segunda-feira, 13 de outubro de 2025

 

O MOTOCICLISTA

NO GLOBO

DA MORTE”

ou

(DE CIVILIDADE

E BARBÁRIE

SOMOS FEITOS.)

 




            Podemos optar por um espetáculo de TEATRO com as mais diversas intenções, sendo, talvez, a maior delas a busca por um entretenimento, uma diversão. Se esta for a sua, nem passe pela calçada do Teatro Poeira, a agradabilíssima casa de espetáculo de Botafogo, no Rio de Janeiro, para assistir a “O MOTOCICLISTA NO GLOBO DA MORTE”, um monólogo escrito por LEONARDO NETTO, dirigido por RODRIGO PORTELLA, interpretado, de forma magistral, por DU MOSCOVIS, espetáculo que vem sendo apresentado a plateias com lotação esgotada desde sua estreia.



 

SINOPSE:

O MOTOCICLISTA NO GLOBO DA MORTE" descreve um monólogo em que um homem pacato e racional, após testemunhar um ato de violência, se vê compelido a cometer um outro igualmente brutal, explorando a origem da violência humana e a tênue linha entre vítima e algoz.

A história segue Antônio (DU MOSCOVIS), um homem tranquilo e educado, cuja vida é abalada por um evento de violência em um bar.

A partir dessa experiência, ele se vê em uma espiral de agressividade, questionando a si mesmo e ao público se é possível lutar contra a violência ou se ela é inevitável.


 



·                O título do espetáculo pode levar o espectador a achá-lo um pouco estranho. Que relação pode existir entre ele e o conteúdo da narrativa da peça? Se, porém, a pessoa considerar o perigo, para um motociclista artista, que corresponde à sua exposição dentro de um globo da morte, tudo aquilo de que ele necessita – atenção, concentração e equilíbrio emocional - para não sofrer um acidente, que pode ser até fatal, quando se exibe para uma plateia circense, conseguirá estabelecer o elo que une tal título ao texto. As principais temáticas do solo são a violência que existe na sociedade, a dualidade entre a pessoa “civilizada” e a “selvagem” que pode existir dentro de cada um e a fascinação social por atos violentos. O título é uma metáfora, para a situação “dead line” do personagem: o globo da morte é um espaço fechado, onde o motociclista precisa de controle total para sobreviver, assim como Antônio precisa manter o controle em uma situação caótica. “O título surgiu como uma metáfora à iminência do desastre. Assim como no globo da morte, nós vivemos tentando nos desviar da catástrofe o tempo inteiro”, nas palavras de LEONARDO NETTO.




A principal premissa do texto é a obscura gênese da violência, seja ela inerente à natureza humana e, portanto, incontornável, ou fruto das relações sociais. Tudo, na ótima dramaturgia, de LEONARDO NETTO, é milimetricamente costurado, para incomodar o espectador e provocar, em cada uma das pessoas da plateia, uma reflexão, no sentido de apoiar, ou não, o brutal gesto do personagem Antônio sobre o sua “vítima”, que também atende pelo mesmo nome. Com relação a este fato, o de ambos, agressor e agredido, terem o mesmo nome de pia, não se trata de uma mera coincidência. Com 99% de certeza, podemos dizer que a ideia é mostrar que, dentro de um único ser, representado pelo mesmo nome próprio, podem coexistir o bem e o mal, o bom e o mau, o equilíbrio psicológico e o destempero, ainda que este exista para punir quem errou feio anteriormente.



  O fato de a agressão que motivou a “vingança” de Antônio ter sido praticada não contra um ser humano, mas sim a um cachorro, nos leva a crer na importância de qualquer vida e a obrigatoriedade de que seja respeitado o seu direito de viver em situação análoga à de um ser humano. Qualquer vida é importante e não pode ser violentada, de forma alguma.



 Ficam claros, no decorrer da peça, dois pontos. O primeiro é de que, ao contar a história, o dramaturgo chamar a nossa atenção para o fato de que, em tese, o trágico episódio poderia acontecer com qualquer um. O segundo é de que LEONARDO NETTO pretende, e consegue, que o espetáculo faça uma provocação, ao diluir as fronteiras entre vítima e algoz, civilizado e selvagem. Há um embate entre um homem que tem uma vida correta e pacífica e um homem vil, em todos os aspectos.



             A ideia de escrever o texto surgiu depois de o autor ter assistido, inadvertidamente, a um vídeo de uma situação real de extrema violência, em uma rede social, há alguns anos. A partir de tal nefasta experiência, LEONARDO passou a se questionar sobre o que leva alguém a cometer um ato violento, mas também a filmá-lo, postar e, por fim, o que ainda possa até ser pior, o que leva alguém a curtir esse tipo de conteúdo. “Outras questões foram surgindo, como o porquê do fascínio e da idolatria a assassinos, psicopatas e ‘serial killers, ao longo da história. A espetacularização, a romantização e a banalização da violência, exacerbadas com a multiplicação de câmeras e da internet, talvez nos torne mais insensíveis a ela.”, é a opinião do dramaturgo. “A ideia foi sendo processada, até decidir que iria escrever a respeito e, de certa forma, exorcizar a sensação ruim, que não saiu mais de sua mente, após ver o vídeo.”



         Para desenvolver a dramaturgia e ambientar o espaço cênico onde o protagonista conta, em meticulosos detalhes, a história trágica que viveu em um dia comum, enquanto almoçava no bar que costumava frequentar, RODRIGO PORTELLA se apoiou numa proposta bastante minimalista, calcada no imenso potencial interpretativo de DU MOSCOVIS. Sem criar “malabarismos”, o diretor optou pela potencialização e o suprassumo da simplicidade. O ator, como um contador de histórias, permanece sentado, durante os 60 minutos de duração da peça, dirigindo-se ao público, sem o apoio de uma cenografia, sem uma assinatura, na FICHA TÉCNICA (apenas uma poltrona vermelha, daquelas dos antigos cinemas de rua), evidenciado por uma iluminação perene (em 90 % de sua atuação), trabalho de ANA LUZIA DE SIMONI, com uma discretíssima e quase imperceptível sonoplastia (trilha musical), ao fundo, criada por ANDRÉ MUATO, vestido com um traje simples, do dia a dia, figurino que leva a assinatura de GABRIELLA MARRA.



             Um detalhe que merece ser acentuado, nesta montagem, em perfeita interação entre o diretor e o ator, é o fato de o ritmo da narrativa, nos seus mínimos detalhes, ser bastante lento, durante uma boa parte do espetáculo, com cada palavra pronunciada com bastante precisão, pausadamente, num tom calmo e baixo. A partir de um determinado momento, quando começa a narrar as atitudes totalmente desaprováveis do outro Antônio, o protagonista evolui para um ritmo mais ágil, fora do controle, assim como a acentuação do volume de voz, o que marca a sua transformação, de um homem tranquilo e pacato a um ser raivoso e vingativo, produto de sua indignação com relação às barbáries cometidas pelo seu opositor.



  Se prestarmos bastante atenção, podemos perceber, nesta história, outras camadas, como uma “conexão mais direta com o contexto político-social brasileiro atual, ao fazer uma espécie de raio X da polaridade ideológica dos dias atuais”. Diz o diretor: “Não há partidarismo, não se nomeia esquerda ou direita, mas, claramente, os personagens que estão envolvidos, diretamente, no crime se enquadram na dicotomia político-ideológica em que a sociedade brasileira está mergulhada”.



   Antes mesmo de ir ao Teatro Poeira, já podia eu imaginar a bela qualidade do projeto, a julgar pelo trio LEONARDO NETTO, RODRIGO PORTELLA e DU MOSCOVIS. Cada um deles traz uma enorme bagagem de sucessos e prêmios. LEONARDO é ator, diretor e dramaturgo, destacando-se, de há muito, nas três ocupações, em espetáculos memoráveis. PORTELLA é diretor e dramaturgo, com mais de três décadas de carreira. É, hoje, sem a menor sombra de dúvidas, um dos diretores mais reconhecidos da cena teatral brasileira. É difícil, dificílimo mesmo, apontar seu melhor trabalho de direção. É um colecionador de prêmios, reconhecido e respeitado – e não poderia ser de outra forma – no Brasil e no exterior. Quanto a DU MOSCOVIS, o excelente ator tem um reconhecimento popular, por seus trabalhos na televisão, com cerca de quatro dezenas de trabalhos marcantes. DU também vem contribuindo para o engrandecimento do TEATRO, com festejadas e premiadas atuações, além de também marcar presença no cinema.

 


 

FICHA TÉCNICA:

Texto: Leonardo Netto

Direção: Rodrigo Portella

Assistência de Direção: Milla Fernandez

 

Atuação: Du Moscovis


Cenografia: (não divulgado)

Figurino: Gabriella Marra

Iluminação: Ana Luzia de Simoni

Trilha Musical: André Muato

Fotos: Catarina Ribeiro

Estudos Visuais em IA: Zezinho Mancini

Produção Executiva: João Eizô

Direção de Produção: Sérgio Saboya e Silvio Batistela

Produção Geral: Eduardo Moscovis e Sérgio Saboya


 

 


LEONARDO NETTO



RODRIGO PORTELLA


DU MOSCOVIS


 

SERVIÇO:

Temporada: De 06 de setembro a 14 de dezembro de 2025.

Local: Teatro Poeira.

Endereço: Rua São João Batista, nº 104 – Botafogo – Rio de Janeiro.

Telefone: (21) 2537-8053.

Dias e Horários: 5ª feira, 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada).

INGRESSO VIVO VALORIZA: Cliente Vivo Valoriza ganha 50% de desconto na compra de até um par de ingressos (não acumulativo com direito de meia-entrada nem outras promoções). O cliente deverá entrar no APP Vivo e realizar o resgate do voucher de desconto na aba Vivo Valoriza. O voucher deverá ser apresentado na entrada do teatro.

Classificação indicativa: 14 anos.

Duração: 60 minutos.

Informações para a imprensa: Factoria Comunicação (Vanessa Cardoso – vanessa@factoriacomunicacao.com | (21) 98235-8685 e Daniella Cavalcanti – daniellacavalcanti@gmail.com | (21) 98876-9660.

Gênero: Monólogo.


 


 


         RECOMENDO MUITO ESTE ESPETÁCULO, cuja temporada estava prevista para terminar no dia 26 de outubro, porém, em função do enorme sucesso, com lotações esgotadas, foi prorrogada até o dia 14 de dezembro próximo. E já há uma temporada prevista, na capital paulista, a se iniciar em 23 de janeiro de 2026, com término em 29 de março do mesmo ano, no Teatro VIVO.

 

  

FOTOS: CATARINA RIBEIRO.

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!

 







 













































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