Quem a assina é Roberto de Oliveira.  Genial!  Não há muito que dizer, além disso.  Num espaço reduzido do palco do Clara Nunes, já que lá também está montado o enorme cenário de “O DIA EM QUE RAPTARAM O PAPA”, Roberto deve ter tido um trabalho hercúleo para desenhar sua coreografia, linda, por sinal, e, por vezes, de difícil execução, tão bem feita pelos atores/cantores/bailarinos.

4) Os FIGURINOS: Um espetáculo à parte.  Criados por Beth Serpa, esposa do professor Serpa, são de um bom gosto, de um apuro tão grande, caprichosamente confeccionados e que reproduzem, muito de perto, o figurino arrojado, para a época, e, até certo porto, meio futurista, que os componentes da banda ABBA usavam em suas apresentações.

5) A LUZ: Rogério Wiltgen idealizou uma belíssima luz para o espetáculo, enriquecendo bastante algumas cenas.

6) O CENÁRIO: de José Dias, simples e bem adequado à proposta do espetáculo.   Comedido, pelo espaço de que dispõe, Dias utiliza poucos objetos e móveis, o suficiente para sugerir o “hall” de um hotel, onde se dá toda a encenação.  De muito bom gosto.

7) A DIREÇÃO MUSICAL e os ARRANJOS VOCAIS: Esta parte, da maior importância num musical, é de responsabilidade de um dos mais competentes profissionais do ramo: Jules Vandystadt, dos mais requisitados, quando um diretor exige perfeição e beleza no desenho dos vocais.  Não é por acaso que esse talentoso ator/cantor/bailarino/arranjador vocal já, tão jovem, é detentor de um Prêmio SHELL, dividido com Délia Fischer, pelos arranjos do já citado (e inesquecível) “BEATLES NUM CÉU DE DIAMANTES”.  São lindos os arranjos de Jules, o que exige muito da técnica dos que os interpretam e proporcionam, aos ouvidos dos espectadores, prazeres indescritíveis.

8) Os ARRANJOS INSTRUMENTAIS e REGÊNCIA: “Habitué” em cada trabalho musical de Tadeu Aguiar, e em tantos outros, Liliane Secco é uma figura que merece ser reverenciada, a cada trabalho que executa, e não poderia ser diferente desta vez.  Os que estão acostumados a ouvir ABBA, conhecerão arranjos tão diferentes dos originais e tão, ou mais, lindos que aqueles.  Digna de premiações.

Liliane Secco

9) O VISAGISMO: Thiago Parente é o responsável pelas várias mudanças de visuais dos intérpretes, atuando, principalmente, nas trocas de cabelos.  Sensacional!

10) Os MÚSICOS: Nada faz um musical “bombar”, se não houver músicos competentes para garantir esse setor.  Lili sabe escolher, a dedo, os músicos que atuam em seus trabalhos.  Assim, lá estão, para acompanhar os intérpretes, os talentos de Anderson Pequeno (violino), Carlos Henrique (bateria), Fábio Almeida (violoncelo), a própria Liliane Secco (piano e regência), Tássio Ramos (baixo elétrico), Leandro Vasques (baixista alternante), Thiago Trajano (craque da guitarra) e André Dantas (guitarra alternante).

11) Os ATORES/CANTORES/BAILARINOS: Por que foram deixados para o final?  Por ser a eles que dedico minha total e inquestionável tietagem.  Merecem comentários especiais:

ANALU PIMENTA: Além de fazer parte da Cia. de Atores da Casa de Cultura Julieta de Serpa, integrou o último elenco de “BEATLES NUM CÉU DE DIAMANTES” e, recentemente, deu voz ao dragão do musical “SHREK”, no qual era uma atração à parte, muitas vezes aplaudida em cena aberta.  Sua voz penetra na nossa alma, invade a nossa emoção de forma poderosa.

Analu Pimenta

GIULIA NADRUZ: Magnífica!  Já participou de inúmeros musicais de sucesso e é dona de uma voz extremamente afinada e suave.  Linda em cena!

Giulia Nadruz

OLAVO CAVALHEIRO: Figura carimbada nas produções musicais de Tadeu Aguiar e Eduardo Bakr, além de uma bela figura em cena, esbanja talento para musicais, nos seus apenas 22 anos de vida.  Seu futuro profissional já é agora.

Olavo Cavalheiro

RAUL VEIGA: Sempre que vejo e ouço o Raul, é motivo de um “pré-estágio de transe”.  Que voz! Que sensibilidade!  Que pronúncia do idioma de Shakespeare! Que bela e completa presença em cena, cantando, dançando e representando!  Sou seu admirador de carteirinha.

Raul Veiga

RODRIGO CIRNE: Nem que eu passasse o resto do dia à procura do que dizer dele, não encontraria material capaz de qualificá-lo no ramo dos musicais.  Dono de uma bela voz, de grande extensão, e de um jeito muito particular de cantar, além de bom ator e bailarino.  Se tudo isso não bastasse, Rodrigo ainda se apresenta, neste “...ABBA", como o idealizador do projeto e um de seus produtores.  Sua vasta experiência em musicais dá-lhe uma segurança muito grande no palco e emociona a plateia.

Rodrigo Cirne

SABRINA KORGUT: Dona de um dos maiores e mais conceituados currículos, em se tratando de musicais, Sabrina encanta o espectador desde sua primeira aparição em cena.  Não só em “...ABBA”, mas em qualquer outra produção de que participa.  Não é por acaso que foi indicada, várias vezes, a prêmios, por suas atuações, principalmente nos inesquecíveis espetáculos “AVENIDA Q”, “MISS SAIGON” e “FASCINANTE GERSHWIN”.  A presença de Sabrina, num musical, é metade da garantia de seu sucesso.   Maravilhosa!

Sabrina Korgut
 
           Quando informado, há alguns meses, desse projeto, fiquei sabendo que estariam em cena seis atores/cantores/bailarinos e mais quatro outros bailarinos.  Julguei que fossem apenas quatro dançarinos, que emoldurariam as cenas.  Que surpresa agradável!  Os quatro, Júnior Zagotto, Larissa Landim, Pedro Arrais e Sara Marques, não só dançam; também cantam (e muito bem) e representam.  Pode-se dizer que o elenco é formado por dez excelentes artistas, completos para os palcos de um musical.

Pedro Arrais

           Se você é fã do ABBA, vá.  Se não conhece muito o ABBA, vá também.  Se nunca ouviu falar do ABBA (os mais jovens), vá, logo, ser apresentado a eles.  Mas, acima e antes de tudo, vá conferir as minhas palavras: PARA SEMPRE ABBA é um espetáculo PARA SEMPRE mesmo.
 
(Fotos: Marisa Sá e Mamy Gottlieb)
 

3 comentários:

  1. Ninguém consegue sair quietinho desse espetáculo. Todos saem cantando e dançando. Muito gostoso!

    ResponderExcluir
  2. Querido amigo, palavras perfeitas para descrever um excelente espetáculo.
    Parabéns pelo blog, parabéns pelo texto!
    Amei!

    Beijos,
    Olívia Trindade

    ResponderExcluir
  3. Amei seu texto, você comentou lindamente tudooooo! PRA SEMPRE ABBA é demais!

    ResponderExcluir