“O MOTOCICLISTA
NO GLOBO
DA MORTE”
ou
(DE CIVILIDADE
E BARBÁRIE
SOMOS FEITOS.)
Podemos
optar por um espetáculo de TEATRO
com as mais diversas intenções, sendo, talvez, a maior delas a busca por um
entretenimento, uma diversão. Se esta for a sua, nem passe pela calçada do Teatro Poeira, a agradabilíssima
casa de espetáculo de Botafogo,
no Rio de Janeiro, para
assistir a “O MOTOCICLISTA NO GLOBO DA MORTE”, um monólogo escrito por LEONARDO
NETTO, dirigido por RODRIGO PORTELLA, interpretado, de forma
magistral, por DU MOSCOVIS, espetáculo que vem sendo apresentado a
plateias com lotação esgotada desde sua estreia.
SINOPSE:
“O
MOTOCICLISTA NO GLOBO DA MORTE" descreve um monólogo em que um
homem pacato e racional, após testemunhar um ato de violência, se vê compelido
a cometer um outro igualmente brutal, explorando a origem da violência humana e
a tênue linha entre vítima e algoz.
A história segue Antônio (DU MOSCOVIS), um homem tranquilo e
educado, cuja vida é abalada por um evento de violência em um bar.
A partir dessa experiência, ele se vê
em uma espiral de agressividade, questionando a si mesmo e ao público se é
possível lutar contra a violência ou se ela é inevitável.
·
O título
do espetáculo pode levar o espectador a achá-lo um pouco estranho. Que relação
pode existir entre ele e o conteúdo da narrativa da peça? Se, porém, a pessoa
considerar o perigo, para um motociclista artista, que corresponde à sua
exposição dentro de um globo da morte, tudo aquilo de que ele necessita – atenção, concentração e equilíbrio
emocional - para não sofrer um acidente, que pode ser até fatal, quando
se exibe para uma plateia circense, conseguirá estabelecer o elo que une tal
título ao texto. As principais temáticas do solo são a violência que existe na sociedade,
a dualidade entre a pessoa “civilizada” e a “selvagem”
que pode existir dentro de cada um e a fascinação social por atos violentos. O título
é uma metáfora, para a situação “dead line” do personagem: o
globo da morte é um espaço fechado, onde o motociclista precisa de controle
total para sobreviver, assim como Antônio precisa manter o controle em
uma situação caótica. “O título surgiu como uma metáfora à iminência do
desastre. Assim como no globo da morte, nós vivemos tentando nos desviar da
catástrofe o tempo inteiro”, nas palavras de LEONARDO NETTO.
A principal premissa do texto é a obscura gênese da violência, seja ela
inerente à natureza humana e, portanto, incontornável, ou fruto das relações
sociais. Tudo, na ótima dramaturgia, de LEONARDO NETTO, é milimetricamente costurado, para incomodar o
espectador e provocar, em cada uma das pessoas da plateia, uma reflexão, no
sentido de apoiar, ou não, o brutal gesto do personagem Antônio sobre o sua “vítima”,
que também atende pelo mesmo nome. Com relação a este fato, o de ambos,
agressor e agredido, terem o mesmo nome de pia, não se trata de uma mera
coincidência. Com 99% de certeza, podemos dizer que a ideia é mostrar que,
dentro de um único ser, representado pelo mesmo nome próprio, podem coexistir o
bem e o mal, o bom e o mau, o equilíbrio psicológico e o destempero, ainda que
este exista para punir quem errou feio anteriormente.
O fato de a
agressão que motivou a “vingança” de Antônio ter sido
praticada não contra um ser humano, mas sim a um cachorro, nos leva a crer na
importância de qualquer vida e a obrigatoriedade de que seja respeitado o seu
direito de viver em situação análoga à de um ser humano. Qualquer vida é
importante e não pode ser violentada, de forma alguma.
Ficam claros, no decorrer da peça, dois
pontos. O primeiro é de que, ao contar a
história, o dramaturgo chamar a nossa atenção para o fato de que, em tese, o
trágico episódio poderia acontecer com qualquer um. O segundo é de que LEONARDO NETTO pretende, e consegue,
que o espetáculo faça uma provocação, ao diluir as fronteiras entre vítima e
algoz, civilizado e selvagem. Há um embate entre um homem que tem uma vida
correta e pacífica e um homem vil, em todos os aspectos.
A ideia de escrever o texto
surgiu depois de o autor ter assistido, inadvertidamente, a um vídeo de uma
situação real de extrema violência, em uma rede social, há alguns anos. A partir
de tal nefasta experiência, LEONARDO
passou a se questionar sobre o que leva alguém a cometer um ato violento, mas
também a filmá-lo, postar e, por fim, o que ainda possa até ser pior, o que
leva alguém a curtir esse tipo de conteúdo. “Outras questões foram surgindo,
como o porquê do fascínio e da idolatria a assassinos, psicopatas e ‘serial killers, ao longo da história.
A espetacularização, a romantização e a banalização da violência, exacerbadas
com a multiplicação de câmeras e da internet, talvez nos torne mais insensíveis
a ela.”, é a opinião do dramaturgo. “A ideia foi sendo processada,
até decidir que iria escrever a respeito e, de certa forma, exorcizar a
sensação ruim, que não saiu mais de sua mente, após ver o vídeo.”
Para desenvolver a dramaturgia
e ambientar o espaço cênico onde o protagonista conta, em meticulosos detalhes,
a história trágica que viveu em um dia comum, enquanto almoçava no bar que
costumava frequentar, RODRIGO PORTELLA
se apoiou numa proposta bastante minimalista, calcada no imenso potencial
interpretativo de DU MOSCOVIS. Sem
criar “malabarismos”, o diretor optou pela potencialização e
o suprassumo da simplicidade. O ator, como um contador de histórias,
permanece sentado, durante os 60 minutos de duração da peça, dirigindo-se
ao público, sem o apoio de uma cenografia, sem uma assinatura, na FICHA
TÉCNICA (apenas uma poltrona vermelha, daquelas dos antigos cinemas de
rua), evidenciado por uma iluminação perene (em
90 % de sua atuação), trabalho de ANA
LUZIA DE SIMONI, com uma discretíssima e quase imperceptível sonoplastia
(trilha musical), ao fundo, criada por ANDRÉ MUATO, vestido com um traje simples, do dia a dia, figurino
que leva a assinatura de GABRIELLA MARRA.
Um detalhe que merece ser
acentuado, nesta montagem, em perfeita interação entre o diretor e o ator,
é o fato de o ritmo da narrativa, nos seus mínimos detalhes, ser bastante
lento, durante uma boa parte do espetáculo, com cada palavra pronunciada com
bastante precisão, pausadamente, num tom calmo e baixo. A partir de um
determinado momento, quando começa a narrar as atitudes totalmente desaprováveis
do outro Antônio, o protagonista evolui para um ritmo mais ágil, fora do
controle, assim como a acentuação do volume de voz, o que marca a sua
transformação, de um homem tranquilo e pacato a um ser raivoso e vingativo,
produto de sua indignação com relação às barbáries cometidas pelo seu opositor.
Se prestarmos bastante atenção, podemos
perceber, nesta história, outras camadas, como uma “conexão mais direta com o
contexto político-social brasileiro atual, ao fazer uma espécie de raio X da
polaridade ideológica dos dias atuais”. Diz o diretor: “Não
há partidarismo, não se nomeia esquerda ou direita, mas, claramente, os
personagens que estão envolvidos, diretamente, no crime se enquadram na
dicotomia político-ideológica em que a sociedade brasileira está mergulhada”.
Antes mesmo de ir ao Teatro Poeira, já podia
eu imaginar a bela qualidade do projeto, a julgar pelo trio LEONARDO NETTO, RODRIGO PORTELLA e DU
MOSCOVIS. Cada um deles traz uma enorme bagagem de sucessos e prêmios. LEONARDO é ator, diretor
e dramaturgo,
destacando-se, de há muito, nas três ocupações, em espetáculos memoráveis. PORTELLA é diretor e dramaturgo,
com mais de três décadas de carreira. É, hoje, sem a menor sombra de dúvidas, um
dos diretores mais reconhecidos da cena teatral brasileira. É difícil,
dificílimo mesmo, apontar seu melhor trabalho de direção. É um colecionador
de prêmios, reconhecido e respeitado – e não poderia ser de outra forma –
no Brasil
e no exterior.
Quanto a DU MOSCOVIS, o excelente ator
tem um reconhecimento popular, por seus trabalhos na televisão, com cerca de
quatro dezenas de trabalhos marcantes. DU
também vem contribuindo para o engrandecimento do TEATRO, com festejadas e
premiadas atuações, além de também marcar presença no cinema.
FICHA
TÉCNICA:
Texto:
Leonardo Netto
Direção:
Rodrigo Portella
Assistência
de Direção: Milla Fernandez
Atuação: Du Moscovis
Cenografia: (não divulgado)
Figurino:
Gabriella Marra
Iluminação:
Ana Luzia de Simoni
Trilha
Musical: André Muato
Fotos: Catarina Ribeiro
Estudos
Visuais em IA: Zezinho Mancini
Produção
Executiva: João Eizô
Direção
de Produção: Sérgio Saboya e Silvio Batistela
Produção
Geral: Eduardo Moscovis e Sérgio Saboya
SERVIÇO:
Temporada: De 06 de setembro a 14 de
dezembro de 2025.
Local:
Teatro Poeira.
Endereço:
Rua São João Batista, nº 104 – Botafogo – Rio de Janeiro.
Telefone:
(21) 2537-8053.
Dias e Horários: 5ª feira, 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às
19h.
Valor
dos Ingressos: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia-entrada).
INGRESSO
VIVO VALORIZA: Cliente Vivo Valoriza ganha 50% de desconto na compra de até um
par de ingressos (não acumulativo com direito de meia-entrada nem outras
promoções). O cliente deverá entrar no APP Vivo e realizar o resgate do voucher
de desconto na aba Vivo Valoriza. O voucher deverá ser apresentado na entrada
do teatro.
Classificação indicativa: 14 anos.
Duração: 60
minutos.
Informações
para a imprensa: Factoria Comunicação (Vanessa Cardoso – vanessa@factoriacomunicacao.com | (21) 98235-8685 e Daniella
Cavalcanti – daniellacavalcanti@gmail.com | (21) 98876-9660.
Gênero:
Monólogo.
RECOMENDO MUITO ESTE ESPETÁCULO,
cuja temporada estava prevista para terminar no dia 26 de outubro, porém, em
função do enorme sucesso, com lotações esgotadas, foi prorrogada até o dia 14 de
dezembro próximo. E já há uma temporada prevista, na capital paulista,
a se iniciar em 23 de janeiro de 2026, com término em 29 de março do mesmo ano,
no Teatro
VIVO.
FOTOS: CATARINA
RIBEIRO.
É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo,
visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre
mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há
de melhor no TEATRO BRASILEIRO!
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