“BRUTA FLOR”
ou
(OS EFEITOS DANOSOS
DA NÃO ACEITAÇÃO
DE UMA VERDADE.)
Sempre que vou a São Paulo, procuro
assistir ao espetáculo que está em cartaz no Teatro Núcleo Experimental,
o simpático a aprazível centro cultural da Barra Funda. Desta vez, a convite de
LEONARDO MIGGIORIN, ratificado por DANIEL CHIAREELLI, fui conferir a peça
“BRUTA FLOR”, escrita, a quatro mãos,
por CARLOS FERNANDO BARROS e VITOR DE OLIVEIRA, com direção
de MARCIO ROSARIO. LEONARDO é o protagonista da peça,
dividindo o palco com VALERIA SILVA
e FÁBIO BIANCHINI.
SINOPSE:
Em um drama psicológico, marcado por
reencontros e revelações, Lucas (FÁBIO BIANCHINI) e Miguel (LEONARDO
MIGGIORIN) revisitam a história de um amor interrompido, envolto em desejo,
culpa e identidade.
Entre memórias, violência e espiritualidade,
a peça expõe camadas de preconceito, homofobia, bissexualidade e aceitação, com
delicadeza e profundidade.
Uma trama intensa sobre escolhas, afetos e
as consequências de silenciar quem se é.
A temática predominante na trama é, por demais,
explorada, nas artes visuais, em geral, no entanto nunca deve ser desprezada e,
a cada vez que alguém se volta para ela, recebe luz e mexe com a sociedade, que
precisa, sempre, ser lembrada de tudo, para que as coisas erradas não caiam no esquecimento
e possam vir a ser evitadas. É certo que o texto se apresenta com uma estrutura
bastante clichê e previsível, entretanto isso não deve servir de balizamento
único para uma apreciação técnica do espetáculo, ainda que, a meu juízo, seja o
texto
a espinha dorsal que sustenta uma montagem teatral.
Sem se considerar tanto a dramaturgia,
trata-se de uma produção bastante “honesta” e simples – franciscana até, eu diria –, em
termos de plasticidade e riqueza material, contudo o fazer teatral merece
luzes, metaforicamente, mais contundentes que aquelas reais que iluminam,
propriamente, as cenas.
A toda hora, somos
apresentados a histórias que abordam preconceito, homofobia, sexualidade, autoaceitação,
violência doméstica e identidade de gênero, porém nunca é demais tocar nesses
assuntos e explorá-los à exaustão, para que se consiga evitar um aumento de
casos de distopia familiar e na sociedade.
“BRUTA FLOR” mergulha, de cabeça, nas complexidades dos afetos contemporâneos,
misturando o “aceitável” com aquilo que “não se deve
aceitar”, o convencional e o “insólito”, o “errado”,
na visão dos puritanos e conservadores, e o “certo”, ao sabor dos
que procuram ser felizes, com suas verdades e convicções, que merecem, e têm
que, ser respeitadas.
No enredo desta
peça, “uma história intensa sobre
violência doméstica, preconceito, amor, identidade e reencontros”, Lucas (BIANCHINI) e Miguel (MIGGIORIN), amigos
de juventude, se reencontram, após 15
anos, e o passado, marcado por uma noite num acampamento, irrompe com força,
revelando camadas profundas de afetos ocultos, homofobia internalizada e a
urgência de viver uma verdade adiada.
Miguel, sempre um primeiro aluno, foi estudar em Londres e se tornou um profissional bem sucedido, um grande
executivo, de volta ao Brasil.
Já Lucas não se dedicou aos
estudos e acabou sendo um vigilante noturno de uma empresa, casando-se com Simone (VALÉRIA SILVA), sua
namorada do colégio, com quem mantêm “uma
família de verdade”. O reencontro traz à tona sentimentos
contraditórios e revelam as múltiplas formas de violência, tanto hétero quanto
homoafetiva.
Mas as diferenças
entre os dois amigos não ficam só no trabalho de cada um. Miguel é um “gay” convicto, resolvido, totalmente assumido, ao passo que
que Lucas nega a sua condição
de bissexual, mantendo-se “dentro de
um armário”, não se privando, porém, de manter relações homossexuais
com Miguel, o que lhe dá muito
prazer, sempre assumindo a posição daquilo que se convencionou chamar de “ativo”, segundo “as regras do jogo”, o que, por tal
motivo, o fazia crer que não era homossexual, como Miguel. Lucas,
igual a tantos outros homens que existem por aí, vivia em conflito, perdido nas
suas falsas convicções, a ponto de agredir, física e psicologicamente, a
companheira, chegando a lhe provocar um aborto. Era uma forma esdrúxula de
reagir à sua não aceitação de ser “gay”.
A peça “trata, de maneira natural e poética, da diversidade
e aceitação, sem fugir da dura realidade das relações tóxicas que atravessam
tantas histórias”, como diz o “release”
que recebi de DANIEL CHIARELLI, produtor
executivo do espetáculo.
É preciso que o
espectador fique bem ligado ao início e ao final da peça, visto que a dramaturgia pode provocar uma certa
dúvida, para a compreensão de um determinado fato contido na narrativa.
Nenhum comentário
especial sobre a cenografia, o
figurino e a iluminação do espetáculo. São um
tanto “frágeis”, mas não
comprometem o resultado final da montagem.
Do trio de atores,
sem dúvida, reservo um comentário especial sobre o trabalho de LEONARDO
MIGGIORIN, que nos brinda com uma atuação bastante convincente, profunda,
íntima e aguda, para evitar o adjetivo “visceral”,
por ora desgastado.
FICHA
TÉCNICA:
Dramaturgia: Carlos Fernando
Barros e Vitor de Oliveira
Direção: Marcio Rosario
Elenco: Leonårdo Miggiorin,
Valeria Silva e Fábio Bianchini
Direção de Movimento:
Liane Maya
Direção de Arte, Cenografia e
Figurinos: Andrea Moraes
Adereços: Egbert Mesquita
Desenho de Luz: Gabriel Greghi
Trilha Sonora: Cida Moreira
Programação Visual: Danny
Rodrigues
Fotografia: Kim Leekyung
“Making Of”: Daniel Castilhos
Produção Executiva: Daniel
Chiarelli
Direção de Produção: Denise
Prado
Diretora Assistente: July
Frediani
Produtores Associado: Valeria
Silva e Leonårdo Miggiorin
Produtor Geral: Marcio Rosario
Realização: Três Tons Visuais
Coprodução: Dandara
Productions
Assessoria de Imprensa:
Vicente Negrão Assessoria
SERVIÇO:
Temporada:
De 09 de agosto a 21 de setembro de 2025.
Local:
Teatro Núcleo Experimental.
Endereço:
Rua Barra Funda, nº 637 – Barra Funda – São Paulo.
Tel.:
(11) 3259-0898.
Dias
e Horários: Sábados, às 20h30min, e domingos, às 19h.
Valor
dos Ingressos: R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia entrada).
Vendas
pela internet (https://www.sympla.com.br/evento/bruta-flor/3037799) ou na Bilheteria do Teatro, a partir de duas
horas antes do início do espetáculo.
Capacidade:
90 Lugares.
Cafeteria
Disponível.
Ar-condicionado.
Acessibilidade.
Duração:
80 minutos.
Classificação
Indicativa: 16 anos (cenas de nudez).
Gênero:
Drama Psicológico.
O espetáculo merece ser
visto, já que é um vetor para que se discutam assuntos tão urgentes e
necessários em qualquer tipo de sociedade.
FOTOS: KIM
LEEKYUNG
GALERIA PARTICULAR
(FOTO: CARLOS SABAG)
É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!
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