sexta-feira, 12 de maio de 2023

 “31º FESTIVAL

DE CURITIBA”

“GASLIGHT:

UMA RELAÇÃO

TÓXICA.”

ou

(O QUE É BOM

NÃO TEM DATA DE VALIDADE.)

(NOTA: Em função da grande quantidade de críticas a serem escritas, entre espetáculos que fizeram parte do “31º FESTIVAL DE CURITIBA” e outros, assistidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, por algum tempo, fugirei à minha característica principal, como crítico, de mergulhar, “abissalmente”, nos espetáculos, e vou me propor a ser o mais objetivo e sucinto possível (VOU TENTAR.), numa abordagem mais “na superfície”, até que seja atingido o fluxo normal de espetáculos a serem analisados.)


 

        É uma pena que JÔ SOARES tenha falecido no dia 5 de agosto do ano passado, um mês e quatro dias antes da estreia de “GASLGHT – UMA RELAÇÃO TÓXICA”, no “Teatro Procópio Ferreira”, onde fez uma brilhante temporada, com excelentes críticas e um ótimo retorno por parte do público. Do “Procópio”, a peça passou por outros Teatros, em São Paulo e fora da cidade. Esta deliciosa COMÉDIA DRAMÁTICA é outro espetáculo a que não tive a oportunidade de assistir, na capital paulista, e, graças ao “Festival de Curitiba”, pude conhecer, no palco do “Teatro Guaíra” (“Guairão”), no dia 5 de abril próximo passado.





      O texto é do festejado dramaturgo e romancista inglês PATRICK HAMILTON, que ganhou, nesta montagem, tradução e adaptação, a quatro mãos, de JÔ SOARES e MATINAS SUZUKI JR., com direção de e MAURICIO GUILHERME, trazendo, no elenco – que atuou em Curitiba -, ERICA MONTANHEIRO, GIOVANI TOZI, LEANDRO LIMA, MARIA JOANA e MILA RIBEIRO.






Foram dois os maiores sucessos de HAMILTON, como dramaturgo. O primeiro foi "Rope", uma história verídica que, no Brasil, recebeu uma versão musicada, sob o título de “Pacto”, direção de Zé Henrique de Paula, com Leandro Luna e André Lodi, como intérpretes, no "Teatro Porto Seguro", em 2018, espetáculo ao qual assisti e do qual gostei muito. A outra foi, exatamente, “Gas Light” (A grafia do título, em português, será explicada adiante.). Ambas as peças tiveram versões cinematográficas: a primeira, um suspense, dirigido por Alfred Hitchcock, em 1948; a segunda recebeu duas versões: uma britânica, em 1940, e outra norte-americana, em 1948.

 






 SINOPSE:

A base do enredo é o abuso psicológico nos relacionamentos afetivos.

A peça retrata um casal em conflito, vivido por Jack Manninghan (GIOVANI TOZI) e Bella Manninghan (ERICA MONTANHEIRO), casados havia cinco anos.

Ele, que, no início do casamento, se mostrava doce e muito apaixonado, revela-se impaciente e menos cordial, após a alegação de que sua mulher sofre de algum desequilíbrio mental.

Ela sente que está ficando louca, mas, ao buscar apoio, no companheiro, para lidar com a suposta doença, encontra apenas a resistência do homem, justificando não ter mais forças para lidar com a situação.

Jack buscava manipular a esposa, diminuindo as luzes da casa e negando qualquer alteração, quando a mulher percebia a mudança, fazendo com que ela passasse a questionar sua percepção e sua sanidade.

A complicação do diagnóstico de Bella é acompanhada, de perto, pela fiel governanta Elizabeth (MILA RIBEIRO) e pela jovem e extrovertida Nancy (MARIA JOANA), a nova arrumadeira do casarão.

Num determinado momento da trama, “entra em campo” Ralf (LEANDRO LIMA), um inspetor de polícia, que chega para investigar fatos remotos do passado de Jack e que tem uma ligação curiosa com a casa, agora habitada pelo casal.

Essa relação desperta fantasmas do passado, que ainda habitam os cômodos, com seus segredos, e revelam grandes surpresas.


 

 






A produção do espetáculo houve por bem atribuir-lhe o título de “GASLIGHT”, unindo os dois vocábulos do título original, “GAS LIGHT”, cuja tradução literal seria “LUZ A GÁS” ou “À MEIA LUZ” – também poderia ser -, em alusão à atitude, deliberada, do marido, com relação a diminuir a luz interior da casa, para confundir a esposa. Essa trama deu origem ao termo, em inglês, “gaslighting” (Em portugês, “manipulação”.) “que se refere a uma forma de abuso psicológico, na qual o agressor faz com que a vítima duvide de si mesma e de sua sanidade”.





 


“O ‘gaslighting’ se trata de uma manipulação feita por uma pessoa, com o intuito de manipular o parceiro.

Muitas informações são distorcidas, omitidas e inventadas, para que o a pessoa continue o abuso psicológico na vítima.

Por sua vez, a vítima convive com uma sensação de medo e insegurança, em relação ao agressor.

Além de duvidar de si, o alvo desse abuso assume, por completo, a responsabilidade dos problemas, no relacionamento.

Por isso, em casos mais graves, o indivíduo começa a duvidar da sua própria sanidade.

Por exemplo, uma situação comum é quando uma pessoa é suspeita de infidelidade, mas o outro defende que é exagero e afirma que nada daquilo é real.

Logo, fica claro como o abusador desmerece as suspeitas e acusa o parceiro de criar conflitos e, dessa forma, a vítima acaba esquecendo, por um momento, essa desconfiança e se sente mal, por ter causado esse confronto.

(“site”: https://www.psicanaliseclinica.com/gaslighting/)

  

“Gaslighting” é um tipo de violência psicológica que pode trazer uma série de prejuízos para quem é sua vítima.

Em outras palavras, o conceito de “gaslighting” se refere a uma manipulação na qual a pessoa persuadida é posta em uma posição de aparente inferioridade.

 

 





Não é a primeira vez que o texto é apresentado num palco brasileiro. Em 1949, ano em que nasci, ocorreu uma primeira – e creio que única montagem, até esta – no TBC, em São Paulo, sob a batuta do encenador italiano Adolfo Celi. Não vejo necessidade de acrescentar mais nada sobre ela.




É impressionante como uma COMÉDIA, da melhor qualidade, um dos maiores sucessos da história da Broadway, encenada, pela primeira vez em 1938, possa ter atravessado décadas e continuar “viçosa”, atraindo grandes públicos, por onde é encenada, interessados no seu assunto central. O que justifica isso? Creio que duas coisas. Em primeiro lugar, atribuo à transcendência do tema, que, infelizmente, vem ganhando mais corpo, nos últimos tempos, no Brasil e em todo o mundo. O segundo fator que mantém a peça em destaque, sob muitos focos de luz, é sua arquitetura dramatúrgica, muito bem traduzida para o nosso idioma, evidentemente, também, com uma direção impecável, um elenco de notáveis e a colaboração preciosíssima de artistas de criação.





Às vezes, o texto pode parecer inverossímil, entretanto, se analisado com maior acuidade, observa-se que há muita probabilidade de que o que é mostrado “ficcionalmente” possa ocorrer na vida real. Afinal de contas, quase todos nós sabemos de situações de relação abusiva, principalmente entre maridos e esposas, ao alcance dos nossos olhos. Um aspecto do texto que merece relevo é o fato de, embora abordar um tema árido, “pesado”, o dramaturgo encontrar espaço para explorar o humor, de forma clássica.  




Achei muito acertada (Não sei se está assim no original.) a ideia de a encenação ser iniciada por um prólogo, no proscênio, com as cortinas ainda fechadas, feito pela atriz – não a personagem – MARIA JOANA, quando ela explica, ao público, o teor do título e fala um pouco sobre o que a plateia verá, com o cuidado de não dar “spoilers”, o que, certamente, facilita a compreensão da trama. Isso é muito importante, uma vez que, como o próprio JÔ SOARES dizia, o que não pode ser compreendido, não causa interesse”, com o que concordo plenamente. Sou desse tipo de espectador.




Um ótimo texto e uma direção idem mereciam um elenco à sua altura, o que foi encontrado no quinteto de intérpretes, todos nivelados por cima, escalados, quase todos, por . Começo minha modesta apreciação crítica pelo casal de protagonistas: GIOVANI TOZI e ERICA MONTANHEIRO.







GIOVANI, na pele do cruel e “doente” marido – ele sim -, faz um trabalho cuidadoso, capaz de atrair para si o ódio do público ou, pelo menos, um sentimento de muita aversão, por sua perversidade. Ardiloso, em seus planos, para a realização de seu intento, o personagem se utiliza de uma “refinada” estratégia, que consistia em diminuir a luminosidade da casa, obtida por meio de lampiões a gás, com o intuito de confundir a esposa. O fato de Jack se mostrar, no início da relação íntima com a esposa, um companheiro gentil, generoso, doce e apaixonado e ter se transformado num homem agressivo, violento, perverso, astucioso, embusteiro, com um passado desabonador, condenável, torpe exige um alto grau de talento do ator. Essa transformação me remete a um fato próximo a mim. Uma amiga me contou que tinha, em seu consultório dentário, uma auxiliar que viva reclamando das atitudes “erradas” do marido. Um dia, diante da oportunidade de ter ficado a sós com ele, durante uns quinze minutos, tempo em que conversaram, minha amiga achou-o bem diferente de como a esposa o “pintava”. Depois que o homem se retirou, dirigiu-se à funcionário e lhe disse: “Fulana, você vive reclamando do seu marido. Conversei um pouco com ele e o achei um homem tão simpático, “legal...”. E a reação da esposa, uma mulher simples, “de poucas letras”, todavia muito perspicaz, veio logo: “A senhora achou, doutora? Vai comer um quilo de sal com ele!”. Às vezes, acrescento eu, “só comendo vários quilos de sal com alguém”, descobrimos, realmente, quem aquela pessoa é. Pode até ser que “nem comendo uma salina inteira”.





ERICA MONTANHEIRO, que está em seu quarto trabalho dirigido por JÔ SOARES, interpreta a ingênua e submissa dona de casa Bella Manninghan, como as mulheres de seu tempo, e o faz no mesmo nível de qualidade do trabalho de GIOVANI. O casal de atores mantém, durante os 90 minutos de duração da peça, um perfeito entrosamento, sempre um “levantando a bola”, para que o outro “chute em gol”. ERICA é uma atriz de grandes possibilidades, que descobriu, na sua personagem, a correta maneira de reagir às investidas maldosas de Jack, deixando bem clara, a evolução de Bella, em seu processo de “enlouquecimento”. A fragilidade, a sensação de vulnerabilidade da personagem, vai num crescendo, até... (Sem “spoiler”.)




Muito me agradaram, também, as atuações de LEANDRO LIMA, MARIA JOANA e MILA RIBEIRO. O personagem de LEANDRO, ainda que coadjuvante (O personagem; não o ator.), é de capital importância na trama, uma vez que sua chegada interrompe o fluxo dramático e faz com a trama seja desviada para uma “via vicinal”. Pela primeira vez, tive contato com seu trabalho, num palco, e fiquei convencido de sua verdade cênica.




Também pela primeira vez, salvo engano, pude apreciar e avaliar o bom trabalho de MARIA JOÃO, como atriz. Seu comportamento em cena também é merecedor de aplausos, pela naturalidade com que interpreta a descolada, lépida e carismática arrumadeira Nancy.




Para completar o naipe do equilibrado elenco, temos MILA RIBEIRO, interpretando Elizabeth, a fiel governanta dos Manninghan, personagem que alterna momentos em que desfila doçura e impassibilidade, assertos (Com “ss” mesmo.) e ironia. Nunca a vira, antes, num palco, e espero voltar a aplaudi-la, atuando outras vezes.




Todos os artistas de criação demonstraram, mais uma vez, seus talentos, “cada um no seu quadrado” e todos convergindo para o mesmo objetivo: a proximidade da perfeição. Começo pela cenografia, que chama muito a atenção do público, tão logo é revelada, com o abrir da cortina. O grande destaque vai para uma teia de aranha, de enorme proporção, exposta ao fundo do palco, ocupando quase toda a sua largura. É uma ideia de JÔ SOARES, executada por MARCO LIMA, representando, metaforicamente, a “teia” de aranha à qual a personagem Bella está presa, completamente indefesa, sem forças próprias para dela se livrar, aguardando, vulneravelmente, a hora de “ser devorada de vez”. Completa o cenário uma mobília de época, de fino bom gosto.




KAREN BRUSTTOLIN assina os belíssimos e requintados figurinos realistas da peça, os quais retratam o vestuário da época, com precisão histórica. Por seu trabalho, muito merecidamente, a meu juízo, a figurinista, que vem se destacando, cada vez mais, entre os profissionais de sua área, foi indicada ao “33º Prêmio Shell”, por São Paulo. Vale o registro de que KAREN ficou bastante surpresa com sua indicação ao prêmio, uma vez que não esperava tal distinção, pelo fato de a montagem ser erguida com parcimônia no orçamento. Eu, contudo, digo que isso é uma prova inequívoca do talento da artista, que criou trajes deslumbrantes, com um finíssimo acabamento de detalhes, o que significa que o poder econômico teve que se curvar ante a criatividade e o bom gosto.






CESAR PIVETTI criou um desenho de luz que atende às necessidades de cada cena, variando com o grau de objetividade ou subjetividade que cada uma delas comporta. Em algumas, é preponderante, para a criação de um clima de suspense.




Outro elemento de criação de relevada importância é a trilha sonora original, composta e organizada por RICARDO SEVERO. Funciona mais como um elemento incidental, também chamada de música de cena ou de fundo, com o objetivo maior de destacar determinadas situações, principalmente quando está a serviço da intenção de ajudar na criação de um clima de suspense, desconfiança e medo.




 

 FICHA TÉCNICA:

Texto: Patrick Hamilton

Tradução e Adaptação: Jô Soares e Matinas Suzuki Jr.

Direção: Jô Soares e Mauricio Guilherme


Elenco: Erica Montanheiro, Giovani Tozi, Maria João, Leandro Lima e Mila Ribeiro


Cenografia: Marco Lima

Figurinos: Karen Brustollin

Desenho de Luz: César Pivetti

Trilha Sonora: Ricardo Severo

Direção de Arte Gráfica: Giovani Tozi

Fotografia: Priscila Prade, Annelize Tozetto e Lina Sumizono

Direção de Produção: Priscila Prade e Giovani Tozi

Produção Executiva: Maria Mayer

Assessoria de Imprensa: Fernanda Teixeira - Arte Plural

Assistente de Direção: Giovanna Donadio

Idealização: Giovani Tozi

Realização: Brica Braque Produções e Tozi Produções




Um grande mérito extra deve ser creditado a GIOVANI TOZZI e PRISCILA PRADE, os quais, pelo tanto de crença que tinham no projeto, o produziram com recursos próprios, sem qualquer tipo de patrocínio. Sim, senhores, é inacreditável, porém verdade, que um texto de tal qualidade, envolvendo um tema tão importante e atual, tendo alguém do porte de JÔ SOARES envolvido no projeto, pode não ter atraído a atenção de patrocinadores. Triste realidade brasileira! Ainda bem que o artista brasileiro é resiliente; enverga, mas não quebra. E quem sai lucrando somos nós.




Apesar de as mulheres terem mudado um pouco, evoluído, parcialmente, em termos de consciência com relação ao seu importante papel de protagonistas, numa sociedade predominantemente machista, chauvinista, sexista, misógina, ainda há muita luta pela frente, por uma igualdade, um emparelhamento com os homens. A conclusão da peça – e aqui já me desculpo por algum tipo de “spoiler” - não deixa de acender a luz amarela, de "atenção", direcionada aos homens, no sentido de lhes mostrar que há, sim, ainda que não o suficiente ainda, uma distância entre as mulheres de cerca de oito décadas atrás e as hodiernas.




Segundo todos os envolvidos no projeto, ele já estava totalmente desenhado, quando do falecimento de JÔ SOARES. Com a partida do grande entusiasta da montagem do espetáculo, toda a sua equipe chegou à conclusão de que não era para abortar o projeto. Muito pelo contrário, viram-se impelidos a reunir todos os cacos, juntar todas as forças e levantá-lo o mais breve possível, e da melhor forma que houvesse, como uma grande homenagem a . E tudo deu muito certo, com a bênção dele.




JÔ SOARES, infelizmente, não viveu o suficiente para ver o espetáculo erguido e fazendo muito sucesso, entretanto sua presença é reconhecida no espetáculo. Na trama, o astuto marido esconde um quadro, que fica ao fundo, no cenário, para fazer com que a mulher aceite que foi ela quem desapareceu com o objeto. Esse quadro poderia ser qualquer um, mas o que está em cena é uma imagem de JÔ SOARES, muito bem pintada, evidenciada, ao final da peça, nos agradecimentos do elenco, quando, de uma forma muito carinhosa e merecida, os atores viram-se para a obra, de costas, portanto, para o público e pede a este que os siga, em aplausos de reconhecimento ao talento incomensurável de JÔ SOARES. É a apoteose da emoção.

 

 







 


FOTOS: PRISCILA PRADE,  

ANNELIZE TOZETTO

e

LINA SUMIZONO


 

GALERIA PARTICULAR:

FOTOS: GILBERTO BARTHOLO

 

 

Coletiva de imprensa.


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Sala Jô Soares.


 

Coletiva de imprensa.

Com Karen brustollin.

 

 

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