segunda-feira, 16 de junho de 2025

“TERRITÓRIO DO AMOR”

ou

(MUITO A SER APLAUDIDO,

POUCO A SER ESCRITO.)

ou

(O AMOR, A

MÚSICA E UM TOM

ONÍRICO E SURREAL.)





         O primeiro subtítulo desta crítica pode causar algum “estranhamento”, mas é fácil de ser explicado. O espetáculo “TERRITÓRIO DO AMOR”, que veio de São Paulo e, quase literalmente, aportou no Rio de Janeiro, mais propriamente no Teatro Carlos Gomes, para uma, infelizmente, pequena temporada de três semanas, é um lindo musical, para ser admirado e aplaudido, porém tudo que sobre ele deve e pode ser escrito não requer muitas palavras. Precisa ser visto e sentido, isso sim.






 

SINOPSE:

Uma embarcação conduz mulheres cantoras já falecidas que marcaram a história com suas histórias de amor e de dor, com suas glórias e suas mágoas.

Vidas que se cruzam em tempos e espaços diferentes, vidas semelhantes no sentir. 

São elas as brasileiras Elizeth Cardoso, Maysa, Dalva de Oliveira e Dolores Duran, que se encontram com as estrangeiras Maria Callas, Barbara, Edith Piaf, Mercedes Sosa e Marlene Dietrich

As canções permeiam o espetáculo e o texto navega nos mais profundos sentimentos humanos.

Na alegria da vida, o abandono; no prazer, o medo; na chegada, a partida. 

A peça traz o mistério da morte e o mistério da vida, tudo com a leveza musical, que compõe, para alguns, a recordação de lindas canções e, para outros, o aprendizado.

O amor nunca sai de cena. 








Aqueles que, seguindo a minha recomendação, forem assistir ao musical travarão contato com um espetáculo que nada mais é do que uma ode ao mais lindo, puro e complexo dos sentimentos humanos, o amor, a partir das canções de grandes vozes femininas da música mundial. A peça conta com o texto de GABRIEL CHALITA, direção geral de JOSÉ POSSI NETO e direção musical de DANIEL ROCHA, um trio que já não precisa mais provar a que veio. 





A princípio, merece, no mínimo, um questionamento sobre o porquê da escolha das nove cantoras. Em outras palavras, o que poderia unir os nomes das saudosas cantoras brasileiras Elizeth Cardoso, Maysa, Dalva de Oliveira e Dolores Duran com os da norte-americana Maria Callas, as francesas Barbara e Edith Piaf, a argentina Mercedes Sosa e a alemã Marlene Dietrich? Em primeiro lugar, não devemos nos esquecer de que o amor e a dor não têm nacionalidade; são universais; e atemporais também, sempre “estarão na moda”. Ademais, ninguém pode se esquecer de que todas elas, em seus diferentes tempos e sociedades, cantaram, cada uma à sua maneira, as delícias e os dissabores do amor, seu prazer e suas dores. O musical “lança, justamente, um olhar para o que essas vozes poderosas e icônicas cantam a respeito desse que é o mais complexo dos sentimentos humanos”.





Pela SINOPSE da peça, já se pode imaginar o que nos é dado ver no palco, dentro de um tom de impenetrabilidade, envolto numa atmosfera de onirismo e surrealismo: noves espíritos conduzidos, numa nau enigmática, numa noite de imenso luar, para não se sabe onde, por um barqueiro misterioso, excelentemente interpretado pelo multiartista MARCO FRANÇA. E o barco segue, numa atmosfera onírica e poética, reunindo todas essas lendas da música mundial “no mesmo barco”, com destino incerto. Juntas, as nove musas navegam por águas misteriosas, enquanto contam e cantam seus amores, a partir dos grandes temas que foram eternizados em suas carreiras, clássicos da música popular e erudita.





“Essas mulheres fascinantes - tanto as brasileiras como as de outras línguas - surgem para serem, ao mesmo tempo, servas e senhoras do amor”, o grande protagonista da peça, segundo o autor do texto. E prossegue ele, dizendo que “...graças ao jogo dramático, nós questionamos: para onde elas estariam indo? Para onde vamos quando o amor nos encontra?”. O amor é cego e, por conta disso, pode nos conduzir a “mares nunca d’antes navegados”. Ainda são palavras de GABRIEL CHALITA: “Essas mulheres amaram seus amantes, a música e o cantar. Elas também sofreram de amor. Mas é possível viver sem sofrer de amor?”





A escolha do elenco não poderia ser mais bem conduzida. São nove das melhores “cantrizes” do TEATRO BRASILEIRO, algumas das quais, infelizmente, eu ainda não conhecia e delas já me tornei grande admirador. Em ordem alfabética: BADU MORAIS (Elizeth Cardoso), BIANCA TADINI (Maria Callas), DANIELA CURY (Barbara), FERNANDA BIANCAMANNO (Edith Piaf), JU ROMANO (Dalva de Oliveira), LARISSA GOES (Dolores Duran), MARIA CLARA MANESCO (Marlene Dietrich), NEUSA ROMANO (Maysa) e TATIANA TOYOTA (Mercedes Sosa), além de LETICIA MAMEDE (swing). O barqueiro enigmático é interpretado pelo ator, cantor e instrumentista MARCO FRANÇA. Não vejo necessidade nem como, por seu trabalho, destacar alguém, nesse elenco de magnificas artistas, verdadeiros bálsamos para nossos ouvidos, entretanto, embora todas tivessem me emocionado bastante, por conta, talvez, dos números musicais que cantaram, minha respiração ficou um tanto comprometida pelas interpretações de BIANCA TADINI, Callas, e FERNANDA BIANCAMANNO, Piaf.  






Para completar os grandes acertos do espetáculo, temos, na FICHA TÉCNICA, nomes de artistas consagrados na área de criação, como RENATO THEOBALDO, que assina uma correta cenografia; KLÉBER MONTANHEIRO, que desenhou muitos figurinos de uma beleza e um requinte primorosos; WAGNER FREIRE, responsável por uma luz que ajuda, em muito, a criar os sentimentos que a peça lança ao público; KÁTIA BARROS, criadora de uma delicada e comedida coreografia; EDUARDO PINHEIRO, no desenho de som; e EMI SATO, visagismo.  





Faz um belo trabalho de direção JOSÉ POSSI NETO, o qual afirma que “As músicas são a nossa grande referência para a minha direção e para a construção do espetáculo. Elas serviram como um guia para as atrizes construírem suas personagens...”, o que conta com minha total aprovação, por tão interessante e simples ideia.





Quanto às canções selecionadas para a bela e eclética trilha sonora da peça, são explorados vários “hits”, em  ritmos diversos: o universo sinfônico de Câmera, o samba-canção, o samba, o chorinho, a marcha-rancho do carnaval do início do século 20, o bolero, o tango, os ritmos dos povos primitivos sul-americanos... Todas as canções, soladas ou em coro, são acompanhadas, ao vivo, por uma excelente banda, formada por apenas cinco músicos, que tocam, como uma grande orquestra, violoncelo, violão 7 cordas, cavaquinho, bandolim, guitarra, sax, clarinete, flauta, bateria, percussão, glockenspiel e outros instrumentos, sob a corretíssima direção musical de DANIEL ROCHA.






FICHA TÉCNICA:

Texto: Gabriel Chalita

Direção Geral: José Possi Neto

Direção Musical / Arranjos / Composições Adicionais: Daniel Rocha

 

Elenco: Badu Morais – Elizeth Cardoso; Bianca Tadini – Maria Callas; Daniela Cury – Barbara; Fernanda Biancamanno - Edith Piaf; Ju Romano – Dalva de Oliveira; Larissa Goes – Dolores Duran; Maria Clara Manesco – Marlene Dietrich; Neusa Romano – Maysa; TatianaToyota – Mercedes Sosa; Marco França – Barqueiro; e Leticia Mamede – Swing

 

Coro (selecionadas por audição do Instituto Baccarelli): Gabriela Lira, Luciana Lira, Bárbara Viana, Duda Garcez, Gabriela Evaristo e  Gabrielly Neves

 

Coreografia e Direção de Movimento: Kátia Barros 

Cenografia: Renato Theobaldo

Figurinos: Kleber Montanheiro

Desenho de Luz: Wagner Freire

Desenho de Som: Eduardo Pinheiro

Direção de Arte: José Possi Neto 

Visagismo: Emi Sato

Direção de Produção: Marilia Toledo e Emilio Boechat

Assessoria de Imprensa: Pombo Correio (Douglas Picchetti e Helô Cintra)

Fotografias: Caio Gallucci

Apresentado por: Sesc RJ

Patrocínio: Estácio e Yduqs

Produção: Domínio Público

Realização: Ice Cream And Drama Produções


 







 

SERVIÇO:

Temporada: De 12 a 29 de junho de 2025.

Local: Teatro Carlos Gomes.

Endereço: Praça Tiradentes S/Nº (Rua Pedro I, nº 4) - Centro - Rio de Janeiro. 

Dias e Horários: 5ªs e 6ªs feiras, às 19h; sábados e domingos, às 17h.

Valor dos Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada).

Link de vendas: https://tickets.oneboxtds.com/riocultura/events/45740?sessionView=LIST

Classificação Etária: Livre.

Duração: 2h15min (com 15 minutos de intervalo).

Capacidade: 561 lugares.

Acessibilidade em todas as apresentações.

Gênero: Musical.


 

 





         Se não houvesse outros motivos que justificassem a minha recomendação do espetáculo, apenas ouvir aquelas divinas vozes, interpretando e cantando com tanta emoção, já valeria a ida ao Teatro Carlos Gomes.

 

 




 



FOTOS: CAIO GALLUCCHI

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!