sexta-feira, 14 de julho de 2017


DEUSES INVISÍVEIS

OU 

O DEUS DANÇANTE

 

(UMA RARA E AGRADABILÍSSIMA EXPERIÊNCIA TEATRAL.)



 



            As boas surpresas... Sempre elas... Que bom que surgem, quando menos as esperamos!

            Gente que eu não conhecia, de quem jamais ouvira falar, aportou, no Rio de Janeiro, mais propriamente, no delicioso Teatro Cesgranrio, com um espetáculo belíssimo, que merece ser visto por quem tem sensibilidade e ama a arte de representar.

            O espetáculo em tela chama-se “DEUSES INVISÍVEIS ou O DEUS DANÇANTE” (VER SERVIÇO.), “um manifesto sobre as relações humanas, desenhado em dez histórias, por dois atores, quatorze personagens e uma infinidade de emoções”, encenado pela CIA. TEATRO IMEDIATO.

            Diz o “release”, enviado pela assessoria de imprensa (FRANCINY ESPÍNDOLA), que o espetáculo provoca o público a rever velhos conceitos, aplicados a relacionamentos e questões sociais. (...) Entre diversas histórias, dançam, no tablado, gêneros e temas que expõem fragmentos de vida, arquétipos de homens e mulheres, que, de alguma forma, estão interligados e se afetam. Inquietante”.

            Apresenta-se, em cena, o casal LUDMILA BRANDÃO e THOR VAZ, também responsáveis pela dramaturgia, enquanto cabe a THOR a encenação da peça.

            Também faz parte da CIA, de origem baiana, em 2010, um terceiro integrante, LEOPOLDO VAZ EUSTÁQUIO, músico e compositor, que assina a instigante trilha sonora.

É a primeira vez que o grupo atua no Rio de Janeiro, depois de seis trabalhos realizados, com sucesso, em Salvador e em São Paulo.
 
 
 



“O fio condutor da trama é orquestrado por uma mulher, diagnosticada com esquizofrenia, que, internada em uma clínica psiquiátrica, inventa uma fábula, para traduzir a forma como vê a sociedade. Uma história com diversas camadas de entendimento, onde todas as personagens estão intimamente ligadas entre si’ (extraído do “release”)

Ainda esclarece tal material que “o processo de montagem segue sempre a mesma metodologia: inicia-se pela construção da dramaturgia e a consequente busca por um espaço ideal à montagem. Logo em seguida, começam os ensaios, e outros artistas são convidados a participar da obra, como parceiros do grupo, na investigação do essencial para a realização de uma ação artística potente. Todo o resto é supérfluo neste método, adotado pela companhia, e cunhado por Grotowski como ‘Teatro Pobre’”.

 
 
 



 
SINOPSE:
 
GEORGETE (LUDMILA BRANDÃO), paciente de uma clínica psiquiátrica, recebe a visita do seu médico e companheiro filosófico (THOR VAZ).
 
Para ele, ela desnuda, teoricamente, a loucura que a perturba, dia e noite, através de uma fábula social, que une todos os seres em um mesmo emaranhado poético. Uma antologia de encontros. Retratos vivos de momentos que moldaram destinos pessoais e coletivos; e a desconfiança de que nossa individualidade é uma utopia e, só através dos encontros, passamos a existir.
 


 
 


            A produção do espetáculo é franciscana, o que valoriza, mais ainda, a sua qualidade. Sem nunca ter contado com patrocínio público ou privado, conseguindo, apenas, um ou outro apoiador, a CIA TEATRO IMEDIATO mostra seu trabalho de forma totalmente independente.

            Elementos técnicos da montagem são quase que acessórios e bastante limitados, com destaque, apenas, para a iluminação, que é um acontecimento, uma verdadeira obra de arte. É muito mais estética que funcional, o que lhe confere, além da beleza, um diferencial, em relação ao que significa a iluminação numa montagem teatral.

            O cenário, bastante minimalista, é, praticamente, inexistente e perfeitamente dispensável. Palco nu; uma rotunda, ao fundo, branca, que se presta a projeções; duas pretas, nas laterais, e apenas dois banquinhos, de acrílico, ao que parece, transparentes, sobre o palco. Tudo para deixar o casal de atores bem à vontade, para ocupar todo o espaço cênico, com suas “perfomances”.

            Os dois figurinos são iguais: um traje branco, meio amorfo, que pode sugerir, ao espectador, o que este bem entender.  
 
 
 


            Enriquece, sobremaneira, a encenação o belo e apurado trabalho de criação de uma trilha sonora original, que “mistura um minucioso trabalho de paisagem sonora, construção de atmosferas energéticas, silêncios e efeitos de indução sensorial; sem dúvida, um dos pontos altos do espetáculo”.

            Paralelamente, as histórias vão se entrelaçando, no palco e “os dois atores revezam-se entre os papéis, compondo vários seres, em situações que trazem reflexões fundamentais à contemporaneidade. Questões como a invisibilidade das minorias; a falta de consciência a respeito de quem somos e como nos relacionamos; a dificuldade de encontrar-se, em si e no outro; a nossa função, no todo universal; a escassez no afeto, mesmo entre familiares; o sentido vazio de moralidade e dever na propagação dos padrões afetivos; as relações extraconjugais; as relações amorosas abusivas; a questão de gênero; a noção de valores entre a fama ‘versus’ o anonimato e o abismo que separa dois seres que moram no mesmo edifício constroem, de forma intrigante, cenas cotidianas, que podem ser vividas por qualquer indivíduo”.
 
 


            Essa farta e nossa velha conhecida matéria-prima, tão próxima à realidade do público, e a forma como as situações são tão bem vivenciadas pelos atores estabelecem um nível de interesse, no sentido da plateia para o palco, tão imediato e intenso, que não conseguimos piscar, durante a peça.

            Agradou-me demais a atuação de LUDMILA e THOR, dois excelentes artistas, que, como tantos por aí, ainda são desconhecidos do grande público, entretanto merecem ter o seu trabalho conhecido, aplaudido e valorizado pela comunidade que frequenta teatros.
 
            Um detalhe que me chamou muito a atenção foi o trabalho corporal e vocal da dupla. Ambos falam, durante quase todo o espetáculo, num tom de voz baixo e suave, completamente audível, graças ao excelente desenho de som, a cargo de LEOPOLDO VAZ EUSTÁQUIO

 
 
 
 
 

 
FICHA TÉCNICA:
Concepção e Dramaturgia: Ludmila Brandão e Thor Vaz 
Elenco: Ludmila Brandão e Thor Vaz
Encenação: Thor Vaz
Direção de Arte: Ludmila Brandão
Trilha Sonora Original: Leopoldo Vaz Eustáquio
Desenho de Som: Leopoldo Vaz Eustáquio 
Iluminação: Cia Teatro Imediato
Figurino: Cia Teatro Imediato
Fotografia e Filmaker: Laura Fragoso
Designer Gráfico: Laura Fragoso
Assistente de Produção: Laura Fragoso
Produtor: Javier Rubin
Assessora de Imprensa: Franciny Espíndola
 

 
 

 

 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: De 06 a 28 de Julho de 2017.
Local: Teatro Cesgranrio.
Endereço: Rua Santa Alexandrina, 1011 - Rio Comprido – Rio de Janeiro – RJ.
Dias e Horários: Às 5ªs e 6ªs feiras, às 19h30min.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).
Venda: www.ingressorapido.com.br e Bilheteria do Teatro.
Duração: 1h20min.
Classificação Etária: 14 anos
 
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Um dos muitos parâmetros que costumo utilizar, para avaliar o grau de prazer que um espetáculo teatral provoca em mim, é a avaliação do chamado tempo psicológico, interior, pessoal, que significa este passando naturalmente, do ponto de vista cronológico (aqui, no caso, 80 minutos), entretanto dando a impressão de que “voou”, passou, sem ser percebido, deixando aquela vontade de “quero mais”.

Assim acontece em “DEUSES INVISÍVEIS OU O DEUS DANÇANTE”. Saímos do Teatro na certeza de que gostaríamos de continuar nos deliciando com o que estávamos vendo.

Recomendo o espetáculo, sabendo que os que aceitarão a minha recomendação haverão de se associar à minha opinião sobre ele.
       

 
 

 

(FOTOS: LAURA FRAGOSO)
 
 
 

 

 

 

 

 

 
 
 
 
 
 
 
















 

 


 
 


 

 

 

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