sexta-feira, 7 de novembro de 2025

 

“O HOMEM

DECOMPOSTO”

ou

(UM MOSAICO

DE BOM HUMOR

E CRÍTICAS.)

 

 

 

MATÉI VISNIEC, nascido em 29 de janeiro de 1956, na Romênia, ainda vivo e ativo, produzindo excelentes peças de TEATRO, é um dramaturgo romeno/francês, poeta e jornalista. É internacionalmente conhecido, montado em muitos países, mais de trinta pela Europa, além do Brasil, Estados Unidos, Japão e Turquia. Os brasileiros conhecem muitas de suas obras, aqui encenadas. Já assisti a várias e sempre me senti recompensado por tê-las visto. Tem cerca de 40 peças em seu currículo e uma ligação pessoal afetiva com o Brasil. No momento, encontra-se em cartaz, no Teatro Laura Alvim, dentro da Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro, um de seus trabalhos, a peça “O HOMEM DECOMPOSTO”, escrita em 1993, à qual assisti, um dia após a sua concorrida estreia, e que representa mais uma de suas peças que abraço e que serve de motivo para esta crítica.

 


 

SINOPSE: 

Numa sucessão de histórias curtas, através do humor e do absurdo, homens e mulheres de uma estranha sociedade não conseguem se comunicar e criam sistemas, cada vez mais, absurdos e complexos, para se protegerem uns dos outros.

 

 


 

MATÉI VIESNIEC não é um dramaturgo de um único e simples estilo. Em suas peças, encontramos características de várias distintas influências. Ele é mestre em mesclar, nas suas dramaturgias, o TEATRO do Absurdo, o realismo mágico e uma postura política e social, como pude constatar, mais uma vez, em “O HOMEM DECOMPOSTO”. Embora, propriamente, não seja ele um dos grandes autores do TEATRO do Absurdo, é certo que bebeu bastante naquela fonte, explorando a falta de sentido, a incomunicabilidade e a alienação no mundo contemporâneo. O grotesco também é um elemento presente na sua produção dramatúrgica, utilizado como ferramenta de crítica social.



  Traz, em sua bagagem, influências modernas, incorporando elementos do dadaísmo, surrealismo e realismo mágico, criando fábulas que fogem do discurso dogmático. Em muitas de suas obras, como esta em tela, reconhecemos algumas pinceladas de autores como Kafka, Dostoiévski, Camus, Beckett e Ionesco. Ainda que esteja mergulhado em temas densos, podemos dizer que se utiliza de uma linguagem poética, rica em metáforas e imagens fortes, que seduz o público e os criadores brasileiros. Adorei ver isso em “O HOMEM DECOMPOSTO”.



  Por ter vivido sob uma ditadura, sua escrita é vista, por ele, como “um ato político e uma forma de resistência”, quando aborda temas como a censura, a manipulação ideológica, a migração e os horrores do século XXI. O autor se vê com um “perturbador profissional da banalidade”, usando sua arte para “questionar o senso comum e provocar reflexão sobre a realidade”, facilmente identificado na peça aqui comentada. Resumindo, o estilo de MATÉI VISNIEC é uma síntese original de diversas correntes literárias modernas, resultando em uma dramaturgia contemporânea, engajada, poética e que utiliza o absurdo e o humor ácido para refletir sobre a condição humana e as complexidades do mundo atual, tudo presente em “O HOMEM DECOMPOSTO”.



  “Profundamente ligado aos valores da União Europeia, MATÉI VISNIEC considera-se ‘um autor engajado, humanista, de cultura universalista’. Continua a acreditar na resistência cultural e na capacidade que a literatura tem de demolir totalitarismos e ideologias tóxicas, bem como ‘as novas formas de lavagem cerebral, criadas pela sociedade de consumo e pela indústria de entretenimento’”.



           Fui, naquela noite de 01 de novembro de 2025, ao Teatro cheio de boas expectativas, com relação à peça, em função da FICHA TÉCNICA e por ser mais um texto de VIESNIEC, e encontrei muito mais do que esperava. A estrutura do espetáculo se atém a uma sequência ágil de meia dúzia de histórias curtas, independentes, no formato de esquetes, todas com muito bom humor ácido e situações de absurdo, “para desvelar um mundo de incomunicabilidade e isolamento, em que os seres sociais se estranham continuamente e não conseguem discernir de quem e de onde vêm as forças opressoras”.



         As histórias contam com dois ou mais personagens e se sucedem em ritmo vertiginoso, apresentando pessoas que se estranham mutuamente, não conseguem se comunicar, e vivem numa busca incessante por se protegerem umas das outras, tal qual acontece na vida real, descompromissadas com o ridículo e a ética. Numa dessas histórias, por exemplo, curiosos cidadãos, para garantir sua tranquilidade e segurança, chegam mesmo a se isolar dentro de estranhos círculos invisíveis, nos quais nenhuma outra pessoa pode penetrar. O sentido de autoproteção impera, de forma muito hilária. Numa outra, a cidade é tomada por uma invasão de borboletas carnívoras, que ameaçam a população; essa é a parte que mais me agradou, muito valorizada pela genial e hilária interpretação de DANI BARROS. Há, ainda, a história da empresa que oferece serviços de lavagem cerebral, para libertar as pessoas dos seus sofrimentos, uma ideia muito criativa e extremamente bem desenvolvida. Ou a do senhor que anda pelas ruas com seu animalzinho de estimação, ser que somente se sacia comendo pessoas, o que não causa estranhamento nenhum, a não ser cócegas, na mulher que está sendo devorada; o realismo mágico muito bem representado.



           Em todas as histórias, percebemos uma esdrúxula junção de um realismo distópico com a poesia e atestamos a universalidade e atemporalidade das histórias.



          Como uma arte coletiva, o TEATRO, para ser bom, como é o caso desta peça, depende um bom texto e uma FICHA TÉCNICA de comprovada competência, para levar um projeto adiante. Isso acontece nesta produção. Assim se dá nesta deliciosa peça, muito bem dirigida por ARY COSLOV, e igualmente interpretada por um quinteto de um excelente e experiente time de atores, os quais não me permitem qualquer distinção entre eles, em termos de qualidade: DANI BARROS, GUIDA VIANNA, JÚNIOR VIEIRA, MARCELO AQUINO e MARIO BORGES, na ordem alfabética.



       O elenco foi muito bem escalado e todos nos oferecem inesquecíveis momentos pessoais de atuação. Há uma interação completa entre o quinteto e cada um dá o melhor de si, nas cenas em que atuam, o que os faz protagonistas. Sim, dessa forma classifico a todos. Fazer humor é dificílimo. Quando este vem embalado com absurdas ações e falas, de forma cáustica, até um pouco cínica, talvez, de forma não escancarada, parece-me que se torna mais difícil ainda. Isso valoriza o trabalho de interpretação. Atores e atrizes, aqui, provam que jogam muito bem nas duas posições: no drama e na COMÉDIA.



         Em termos técnicos, a montagem é bem simples e, basicamente, depende do texto, da direção e das interpretações, sem a menor intenção de “reinventar a roda”, mas sim fazê-la, simplesmente, “fazê-la rodar com propriedade e precisão”, seguindo a máxima de que “menos é mais”. O palco está vazio, na grande maior parte do tempo, com cadeiras, nas duas coxias aparentes, para o descanso dos atores, quando não fazem parte da ação do momento. Simples também, e convenientes, são os figurinos, em forma de curiosos macacões, trabalho de WANDERLEI GOMES. AURÉLIO DE SIMONI, um dos mais festejados profissionais da iluminação, comparece com uma luz muito compreensível e coerente.

 

 

 

FICHA TÉCNICA:

Texto: Matéi Visniec

Tradução: Luiza Jatobá

Direção: Ary Coslov

Assistência de Direção: Johnny de Castro

 

Elenco (por ordem alfabética): Dani Barros, Guida Vianna, Júnior Vieira, Marcelo Aquino e Mario Borges 

 

Ambientação: Ary Coslov

Figurino: Wanderley Gomes 

Desenho de Luz: Aurélio de Simoni 

Direção de Movimento e Preparação Corporal: Lavinia Bizzotto e Alexandre Maia 

Trilha Sonora: Ary Coslov 

Operador de Som: Gabriel Fomm

Programador Visual: Isio Ghelman

Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany

Fotografa: Nil Caniné 

Mídias Sociais: Rafael Gandra

Produção Executiva: Bárbara Montes Claros 

Direção de Produção: Celso Lemos


 


 


 


 

SERVIÇO: 

Temporada: De 30 de outubro a 30 de novembro de 2025.

Local: Teatro Laura Alvim (Casa de Cultura Laura Alvim).

Endereço: Avenida Vieira Souto, nº 176 – Ipanema – Rio de Janeiro.    

Telefone: (21) 2332-2016.

Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 20h; domingo; às 19h.

Valor dos Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada), na bilheteria, de 3ª a 6ª feira, das 16h às 20h; sábado e feriado, das 15h às 20h; e domingo, das 15h às 19h; ou pelo  “site” https://funarj.eleventickets.com/#!/home /

Capacidade: 190 pessoas.

Duração: 75 minutos.

Classificação: 14 anos.

Gênero: COMÉDIA Dramática Fragmentada.


 


 

        Não posso deixar de dizer que acredito muito na qualidade desta montagem e que tenho plena certeza de que a temporada será de grande sucesso, tanto da parte dos espectadores quanto da crítica especializada. Na verdade, isso já vem acontecendo. Sendo assim, RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO.

 

 

 

 

FOTOS: NIL CANINÉ




 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!

 

 

 

 

 






 





















































































quarta-feira, 5 de novembro de 2025

 

“UM JULGAMENTO –

DEPOIS DO INIMIGO

DO POVO”

ou

(OBRA-PRIMA

RESUME TUDO.)


 

 

 

         Poucas vezes, aguardei, com tanta ansiedade, a estreia de um espetáculo de TEATRO, como aconteceu com “UM JULGAMENTO – DEPOIS DO INIMIGO DO POVO”, que, para a tristeza de milhares de pessoas, acabou de cumprir, no 03 de novembro de 2025, uma pequeníssima temporada, de apenas três semanas, no Teatro II do CCBB – Rio de Janeiro. Um problema técnico no meu computador deixou-me sem poder escrever minhas críticas por uma semana. Poderia, até mesmo, para alguns, não fazer sentido eu escrever uma crítica a um espetáculo já fora de cartaz, entretanto jamais me perdoaria, se não reservasse um bom tempo para escrever estas palavras, pelo simples fato de ter sido um dos melhores espetáculos a que já assisti em toda a minha vida de “rato de TEATRO”, de mais de 60 anos. Uma OBRA-PRIMA resume tudo!



         Este espetáculo é das coisas mais importantes que já desfilaram pelo Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB – RJ), nos seus 36 anos de existência, e chegou a provocar cenas esdrúxulas e reprováveis, do lado de fora do Teatro, com espectadores revoltados, por não terem conseguido adquirir seus ingressos, já que estes se esgotavam, tão logo eram colocados à venda, no primeiro dia da semana.



           A peça foi baseada num dos grandes sucessos do dramaturgo norueguês ENRIK IBSEN, um dos fundadores do TEATRO realista moderno. Antes de iniciar os comentários críticos sobre o espetáculo em tela, não vejo como prosseguir nestes escritos, sem, antes, falar um pouco sobre o autor e a obra que deu origem a esta, apoiando-me em informações extraídas da Wikipédia, checadas, minuciosamente, por mim, e com adaptações.



  HENRIK IBSEN (1828-1906), dramaturgo norueguês, é considerado um dos principais autores do chamado drama realista moderno“Um Inimigo do Povo” retrata o conflito existente entre o individual e o coletivo, mostrando de que forma a população de uma pequena cidade-balneário da Noruega, transforma o médico local, de cidadão honrado em um inimigo do povo, por conta de suas convicções a respeito da qualidade das águas que serviam aos banhos públicos, fonte de riqueza e de sustento para toda a cidade.



A história, em 5 atos, seguindo uma estrutura típica do drama realista do final do século XIX, que, por sua vez, herdara tal divisão do TEATRO do neoclassicismo, passa-se numa cidade do interior da Noruega, cuja maior fonte de renda advém de sua Estação Balneária. O Dr. Stockmann inquieta-se com as doenças que turistas e concidadãos apresentam e resolve investigar a água da cidade. Para sua surpresa, apercebe-se de que está poluída, aparentemente devido a lançamentos de “lixívia”, contendo impurezas dos curtumes da cidade. Homem da ciência, sente-se no dever de levar a verdade ao povo, mas a sua denúncia representará o fechamento do balneário por dois anos, além de provocar uma suspeição geral sobre as suas qualidades, mesmo depois das obras necessárias para resolver a questão. Isso causaria um transtorno para a cidade, que deixaria de lucrar com o turismo. Não denunciar o fato, contudo, vai contra os ideais éticos de Stockmann.



   A insistência do Dr. Stockmann, em fazer prevalecer a verdade, torna-o “persona non grata” para a população, sobretudo ao defender a ideia de que os valores daquela cidade estão sustentados sobre a mentira e de que o povo não tem a razão, ou seja, a maioria não tem o monopólio da verdade. Ele se torna, assim, um inimigo do povo e conta apenas com o apoio de sua família e de alguns poucos membros da comunidade, que passam a sofrer represálias por conta disso. A convicção do médico, em relação à verdade, contudo, faz com que ele se mantenha firme em seus propósitos até o fim, mesmo sabendo que seu relevante papel naquela comunidade jamais seria retomado.



  “UM INIMIGO DO POVO” foi escrita em 1882 e tem sido considerada, por muitos, como a peça de IBSEN mais polêmica e direta. Com uma grande coragem, ele apresenta um “desmentido integral” de toda a sua obra anterior, que defendera a importância da “verdade absoluta”. Na peça, IBSEN demonstra a capacidade de ver e analisar os dois lados da questão, colocando em dúvida a verdade incondicional, que tanto defendera em obras passadas, e delineando um personagem dotado de traços idealistas. Passemos à SINOPSE de “UM JULGAMENTO – DEPOIS DO INIMIGO DO POVO”:


 

 

SINOPSE:

Inspirada no clássico de HENRIK IBSEN, “Um Inimigo do Povo”, a peça acompanha o médico e cientista Thomas Stockmann (WAGNER MOURA), que é desacreditado, por denunciar a contaminação das águas de um balneário que sustenta a economia local, dependente do turismo.

Ao tentar alertar as autoridades, para que protejam a população e os turistas que frequentam o balneário contaminado, ele vê suas intenções fracassarem e acaba condenado, como “Um Inimigo do Povo”, acusado de querer prejudicar, intencional economicamente, a cidade e de ignorar a vontade da maioria.

A denúncia é vista como um ataque ao progresso da cidade.

O espetáculo, de forma magnífica, transporta a trama para o Brasil de 2025.

Pessoas do público, formando um "júri", são convidadas a subir ao palco e decidir se ele é o verdadeiro “inimigo do povo”, promovendo reflexões sobre ética, poder e a verdade na sociedade contemporânea.

 

 

 


   “UM JULGAMENTO...” é fruto de uma “gestação em dois ventres”, desenvolvida, durante dois anos, pela diretora CHRISTIANE JATAHY e o ator WAGNER MOURA, os quais pesquisaram diversos textos, com o objetivo de criar um trabalho juntos. Movidos pela admiração mútua e pelo desejo comum de abordar temas que dialogassem de forma profunda com a realidade atual, chegaram à escolha de “UM INIMIGO DO POVO”, uma magnífica ideia, extremamente bem realizada. Os dois optaram por uma versão da peça original, voltada apenas para um julgamento diferente, sem juízes nem advogados, em que os personagens se acusam e se defendem mutuamente, contando com a participação de alguns espectadores, sorteados em cada plateia, para darem os seus votos. UMA IDEIA GENIAL!!!



    CHRISTIANE JATAHY, sob a minha óptica, é uma das mais inquietas, criativas e geniais diretoras do TEATRO brasileiro, com uma vitoriosa e premiada carreira, no Brasil e no exterior, e tem uma extensa pesquisa em adaptações de clássicos para o TEATRO, como “Julia”, baseada em “Senhorita Julia”, de Strindberg“; “E Se Elas Fossem Para Moscou?”, a partir da obra "As Três Irmãs", de Anton Tchekhov; "A Floresta Que Anda", uma livre adaptação de "Macbeth", de Shakespeare; “Nossa Odisseia”, a partir da "Odisseia", de Homero; e, ainda, do bardo inglês, seu clássico “Hamlet”. Uma de suas principais digitais é amalgamar, de forma genial, em seus trabalhos de direção, variadas linguagens: TEATRO, cinema, audiovisual, documentário, videoinstalação..., sempre com ideias originais e criativas, como aplicou nesta direção, que considero sua OBRA-PRIMA, dos seus espetáculos a que assisti.  



CHRISTIANE JATAHY


   Um dos aspectos que mais fizeram com que eu me apaixonasse por esta montagem é a incrível ideia de criar um texto original, que começasse alguns anos depois de onde a peça de IBSEN termina. Aqui, o Dr. Thomas Stockmann é, novamente, julgado, nos dias atuais. Esse detalhe é incrivelmente pertinente, visto que os temas centrais da peça são universais e, acima de tudo, hodiernos. Basta voltar os olhos para o Brasil de 2019 até os dias de hoje. Um século atrás, IBSEN já abordava problemas que, hoje, prejudicam, frontalmente, as pessoas, como verdade, “fake news”, valor e importância da ciência, democracia, ecologia, ética e até o cancelamento, levantando o dilema entre o imperativo moral e o capital.



   Entre outras coisas, esta produção joga luzes sobre a lógica dos tribunais (É bastante curioso o resultado dos julgamentos, a cada sessão.), ao trazer o protagonista de IBSEN para o ano de 2025, em busca de uma reparação. Ele quer recuperar sua dignidade e, diante de um novo “júri”, submete-se a um novo veredito.



   Tudo o que está reunido no palco - todos os elementos que entraram na montagem desta peça - é merecedor de estrondosos aplausos. Confesso que tive que conter o meu intenso desejo de, mais de uma vez, aplaudir em cena aberta, para não atrapalhar a concentração dos atores, em algumas cenas profundamente impactantes e interpretadas com a maior potência, em termos de verdade cênica, por parte do trio de atores, como, principalmente, o momento em que o médico e o irmão vão às vias de fato.



   Como foi gratificante poder ver e aplaudir, à farta, o estupendo talento de WAGNER MOURA, que retorna aos palcos, após 16 anos, dedicado ao audiovisual, linguagem na qual é um campeão de prêmios, em filmes e produções para a TV e o “streaming”. A última vez em que o aplaudi muito, num palco, foi em 2008, ao interpretar o protagonista de "Hamlet", numa audaciosa montagem do mestre e inesquecível Aderbal Freire-Filho, no Teatro Casa Grande, Rio de Janeiro. A naturalidade e a intensidade com que o ator se joga na construção de seu personagem é impressionante e emocionante. Que orgulho desse artista!



   Os dois companheiros de cena de WAGNER, DANILO GRANGHEIA e JULIA BERNAT, acompanham o trabalho do colega, em termos de qualidade artística e visceralidade. DANILO interpreta o personagem Peter Stockmann, irmão do protagonista, ex-prefeito da cidade e representante das autoridades locais. O que se inicia como um julgamento transforma-se em uma disputa familiar, revelando os conflitos por trás da rivalidade entre os irmãos. Admirador antigo dos trabalhos do ator, a partir desta peça, vejo ampliada a minha valorização. Trabalho impecável do ator. JULIA, uma ótima atriz, que trabalha sob a direção de CHRIS desde 2001, é uma intérprete de muitas possibilidades e defende, com unhas e dentes, sua personagem, Petra Stockmann, filha do Dr. Stockman, a qual não mede esforços para exigir uma retratação pública, com relação à condenação do pai, por sua atitude ética. Verdade pura na personagem.



  O elenco também conta com participações, em audiovisuais, de Marjorie Estiano (esposa do protagonista), Jonas Bloch (sogro), Tatiana Henrique (cientista) e os meninos Salvador e José Moura (filhos de Thomas Stockmann).



   No que diz respeito aos artistas de criação que contribuíram para esta OBRA-PRIMA, realço a cenografia e a iluminação, assinadas por THOMAS WALGRAVE, conceituado cenógrafo belga; a fotografia do filme, obra de PAULO CAMACHO; o figurino, criado por MARINA FRANCO; e o desenvolvimento de vídeo e projeção, a cargo de JULIO PARENTE. A coordenação de produção é de HENRIQUE MARIANO.



   Uma interessante novidade: Em cada cidade, um ator e uma atriz locais atuam como "coordenadores do júri", conduzindo as regras do julgamento e intermediando o diálogo entre este e personagens, sujeitos a interessantes improvisações, que funcionam com a maior realidade. No Rio de Janeiro, JULIANA FRANÇA e STELLA RABELLO exercem tal função. Na sessão em que estive presente, no dia 26 de outubro, um domingo, JULIANA fez essa ponte.



  Curioso, e interessante também é que o desfecho muda a cada apresentação, de acordo com o veredito do público. O mesmo pode ser dito sobre a reação da plateia a esse veredito, projetado no palco. Mas a pergunta permanece: THOMAS STOCKMANN É UM INIMIGO DO POVO? Para mim, NÃO!!!



   Qualquer espectador atento consegue enxergar a poluição das águas como uma magnífica metáfora, para denunciar a “sujeira” na estrutura social daquela cidade, em vários setores: no governo, na imprensa, no comércio e na sociedade em geral, como ocorre até hoje, em qualquer parte do planeta.




 

FICHA TÉCNICA:


UM PROJETO DE CHRISTIANE JATAHY E WAGNER MOURA

Texto: Christiane Jatahy, Lucas Paraizo e Wagner Moura

Concepção e Direção Christiane Jatahy

 

Elenco: Wagner Moura, Danilo Grangheia e Julia Bernat

 

Participação especial no filme: Marjorie Estiano

No filme: Jonas Bloch, Salvador Moura, Antonio Falcão e Antonio Rabello

Participação “on-line”: Tatiana Henrique

 

Cenografia, Iluminação e Colaboração Artística: Thomas Walgrave

Figurinos: Marina Franco

Direção de Fotografia e Câmera: Paulo Camacho

Criação Sistema de Vídeo: Julio Parente

Desenho de Som e Mixagem: Pedro Vituri

Coordenador de Produção: Henrique Mariano

Assessoria de Impensa: Factoria (Daniella Cavalcanti)

Fotos: Caio Lírio

Produção: Axis Produções

Patrocínio: Banco do Brasil

Realização: Centro Cultural Banco do Brasil


 


 

            Esta peça tem grande impacto no palco, sobre o público, constituindo-se em uma “declaração de guerra do individualista à sociedade”. Apesar do pessimismo social, deixa antever, porém, uma vaga esperança da melhoria dos indivíduos e das instituições.   


    

Por oportuno, faz-se necessário dizer que, por motivos mais que óbvios, deixo de publicar o SERVIÇO da peça, a qual, infelizmente, parece não ter a menor possibilidade de voltar ao cartaz, por aqui ou em qualquer outra parte do país, dados os compromissos, que não são poucos, assumidos WAGNER MOURA, que, inclusive, está cotado para uma indicação e premiação, como Melhor Ator, na próxima edição do “Oscar”, com o filme “O Agente Secreto”. Estivesse ainda em cartaz a peça, e eu não titubearia em REMOMENDÁ-LA, COM TODAS AS MINHAS FORÇAS E ME CANDIDATAR A ASSISTIR A ELA MAIS DE UMA VEZ.

 

 

 



 

FOTOS: CAIO LÍRIO.

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!