“TERRITÓRIO DO AMOR”
ou
(MUITO A SER APLAUDIDO,
POUCO A SER ESCRITO.)
ou
(O AMOR, A
MÚSICA E UM TOM
ONÍRICO E SURREAL.)
O primeiro
subtítulo desta crítica pode causar algum “estranhamento”, mas é fácil de ser
explicado. O espetáculo “TERRITÓRIO DO AMOR”,
que veio de São Paulo e, quase literalmente, aportou no Rio
de Janeiro, mais propriamente no Teatro Carlos Gomes, para uma,
infelizmente, pequena temporada de três semanas, é um lindo musical, para ser
admirado e aplaudido, porém tudo que sobre ele deve e pode ser escrito não requer
muitas palavras. Precisa ser visto e sentido, isso sim.
SINOPSE:
Uma embarcação conduz mulheres cantoras
já falecidas que marcaram a história com suas histórias de amor e de dor, com
suas glórias e suas mágoas.
Vidas que se cruzam em tempos e espaços
diferentes, vidas semelhantes no sentir.
São elas as brasileiras Elizeth
Cardoso, Maysa, Dalva de Oliveira e Dolores
Duran, que se encontram com as estrangeiras Maria Callas, Barbara,
Edith
Piaf, Mercedes Sosa e Marlene Dietrich.
As canções permeiam o espetáculo e o
texto navega nos mais profundos sentimentos humanos.
Na alegria da vida, o abandono; no
prazer, o medo; na chegada, a partida.
A peça traz o mistério da morte e o
mistério da vida, tudo com a leveza musical, que compõe, para alguns, a
recordação de lindas canções e, para outros, o aprendizado.
O amor nunca sai de cena.
Aqueles que,
seguindo a minha recomendação, forem assistir ao musical travarão contato com um espetáculo que nada
mais é do que uma ode ao mais lindo, puro e complexo dos sentimentos humanos, o
amor, a partir das canções de grandes vozes femininas da música mundial. A peça
conta com o texto de GABRIEL CHALITA, direção geral de JOSÉ
POSSI NETO e direção musical
de DANIEL ROCHA, um trio que já não
precisa mais provar a que veio.
A princípio,
merece, no mínimo, um questionamento sobre o porquê da escolha das nove
cantoras. Em outras palavras, o que poderia unir os nomes das saudosas
cantoras brasileiras Elizeth Cardoso,
Maysa, Dalva de Oliveira e Dolores Duran com os da
norte-americana Maria Callas,
as francesas Barbara e Edith Piaf, a argentina Mercedes Sosa e a alemã Marlene Dietrich? Em primeiro lugar,
não devemos nos esquecer de que o amor e a dor não têm nacionalidade; são
universais; e atemporais também, sempre “estarão na moda”. Ademais, ninguém
pode se esquecer de que todas elas, em seus diferentes tempos e sociedades,
cantaram, cada uma à sua maneira, as delícias e os dissabores do amor, seu
prazer e suas dores. O musical “lança, justamente, um olhar para o que
essas vozes poderosas e icônicas cantam a respeito desse que é o mais complexo
dos sentimentos humanos”.
Pela SINOPSE da peça, já se pode imaginar
o que nos é dado ver no palco, dentro de um tom de impenetrabilidade, envolto
numa atmosfera de onirismo e surrealismo: noves espíritos conduzidos, numa nau
enigmática, numa noite de imenso luar, para não se sabe onde, por um barqueiro
misterioso, excelentemente interpretado pelo multiartista MARCO FRANÇA. E o barco segue, numa atmosfera
onírica e poética, reunindo todas essas lendas da música mundial “no
mesmo barco”, com destino incerto. Juntas, as nove musas navegam por
águas misteriosas, enquanto contam e cantam seus amores, a partir dos grandes
temas que foram eternizados em suas carreiras, clássicos da música popular e
erudita.
“Essas mulheres fascinantes - tanto as
brasileiras como as de outras línguas - surgem para serem, ao mesmo tempo,
servas e senhoras do amor”, o grande protagonista da peça,
segundo o autor do texto. E prossegue ele, dizendo que “...graças ao jogo dramático, nós
questionamos: para onde elas estariam indo? Para onde vamos quando o amor nos
encontra?”. O amor é cego e, por conta disso, pode nos conduzir a “mares
nunca d’antes navegados”. Ainda são palavras de GABRIEL CHALITA: “Essas mulheres amaram seus amantes, a
música e o cantar. Elas também sofreram de amor. Mas é possível viver sem
sofrer de amor?”
A escolha do elenco não poderia ser
mais bem conduzida. São nove das melhores “cantrizes” do TEATRO BRASILEIRO,
algumas das quais, infelizmente, eu ainda não conhecia e delas já me tornei
grande admirador. Em ordem alfabética: BADU MORAIS (Elizeth Cardoso), BIANCA
TADINI (Maria Callas), DANIELA CURY (Barbara), FERNANDA
BIANCAMANNO (Edith Piaf), JU ROMANO (Dalva de Oliveira), LARISSA
GOES (Dolores Duran), MARIA CLARA MANESCO (Marlene
Dietrich), NEUSA ROMANO (Maysa) e TATIANA TOYOTA (Mercedes
Sosa), além de LETICIA MAMEDE (swing). O barqueiro
enigmático é interpretado pelo ator, cantor e instrumentista MARCO FRANÇA.
Não vejo necessidade nem como, por seu trabalho, destacar alguém, nesse elenco
de magnificas artistas, verdadeiros bálsamos para nossos ouvidos, entretanto,
embora todas tivessem me emocionado bastante, por conta, talvez, dos números
musicais que cantaram, minha respiração ficou um tanto comprometida pelas
interpretações de BIANCA TADINI, Callas,
e FERNANDA BIANCAMANNO, Piaf.
Para completar os grandes acertos do
espetáculo, temos, na FICHA TÉCNICA, nomes de artistas
consagrados na área de criação, como RENATO
THEOBALDO, que assina uma correta cenografia; KLÉBER MONTANHEIRO, que desenhou muitos figurinos de uma beleza e
um requinte primorosos; WAGNER FREIRE,
responsável por uma luz que ajuda, em muito, a criar os sentimentos que a peça
lança ao público; KÁTIA BARROS,
criadora de uma delicada e comedida coreografia; EDUARDO PINHEIRO, no desenho de som; e EMI SATO, visagismo.
Faz um belo trabalho de direção
JOSÉ POSSI NETO, o qual afirma que “As
músicas são a nossa grande referência para a minha direção e para a construção
do espetáculo. Elas serviram como um guia para as atrizes construírem suas
personagens...”, o que conta com minha total aprovação, por tão
interessante e simples ideia.
Quanto às canções selecionadas para a
bela e eclética trilha sonora da peça, são explorados vários “hits”,
em ritmos diversos: o universo
sinfônico de Câmera, o samba-canção, o samba, o chorinho, a marcha-rancho do
carnaval do início do século 20, o bolero, o tango, os ritmos dos povos primitivos
sul-americanos... Todas as canções, soladas ou em coro, são acompanhadas, ao
vivo, por uma excelente banda, formada por apenas cinco músicos, que tocam,
como uma grande orquestra, violoncelo, violão 7 cordas, cavaquinho, bandolim,
guitarra, sax, clarinete, flauta, bateria, percussão, glockenspiel e outros
instrumentos, sob a corretíssima direção musical de DANIEL ROCHA.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Gabriel Chalita
Direção Geral: José Possi Neto
Direção Musical / Arranjos / Composições
Adicionais: Daniel Rocha
Elenco: Badu Morais –
Elizeth Cardoso; Bianca Tadini – Maria Callas; Daniela Cury – Barbara; Fernanda Biancamanno - Edith Piaf; Ju Romano –
Dalva de Oliveira; Larissa Goes – Dolores Duran; Maria Clara
Manesco – Marlene Dietrich; Neusa Romano – Maysa; TatianaToyota – Mercedes Sosa;
Marco França – Barqueiro; e Leticia Mamede – Swing
Coro (selecionadas por audição do Instituto
Baccarelli): Gabriela Lira, Luciana
Lira, Bárbara Viana, Duda Garcez,
Gabriela Evaristo e Gabrielly Neves
Coreografia e Direção de Movimento: Kátia Barros
Cenografia: Renato Theobaldo
Figurinos: Kleber Montanheiro
Desenho de Luz: Wagner Freire
Desenho de Som: Eduardo Pinheiro
Direção de Arte: José Possi
Neto
Visagismo: Emi Sato
Direção de Produção: Marilia Toledo e Emilio Boechat
Assessoria de
Imprensa: Pombo Correio (Douglas Picchetti e Helô Cintra)
Fotografias: Caio
Gallucci
Apresentado por: Sesc RJ
Patrocínio: Estácio e Yduqs
Produção: Domínio Público
Realização: Ice Cream And
Drama Produções
SERVIÇO:
Temporada: De 12 a 29 de junho de 2025.
Local:
Teatro Carlos Gomes.
Endereço: Praça
Tiradentes S/Nº (Rua Pedro I, nº 4) - Centro - Rio de Janeiro.
Dias e Horários: 5ªs e 6ªs feiras, às 19h; sábados e domingos, às 17h.
Valor dos Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada).
Link de vendas: https://tickets.oneboxtds.com/riocultura/events/45740?sessionView=LIST
Classificação Etária: Livre.
Duração: 2h15min (com 15 minutos de intervalo).
Capacidade: 561 lugares.
Acessibilidade em todas as apresentações.
Gênero: Musical.
Se não houvesse outros
motivos que justificassem a minha recomendação do
espetáculo, apenas ouvir aquelas divinas vozes, interpretando e
cantando com tanta emoção, já valeria a ida ao Teatro Carlos Gomes.
FOTOS: CAIO
GALLUCCHI
É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!