“O CASO”
ou
(UMA COMÉDIA
NADA “CHATA”.)
Esta crítica está sendo escrita como uma forma de provar quão
criterioso e justo procuro ser neste meu ofício de analisar espetáculos de TEATRO.
A peça aqui comentada fez uma temporada de grande sucesso, com lotações
esgotadas, no Rio de Janeiro, e acabou de estrear em São Paulo, para uma nova
temporada, que deve repetir o resultado obtido na capital fluminense. Assisti a
ela, no “Teatro das Artes”, e não gostei do que vi. Ou seria “do
que não vi e deveria ter visto”?
O texto foi escrito por JACQUES MOUGENOT, o mesmo
dramaturgo que nos deliciou com sua COMÉDIA “O Escândalo Philippe
Dussaert”, um dos maiores sucessos, de bilheteria e de crítica, dos
últimos tempos, com todo merecimento, diga-se de passagem. O diretor, FERNANDO
PHILBERT, era o mesmo. O casal de atores, OTÁVIO MÜLLER e LETÍCIA
ISNARD, está entre os melhores de sua geração. O espetáculo fizera muito
sucesso na Europa. Tudo para dar certo, mas eu “não gostei”.
Havia algo estranho a ser pesquisado e, se possível, explicado. É certo que um
bom dramaturgo não tem a obrigação de só escrever peças excelentes. Não se pode
esperar, de um bom diretor de TEATRO, que ele o seja em todos os seus
trabalhos. O mesmo também se aplica aos atores. O senso de humor do europeu é
bem diferente do nosso. Mas o fato é que a peça estava sendo recebida com
rasgados elogios de críticos e de pessoas em cujo bom gosto confio. Então o
problema seria meu? Ou eu?
Sim, mas só “até a página cinco”. E posso
explicar. Por um motivo que já não vale mais a pena vir à tona agora, mas que
me aborreceu bastante, fui alocado, pela produção do espetáculo, num péssimo
lugar, na penúltima fila do Teatro, de onde era difícil ver o que
se passava no palco e ouvir tudo o que era dito pelo casal de atores.
Acrescente-se a isso o desagradabilíssimo fato de, por uma terrível
infelicidade, eu estar cercado, pela frente, por trás e pelos lados, de
senhoras super mal educadas, que falavam sem parar, fazendo comentários mais
que ridículos, impertinentes e absurdos, sobre os figurinos e a aparência dos
atores, que "parecem mais novos que na televisão" e "a televisão engorda muito as pessoas", por exemplo,
sem falar no uso dos malditos celulares, conversando pelo “zap” e
comentando, entre si, as conversas.
Um
verdadeiro horror, que faz qualquer um, com a melhor intenção de gostar de uma
peça teatral, sentir vontade de se levantar e voltar para casa, arrependido de
ter ido ao Teatro. E eu ainda havia convidado uma querida amiga,
que mora em outro estado, em visita no Rio. Poderia eu ter gostado da peça? Era
exigir demais do crítico ou do simples espectador.
Mas, tão logo compreendi o porquê da minha reação, que não poderia
ter sido outra, solicitei à assessoria de imprensa do espetáculo, na pessoa da
querida amiga STELLA STEPHANY, que me permitisse rever a peça, o que,
por uma questão de incompatibilidade na agenda, infelizmente, só foi possível
acontecer no último dia da temporada carioca. Voltei ao “Teatro das Artes”
e, como era de se esperar, de acordo com as probabilidades positivas, gostei
muito do que vi e assumi, primeiramente, comigo mesmo, e, depois, com a
assessoria de imprensa e com o diretor, o compromisso de escrever uma crítica
da peça, para ser publicada quando de sua estreia na capital paulista. Promessa
cumprida.
SINOPSE:
Arnaldo (OTÁVIO MÜLLER), um homem, aparentemente, comum, procura uma psiquiatra, (LETÍCIA ISNARD), alegando
sofrer de um distúrbio desconhecido: é tomado, constantemente, por uma sensação
de desinteresse completo por, absolutamente, tudo e todos ao seu redor.
Acha
tudo muito “chato” e não consegue prestar atenção em nada do que
as pessoas dizem.
A
terapeuta, por sua vez, intrigada, tenta, de todas as maneiras, decifrar a patologia,
chegar a um diagnóstico real e propor um tratamento para aquele mal.
Quando crê que começa a entender o que se passa, o caso toma um novo rumo.
Percebam que a SINOPSE termina “em aberto”,
e o motivo é que seria um grande “furo”, de péssimo gosto, revelar
o desenlace da trama, roubar, ao público, o prazer de se surpreender com um
final inesperado, que sempre arranca muitas gargalhadas dos espectadores.
Aliás, motivo para boas gargalhadas não faltam, no decorrer desta deliciosa
“COMÉDIA”, nada “chata”, construída por meio de diálogos bem
arquitetados, um “texto ágil, repleto de humor e diálogos rápidos”.
O tema da peça é bem atual e universal, motivo pelo qual é sucesso em qualquer
cultura e língua em que o texto é montado. São tratadas questões bem
contemporâneas, da “era da comunicação”, como a “dificuldade
de concentração, em meio à avalanche de informações e estímulos que chegam sem
parar, e da falta de interesse pelo outro e pelo coletivo”. Um
verdadeiro paradoxo que ocorre dentro da nossa “aldeia global” (Salve Marshall McLuhan!)
O texto era inédito no Brasil, até agora, no original “Le
Cas Martin Piche” (“O Caso Martin Piche”), tendo recebido
uma redução de palavras, na versão brasileira, batizado, simplesmente, como “O
CASO”, e sua relevância é determinada pelo emprego do artigo definido “O”,
em lugar do indefinido “UM”. Não se trata de “qualquer caso”,
mas de um em especial, que merece destaque. Um “caso” bastante
insólito, tanto quanto desagradável – para o paciente e para a médica.
Todos os seres humanos já experimentaram, por várias vezes, o
sentimento do tédio, passaram pela apatia diante de tanta mesmice, entretanto
isso ocorre em determinados momentos de nossas vidas. São apenas fases,
geralmente superadas, até chegar um outro momento de desinteresse por tudo e
por todos. E assim, sucessivamente, tais momentos vão se alternando com outros,
de desejo de viver a vida. Essa situação é considerada normal, entretanto,
nesta peça, o personagem procura ajuda, porque se sente vivendo num constante
estado de “letargia”, em relação ao mundo em que vive, ou
sobrevive, o que extrapola o limite da normalidade e passa a ser encarado como
uma “doença”. O homem que acha tudo “chato” passa a
ser uma pessoa inconveniente, impertinente, aborrecida e maçante, aos olhos da
pobre terapeuta, que já se sente incomodada e “contaminada” pelo
paciente, o qual lhe teria sido encaminhado por um afamado psiquiatra.
Destarte,
o personagem Arnaldo “está mergulhado no enigma de se
chatear pela eternidade dos dias”. Partindo-se daí, o divertimento está
garantido, por 80 minutos, duramente os quais o “comportamento
quase excêntrico” do paciente permite que sejam discutidos “o todo
das nossas relações e modos de conviver em sociedade”. A saborosa COMÉDIA
chega a flertar, um pouco, com o TEATRO do Absurdo, o que muito
me agrada, da mesma forma como gostei deveras da direção de FERNANDO PHILBERT, um
dos mais requisitados e competentes diretores teatrais do momento.
OTÁVIO
MÜLLER, que conheci ainda um pré-adolescente/adolescente (Foi meu
aluno na segunda fase do nível fundamental.) é um excelente ator cômico e sabe
explorar, eficientemente, as pausas dramáticas exigidas pela COMÉDIA e
as máscaras faciais que podem ser exploradas nesse gênero teatral, assim como os silêncios expresasivos, o que o ator
faz à farta. O personagem dá o tom da COMÉDIA e LETÍCIA ISNARD,
que tanto desfila bem na passarela do riso como na do drama, acompanha-lhe os
passos e a dupla demonstra um grande entrosamento e deixa transparecer uma profícua
cumplicidade em cena.
Toda a
trama se passa durante o tempo de uma única sessão de terapia, no consultório
de uma psiquiatra, construído com as tradicionais referências desse tipo de
espaço, com destaque para o “divã do analista”, que não poderia
faltar. A responsável pela cenografia é a premiada NATÁLIA LANA. Os
figurinos, bem ajustados aos dois personagens, são de outra artista premiada, CAROL
LOBATO. O terceiro vértice de triângulo das artes de criação, que ajudam a sustentar
uma peça teatral, a iluminação, foi criado por VILMAR OLOS e cumpre, corretamente,
sua função no espetáculo.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Jacques Mougenot
Tradução: Marilu de Seixas Corrêa
Direção: Fernando Philbert
Elenco: Otávio Müller e Letícia Isnard
Cenografia: Natália Lana
Figurino: Carol Lobato
Iluminação: Vilmar Olos
Trilha Original: Francisco Gil - Gilsons
Arte Gráfica: @orlatoons
Fotografias: Ricardo Brajterman
Direção de Produção: Carlos Grun
Uma produção Bem Legal Produções
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 20 de maio a 9 de julho de 2023.
Local: Teatro Bravos.
Endereço: Rua Coropé, nº 88, Pinheiros – São Paulo. (Complexo Aché
Cultural, entre as Avenidas Faria Lima e Pedroso de Morais.).
Dias e Horários: Sábados, às 20h, e domingos, às 17h.
Valor dos Ingressos: Plateia Premium = R$120,00 e R$60,00 (meia
entrada); Plateia Inferior = R$100,00 e R$50,00 (meia entrada); Balcão R$80,00
e R$40,00 (meia entrada).
Ingressos à venda na bilheteria do Teatro ou pela plataforma SYMPLA
- https://bileto.sympla.com.br/event/82142
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De 3ª feira a domingo, das
13h às 19h, ou até o início do último espetáculo.
Capacidade: 611 lugares.
(Com acessibilidade.).
Estacionamento: MultiPark.
Classificação Etária: 12 anos.
Duração: 80 minutos.
GÊNERO: COMÉDIA.
Depois
de tanto sofrimento e desesperança, impostos por quatro anos de obscurantismo e
retrocesso pelos quais o país passou, vencido o horror de uma pandemia, que
parecia não ter mais fim, é tão bom, gratificante, ver as pessoas voltando a
lotar os Teatros, quando lhes é apresentado um espetáculo da qualidade
de “O CASO”, e vê-las sorrindo e gargalhando, felizes e prontas a seguir em frente.
Tenho a
plena certeza, a julgar pela primeira semana da temporada em "Sampa", que a peça
repetirá o mesmo sucesso obtido no Rio de Janeiro. Que os DEUSES DO TEATRO
digam “amém”! Eu ouvi um “amém”?!
FOTOS: RICARDO BRAJTERMAN
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS
AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!
RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!
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PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!
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