“DUAS
IRMÃS
&
UM CASAMENTO”
ou
RIR É SEMPRE
MUITO BOM;
E RIR MENOS
É MELHOR
QUE NÃO RIR.)
PETER
QUILTER, de 59 anos, nascido
em Colchester,
Inglaterra,
e, atualmente, morando nas Ilhas Canárias, é um renomado dramaturgo
do West
End londrino e da Broadway. Suas peças já foram
traduzidas para 30 idiomas e apresentadas em mais de 40 países.
Atualmente, QUILTER tem mais
de 14 produções ativas acontecendo pelo mundo, totalizando mais
de 30 espetáculos realizados. PETER QUILTER é um fenômeno, como autor.
Já é um velho conhecido nosso, pelas montagens, no Brasil, de algumas de
suas peças mais emblemáticas. A mais importante de todas é “Judy Garland - O Fim
do Arco-Íris” (“End of the Rainbow”), de 2005,
um drama
musical sobre os últimos meses da vida de Judy Garland, que deu
origem ao filme “Judy”. No Brasil, uma inesquecível produção,
no Rio
de Janeiro, dirigida pela dupla Möeller-Botelho, garantiu, definitivamente,
Cláudia
Netto como uma das nossas maiores atrizes de TEATRO MUSICAL.
QUILTER também é autor da comédia
“Glorious”, sobre a cantora de ópera amadora Florence Foster Jenkins, uma milionária excêntrica, considerada “a pior cantora do mundo”. A peça já foi
apresentada em mais de 30 países, para um público estimado de dois
milhões de pessoas. No Brasil, também sob a direção de Charles
Möeller e Claudio Botelho, garantiu a Marília Pêra, as honras
de continuar sendo considerada uma das maiores atrizes brasileiras de todos
os tempos. Essa peça, aqui traduzida para “Gloriosa”,
também foi adaptada para o cinema, com o título original de “Florence
Foster Jenkins”.
Até bem pouco tempo – na verdade, até o presente momento – PETER QUILTER continua sendo prestigiado pelos brasileiros, por conta de sua peça “Duetos”, já assistida por mais de cem mil pessoas, no Brasil, em mais de 15 cidades, um tremendo fenômeno de sucesso, desde 2022, quando estreou, com Patrícia Travassos e Marcelo Faria fazendo as plateias darem boas gargalhadas. Depois, Du Moscovis substituiu Marcelo e o espetáculo está em cartaz até hoje, atraindo multidões a todos os Teatros por onde passa, pelo Brasil inteiro. A COMÉDIA, uma das melhores dos últimos anos, já foi apresentada em 20 países. A mais recente peça de QUILTER, “The Dating Game”, ainda sem título em português, terá produções de estreia na temporada 2024/2025 em várias cidades, simultaneamente, incluindo o Rio de Janeiro.
Por ser um velho (bom) conhecido dos brasileiros,
acredito que muita gente que sabe reconhecer o que é um bom TEATRO já começa a se
interessar por suas peças, independentemente de outros fatores. Confesso que
sou um desses. Se o texto foi escrito por PETER
QUILTER – se for uma COMÉDIA, então -, já logo me interesso por
assistir à montagem, “no escuro”, sem dar muita atenção à
FICHA
TÉCNICA, até porque, se estão numa peça de QUILTER, são de primeira linha. A COMÉDIA a ser aqui comentada
também leva a assinatura de PETER
QUILTER. Chama-se “DUAS IRMÃS &
UM CASAMENTO”, e traz, no elenco, DEBORA OLIVIERI e MAITÊ
PROENÇA.
SINOPSE:
“DUAS IRMÃS & UM CASAMENTO” é uma COMÉDIA
que traz uma história emocionante e divertida sobre a complexidade dos laços
familiares, sororidade, etarismo, autoestima, desejos e amor.
Há
um reencontro de duas irmãs, Catarina (MAITÊ PROENÇA) e Rosa (DEBORA OLIVIERI), ambas na faixa dos 60 anos, que se reúnem, em
uma pitoresca casa de campo, onde mora Rosa, para organizar um casamento,
o de Amanda,
filha de Catarina.
A peça aborda temas universais,
como o envelhecimento, a solidão e a importância da família, oferecendo uma
reflexão sobre o que, realmente, vale a pena na vida.
Esta será uma crítica curta, por conta do meu dever de ter que omitir detalhes da trama, para não “dar spoilers” e tirar, daqueles que ainda assistirão à peça, o prazer das boas gargalhadas que, de certo, darão. E, para quem tenha ficado intrigado com o subtítulo desta crítica, eis a explicação: Não pretendo estabelecer comparações do espetáculo em tela com outros do mesmo autor, entretanto ri muito menos do que nas três vezes em que assisti a “Duetos”. Não que uma peça seja melhor que a outra, até porque apresentam estruturas, carpintarias, bem distintas. A primeira reúne quatro pequenas histórias, totalmente independentes uma da outra, enquanto esta explora uma única temática, em cerca de 90 minutos. Mas, para mim, o humor é melhor em “Duetos”. Lá, eu saía com as bochechas doendo, de tanto rir. Aqui, eu saí muito feliz, porque também ri bastante, não na mesma intensidade como na outra. Mas deixei o Teatro Clara Nunes (Shopping da Gávea. Ver SERVIÇO.) bastante feliz, porque, “sendo originalíssimo”, e não querendo fazer graça, “rir é o melhor remédio”, frase, erroneamente, atribuída ao saudoso Paulo Gustavo. Na verdade, não se sabe quem, verdadeiramente, a cunhou.
Catarina, a personagem de MAITÊ, é uma mulher sofisticada e bem-sucedida, por conta dos
maridos ricos que arranjou, ao longo da vida mas está enfrentando os desafios
de múltiplos divórcios – está em pleno processo de um terceiro –,
preocupada e revoltada pelo fato do (ex)marido estar lhe cortando uma série de
benesses que lhe garantiam um “status” de “madame”. Sua única
filha, Amanda, que não aparece, fisicamente, na história, não mora com
ela e tem uma ligação afetuosa muito grande, e identificação também, com a tia Rosa,
a personagem de DEBORA.
Ao contrário de Catarina, Rosa, solteira e
independente, traz uma perspectiva não convencional à sua vida. Mora sozinha,
numa casa de campo, afastada da cidade, decadente, precisando de uma reforma, e
guarda segredos jamais imaginados pela irmã (ex-)rica, a qual, por necessidade,
retorna à casa onde viveu sua infância, para solicitar a ajuda de Rosa,
na organização do casamento de Amanda. Estava indo para passar uns
poucos dias, o tempo que durasse a faina de organizar a cerimônia e a festa,
isso sem ter dinheiro, e não tinha como voltar, para morar na casa rica em que
vivia, passado o evento.
“Água e vinho”, “juntas, elas relembram o passado e confrontam seus medos e anseios, através de confissões hilariantes e memórias evocadas, trazendo uma mensagem de esperança e celebração da vida. A narrativa é repleta de risos, memórias e uma pitada de loucura”. O texto surpreende o espectador, oferecendo-lhe uma estranheza a cada curva da estrada. Minha grande admiração pelo texto de QUILTER se dá pelo fato de ele ter a necessária expertise de saber fazer, com muita propriedade, algo extremamente difícil, muito ao contrário do que pensam muitos: escrever COMÉDIAS. Ele sabe escolher os temas, selecionar as palavras e dosar aquilo que pode causar graça, sempre fazendo uso de um “humor sarcástico, mas também afetuoso e inteligente”. Aqui, especificamente, ele construiu uma comédia que “desafia estereótipos e encoraja o espectador a encontrar alegria nos momentos mais inesperados, destacando a importância do amor e da amizade”. Os quinze ou vinte minutos finais da peça são, a meu juízo, a “cereja do bolo”, embora esta vá sendo construída aos poucos, e, certamente, pegam o espectador de surpresa, pois penso que pouquíssimas pessoas poderiam imaginar o desfecho da trama, pós-casamento.
Do ponto de vista de uma produção teatral, a peça se apresenta como um trabalho que agrada, profundamente, ao espectador, sem muitos gastos ou desperdícios. Não se trata de uma “produção faraônica”, na forma, porém é riquíssima em conteúdo. Não sei se eu seria impreciso, não querendo ser ofensivo, é claro, classificando o cenário como “kitsch”, um termo criado no século XIX, para classificar produções artísticas consideradas inferiores, feias e exageradas. Não é nesse sentido a que me referi. Esse conceito foi resinificado e, nos dias atuais, define uma manifestação cultural de personalidade que pode ser aplicada na decoração, tendo sido, no Brasil, “traduzido” (ou tornado equivalente a) como “cafona” ou “brega”. Tal conceito traz grandes reflexões, uma vez que o ideário estético é muito relativo e permite que o que seja considerado “feio”, por alguns, possa ser visto como “bonito”, por outros. O que estou, sim, desejando é elogiar o trabalho de cenografia, de ROSTAND ALBUQUERQUE, pois entendo que tudo foi pensado nos mínimos detalhes, intencionalmente, e enxergo o que está no palco como uma reprodução perfeita de uma casa com as características daquela casa de campo. No decorrer da peça, no afã de “melhorar” a casa, para a festa de casamento, alguns elementos vão sendo agregados e, dentro do conceito estético da dona da casa, vão valorizando esteticamente o ambiente. Muito interessantes a ideia e as resoluções. MARÍLIA CARNEIRO foi precisa na concepção dos figurinos, bem ajustados a cada uma das personagens. LUIZ PAULO NENEN também lançou mão de uma luz econômica, basicamente branca, que se alterna em intensidade, de acordo com o que pedem determinados momentos da trama. Tudo muito bem pensado e executado.
Devemos agradecer a RODRIGO
PENNA pela sua, pela nossa, e pela de todo mundo, Edith Piaf, que se faz
ouvir nos pequeno intervalinhos em que a luz quase não existe, bastando uma muito
fraca, para que haja alterações na cenografia.
Fica construído o ambiente perfeito para se ouvir La Piaf.
A direção de ERNESTO PICCOLO
é inteligente e correta, em tudo o que cabe numa direção teatral,
principalmente de uma COMÉDIA, gênero que, para funcionar
bem, além, principalmente, do talento do elenco, é preciso o dedo de um diretor
que saiba quando deve pressioná-lo mais ou menos, para a obtenção do “timing”
que a COMÉDIA exige. NECO
é craque nisso. ERNESTO PICCOLO
costuma receber, de muitos, o rótulo de “o rei das comédias cariocas”. Não sou
muito dos rótulos de “o mais” e “o melhor”, colocando, na
frente, “UM DOS”, contudo engrosso, sim, o coro que o considera um
dos que mais sabem dirigir o gênero; em compensação, acrescento: no
Brasil”. Basta, numa pesquisa, ver a enorme quantidade de sucessos que
ele vem emplacando como diretor de COMÉDIAS, nos últimos dez ou quinze
anos.
As duas atrizes defendem muito bem suas personagens, o que põe em evidência a distância que há entre as duas (personagens, evidentemente), do ponto de vista comportamental, mais um precioso detalhe para garantir a qualidade desta COMÉDIA. A Catarina, de MAITÊ PROENÇA, se apresenta mais histriônica, mais ousada, mais “sem papas na língua”, no fundo, tudo aquilo parece um “escudo de defesa” e um “jeitinho” para conseguir o que quer. Faz-se, quando lhe é conveniente, de "pobrezinha" e “falsa puritana” e vai marcando seus pontos. Um bom trabalho, no seu ritmo. DEBORA OLIVIERI caminha num ritmo mais “light”, que, de forma muito perfeita e natural, sabe esconder a outra metade da mulher comedida, que nunca casou, mas que não se abalou nem sofreu por isso; apenas optou por conhecer os prazeres da vida por outro viés, bem disfarçado. Também executa um ótimo trabalho. Enquanto Catarina é “para fora”, Rosa é mais “para dentro”. Nivelo, pelo mesmo sarrafo, as duas atuações e me recuso a dizer quem se sai melhor em cena.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Peter Quilter
Direção: Ernesto Piccolo
Elenco: Maitê Proença e Debora Olivieri
Cenário: Rostand Albuquerque
Figurino: Marília Carneiro
Iluminação: Luiz Paulo Nenen
Trilha Sonora: Rodrigo Penna
Programação Visual: Mauricio Tavares
Fotos de Estúdio: Thiago Bruno
Assessoria de Imprensa: Carlos Pinho
Assistência de Direção: João Maia
Assistente de Figurino: Patricia Muniz
Idealização e Produção Geral: Sérgio Lopes
Produção, “Marketing” e Comercial: Inova Brand
Coordenação de Produção: Filomena Mancuzo
Direção de Produção: Ana Paula Abreu e Renata Blasi -
Diálogo da Arte Produções Culturais
Realização: Everybody Produções, Ministério da Cultura, Governo Federal – Brasil:
União e Reconstrução
SERVIÇO:
Temporada:
De 11 outubro até 24 novembro de 2024.
Local:
Teatro Clara Nunes (Shopping da Gávea).
Endereço:
Rua Marquês de São Vicente, nº 52, loja 370, Gávea, Rio de Janeiro – RJ
Dias e
Horários: sextas-feiras e sábados, às 20h; domingos, às 19h.
Valor
dos Ingressos: Plateia: R$ 150 (inteira) / R$ 75 (meia-entrada); Balcão: R$ 150
(inteira) / R$ 75 (meia-entrada); Balcão Popular: R$ 39 (inteira) / R$ 19,50
(meia-entrada).
Vendas
na bilheteria do Teatro Clara Nunes e no “site”: https://bileto.sympla.com.br/event/97098/d/272026
Classificação
Etária: 12 anos.
Duração:
70 minutos.
Rede
social oficial do espetáculo: https://www.instagram.com/duasirmaseumcasamento/
Gênero:
COMÉDIA.
É muito desagradável ir ao Teatro,
para assistir a uma COMÉDIA e se frustrar. “DUAS
IRMÃS & UM CASAMENTO” é, exatamente, o oposto. As sessões estão com LOTAÇÃO ESGOTADA. COMPREM SEUS INGRESSOS COM ANTECEDÊNCIA! Preparem-se
para rir até cansar!. RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO, que é apresentado pelo Ministério da
Cultura e pela Brasilcap, com patrocínio do Laboratório Cristália, através da
Lei Federal de Incentivo à Cultura, a “Lei Rouanet”.
FOTOS: THIAGO BRUNO
GALERIA PARTICULAR:
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E
SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA
QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!