quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

ALICE ATRAVÉS
DO ESPELHO


(QUAIS SÃO OS LIMITES ENTRE 
O REAL E A FANTASIA?
ou
E QUANDO A FANTASIA 
É MAIS REAL DO QUE PARECE?)







            Há 30 anos, o TEATRO BRASILEIRO se orgulha de uma de suas melhores companhias, a ARMAZÉM COMPANHIA DE TEATRO, fundada em 1987, em Londrina, e radicada, no Rio de Janeiro, desde 1998, nas dependências da antiga Fundição Progresso.

            Com uma bagagem de 28 espetáculos, todos de altíssima excelência, muitos premiados, e com reconhecimento até no exterior, onde, a convite, já se apresentou em festivais, a COMPANHIA está reencenando, mais uma vez, até o dia 20 de fevereiro, na sua sede, um dos seus melhores espetáculos, talvez sua obra-prima, se bem que escolher a melhor montagem do grupo, dentre todas, seja tarefa das mais difíceis.

            O espetáculo ora comentado e analisado é “ALICE ATRAVÉS DO ESPELHO”, cuja primeira encenação se deu, ainda em Londrina, em 1998, e, no ano seguinte, no Rio de Janeiro, onde voltou a ser montada tantas vezes, sempre com o maior sucesso, lotação esgotada (dois anos em cartaz, 1999/2000; 2004; 2007; 2012; 2016, além da atual).















            Falar em ARMAZÉM remete-nos a “Casca de Noz”, “Toda Nudez Será Castigada”, “Mãe Coragem E Seus Filhos”, “Inveja dos Anjos”, “Antes Da Coisa Toda Começar”, “A Marca D’Água”, “O Dia Em Que Sam Morreu” e “Inútil A Chuva”, além de “ALICE...”, é claro. São espetáculos dos mais emblemáticos da COMPANHIA, que deixaram saudade no público amante do bom TEATRO. Felizmente, de vez em quando, entre uma montagem inédita e outra, um deles é remontado.

Foi com “ALICE...” que a COMPANHIA ganhou credibilidade, respeito e admiração, no Rio de Janeiro, aqui fincando raízes, para a nossa alegria.

            Além de encenar autores consagrados universalmente, a ARMAZÉM conta com uma dramaturgia própria, responsável por alguns de seus melhores textos encenados, em que despontam os nomes de PAULO DE MORAES, JOPA MORAES, o caçula, e MAURÍCIO ARRUDA MENDONÇA, que assina o excelente texto de “ALICE...”.


                                             


Neste espetáculo, principalmente, mas em outros, também, o texto corre, lado a lado, com a grande capacidade de exploração do corpo dos atores, assim como a utilização de elementos circenses, ligados, em geral, à difícil arte da acrobacia. Encarar 75 minutos em cena, em “ALICE...”, é uma prova de resistência física, que não é para qualquer principiante; e, também, para o púbico, já que o espetáculo é itinerante e exige vários deslocamentos e prova de vigor dos assistentes.


 





SINOPSE:

A dramaturgia da peça é baseada na história pessoal do escritor inglês LEWIS CARROLL (Charles Lutwidge Dodgson)1832 / 1898 - e em dois dos seus mais importantes e conhecidos livros, tendo como personagem principal a que dá titulo à peça.

O texto conta a trajetória de ALICE, uma menina em constante estado de transformação (“Eu sei quem eu era, quando me levantei, hoje de manhã, mas acho que já me transformei bastante, desde então.”).

A partir de um sonho, ela é transportada para um mundo imaginário, onde vai encontrar figuras saídas da imaginação de LEWIS CARROLL, como o Chapeleiro Maluco, a Rainha, o Gato Que Ri, a Lebre No Cio, a Lagarta, fumando “narguilé”...

Num mundo permeado pelo “nonsense” e pelo onirismo, ela vai ter que descobrir uma outra forma de lidar com suas emoções.

E nós, com ela...




 






            Fazer uma crítica a este espetáculo é, ao mesmo tempo, muito fácil, pela total abundância de méritos, e difícil, por tantos detalhes interessantíssimos, que podem vir a ser omitidos, nestes escritos, pelo fato de eu não ter tido condições para anotá-los, como é meu hábito, em função do tipo de encenação.

MAURÍCIO ARRUDA MENDONÇA esbanja talento, na dramaturgia, criticando o que encontra pela frente, por meio de situações inusitadas, recheadas de um humor cáustico, por vezes, o que permite, a PAULO DE MORAES competir, com ele, em genialidade, da mesma forma, no bom sentido, obviamente.

PAULO abusa da inteligência e criatividade, quer na direção do espetáculo, quer na fantástica concepção do espaço cênico E ainda divide, com GÉLSON AMARAL a genial cenografia. Jogando em todas as posições, batendo o escanteio e correndo, para marcar o gol, com uma bela cabeçada, ainda é o responsável por uma trilha sonora irretocável, na qual não poderiam faltar os BEATLES, e uma iluminação totalmente adequada ao espaço físico e às cenas, criando momentos inesquecíveis nesse sentido.

Logo de saída, seu espírito inovador e instigante está presente na opção de não utilizar um palco italiano ou qualquer outro formato, fixado num só lugar, preferindo uma montagem interativa e itinerante, que permite, aos espectadores, embarcar, com a protagonista, numa “viagem” muito louca e divertida, mas que também abre horizontes para novas reflexões acerca de vários assuntos, tão presentes no nosso dia a dia, como sexo, drogas, valores éticos e políticos, assim como os conceitos de sanidade e loucura.















Embora o espetáculo se destine a um público reduzido, de 60 pessoas, ao longo de sua trajetória, “ALICE...” já foi vista por cerca de 50 mil espectadores, atingindo a considerável marca de algumas centenas de apresentações.

Apesar de baseado em livros infantis, trata-se de um espetáculo adulto e para adultos. Com ALICE, aprendemos a enxergar o mundo de uma forma diferente do que nos é passado, a valorizar o direito de sonhar e a ter cuidado com a extensão dos nossos sonhos. ALICE, sem querer, transforma-se no “alter ego” de cada um de nós, ou vice-versa. Os jogos, as brincadeiras, as piadas e o surrealismo em cena servem para testar o nosso grau de consciência humana, em primeiro lugar, e cidadã.

O conjunto dos elementos técnicos da peça (concepção do espaço cenográfico, cenografia, luz, trilha sonora, objetos de cena...), tudo converge para a criação de um momento onírico, que se passa no interior de uma gigantesca caixa preta, dentro da qual “tudo é permitido”, em prol de um grandioso espetáculo.

Os figurinos da peça são uma atração à parte, todos assinados por JOÃO MARCELINO, lembrando bastante - o que, a meu juízo, é muito positivo - o estilo da grande figurinista Thanara Schonardie, quando utiliza objetos de uso do cotidiano, para fazer apliques, bordados, e confeccionar adereços, como, por exemplo, coroas feitas com seringas de injeção, sem falar nos vários tipos de tecido empregados nas roupas.















Extremamente alegre e vivo, ágil e dinâmico, no sentido mais amplo dos quatro adjetivos, o espetáculo não cai, em momento algum, no marasmo, na mesmice. Muito pelo contrário; cada nova cena traz uma surpresa maior ao espectador, que se sente na “obrigação” de seguir os comandos dos atores, a começar por acompanhar ALICE, quando ela passa por um enorme espelho oval, todo rachado, que nada mais é do que o início do caminho de sua peregrinação.

No escuro, cada espectador desce por um enorme escorrega e vai parar num hospício, a melhor metáfora, não para o mundo de ALICE, mas para a nossa vida, com referências à contemporaneidade.

A solução encontrada pelo diretor e pelo cenógrafo, nas cenas em que a menina diminui de tamanho e cresce exageradamente é genial, mas não vou ser responsável por um “spoiler”, já que perderia totalmente a graça, para quem ainda verá a peça.

A partir daí, salve-se quem puder, para não ter as suas cabeças cortadas!

É uma experiência indescritível passar por situações teatrais, é verdade, que nos fazem voltar à infância, quando tudo aquilo era apenas imaginado, não materializado, quando líamos os livros de LEWIS CARROLL.

Nas montagens da COMPANHIA ARMAZÉM DE TEATRO, é bem comum haver personagens protagonistas e coadjuvantes, como em qualquer história, entretanto o nível profissional de cada ator/atriz faz com que todos mereçam elogios na mesma proporção. É evidente que, por força de seus personagens, alguns ganham um pouco mais de destaque, como LISA EIRAS FÁVERO (ALICE, nesta versão), PATRÍCIA SELONK (CHAPELEIRO MALUCO), SIMONE MAZZER (RAINHA), SÉRGIO MEDEIROS (CHARLES DODGSON,  JOPA MORAES (GATO QUE RI) e ANDRESSA LAMEU (LEBRE NO CIO).


            


Todos do elenco sabem tirar partido de suas vozes e trabalham a expressão corporal, de modo a compor, com bastante perfeição e realidade, seus personagens.

Trata-se de um espetáculo imperdível!!!

Quem não assistir a ele, pelo menos uma vez (eu já vi três) estará perdendo a oportunidade de conhecer o que é fazer TEATRO com sensibilidade, harmonia, bom gosto e muito talento.

Vá assistir imediatamente.

Antes de mergulhar no mundo mágico de ALICE, é servido, a cada espectador, uma xícara de um delicioso chá, ainda fora do “teatro”. Tome-o e deixe que ele “bata”, forte, em você e o ajude na “viagem” (OBSERVAÇÃO: É apenas uma brincadeira!!! O chá existe, sim, e eu o recomendo, porém, (É claro!!!) não contém ingredientes alucinógenos. É TEATRO, gente!!!).

Permita-se ser adulto e criança, ser plateia e palco; permita-se ser feliz!

         Numa das primeiras falas de ALICE, a personagem diz: “Eu sei quem eu era, quando me levantei, hoje de manhã, mas acho que já me transformei bastante, desde então.”). Depois de assistir à peça, você pensará como ela.














FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Maurício Arruda Mendonça
Direção: Paulo de Moraes

Elenco:
Lisa Eiras Fávero (Alice)    
Patrícia Selonk (Chapeleiro Maluco)                    
Simone Mazzer (Rainha)                
Sérgio Medeiros (Charles Dodgson)                     
Jopa Moraes (Gato Que Ri)                       
Marcos Martins (Lagarta)             
Ricardo Martins (Rei)                    
Flávia Menezes (Dormundongo)                                       
Isabel Pacheco (Duquesa)
Andressa Lameu (Lebre no Cio)               

Concepção de Espaço Cênico: Paulo de Moraes
Cenografia:   Paulo de Moraes e Gélson Amaral
Figurinos: João Marcelino
Iluminação e Trilha Sonora: Paulo de Moraes
Projeto Gráfico Original: Maurício Grecco
Projeto Gráfico Adaptado: Jopa Moraes
Fotos: Mauro Kury
Produção Executiva: Flávia Menezes
Produção: Armazém Companhia de Teatro
Patrocínio: PETROBRAS
















SERVIÇO:

Temporada: De 13 de janeiro a 20 de fevereiro (2017)
Local: Espaço Armazém – Fundição Progresso – Rua dos Arcos, 24 – Lapa – Rio de Janeiro
Tel. (21) 2210-2190
Dias e Horários: 6ª feira, sábado e 2ª feira, às 20h; domingo, às 18h e 20h
Duração: 75 minutos
Recomendação Etária: 12 anos
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia-entrada)
Assessoria de Imprensa: produção@armazemciadeteatro.com.br





 














(FOTOS: MAURO KURY
e

DIVULGAÇÃO.)

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