terça-feira, 12 de janeiro de 2016


MEU PASSADO ME CONDENA,

A PEÇA

 

 

(UMA “MASTER CLASS”

DE BOM HUMOR!)

 

 


 

 

Por mais paradoxal que possa parecer, “humor é coisa muito séria”.

 

Chega a ser constrangedor e irritante aquele(a) que pensa ser engraçado(a) e tenta fazer com que uma plateia ria do que não tem a menor graça, ou que, até, poderia ter, se fosse dito por outras pessoas. Resumindo, fazer humor é muito difícil e, consequentemente, não é para qualquer um, não é para amadores; é preciso ter muito talento, muitas qualidades, a fim de que se possa atingir o respeito como ator cômico.

 

Abusando da falta de originalidade – e sem querer ser engraçado (JURO!) – acho que cabe aqui aquela velha afirmação de que “é muito mais difícil fazer rir do que chorar”. Perdão, mas achei que valia a pena o lembrete, embora muitos não consigam entender o porquê de tal assertiva. Mas não serei eu a explicar o sentido da frase.

 



Enfim, sós!

 




Tudo são flores?

 


Uma pessoa que deseje atuar, em TEATRO, mesmo que não tenha vocação para tal, pode, à custa de muito estudo e dedicação, vir a se tornar um(a) ator(atriz) razoável; às vezes, infelizmente, medíocre. Um fato, entretanto, é inconteste: se lhe for atribuído um papel cômico, o desastre será muito maior, porque, para fazer humor, é preciso muito mais do que técnica de interpretação teatral; é fundamental que o indivíduo tenha uma enorme dose de inteligência, de raciocínio rápido, de capacidade de improvisação e de naturalidade – ser engraçado naturalmente; às vezes, até sem o uso da palavra. Há atores cômicos que, ao entrar em cena e lançar um simples olhar para a plateia, em total silêncio, esta já se desdobra em risos e gargalhadas. Poderia citar, aqui, inúmeros exemplos de brasileiros, do passado e contemporâneos, porém, para ser breve, vou direto ao assunto.

 

Sinceramente, eu não me lembro, mesmo, de, alguma vez, na minha vida, ter assistido a uma comédia, no TEATRO, e ter rido, gargalhado, tanto, ininterruptamente, durante 80 minutos, a ponto de ficar com dor nos maxilares.

 

Foi, exatamente, o que aconteceu, quando vi, na última 6ª feira (8/1/16) “MEU PASSADO ME CONDENA, A PEÇA”, no Teatro das Artes (Shopping da Gávea - Rio de Janeiro), com FÁBIO PORCHAT e MIÁ MELLO.

 



Vamos transar?

 

 


Discutindo a relação I.

 

 

 

 
SINOPSE:
 
MIÁ (MIÁ MELLO) e FÁBIO (FÁBIO PORCHAT) se conhecem na fila do banheiro de uma festa e, um mês depois, se casam.
 
A peça se passa antes do filme e do seriado, já bastante conhecidos. FÁBIO e MIÁ chegam a casa, depois da festa de casamento, e começam a discutir a relação.
 
Assim, depois que adentram o novo apartamento, o casal até tenta entrar no clima para a noite de núpcias, mas o apartamento pequeno; os presentes, que não agradam; as duas famílias e – pior! – o fato de não saberem nada sobre o passado um do outro começam a interferir na lua-de-mel.
 
Será que o amor sobrevive a essa noite?
 

 

 

 


Será que o amor sobrevive a uma noite?

 

 

Duvido muito que o espetáculo fique em cartaz apenas por três meses, como está prevista a temporada. Em São Paulo, estendeu-se por quinze, tendo sido visto e aplaudido por mais de 40.000 pessoas. No Rio, tem tudo para ser mais extensa, já que a peça “tem a cara do Rio de Janeiro”, como tive a oportunidade de dizer a INEZ VIANA, responsável pela direção. Aliás, a propósito, quero fazer, aqui, uma retificação: a peça, na verdade, “tem a cara do Brasil” e fará sucesso em qualquer cidade, seja capital, seja do interior.

 

A peça é baseada numa série de TV, do mesmo nome, exibida por um canal a cabo, e que nunca deveria ter saído da grade da emissora. Não perdi um episódio e assisti às reprises. Lá, a dupla ainda tinha um outro casal fixo, no elenco, que só fazia enriquecer a qualidade do programa: INEZ VIANA (SUZANA), e MARCELO VALLE (WILSON), seu ex-marido. ERA HILÁRIO! Felizmente, parece que a terceira temporada já está em fase de produção.

 

Em função do sucesso do seriado, foram feitos dois filmes, longa-metragem, com direção de Júlia Rezende, ambos com sucesso absoluto de público e de crítica, sendo que o primeiro filme foi a segunda maior bilheteria do cinema nacional, em 2013, com mais de 3.000.000 de espectadores. Espero que ainda venham um livro e um DVD. Fica a dica.

 

 


Discutindo a relação II.

 


A caminho dos “finalmentes”, mas...

 

 

O texto, de TATI BERNARDI, que também assinou os roteiros do seriado e dos filmes, é exageradamente engraçado, feito com um humor fino e inteligente. Não é aquele humor previsível, no qual, no meio da fala do personagem, já se sabe o seu final. É surpreendente, uma surpresa logo após a outra. É intenso, num ritmo frenético, que não dá tempo nem de respirar. Ouvem-se tosses e engasgos, na plateia, em função do esforço físico que o riso e as gargalhadas provocam, quando em excesso. Sabe aquela vontade de dizer a alguém: Para, pelo amor de Deus, que eu não aguento mais rir!? Eu tive ímpetos de fazê-lo. O texto é ágil, as piadas são atuais, pertinentes, cada fala no lugar certo e – é claro – tudo isso valorizado pelo talento de FÁBIO e MIÁ.



 


Discutindo a relação III.




FÁBIO PORCHAT é, sem a menor dúvida, o maior representante de sua geração, na área do “stand up”, além de ser um ATOR CÔMICO (Nunca o vi em papéis sérios.), com todas as maiúsculas, detentor de um raciocínio muito rápido, como um raio, uma inteligência impressionante e inigualável capacidade de improvisação, fundamentais na comédia. Saber improvisar e fazer uso de “cacos” não é privilégio de FÁBIO, entretanto ninguém o faz melhor que ele, em qualquer situação, dentro e fora da peça, como a demonstração que deu, quando fazia os agradecimentos, ao final da apresentação. O “espetáculo” continuou no proscênio, depois de fechadas as cortinas, graças ao incomensurável talento de FÁBIO PORCHAT.


 


Fábio Porchat.

  

MIÁ MELLO também, além de ser muito bonita e de ter um dos mais lindos sorrisos que já vi, marcando uma belíssima presença em cena, é outra grande atriz, moldada para o humor. Tem uma fantástica noção do tempo da comédia e sabe acompanhar o parceiro de cena nas improvisações.

 

 


Miá Mello.

 

 

Os dois são protagonistas. FÁBIO leva, porém, uma pequena, mínima, vantagem sobre MIÁ, porém ele não conseguiria “marcar todos os gols de placa que faz”, na peça, se ela não “levantasse a bola para ele e o deixasse na cara do gol”. Ela não é o que, em comédia, chamamos de “escada”, aquele que serve de trampolim, para que o outro brilhe. Absolutamente! Quem assim quiser denominá-la, o que não deveria ser feito, que, pelo menos, complete: uma escada Magirus, a que atinge a maior altura.

 

A dupla é perfeita. Simbiose completa. Pura química. Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, o Gordo e o Magro, Batman e Robin, FÁBIO e MIÁ...

 

É excelente a direção de INEZ VIANA, com a boa assistência de JÚNIOR DANTAS. Um detalhe, do qual eu já desconfiava, foi-me confidenciado, por INEZ, após o espetáculo: “É muito fácil e prazeroso trabalhar com esses dois”. Imagino, mesmo, o quanto isso seja a mais pura verdade. Notava-se sua sinceridade, na emoção como ela me disse tais palavras. Creio que, para qualquer diretor, ter um casal de atores do nível de FÁBIO e MIÁ, apoiados num excelente texto, fica fácil trabalhar, além de ser muito gratificante e divertido. O trabalho torna-se leve.

 

A direção não tem muito que fazer, a não ser se preocupar com as marcações e dar liberdade aos atores de criar e pôr em prática suas veias cômicas, visto que, no caso de INEZ, que já fazia parte do projeto “MEU PASSADO ME CONDENA”, na TV e no cinema, há uma grande cumplicidade com os atores, pelo fato de todos já se conhecerem há muito, e tenho a impressão de que olhares bastam, para que um entenda o outro, direção e elenco, para que seja alcançado o que se deseja com a cena (intenções, entonações, modulações de voz...). INEZ foi muito bem acompanhada, repito, pela assistência de JÚNIOR DANTAS.


 


Abrindo os presentes. Surpresas...

  

AURORA DOS CAMPOS, mais uma vez, contribui, com seu talento, com uma cenografia muito simples e a única que caberia naquela situação: dezenas de caixas de papelão, de diversos tamanhos, espalhadas e empilhadas no palco. Um detalhe: o casal está chegando da festa do casamento e vai viajar, em lua-de-mel, na manhã seguinte. Era, portanto, para encontrar um apartamento arrumado, à espera de seus “felizes moradores”. Mas isso não combinaria com aquele casal, completamente sem-noção, que se conhece na fila de um banheiro, numa festa, “transa” nesse banheiro, “apaixona-se perdidamente” e marca o casamento para um mês depois. Obviamente, a palavra “planejamento” não faz parte desse contexto.

Não há cama, porque não houve condições para a entrega; não há móveis; não há a menor infraestrutura, nada que configure uma sala; ou melhor uma quitinete, para FÁBIO, ou um “loft”, na visão de MIÁ.

 

Além das caixas – uma bem maior, vertical, indica o banheiro do acanhado espaço físico -, notam-se dois abajures. O detalhe mais interessante do cenário são as identificações, nas caixas, do que elas contêm, escritas a caneta hidrográfica, como COZINHA MIÁ, FOTOS RECORDAÇÕES, SAPATOS MIÁ, SAPATOS MIÁ COLORIDOS, RASTEIRINHAS, PRESENTES AMIGOS, PRESENTES FAMÍLIA (É aí que mora o perigo!), ROUPAS FÁBIO...
 

 


Ele só pensa em “transar”!

 

A iluminação, de TOMÁS RIBAS, é bastante simples, discreta e apresenta poucas variações, como pede o espetáculo. Um foco aqui, uma intensidade de luz maior ali... Apenas o que basta para destacar algumas situações. Trabalho correto.

 

Quanto aos figurinos, de JUDI VIDELA, estão de acordo com os personagens e a situação. Os dois entram em cena com os trajes tradicionais da cerimônia de casamento e vão, aos poucos, se livrando de uma ou outra peça, trocando-as por outros figurinos mais confortáveis e adequados à situação.

 



Figurinos mais à vontade.

 


Discutindo a relação IV.

 

 

O espetáculo ainda conta com uma boa direção musical e trilha sonora, a cargo de MARCELO ALONSO NEVES, em mais um bom trabalho.

 

No ano passado, estive em São Paulo, por três vezes, e não consegui assistir à comédia, porque não havia lugar.

 

Ao retirar meu convite, na bilheteria, constatei que a lotação já estava esgotada até a semana seguinte, o que me deixa muito feliz. E assim será sempre, tenho certeza. Portanto, aconselho, aos interessados em se divertir muito, que tentem comprar seus ingressos, pela internet, com bastante antecedência.

 

 


Enfim, “consumatum est!”

 

 

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
 
Texto: Tati Bernardi
Direção: Inez Viana
 
ELENCO: FÁBIO PORCHAT e MIÁ MELLO
 
Assistente de Direção: Júnior Dantas
Direção Musical e Trilha Sonora: Marcelo Alonso Neves
Iluminação: Tomás Ribas
Cenografia: Aurora dos Campos
Assistente de Cenografia: Júlia Saldanha
Figurinos: Juli Videla
Assistente de Figurinos: Alessandra Padilha
Fotos: João Caldas
Arte e Design: Marcos Guimarães
Assessoria de Imprensa: Luiz Menna Barreto
Produção Executiva: Ricardo Almeida (Rick)
Diretor de Produção: Sérgio Sayd
Realização: Sayd Empreendimentos Culturais
 

 

 

 


No final, tudo dá certo.

 

 

 

 
SERVIÇO:
 
Local: Teatro das Artes.
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, 52 - Shopping da Gávea  - 2º Piso - Gávea - Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2540-6004. 
Temporada: De 8 de janeiro a 27 de março.
Dias e Horários: 6ªs feiras e sábados, às 21h; domingos, às 20h.
Classificação Etária: 14 anos
Ingressos: R$100,00 (Meia-entrada para quem fizer jus ao benefício.)
 

 

 


Agressão verbal.

 

 


Agressão física (uma das cenas mais engraçadas da peça: arma = tesoura; escudo = bandeja – presente de uma das tias de Fábio).

 

 

Eu assistiria à peça todos os dias, e não me cansaria nunca!!!

A melhor comédia a que assisti, em TEATRO, em toda a minha vida!!!

 


(FOTOS: JOÃO CALDAS.)

 

 

 

 

GALERIA PARTICULAR

(FOTOS:MARISA SÁ.)

 

 

"Inez Viana é homenageada pir Fábio e Miá."

Fábio e Miá homenageando Inez Viana.

 




"Com Fábio Porchat e Marisa Sá."

Com Fábio Porchat e Marisa Sá.

 




"Com Miá Mello."

Com Miá Mello.

 

 



"Com a queridíssima Inez Viana."

Com Inez Viana.


 

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Assista também Entre Abelhas, um filme protagonizado por Fabio Porchat. Não é humor!

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