sábado, 24 de novembro de 2018

O CONDOMÍNIO


(NEGRA É A COR DO HUMOR.
ou
KAFKA, DE SEU TÚMULO,
APLAUDE DE PÉ.
ou
É PARA RIR E REFLETIR.






            Dezenove dias após uma fratura de fêmur e dezoito, passados de uma cirurgia, ousei ir ao TEATRO, no Mezanino do SESC Copacabana, com muito sacrifício, utilizando um andador e sentindo muitas dores, mesmo com analgésicos, porque queria muito ver o espetáculo “O CONDOMÍNIO”. E o que aconteceu? Percebi, como já era esperado, que se tratava de uma ótima comédia, entretanto as minhas condições físicas e emocionais, naquele momento, me bloquearam, impedindo-me de “curtir” o espetáculo como deveria acontecer. Fiquei triste, na esperança de poder revê-lo, posteriormente, em outro Teatro. Dei sorte. A montagem voltou à cena, no palco do Teatro Ipanema (VER SERVIÇO.) e, então, praticamente curado, pude aproveitar e apreciar a montagem como ela o merecia.

        “A peça é uma comédia de humor negro, que fala sobre desconfiança, intolerância e radicalismos da sociedade brasileira atual, tendo, como cenário, o condomínio de um tradicional prédio, na Copacabana dos anos 40. Uma trama policial, com tons kafkianos, na qual os latidos de um cão colocam todos os moradores em cheque” (Extraído do “release” da peça, enviado por NEY MOTTA – ASSESSORIA DE IMPRENSA). O texto, por demais, interessante e divertido, foi escrito por PEDRO BRÍCIO, que, também, dirige esta encenação, dividindo a tarefa com ALCEMAR VIEIRA.









SINOPSE:


Na trama, um condomínio precisa se reunir.

A reunião vai começar.

No palco, apenas dois atores para interpretar todos os personagens, muitos, ao mesmo tempo.

No centro da trama, está DOMENICO (PEDROCA MONTEIRO), um cantor e compositor de “bossa-nova contemporânea”, prestes a lançar o seu primeiro “show” solo. Ele quer, apenas, silêncio, para compor suas canções. Não é pedir muito, não é mesmo?

Ele paga seus impostos, respeita as leis (quase totalmente), dá “bom dia” para todos, no prédio, evita entrar em discussões políticas, considera-se um cidadão de bem.

Acredita que merece ter um pouco de silêncio, mas, hoje em dia, isso parece impossível. Em qualquer condomínio, a situação é de tensão. De barulho. De guerra.

Com o desenvolvimento da história e a chegada do investigador RAYMOND (SÁVIO MOLL), que lá apareceu para apurar fatos acerca de um crime, um assassinato, e que, também, compõe músicas, nas horas vagas, o que era bufo vai ficando sinistro, e DOMENICO precisa fazer seu “show”, de bossa-nova, no sábado. Tem que ser um sucesso.

Mas como cantar sobre “barquinhos”, quando há gritos e latidos ensurdecedores no corredor?

Os desdobramentos disso tudo o espectador confere no palco, preparando-se para dar boas gargalhadas.





           

            Este texto de BRÍCIO é o resultado de mais uma de suas pesquisas, em forma de comédias, que exploram a contemporaneidade, via TEATRO, apostando na eficácia deste meio de comunicação, o qual aproxima, bastante, emissores de receptores, porém exigindo muito mais dos atores, ao contrário do que a maioria das pessoas acha, em relação ao drama. Em “O CONDOMÍNIO”, fica bem patente a questão do elemento “absurdo”, permeando o texto de seu início ao fim. Há um perceptível flerte entre o próprio Teatro do Absurdo e o humor absurdo de Kafka, este, porém, tangendo, diretamente, o real, já que “vivemos numa época em que ele virou cotidiano e a realidade se assemelha a um pesadelo” (Trecho, também, extraído do já referido “release”).

       Com minhas palavras, traduzo o pensamento e o desejo do dramaturgo, com esta peça. PEDRO BRÍCIO observou, atentamente, “os radicalismos mais assustadores da nossa sociedade”, o que existe em abundância, e propõe, ao público, uma reflexão cômica e, como não poderia deixar de ser, crítica – porque todo humor é, antes de tudo, crítico - sobre esses conflitos de violência e intolerância, como forma de, ainda que um pouco utopicamente, se chegar a uma melhoria na nossa qualidade de vida e no exercício da nossa condição de cidadãos. Dessa forma, “como em toda boa comédia”, o autor quis, e conseguiu, de uma forma muito satisfatória, “expor as nossas fraquezas, o nosso ridículo, acreditando que o riso é uma forma de aguçarmos a nossa percepção”. E consegue isso, de verdade, brilhantemente.

Parece-me que o desejo de BRÍCIO e dos envolvidos no projeto, de “realizar um espetáculo atual, relevante, provocativo, hilário, inquieto, comunicativo, pleno das neuroses do presente” foi perfeitamente atingido. De uma coisa podem ter certeza: o texto é provocativo e instigante. É difícil, depois de ter gargalhado à farta, o espectador sair do Teatro sem refletir sobre o que viu. “O CONDOMÌNIO” é aquele tipo de espetáculo que quase nos obriga a uma “esticadinha” ao bar da esquina, para discutir o que se viu e se ouviu em cena.









            PEDRO BRÍCIO e ALCEMAR VIEIRA, a quatro mãos, optaram por uma direção bem descontraída, leve, dando a impressão de que deram liberdade para que os atores também participassem dela. As marcações pareceram-me – posso estar errado – bem previsíveis, propositalmente, dentro de um clima de cafonice, mergulhado em latinidade, que combina muito bem com todos os elementos da trama, sem tirar o pé do deboche, essencial nesse universo. Os atores, interagindo com o público e cantando e dançando ritmos latinos, são um achado. Tudo isso gerou um bom trabalho de direção.

            PEDROCA MONTEIRO e SÁVIO MOLL encarnam seus vários personagens, alguns em aparições meio meteóricas, também descontraidamente, passando-nos a impressão de que se divertem muito com o que fazem. Ambos estão soltos em cena, não perdendo a oportunidade de incluir um “caco”, sempre que podem tirar partido de alguma situação imprevista, vindo da plateia e ou ocorrida em cena. São dois ótimos atores, que se saem bem no drama e na comédia, sendo que, nesta, PEDROCA leva uma ligeira vantagem sobre o companheiro de cena, porque está mais acostumado a interpretar esse gênero teatral, quero crer, e porque tenha uma veia cômica mais aguçada, talvez. Ambos, entretanto, se igualam, positivamente, em termos de interpretação, nesta montagem, sendo que, novamente, sou obrigado a pôr um pouco mais de foco sobre PEDROCA, em função das características de seu principal personagem, DOMENICO. Isso sempre faz diferença, o que não quer dizer que não seja interessante o personagem considerado “pièce de resistance” de SÁVIO MOLL, na trama, RAYMOND. Em cada apresentação, um ator ou atriz, posicionado saído da plateia, faz uma rápida participação especial no espetáculo.









            O cenário, de TUCA BENVENUTTI e MURILO BARBIERI é bastante interessante. Eles conseguiram atingir ótimas soluções, para resolver os desafios cenográficos exigidos pelo texto, tudo reunido num só espaço, abusando da criatividade e brincando com os elementos cenográficos, quase tudo puxado para o vermelho. Pensei que, no palco do Teatro Ipanema, o efeito do cenário fosse perder consistência e destaque, em relação ao que já havia visto no SESC Copacabana, contudo, a transposição de um espaço para outro não diminuiu a graça daquele elemento.

        É muito criativo o figurino, de ANTÔNIO MEDEIROS, deixando-me, porém, um pouco intrigado – mentira: MUITO -, com relação à inversão das cores dos dois ternos, bem talhados, diga-se de passagem, e dois detalhes neles aplicados, que, por mais que eu me esforce, não consigo descrever. Pode isso ter um grande significado, não captado por mim, ou não passar de mais uma “brincadeira séria”, na peça.









Funciona positivamente a iluminação, de ANA LUZIA DE SIMONI, sem nenhum detalhe que possa chamar a atenção. Correta e eficiente.

        A peça conta com muita música e dança, coreografias durante alguns diálogos. Naquela, original, o crédito vai para JONAS SÁ e GUSTAVO BENJÃO. Nesta, SORAYA BASTOS é o nome da profissional responsável pelos hilários “passinhos” dos “meninos”, estes também brincando de tocar alguns instrumentos musicais em cena.








FICHA TÉCNICA:

Autor: Pedro Brício
Direção: Pedro Brício e Alcemar Vieira

Elenco: Pedroca Monteiro, Sávio Moll e Alcemar Vieira (revezando com Pedroca Monteiro)

Cenário: Tuca Benvenutti e Murilo Barbieri
Figurino: Antônio Medeiros
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Coreografia: Soraya Bastos
Preparação Vocal: Débora Garcia
Música: Jonas Sá e Gustavo Benjão
Programação Visual: Raquel Alvarenga
Fotos: Elisa Mendes
Direção de Produção: Cláudia Marques
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Realização: Fábrica de Eventos





 





SERVIÇO:

Temporada: de 17 de novembro a 10 de dezembro de 2018.
Local: Teatro Ipanema.
Endereço: Rua Prudente de Morais, 824 – Ipanema - Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 3518-5220.
Valor do Ingresso: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia entrada).
Duração: 80 minutos.
Classificação Etária: 12 anos.
Gênero: Comédia.
 







            Penso, ou melhor, tenho certeza de que “O CONDOMÍNIO” é um espetáculo que agrada a espectadores de gostos bem distintos, porque é uma comédia alegre, bem escrita, dirigida e interpretada, que merece ser vista. Alguns vão apenas se divertir, e isso já é muito; outros irão além e saberão ler as entrelinhas e chegar à verdadeira proposta do espetáculo. Para estes, a ida ao Teatro Ipanema valerá ainda mais.

            Recomendo, com empenho, o espetáculo.




 




E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

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RESISTAMOS!!!

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POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!






(FOTOS: ELISA MENDES.)































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