quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

“UMA LEITURA

DOS BÚZIOS”

ou

(“TODO CORPO PRETO,

EM MOVIMENTO,

É REVOLUCIONÁRIO.”)

ou

(O BRASIL

NÃO CONHECE

O BRASIL.)



        De todos os espetáculos aos quais eu iria assistir, em São Paulo, no início de dezembro de 2022, e tive que abortar a ideia, por ter contraído a COVID, apenas dois continuaram em cartaz, neste ano (2023), e um deles tive o grande prazer de conhecer, no dia 26 de janeiro passado, “UMA LEITURA DOS BÚZIOS”, que está à disposição do público, em longa temporada, para os padrões de hoje, no SESC Vila Mariana, até o dia 12 próximo (fevereiro / 2023) (VER SERVIÇO.)



     Trata-se de um projeto de grande porte, surgido da cabeça iluminada de DANILO SANTOS DE MIRANDA, diretor do SESC São Paulo, para lembrar, ainda em 2022, em dupla comemoração, os 200 anos da “chamada” Independência do Brasil (7 de setembro de 1822) e os 100 anos da realização da “Semana de Arte Moderna”, realizada entre 13 e 18 de fevereiro, no Theatro Municipal de São Paulo.



    Para dar forma ao seu arrojado projeto, como ele, hoje, se apresenta, DANILO, em mais um de seus formidáveis acertos, foi buscar gente de altíssima competência, no campo das artes, na Bahia: o encenador MARCIO MEIRELLES; a diretora de movimento CRISTINA CASTRO; o diretor musical JOÃO MILET MEIRELLES; e a dramaturga MÔNICA SANTANA. Todos, juntos, são responsáveis pelo belíssimo e emocionante espetáculo “UMA LEITURA DOS BÚZIOS”, que mobiliza um batalhão de artistas e técnicos, todos envolvidos “até a raiz dos cabelos”, na produção da peça, abordando a luta de heróis conhecidos – ou deveriam ser (O BRASIL NÃO CONHECE O BRASIL.) – e muitos outros, anônimos, os quais “ao apagar das luzes” do século XVIII (1798 e 1979), na Bahia, lutaram e sacrificaram suas vidas por um sonho de liberdade, autonomia e um basta à exploração imposta pela Colônia Portuguesa. O fato histórico, infelizmente, pouco estudado nos bancos escolares, chama-se “Conjuração Baiana” ou “Revolta dos Alfaiates”; ou, ainda, “Conspiração dos Búzios”.



      Como, nesta primeira “maratona teatral” de 2023, em São Paulo, a minha agenda comportou sete espetáculos, em quatro dias, todos de boa qualidade, variando, de acordo com a minha avaliação, de BOM a OBRA-PRIMA, e, portanto, de acordo com o meu critério, merecedores de uma crítica, vou procurar ser conciso, embora isso muito me custe. Sendo assim, sugiro que façam uma pesquisa, para saber, com profundidade, o que foi esse importantíssimo episódio da nossa História, magistralmente explicado pelo professor baiano FLÁVIO MÁRCIO CERQUEIRA DO SACRAMENTO, no estupendo e completíssimo programa da peça, quase um “livro”, de 26 páginas, programa este que mostra os mínimos detalhes sobre a peça, o seu processo de criação, o trabalho de cada artista nele envolvido, tudo numa apresentação irretocável, que só o SESC, atualmente, “ousa” fazer.



Motivo e ideias para escrever um “tratado” sobre esta produção teatral não me faltam; escassos são, entretanto, o tempo e o espaço. Destarte, tentarei falar um pouco sobre tudo. O tema mereceu um profundíssimo estudo de pesquisa, da parte de MÔNICA SANTANA, para a excelente dramaturgia do texto, para o que contou com a colaboração de MÁRCIO MEIRELLES e GUSTAVO MELLO. O resultado final, no papel, é excelente, e a “materialização” do texto, no palco, é o suprassumo disso, a quintessência do que pode ser considerado maravilhoso. Todas as hipérboles do mundo se aplicam a esta montagem.



        MÁRCIO MEIRELLES, um dos maiores encenadores brasileiros, no já citado extraordinário programa da peça, diz, minuciosamente, como se deu o processo de criação do espetáculo, desde o dia em que DANILO MIRANDA, por um telefonema, praticamente, o “convocou” pra ser um dos “pais da criança”, até a estreia da peça, em 18 de novembro de 2022. O público leigo assiste a um espetáculo teatral (É IMPOSSÍVEL NÃO GOSTAR DESTE”), entretanto não faz ideia de quantas pessoas, além das que estão sob o foco dos refletores, estiveram, e estão, de uma forma ou de outra, colaborando para que aquele momento “mágico” seja único. Sim, cada apresentação de uma peça é única, diferente das demais.



       O SESC São Paulo, em suas redes sociais, fez uma convocação pública, em 27 de julho de 2022, a quem quisesse participar de uma seleção de elenco para um espetáculo inspirado na “Conjuração Baiana”. Houve 547 inscrições, de diversas partes do Brasil, das quais os titulares de 120 foram selecionados para as duas fases de preparação, até que se chegasse ao esperado elenco: uma Oficina de Experimentações e o Laboratório de Criação. Nelas, tudo girou em torno de um mergulho “abissal” nas práticas de movimentos, gestos, danças e percussões, expressões corporais, além de conhecimentos e valores éticos, historiográficos, políticos e identitários da cultura brasileira, sobretudo a negra. Para orientar os trabalhos, foram contratados alguns dos melhores profissionais em cada área. Dos 120, 17 artistas passaram à segunda fase, e a eles se juntou um grupo de convidados de convidados e outros (13), que também fariam parte do espetáculo, num total de 30 artistas. Foram três meses de profícuo trabalho, sacrifício e muita dedicação, coroados e compensados pelos efusivos aplausos do público. Minha emoção foi tamanha, ao final do espetáculo, que minha voz embargada, acompanhando meus olhos embaçados, não me permitiu explodir num sonoro “BRAVO!”, como costumo externar, quando considero excelente um espetáculo de TEATRO. "UMA LEITURA DOS BÚZIOS", para mim, é uma OBRA-PRIMA.




     MARCIO MEIRELLES é um gigante na condução desta montagem. Seu trabalho de direção é digno de muitos aplausos: uma epopeia teatral”! Para contar a saga daqueles heróis, ainda que pouco reconhecidos e, menos ainda, valorizados, uma vez que, repito, sabemos muito pouco da verdadeira História do Brasil, e os anônimos, o diretor lançou mão de um manancial de ideias brilhantes, super criativas, no trato geral com as cenas, quer no direcionamento do trabalho dos atores, quer nas marcações, quer nas “metáforas cênicas” e nas “licenças poéticas”. Um diretor de TEATRO, como o “líder”, num projeto, precisa se cercar de profissionais de extrema qualidade, para que exista, pelo menos, a possibilidade de que o alvo seja atingido bem no centro, como ocorre em “UMA LEITURA DOS BÚZIOS”. O espetáculo surpreende e prende a atenção de uma plateia inteira, da primeira à última cena, durante os cerca de 100 minutos de sua duração, por tudo o que está no palco, sob a “batuta” do “maestro” MARCIO MEIRELLES.




          

SINOPSE:

A peça traz uma abordagem disruptiva sobre as questões da desigualdade racial no Brasil, a partir de um acontecimento de 1798 em que várias camadas sociais estiveram envolvidas, mas pelo qual somente os negros e pobres foram punidos e mortos.

Alguma relação com o Brasil de hoje?

 

 




        MÁRCIO também é responsável pela criação de uma cenografia (“Concepção de Espaço”, na FICHA TÉCNICA.), que segue os padrões de uma superprodução e, ao mesmo tempo, não reúne tantos elementos cenográficos no palco, todavia tudo, naquele cenário, é importante. Os músicos ficam acomodados em duas plataformas fixas, nas duas laterais e no centro, ao fundo, deixando, aos atores, uma vasta área livre para a atuação, representada ou dançada. Em algumas cenas, dois praticáveis bem altos, sustentados por fortes estruturas metálicas, como andaimes, sobre rodas, são deslocados, pelos próprios atores, no palco. Um deles, à esquerda do público, serve de “pousada” a D. Maria I, “A Louca”, rainha de Portugal, ao lado do filho, o príncipe “Joãozinho”, que viria a ser, alguns anos depois, D. João VI, rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. Há espaço, também, para o governador da Bahia, Fernando José de Portugal e Castro. Em outra estrutura semelhante, à direita, fica a cantora VIRGÍNIA RODRIGUES, dona de uma voz potente e inimitável, “saída de suas entranhas”, representando a Mater Brasil, ou seja, a mãe, a mulher que gerou, deu à luz e criou seus filhos; no caso, os “bahienses”. Tanto a realeza quanto a Mater ficam, o tempo todo, bem no alto, acima de todos (Isso é simbólico.); os outros estão “ao rés do chão”. D. João fica num plano um pouco abaixo da mãe e o governador, abaixo dos dois, porém acima do povo. A hierarquia cruel representada no palco.




    Ao fundo, um enorme telão, de altíssima resolução, projeta, ininterruptamente, da primeira à última cena, imagens, fixas ou em movimentos, que tanto podem encantar – menos – nossos olhos como chocá-los – mais. Imagens fortes, como se a provocar, no espectador, empatia, com relação ao sofrimento daquela gente. Todos os ícones que nos são dados ver estão relacionados, direta ou simbolicamente, com o que está sendo encenado. A presença do telão em cena e sua utilização são algo a merecer muitos aplausos, direcionados a RAFAEL GRILO, ROGÉRIO VILALONGA e TIAGO SANSOU.



      Assim como as imagens, sons de instrumentos de percussão, numa comunhão perfeita com os que saem de outros, utilizados na música eletrônica, são ouvidos, do início da encenação até o seu final. É outro ponto alto do espetáculo, graças ao talento dos musicistas, RAIANY SINARA, CAIO TERRA e GIOVANNI DI GANZÁ, e dos próprios atores, todos obedecendo a uma fantástica direção musical de JOÃO MILET MEIRELLES.



       Também faz parte da elite de artistas criadores, nesta encenação, o nome de CRISTINA CASTRO, que, de forma irretocável, responde por tudo o que se refere à coreografia e direção de movimento. CRISTINA criou desenhos coreográficos belíssimos e uma proposta de movimentação do elenco, em cena, explorando, ao extremo, o rendimento de cada um. Um trabalho de corpo merecedor dos mais calorosos aplausos. Aqui, o corpo fala, realmente, em cena. A postura coreográfica do elenco transmite uma “percepção de coletividade, incorporando elementos da dança contemporânea, de rua e afro-brasileira”.



     GABRIEL D’ANGELO, com seu desenho de som, tem a responsabilidade de equalizar vozes humanas, interpretando e cantando, com os sons dos instrumentos musicais, sem permitir que uns se sobreponham aos outros e que tudo corra bem, com bastante harmonia e clareza, nesse campo, importantíssimo, num musical.



       O espetáculo conta com uma iluminação, criada por GRISSEL PIGUILLEM, muito de acordo com sua proposta. O palco é totalmente iluminado, nos momentos propícios a isso, porém, em se tratando de um movimento “clandestino”, algo que não poderia ser exposto, durante sua fase de preparação, muitas cenas contam com uma iluminação mais comedida, gerando um tom de mistério, creio que intencionalmente, relacionado à necessidade de ocultar o que não pode ser revelado. Espero que tenham entendido o que desejo dizer.



        São ótimos os figurinos de todos, criação de ADRIANA HITOMI, com a utilização de tecidos rústicos, com predominância da cor branca e do cru. As peças que os atores vestem conferem muita credibilidade aos personagens, com o reforço, muito pertinente, do visagismo, criado por ELI VIEGAS.



     Para contar essa emocionante história, tocar o público e emocioná-lo bastante, um elenco de primeiríssima qualidade foi formado. São 27 atores, de diferentes formações, de gerações e trajetórias distintas, “o que reforça a diversidade na montagem”, no entanto com algo em comum: muito talento. Todos brilham igualmente, com oportunidades pontuais de mostrar seu potencial artístico, individualmente, com um certo destaque para uns, os quais, infelizmente, por não os conhecer, não citarei, para não cometer injustiça. Reservo-me, porém, o direito de citar os que, facilmente, posso identificar, como a atriz CHICA CARELLI (D. Maria) e ARARA XESTAL (D. João). Reforço a opinião de que todos me encantaram sobremaneira. Desnecessário seria enaltecer o trabalho de VIRGÍNIA RODRIGUES, não como atriz, mas como uma grande intérprete, como cantora.



        É preciso que se faça um justo reconhecimento ao árduo trabalho de toda a equipe de produção do espetáculo, visto que, sem eles, nada poderia ser mostrado ao público. Embora o grande público, de uma forma geral, desconheça esse fato, a verdade é que muitas pessoas, cujos nomes podem, e devem, ser conferidos na FICHA TÉCNICA (No programa da peça. A lista é muito extensa e resolvi não colocá-la, aqui, na sua íntegra, por motivos óbvios.) trabalham pesado, para que tudo saia a contento em cada sessão da peça. São, da mesma forma, merecedores dos nossos aplausos todos os que operam a parte técnica do espetáculo.




FICHA TÉCNICA (SIMPLIFICADA): 

Texto: Mônca Santana

Dramaturgia: Mônica Santana

Codramaturgia: Marcio Meirelles e Gustavo Mello Cerqueira

Direção / Encenação: Marcio Meirelles

Coreografia e Direção de Movimento: Cristina Castro

Direção Musical: João Milet Meirelles

Composições: João Milet Meireles, Jadsa e Mônica Santana

 

Elenco (por ordem alfabética): Amaurih Oliveira, Angélica Prieto, Arara Xestal, Cainã Naira, Chica Carelli, Clara Paixão, Clara Torres, David Caldas, Ella Nascimento, Emira Sophia, Igor Nascimento, Jackson Costa, Jhonnã Bao, Júlio Silvério, Loiá Fernandes, Lucas Tavlos, Lucio Tranchesi, Marinho Gonçalves, Mario Alves, Nara Couto, Rafael Faustino, Rodrigo de Odé, Sofia Tomic, Vagner Jesus, Vinicius Barros, Vinicius Bustani e Virgínia Rodrigues   

 

Músicos: Raiany Sinara, Caio Terra e Giovanni di Ganzá

 

Cenografia (Concepção de Espaço): Marcio Meirelles

Figurinos: Adriana Hitomi

Iluminação: Grissel Piguillem

Desenho de Som: Gabriel D’Angelo

Visagismo: Eli Viegas

Vídeos: Rafael Grillo, Rogério Vilaronga e Tiago SanSou

Fotografias: Tiago Lima

Assessoria de Comunicação e Gestão de Redes Sociais: Alma Preta

Assessoria de Imprensa: Mídia Pente Fino (Kelly Freitas) 

Produção Executiva: Luiza Meira Alves

Coordenação de Produção: Marisa Riccitelli Sant’ana e Rachel Brumana

Direção de Produção e Gestão: Associação SÙ de Cultura e Educação

Assistência de Produção: Arthur Hideki Okutani

Uma idealização e realização do SESC São Paulo (Danilo Santos de Miranda)


 


 




SERVIÇO:

Temporada: De 18 de novembro de 2022 a 12 de fevereiro de 2023.

Local: Teatro Antunes Filho - SESC Vila Mariana.

Endereço: Rua Pelotas, nº 141 – Vila Mariana – São Paulo.

Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 21h; domingo, às 16h.


Valor dos Ingressos: R$12,00 (credencial plena), R$20,00 (meia entrada) e R$40,00 (inteira).
Venda de ingressos a partir de 8/11, às 12h, pelo portal
sescsp.org.br, e a partir de 9/11, às 17h, nas bilheterias da Rede Sesc São Paulo.

Horário de funcionamento da bilheteria: De 3ª a 6ª feira, das 9h às 20h30min; sábado, das 10h às 18h e das 20h às 21h; domingo e feriado, das 10h às 18h. 
Estacionamento: R$5,50 a primeira hora + R$2,00 a hora adicional (credencial plena: trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes); R$12,00 a primeira hora + R$3,00 a hora adicional (outros). 125 vagas. 
Paraciclo: Gratuito (Observação: É necessária a utilização travas de seguranças.). 16 vagas. 




 

“Resumo da ópera”: “UMA LEITURA DOS BÚZIOS” traz uma reflexão sobre os tempos atuais, a partir do levante popular baiano conhecido como “Conjuração Baiana”, “Revolta dos Alfaiates” ou “Revolta dos Búzios”, que tinha, como agendas, igualdade, liberdade e vida digna, pautas reivindicatórias que, infelizmente, ainda estão presentes no século XXI. Isso confere ao espetáculo uma importância muito maior do que, a(em) princípio, aquela que se possa a ele atribuir. Com a peça, “os sonhos de liberdade do passado emergem”, a toda força. O que se vê, no palco, confronta-o com o Brasil contemporâneo, por meio de temas como a independência, a democracia e as sementes e frutos da política e economia colonialista, bem como o legado delas na formação das desigualdades sociais, especialmente sobre o racismo e a manipulação da história”.



Por tudo o que consegui condensar, nestes escritos, RECOMENDO, DE FORMA BEM “ROBUSTA”, este espetáculo.

 

 


 




 

FOTOS: TIAGO LIMA


 

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