terça-feira, 16 de setembro de 2025

“BRUTA FLOR”

ou

(OS EFEITOS DANOSOS

DA NÃO ACEITAÇÃO DE UMA VERDADE.)

  


         Sempre que vou a São Paulo, procuro assistir ao espetáculo que está em cartaz no Teatro Núcleo Experimental, o simpático a aprazível centro cultural da Barra Funda. Desta vez, a convite de LEONARDO MIGGIORIN, ratificado por DANIEL CHIAREELLI, fui conferir a peça “BRUTA FLOR”, escrita, a quatro mãos, por CARLOS FERNANDO BARROS e VITOR DE OLIVEIRA, com direção de MARCIO ROSARIO. LEONARDO é o protagonista da peça, dividindo o palco com VALERIA SILVA e FÁBIO BIANCHINI.



 

SINOPSE:

Em um drama psicológico, marcado por reencontros e revelações, Lucas (FÁBIO BIANCHINI) e Miguel (LEONARDO MIGGIORIN) revisitam a história de um amor interrompido, envolto em desejo, culpa e identidade.

Entre memórias, violência e espiritualidade, a peça expõe camadas de preconceito, homofobia, bissexualidade e aceitação, com delicadeza e profundidade.

Uma trama intensa sobre escolhas, afetos e as consequências de silenciar quem se é.

 


         A temática predominante na trama é, por demais, explorada, nas artes visuais, em geral, no entanto nunca deve ser desprezada e, a cada vez que alguém se volta para ela, recebe luz e mexe com a sociedade, que precisa, sempre, ser lembrada de tudo, para que as coisas erradas não caiam no esquecimento e possam vir a ser evitadas. É certo que o texto se apresenta com uma estrutura bastante clichê e previsível, entretanto isso não deve servir de balizamento único para uma apreciação técnica do espetáculo, ainda que, a meu juízo, seja o texto a espinha dorsal que sustenta uma montagem teatral.




         Sem se considerar tanto a dramaturgia, trata-se de uma produção bastante “honesta” e simples – franciscana até, eu diria –, em termos de plasticidade e riqueza material, contudo o fazer teatral merece luzes, metaforicamente, mais contundentes que aquelas reais que iluminam, propriamente, as cenas.



         A toda hora, somos apresentados a histórias que abordam preconceito, homofobia, sexualidade, autoaceitação, violência doméstica e identidade de gênero, porém nunca é demais tocar nesses assuntos e explorá-los à exaustão, para que se consiga evitar um aumento de casos de distopia familiar e na sociedade.



         “BRUTA FLOR” mergulha, de cabeça, nas complexidades dos afetos contemporâneos, misturando o “aceitável” com aquilo que “não se deve aceitar”, o convencional e o “insólito”, o “errado”, na visão dos puritanos e conservadores, e o “certo”, ao sabor dos que procuram ser felizes, com suas verdades e convicções, que merecem, e têm que, ser respeitadas.




No enredo desta peça, “uma história intensa sobre violência doméstica, preconceito, amor, identidade e reencontros”, Lucas (BIANCHINI) e Miguel (MIGGIORIN), amigos de juventude, se reencontram, após 15 anos, e o passado, marcado por uma noite num acampamento, irrompe com força, revelando camadas profundas de afetos ocultos, homofobia internalizada e a urgência de viver uma verdade adiada.



Miguel, sempre um primeiro aluno, foi estudar em Londres e se tornou um profissional bem sucedido, um grande executivo, de volta ao Brasil. Já Lucas não se dedicou aos estudos e acabou sendo um vigilante noturno de uma empresa, casando-se com Simone (VALÉRIA SILVA), sua namorada do colégio, com quem mantêm “uma família de verdade”. O reencontro traz à tona sentimentos contraditórios e revelam as múltiplas formas de violência, tanto hétero quanto homoafetiva.



Mas as diferenças entre os dois amigos não ficam só no trabalho de cada um. Miguel é um “gay” convicto, resolvido, totalmente assumido, ao passo que que Lucas nega a sua condição de bissexual, mantendo-se “dentro de um armário”, não se privando, porém, de manter relações homossexuais com Miguel, o que lhe dá muito prazer, sempre assumindo a posição daquilo que se convencionou chamar de “ativo”, segundo “as regras do jogo”, o que, por tal motivo, o fazia crer que não era homossexual, como Miguel. Lucas, igual a tantos outros homens que existem por aí, vivia em conflito, perdido nas suas falsas convicções, a ponto de agredir, física e psicologicamente, a companheira, chegando a lhe provocar um aborto. Era uma forma esdrúxula de reagir à sua não aceitação de ser “gay”.




A peça “trata, de maneira natural e poética, da diversidade e aceitação, sem fugir da dura realidade das relações tóxicas que atravessam tantas histórias”, como diz o “release” que recebi de DANIEL CHIARELLI, produtor executivo do espetáculo.



É preciso que o espectador fique bem ligado ao início e ao final da peça, visto que a dramaturgia pode provocar uma certa dúvida, para a compreensão de um determinado fato contido na narrativa.



Nenhum comentário especial sobre a cenografia, o figurino e a iluminação do espetáculo. São um tanto “frágeis”, mas não comprometem o resultado final da montagem.



Do trio de atores, sem dúvida, reservo um comentário especial sobre o trabalho de LEONARDO MIGGIORIN, que nos brinda com uma atuação bastante convincente, profunda, íntima e aguda, para evitar o adjetivo “visceral”, por ora desgastado.

 


 

FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Carlos Fernando Barros e Vitor de Oliveira

Direção: Marcio Rosario

 

Elenco: Leonårdo Miggiorin, Valeria Silva e Fábio Bianchini

 

Direção de Movimento: Liane Maya

Direção de Arte, Cenografia e Figurinos: Andrea Moraes

Adereços: Egbert Mesquita

Desenho de Luz: Gabriel Greghi

Trilha Sonora: Cida Moreira

Programação Visual: Danny Rodrigues

Fotografia: Kim Leekyung

“Making Of”: Daniel Castilhos

Produção Executiva: Daniel Chiarelli

Direção de Produção: Denise Prado

Diretora Assistente: July Frediani

Produtores Associado: Valeria Silva e Leonårdo Miggiorin

Produtor Geral: Marcio Rosario

Realização: Três Tons Visuais

Coprodução: Dandara Productions

Assessoria de Imprensa: Vicente Negrão Assessoria

 

 


 


SERVIÇO:

Temporada: De 09 de agosto a 21 de setembro de 2025.

Local: Teatro Núcleo Experimental.

Endereço: Rua Barra Funda, nº 637 – Barra Funda – São Paulo.

Tel.: (11) 3259-0898.

Dias e Horários: Sábados, às 20h30min, e domingos, às 19h.

Valor dos Ingressos: R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia entrada).

Vendas pela internet (https://www.sympla.com.br/evento/bruta-flor/3037799) ou na Bilheteria do Teatro, a partir de duas horas antes do início do espetáculo.

Capacidade: 90 Lugares.

Cafeteria Disponível.

Ar-condicionado.

Acessibilidade.

Duração: 80 minutos.

Classificação Indicativa: 16 anos (cenas de nudez).

Gênero: Drama Psicológico.

 

 


         O espetáculo merece ser visto, já que é um vetor para que se discutam assuntos tão urgentes e necessários em qualquer tipo de sociedade.

 

 

 

 



FOTOS: KIM LEEKYUNG

 


GALERIA PARTICULAR

(FOTO: CARLOS SABAG)



Com Leonardo Miggiorin.



É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!






































































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