quinta-feira, 24 de setembro de 2020

 

NA COXIA, COM...

...VICTOR MAIA.


Victor Maia.


Tenho uma admiração profunda e um carinho muito especial pelo entrevistado de hoje, além de grande orgulho e alegria de tê-lo no meu particular rol de amigos. O título não deixa dúvidas sobre a quem me refiro.

VICTOR MAIA é um artista dos palcos dos mais completos que conheço: bailarino, ator, cantor, diretor teatral e coreógrafo, além de “arranhar” um violão. Um profissional muito aplicado, que não para de estudar e de se atualizar, com formações acadêmicas regulares e muitos cursos de especialização e aperfeiçoamento. Além disso, também ministra cursos, oficinas e “workshops” ligados à dança. 

Quem é fã de TEATRO MUSICAL, obrigatoriamente, conhece o trabalho do VICTOR, no palco ou fora dele, uma vez que é um dos mais requisitados coreógrafos, sua atividade primeira, até o momento, quando se pensa na montagem de um grande musical. Já esteve presente em bem mais de uma dezena de grandes produções e, só para citar algumas, sua assinatura ou presença física, no palco, estão marcadas, por exemplo, em “60! - Década de Arromba – Doc.Musical” e “70? - Década do Divino Maravilhoso” – Doc.Musical” (como coreógrafo e diretor de movimento), ambos com direção de Frederico Reder; “Ayrton Senna – O Musical” e “Meu Destino É Ser Star - Ao Som de Lulu Santos” (como coreógrafo e ator, no segundo, e ator, no primeiro), sob a direção de Renato Rocha; “Quase Normal” (como ator), dirigido por Tadeu Aguiar; “Alô, Dolly” (como ator), tendo como diretor Miguel Falabella; “Aurora da Minha Vida – Um Musical Brasileiro” (como ator e coreógrafo), dirigido por Naum Alves de Souza; “Baby – O Musical” (como ator), sob a direção de Fred Hanson; “Esta é a Nossa Canção” (como ator), dirigido por Charles Randolph Write; e “S’Imbora - O Musical (A História de Wilson Simonal)” (como ator), dirigido por Pedro Brício. Seu penúltimo trabalho, como coreógrafo e ator, foi no musical “Company”, tendo João Fonseca na direção, em 2019. No início de 2020, participou, como ator e coreógrafo, da comemoração dos 10 anos, em cartaz, do musical, “escrachado”, “O Meu Sangue Ferve Por Você”, com direção de Diego Morais, quando um tal de COVID-19 apareceu por aqui, sem ter sido convidado.


Victor Maia.


Isso sem falar nas montagens do “PROJETO TEATRO MUSICADO”, da UNIRIO, nas quais brilhou em “Cambaio” (como ator), “The Rocky Horror Show” (como ator e coreógrafo), “Tommy – A Ópera-Rock” (como coreógrafo), “Monty Python’s Spamalot” (como coreógrafo) e “The Book of Mormon” (como coreógrafo e ator). 

Por seus trabalhos, coreografando e/ou atuando, já teve seu talento reconhecido, várias vezes, com indicações a prêmios de TEATRO, tendo sido vencedor algumas vezes.

Observado pelos “olheiros”, VICTOR acabou sendo contratado, como coreógrafo, pela Rede Globo de Televisão, onde já foi preparador corporal e coreógrafo no quadro “Artista Completão”, no programa “Domingão do Faustão”, e é o titular, como coreógrafo, do quadro “Lata Velha”, no programa “Caldeirão do Hulk”. Na mesma emissora, foi responsável por toda a coreografia das edições de 2016 e 2018 do especial “Criança Esperança”. 

Para se ter uma dimensão do talento do VICTOR, basta dizer que ele conseguiu a proeza de ter sido aprovado, pela rigorosíssima empresa T4F, para integrar o elenco da montagem brasileira de um ícone do TEATRO MUSICAL, “O Rei Leão”, no delicioso papel de Timão, que não chegou a interpretar por motivos alheios à sua vontade.


Victor Maia.

 

Um artista que respira arte, “25 horas por dia”, ele não sossega. Por quatro anos, produziu, codirigiu e atuou na hilariíssima comédia musical “O Meu Sangue Ferve Por Você”, que levou, até agora, milhares de espectadores a vários Teatros por onde o espetáculo passou; algumas pessoas, por mais de uma vez, como eu, que perdi a conta de em quantas noites me diverti com a peça, uma das melhores “bagaças” do "besteirol", gênero que adoro, que já vi nos palcos. 

Para esse grande artista, o dia parece superar as 24 horas, já que está sempre fazendo mais de uma atividade, simultaneamente, ainda conseguindo tempo para compartilhar, com outras pessoas, seu saber, como professor, e fazer parte da comissão de frente (de 2007 a 2012) da escola de samba Unidos da Tijuca, já tendo sido coreografado por nomes expoentes da dança, como Ana Botafogo, Hélio Bejani, Janice Botelho e a dupla tantas vezes campeã dos carnavais cariocas, no quesito “comissão de frente”, Rodrigo Negri e Priscila Motta, e tantos outros grandes profissionais da dança. Também já participou da comissão de frente de outras agremiações carnavalescas e trabalhou, como preparador teatral, da comissão de frente da emblemática Estação Primeira de Mangueira, vencedora do carnaval de 2019, no Rio de Janeiro. 

No cinema, deixou sua digital, como coreógrafo e ator, no longa- metragem “Quem Vai Ficar Com Mário?”, dirigido por Hsu Chien, ao lado dos atores Nando Brandão, seu colega de UNIRIO, e Nany People, além de outros grandes nomes, filme este que estava com a estreia prevista para 2020, porém, por conta da pandemia de COVID-19, deverá ser adiada para o próximo ano. 

Sempre bem humorado, engraçado, inteligente, “descolado”, irreverente e talentoso, temos, aqui, VICTOR MAIA sendo VICTOR MAIA. 

Vamos conversar com ele?



Victor Maia.


1) O TEATRO ME REPRESENTA: Uma pergunta para abrir qualquer “bate-papo” com um entrevistado, nesta coluna, com relação à profissão que abraçou: Como, onde e quando você descobriu que a dança, principalmente, seria a sua profissão?

 

VICTOR MAIA: Essa é uma pergunta bastante frequente e eu sempre respondo que foi a dança que me descobriu. A minha vocação e atenção sempre estiveram apontadas para o TEATRO. Posteriormente, eu descobri a música e, com 18 anos, a dança invadiu a minha vida. Não vou negar que sempre tive muita facilidade para entender a dança. Em musicais, no carnaval - quando eu participava de comissões de frente – e, depois, na Faculdade de Artes Cênicas, na UNIRIO, quando me tornei monitor de expressão corporal. Essa última experiência me levou a coreografar os musicais que produzimos lá, desde “Cambaio” até “The Book of Mormon”, e, através dela, fui chamado para um trabalho específico na Rede Globo, culminando numa contratação, como coreógrafo, que completa, este ano, 9 anos. A dança me invadiu a vida e eu sempre sorri pra ela. Longe de mim me considerar bailarino. Eu sou um ator que dança bem, acima da média brasileira dos atores, e coreógrafo, mais por paixão pela direção.


("Sessão da Tarde".)

(Divulgação.)


("Sessão da Tarde".)

(Divulgação.)

 

2) OTMR: Você foi acolhido, na família, quando se decidiu pela dança, ou sofreu algum tipo de rejeição e/ou preconceito? A pergunta vale também para fora do núcleo familiar


VM: Preconceito nunca sofri, porque, quando comecei a dançar, eu estava mais do que encaminhado na vida (Risos.), mas eu acredito que, se a minha família tivesse me colocado para estudar dança, quando aos 5 anos, eu já fazia “performances”, na sala, diariamente, com meus LP's, hoje, eu, provavelmente, seria um bailarino sensacional, internacional. O que me falta, sinceramente, é a técnica plena para a execução. Eu conheço todos os movimentos, mas não executo todos. Acho que, por isso, eu seja melhor coreógrafo do que bailarino. Minha família apostou no TEATRO, já que eu era extrovertido e exibido. Acho ótimo, porque eu sou muito feliz no TEATRO. E, lá, posso dançar.





("Cambaio")

(Divulgação.) 


("Cambaio")

(Divulgação.) 


("Cambaio")

(Divulgação.) 


 ("Cambaio")

             (Divulgação.) 


3) OTMR: E como se deu a passagem do bailarino para o coreógrafo?

 

VM: Eu, na faculdade, tinha um certo pavor de que algum aluno fizesse esse trabalho, nas montagens acadêmicas musicais, e estragasse tudo. Como sempre me alimentei de TEATRO MUSICAL e tinha muita afinidade com a dança, preferi tomar essa responsabilidade e me desenvolver em outra área a me irritar com alguém (Risos.). Daí pra frente, entre erros, acertos, estudos e muita coragem, fui abrindo portas.

 




("Esta é a Nossa Canção")

(Divulgação.)


("Esta é a Nossa Canção")

(Divulgação.)


("Esta é a Nossa Canção")

(Divulgação.)


("Esta é a Nossa Canção")

(Divulgação.)

 

4) OTMR: Aliás, com relação à pergunta anterior, qual é a diferença básica entre ser “dançarino” e “bailarino”, ou os dois termos podem ser utilizados, indistintamente, principalmente quando o assunto é TEATRO MUSICAL?

  

VM: Amigo, essa pergunta é muito polêmica e eu não tenho uma resposta científica para ela. (Risos.) Posso pular? (Risos meus.)

 



 

("The Rocky Horror Show")


("The Rocky Horror Show")


("The Rocky Horror Show")


5) OTMR: É sonho de todo bailarino se tornar, um dia, coreógrafo? 

 

VM: Não, assim como não é o sonho de todo ator se tornar diretor. A coreografia tem uma necessidade criativa, responsável, no que diz respeito a escolhas estéticas e estilísticas. Algumas pessoas não sabem nem como começar a pensar nessas questões, enquanto outras se encontram nelas.


("The Rocky Horror Show")


("The Rocky Horror Show")


("The Rocky Horror Show")


("The Rocky Horror Show")

 

6) OTMR: Como se deu a sua formação acadêmica, na dança? 

 

VM: Eu não tenho formação em dança. (Fiquei pasmo! Grifo meu.) Fiz um ano de “jazz”, numa academia que dava bolsa para homens. Depois, migrei para outra, por seis meses, e, lá, substituía a professora, na turma iniciante. E o palco, né? Trabalhar com coreógrafos, no TEATRO, no carnaval... Eu me formei na prática, "ralando" e me metendo em todo e qualquer evento em que pudesse aprender e ganhar um trocado, para investir em sapateado, aula de canto, curso de interpretação para TV... Eu sou muito maluco, Gilberto. Com 11 anos, vi a Claudia Raia se jogando, se produzindo e se lançando, como a Liza Minnelli, no Brasil, em "Não Fuja da Raia". Aquilo nunca me saiu da cabeça. Ela acreditou nela. O Brasil acreditou também e, hoje, ela é quem é. Eu sou apaixonado por ela, por conta disso, principalmente. A gente banca, com raça, os nossos desejos, e as pessoas acreditam. Pelo menos aqui, no Brasil, é assim. Para bem ou para mal.

 


("O Meu Sangue Ferve Por Você")

(Divulgação.)


("O Meu Sangue Ferve Por Você")

(Divulgação.)

 

7) OTMR: A pergunta anterior é específica, voltada, somente, para a arte da dança, mas todos sabem que você também é cantor, ator e diretor. Quanto a essas três outras habilidades artísticas do VICTOR, também gostaria de saber onde aprendeu esses ofícios.

 

VM: Eu sempre amei cantar. Meu segundo sonho era ser cantor “pop”, tipo Lulu Santos, de quem sou fã incondicional, desde criança, mas fui estudar canto, quando percebi que a minha embocadura não era tão técnica, para o segmento “musical”. Na época, eu fazia violão e voz, num bar, para ganhar trocados, e entendi que precisava fazer aula de canto, para cantar aquilo tudo que era exigido no palco. É outra voz. O TEATRO, como falei, comecei com 5 anos e me profissionalizei aos 19. Direção, que eu amo, descobri a vocação nos espetáculos grandes que eu fiz como coreógrafo e diretor de movimento. Eu coloquei muito a mão na massa (Mais do que deveria... E isso é outra história). Acho que sempre tive boas experiências com diretores: Tadeu Aguiar, Miguel Falabella, Fred Hanson, Charles Randolph-Write...; e com diretores de movimento, como Priscila Motta, Rodrigo Negri, Duda Maia... Essas experiências me ajudaram muito a construir o meu método de trabalhar a direção, e eu amo essa junção. Tenho, como ídolo, um diretor americano, chamado Jerry Mitchell, que também é coreógrafo, e faz um trabalho genial na Broadway. Ele é a minha total referência.

 

("O Meu Sangue Ferve Por Você")

(Divulgação.)


("O Meu Sangue Ferve Por Você")

(Divulgação.)


("O Meu Sangue Ferve Por Você")

(Divulgação.)


8) OTMR: Em qual das três atividades – ator, bailarino ou coreógrafo - você se sente mais confortável ou qual delas lhe proporciona mais prazer? 

 

VM: Sem sombra de dúvida, atuar. Dançar, só com um personagem. Não me vejo em companhias de dança. Coreografia, eu adoro, mas, sem sombra de dúvida, prefiro trabalhar com direção.



  

9) OTMR: O que representa a UNIRIO na sua vida, VICTOR? 

 

VM: Acho que a minha grande transformação, como profissional de TEATRO, se deu a partir do momento em que eu entrei por aqueles portões. Foi quando, de fato, eu “deixei de ser um adolescente e me tornei um ator” (Essas palavras vieram de uma bronca que eu levei, de um dos meus professores: Renato Icarahi.). E, com esse ator, o diretor de movimento e coreógrafo. Sem mencionar que participar do “Projeto de Teatro Musicado”, coordenado pelo meu professor e mestre Rubens Lima Jr., construiu, lapidou e lançou o “VICTOR MAIA, do TEATRO MUSICAL”. Eu só penso na UNIRIO com muito respeito, saudosismo e emoção.



(The Book od Mormon".)


(The Book od Mormon".)

(Divulgação.)


10) OTMR: O seu trabalho exige, obviamente, uma constante rotina de exercícios físicos, para a manutenção do corpo. Em tempos de pandemia e isolamento social, como é que você está “se virando”?


VM: Com uma taça de vinho e brigadeiro de panela. (Risos) Aproveitei a pandemia para tirar férias dessa pressão que eu mesmo me impunha. Eu sou muito exigente comigo, no trabalho, e descobri que estava ficando neurótico. Me dei férias de mim mesmo.


(The Book od Mormon".)

(Divulgação.)


(The Book od Mormon".)

(Divulgação.)


(The Book od Mormon".)

(Divulgação.)


(The Book od Mormon".)

(Divulgação.)

 

11) OTMR: Já há algum tempo, você é considerado um dos coreógrafos mais conceituados e requisitados, no TEATRO MUSICAL BRASILEIRO. Acho que foi isso que o fez chegar à TV, como coreógrafo do programa “Caldeirão do Huck”, em que mais atua, na emissora na qual trabalha. Há quanto tempo você já é contratado do programa e acha que esse trabalho lhe deu maior visibilidade, por se tratar de um veículo de massa, e, consequentemente, lhe trouxe mais “jobs”?

 

VM: Curiosamente, o que me fez chegar até a TV Globo, onde sou contratado há 9 anos e meio, ininterruptamente, foi a UNIRIO. A Janice Botelho, coreógrafa, assistiu à montagem de “The Rocky Horror Show”, em que eu atuei e coreografei, dentro do “Projeto Teatro Musicado”, e, na ocasião, contratada pela emissora, para atuar em um programa, foi convidada para fazer um trabalho específico, dentro do “Caldeirão”, e, por questões contratuais, ela não pôde assumir. Ela lembrou do meu trabalho, me indicou à produção e, desde então, eu nunca mais saí de lá. O “Caldeirão” me trouxe alguma popularidade, não nego, mas, de fato, acredito que a roda gire dentro do segmento TEATRO MUSICAL, por conta dos trabalhos que eu executo dentro dele. Claro que há diretores que gostam de “grife”, mas são poucos. Até hoje, só um diretor me contratou, apoiado no “chassi” Rede Globo, mas descobriu que meu trabalho vai bem além da marca.



12) OTMR: Embora eu não seja espectador desse programa, gosto de ver, de vez em quando, o quadro “Lata Velha”, quando ele está no ar, apenas para conferir o seu trabalho, por me confessar, despudorada e publicamente, seu fã, e acho incrível como consegue fazer pessoas comuns, que parecem “pedra”, de tão “duras”, cumprirem, bem razoavelmente, a coreografia que você cria. Imagino quão trabalhoso seja isso e gostaria de que nos falasse como se dá esse processo, em apenas uma semana, e que retorno isso lhe traz.

 

VM: Como você bem disse, a maioria delas jamais viveu uma experiência artística. O que eu tento é trabalhar a autoconfiança, descobrir alguma habilidade, por menor que seja, e desenvolvê-la ao máximo. Também faço um trabalho pesado de memorização, em que me gravo, executando, em partes, a coreografia, e o candidato leva esse vídeo para o hotel e ensaia o máximo que puder. O que mais me toca é que, em 97% das vezes, além da execução ser admirável no “Gravando!”, essas pessoas saem, verdadeiramente, transformadas, sensíveis e com um olhar um pouco mais artístico e poético, no que diz respeito à arte. E eu choro sempre. Porque me lembro de que a arte é um instrumento tão importante na vida do cidadão e recebe pouquíssimo incentivo.


 

13) OTMR: Esta pergunta tem uma ligação com a anterior. Já ouvi, várias vezes, da boca de consagrados bailarinos e coreógrafos, que “todo mundo consegue dançar” e confesso, com relação a isso, quando penso em algumas pessoas que conheço, (Risos meus.), que “creo, pero no mucho”. Você também é partidário do pensamento desses profissionais e eu estou errado? No caso afirmativo, duplamente, o que é necessário para que um “poste” (Momento descontração.) passe a dançar?

 

VM: Pensando de modo abrangente, a dança é uma manifestação milenar. De fato, todo mundo pode se expressar corporalmente, a seu modo, a partir de um estímulo sonoro. O que acontece é que, ao longo do tempo, o ser humano foi tornando tudo mais técnico, específico, desenvolvendo estilos com regras e, assim, segregando os corpos. Obviamente que, para muitos segmentos, é necessário desenvolver habilidades técnicas, para a perfeita execução, e quanto mais cedo o interessado buscar esse aperfeiçoamento, melhor. Mas, ao mesmo tempo, uma pessoa que tenha alguma consciência corporal, com treino, pode vir a dançar e executar uma coreografia. Eu sempre conto que um dos meus melhores bailarinos, no “The Book of Mormon”, nunca tinha dançado na vida, mas era lutador de "Taekwondo". Ele conhecia tão bem o corpo dele, que conseguia executar as partituras coreográfica. A dança é democrática. Há lugar para todo mundo que saiba os seus limites, conheça o seu corpo, de alguma maneira, e tenha uma dose de bom senso. (Risos)



("Ordinary Days".)

(Foto: Clarissa Ribeiro.)


14) OTMR: Nas suas experiências, como coreógrafo dos espetáculos montados na UNIRIO, devem ter aparecido, nas audições, candidatos aparentando pouca intimidade com a dança. Já houve casos em que alguém bem “zerado”, ou quase, acabou por surpreender, saindo-se muito bem na parte coreográfica? Se quiser, pode citar nomes, lembrando que isso seria uma forma de elogio, já que ninguém nasce sabendo e essa possível transformação é digna de aplausos. 

 

VM: O exemplo que eu dei acima, do lutador. Chama-se Guilherme Serrão. Leo Bahia também é um ótimo exemplo. Totalmente sem experiência, em “...Spamalot”, eu o transformei em Emsemble/Ballet, e até sapateado ele fazia. Meus amigos Luiz Gofman, Andrei Lamberg, Maíra Garrido, todos eles se desenvolveram muito bem nos processos, e eu morro de orgulho de ter contribuído para isso. É óbvio que nós fazíamos uma rígida seleção para os espetáculos, mas onde havia fumaça a gente assoprava, até sair fogo. Não posso deixar de mencionar, aqui, os meus braços, direito e esquerdo, no quesito “preparação/transformação corporal” desses artistas: Larissa Landim. (Grande Larissa! Grifo meu.) Bailarina clássica, estudou no colégio militar de Brasília. Não há missão que ela não vença! (Muitos risos meus, pela fina ironia, em tom de brincadeira, com a nossa querida amiga comum.)

 

 

("Ordinary Days".)

(Foto: Clarissa Ribeiro.)


("Ordinary Days".)

(Foto: Clarissa Ribeiro.)



"Ordinary Days".)

(Foto: Clarissa Ribeiro.)


15) OTMR: Conhecendo-o há muito tempo, acho que, no meio artístico, você é daqueles profissionais considerados um “workaholic”, o que muitos veem como um “defeito”, com o que não concordo; ao contrário, admiro bastante as pessoas que gostam de trabalhar muito, talvez porque eu também me considere um. Gostaria de saber como você consegue dar conta, e bem, de tantos trabalhos ao mesmo tempo? Lembro-me de, nos meses que antecedem o carnaval, vê-lo sair correndo, dos Teatros, para ir ensaiar numa comissão de frente, durante a madrugada inteira. 

 

VM: Eu nunca me imaginei fazendo outra coisa na vida. O meu prazer vem totalmente do trabalho. É responsabilidade e lazer. Eu surto, em quarentena, por falta dele, e não só por dinheiro, mas também porque eu me acostumei a ser feliz trabalhando. TEATRO, TV, cinema, carnaval, instituição de ensino… Eu já terminei namoros por conta disso; não nego. E olha que eu amo namorar. Lembro que o Tadeu Aguiar quase desistiu de me convidar para o “Quase Normal”, porque ele não queria que eu fizesse comissão de frente ao mesmo tempo, por desgaste. Óbvio que eu não obedeci. (Risos meus.) Eu precisava estar em cena em todos esses setores, porque aprendo muito neles. Não tive dinheiro para me formar como artista. Então, é na cena que eu aprendo. A Sapucaí, por exemplo, é uma arena, onde eu desenvolvia expressão e explosão cênica ao extremo. As práticas de montagem me faziam praticar dons coreográficos. E por aí vai... Como eu chegaria até aqui, hoje, sem família rica, se não fosse buscando a experiência?



("Quase Normal".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


("Quase Normal".)

(Foto: Gustavo Bakr.)

 

16) OTMR: Mesmo trabalhando muito e, praticamente, emendando um espetáculo no outro e viajando com eles, felizmente, a gente se cruza bastante pelos Teatros do Rio de Janeiro, o que é um grande prazer para mim, principalmente nas estreias. Até em São Paulo, já nos encontramos. Do que você já assistiu, ultimamente, ou durante toda a sua vida, como espectador, que espetáculo(s), não importa o gênero, mais o marcou(aram)? Se possível, por quê?

  

VM: Numa ordem cronológica, “Godspell”, montado pelo Miguel Falabella, que me apresentou o TEATRO MUSICAL e me marcou profundamente. Era como estar no céu. Me lembro de assistir, chorando, as 5 vezes em que fui. Ali, eu entendi que faria TEATRO MUSICAL, por unir música, TEATRO e dança. Anos se passam e eu vou a Nova Iorque e assisto a “Kinky Boots”, dirigido pelo Jerry Mitchell, já mencionado acima, e eu vejo um musical que fala sobre diversidade, aceitação, coragem para ser o que queremos ser, através de uma direção moderna e criativa. Ali, eu me descubro simpatizante da direção teatral. Posterior e recentemente, “Cangaceiras”, dirigido pelo Sergio Módena, me aproxima da nossa terra, abre a minha cabeça para discussões altamente atuais e eu me alerto para o quão político e perturbador - no bom sentido - o TEATRO pode ser.


("Quase Normal".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


("Quase Normal".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


("Quase Normal".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


("Quase Normal".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


17) OTMR: Já pensou em tentar uma carreira no exterior? Em caso afirmativo, por que ainda não o fez? 

 

VM: Já. Pensei muito. Mas passei tanto tempo trabalhando, que esqueci de aprimorar meu inglês (Risos). E, também, percebi o quanto eu estava crescendo profissionalmente aqui. Não achava que era a hora de partir. Hoje, considero sair, fazer alguma residência artística fora, e não precisa ser nos EUA. Já, até, andei dando uma olhada numas escolas na Europa. Só me falta o dinheiro. Aceito ajuda. (Risos meus.)




("Ou Tudo Ou Nada".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


("Ou Tudo Ou Nada".)

(Foto: Gustavo Bakr.)

 

18) OTMR: Que profissionais da coreografia, vivos ou já falecidos, mais o inspiram? Em outras palavras, quem você aplaude de pé e ainda grita “BRAVO!”? Podem ser brasileiros ou estrangeiros. 

 

VM: Jerry Mitchell – Claro! -, Alonso Barros, com quem eu nunca trabalhei, mas não perco a fé, Kátia Barros, que tem um trabalho lindo e acolhedor...


("Ou Tudo Ou Nada".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


("Ou Tudo Ou Nada".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


("Ou Tudo Ou Nada".)

(Foto: Gustavo Bakr.)

 

19) OTMR: Há algum espetáculo inteiro ou somente uma cena de um musical que você gostaria que levasse a sua assinatura? Qual(ais)? 

 

VM: “Kinky Boots”, sem dúvida.


("Ou Tudo Ou Nada".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


("Ou Tudo Ou Nada".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


("Ou Tudo Ou Nada".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


 ("Ou Tudo Ou Nada".)

(Foto: Gustavo Bakr.)


20) OTMR: E, da novíssima geração – porque você pertence à nova, apesar de um bom tempo na estrada -, quem (Pode ser mais de um nome.) você seria capaz de convidar para coreografar um espetáculo a ser produzido ou dirigido por você? 

 

VM: Eu sou apaixonado pela minha equipe, né? Tenho assistentes que me ajudam em vários segmentos e são todos bailarinos muito competentes e criativos: Larissa Landim, Daniel Lack, Débora Polistchuck, Clara da Costa, Amanda Miranda… Adoraria, um dia, entregar, na mão deles, um projeto e vê-los seguir comigo. Menciono, aqui, também, o talentosíssimo Gabriel Malo, paulista, que me fez chorar, na direção de movimento do musical “Chaves”. Malo talvez não seja da “novíssima geração”, mas eu o conheci ano passado.



("Aurora da Minha Vida".)

(Divulgação.)


("Aurora da Minha Vida".)

(Divulgação.)

 

21) OTMR: Em que espetáculo musical você considera ter criado a sua melhor coreografia, a sua OBRA-PRIMA? Aproveitando o teor da pergunta, como ator, qual considera seu melhor trabalho? 

 

VM: Como coreógrafo, sem dúvida, “70? – Década do Divino Maravilhoso – Doc. Musical”. Coreografar e dirigir cada passo daqueles muitos atores num musical de três horas, trazendo surpresa e dinâmica, sem cair na repetição, me deu um trabalho gigante. A recompensa eram aqueles aplausos diários. Sensação linda de dever cumprido. Como ator, “Quase Normal”, que me desenvolveu a habilidade que carrego em todos os meus trabalhos: cantar, contando a história, dando atenção ao texto. Essa mudança de percepção, graças à direção do Tadeu Aguiar foi transformadora, e o resultado foram as minhas duas indicações a prêmios naquele ano, pelo Henry, meu personagem: Prêmios Bibi Ferreira e Cenym.



("Baby - O Musical".)

(Divulgação.)


("Baby - O Musical".)

(Divulgação.)

 

22) OTMR:  Você mantém o mesmo método de trabalho, como coreógrafo, obedecendo a alguma disciplina rotineira ou varia, estrategicamente, de montagem para montagem? 

 

VM: Sigo a minha intuição. Eu tenho um processo muito dinâmico. Gosto de montar tudo e, depois, revisitar e aparar as arestas, colocar as cerejas…


("Baby - O Musical".)

(Divulgação.)


("Baby - O Musical".)

(Divulgação.)


("Baby - O Musical".)

(Divulgação.)


23) OTMR: Qual é a sua rotina diária, em termos profissionais, é claro, antes e durante a pandemia? 


VM: Atualmente, assisto a TEATRO “on-line” (Espetáculos brasileiros e musicais americanos.), para me atualizar e analisar estética e estilos. Como falei, estou enveredando para a direção. Então, preciso assistir a tudo que eu puder. É uma maneira de estudar e me conectar e, ainda, descobrir quem eu sou, nessa roda nova.




("Ayrton Senna - O Musical")

(Foto: Divulgação: Aventura Teatros.)


("Ayrton Senna - O Musical")

(Foto: Divulgação: Aventura Teatros.)


24) OTMR: Em muitos espetáculos musicais, na ficha técnica, aparece o nome de alguém que é designado como “dance captain”. A tradução literal da expressão dá uma pista do que representa essa pessoa, no elenco, mas eu gostaria de que você explicasse, de uma forma bem simples, exatamente, o que venha a ser esse elemento e como ele/ela é escolhido(a). 

 

VM: O “captain” é, basicamente, o assistente do coreógrafo, que está dentro do palco, no ato da apresentação, e está preparado para “apagar incêndios”, ensaiar eventuais substituições e criar soluções imediatas. É, também, quem aquece, corporalmente, o elenco, antes das sessões. A escolha se dá, geralmente, durante a fase de testes, quando o candidato apresenta destreza, competência e experiência.


("Ayrton Senna - O Musical")

(Foto: Divulgação: Aventura Teatros.)


("Ayrton Senna - O Musical")

(Foto: Divulgação: Aventura Teatros.)

 

25) OTMR: Exatamente, no fatídico dia 13 de março de 2020, uma 6ª feira, 13, quando foi anunciada uma pandemia mundial, o que o VICTOR estava fazendo, em termos de trabalho, e que planos tiveram de ser adiados? 

 

VM: Estava saindo da praia (Risos meus.), e indo ao Shopping da Gávea, para mais uma apresentação de “O Meu Sangue Ferve Por Você”, edição comemorativa de 10 anos do espetáculo. Foi muito frustrante, porque estávamos com a sessão, praticamente, lotada. E, assim como esse projeto foi interrompido, a estreia e distribuição do filme de que eu participei foi adiada, o processo de montagem do “Hairspray”, produzido pelo CEFTEM, que eu vou dirigir, também.



("Meu Destino É Ser Star".)

Foto: Felipe Panfili.)


("Meu Destino É Ser Star".)

Foto: Felipe Panfili.)


26) OTMR: Como você avalia o TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, fazendo uma comparação com o que já viu fora do país? 

 

VM: Acho que a gente já entendeu a estrutura americana e, frequentemente, tentamos buscar a nossa identidade, desconstruindo esse formato. Algumas vezes, "dá merda", porque, para desconstruir alguma coisa, muitos diretores precisam conhecer bem o objeto. Quando eles decidem levantar uma obra “inovadora”, só com o preconceito que eles têm com a estética, o resultado é catastrófico. Mas eu já vi muita coisa linda, cheia de identidade nacional e muito potente.




("S'imbora, O Musical - A História de Wilson Simonal".)

(Divulgação.)


("S'imbora, O Musical - A História de Wilson Simonal".)

(Divulgação.)

 

27) OTMR: Muita gente, por ignorância e não por uma questão de gosto (Opinião minha.), detesta TEATRO MUSICAL, principalmente por não entenderem a função da música, do canto e da dança num espetáculo de TEATRO. Num bom espetáculo musicado, os atores não saem cantando do nada nem se rebolando ou sacudindo o corpo inteiro por acaso. Tudo tem de estar relacionado ao texto, à história que está sendo contada, e acontecer num momento exato. Pode parecer meio óbvio, mas você seria capaz de, sinteticamente, definir qual o peso, a função e a importância da dança num espetáculo musical?

 

VM: Eu costumo repetir, para os meus alunos, um conceito que me foi passado na minha formação: A canção entra, num espetáculo, quando aquele personagem está inebriado, com tamanha emoção, e já não dá mais conta de usar as palavras, somente, para se expressar. Por isso ele canta. A dança, eu penso, acompanha esse raciocínio. (Adorei isso! Grifo meu.) Ela tem a função de ajudar a contar a história e expressar, em movimentos, todas as aflições, alegrias, tristezas… potenciais daqueles personagens. A dança é um mecanismo muito potente de expressão.


("S'imbora, O Musical - A História de Wilson Simonal".)

(Divulgação.)


("S'imbora, O Musical - A História de Wilson Simonal".)

(Divulgação.)


("S'imbora, O Musical - A História de Wilson Simonal".)

(Divulgação.)

 

28) OTMR: Como é que se dá, na prática, a relação entre um diretor e um coreógrafo, na montagem de um musical? Quero saber em relação ao tipo de coreografia a ser criada. 

 

VM: Ambos devem estar alinhados, primeiramente, em relação ao conceito estético daquele espetáculo. Não dá para coreografar “O Fantasma da Ópera” com “street dance”, a princípio (Risos – dele e meus.). A partir disso, ambos pegam a massa e vão amassando juntos, eu brinco. As quatro mãos se revezam, sem ajudam, se intrometem…



("Company")

(Divulgação: CEFTEM.)


("Company")

(Divulgação: CEFTEM.)

 

29) OTMR: Você também é de opinião de que ainda existe muita resistência do público com relação aos musicais, um preconceito nada velado, ou, na sua trajetória, nos palcos, já deu para perceber alguma evolução? Os musicais já são valorizados como bem o merecem, no Brasil? 

 

VM: Acho que existe gosto para tudo, Gilberto. O TEATRO MUSICAL tem seu espaço e uma legião de admiradores. Eu, por exemplo, detesto “Stand-Up Comedy”. E há um mundo de gente que ama. (Eu, Gilberto Bartholo, faço parte desse “mundo”, quando são bem feitos. Grifo meu.) A gente é bem recebido no Brasil inteiro. Às vezes, somos até reconhecidos na rua, com entusiasmo. Temos vários prêmios que exaltam o estilo. Acho muito bonita a maneira como o TEATRO MUSICAL se instaurou nas nossas terras ensolaradas e mal governadas.



 

30) OTMR: Você acha que as pessoas – praticamente, sempre o mesmo público - vão assistir ao TEATRO MUSICAL para se divertirem apenas ou elas podem encontrar mais do que isso, no meio daquele texto, misturado a cantos e danças? 

 

VM: Elas sempre irão encontrar mais do que diversão. Como toda manifestação artística, o TEATRO MUSICAL abre espaço para a reflexão. Quem não se lembra de “Quase Normal”? Quem não saiu com vontade de ir para as ruas, após assistir a “Cangaceiras”? Quantas pessoas não pensaram em desbravar uma nova paixão, mesmo após uma perda dolorosa, depois de um “Alô Dolly!”? Os musicais trazem muita pompa, brilho, notas musicais extravagantes e piruetas, mas, também, abrem espaço para discussões muito relevantes e eu vejo o público embarcando, cada vez mais, nisso.



("Godspell")

(Divulgação: CEFTEM.)


("Godspell")

(Divulgação: CEFTEM.)


("Godspell")

(Divulgação: CEFTEM.)

 

31) OTMR: Uma pergunta longa, por conta da introdução, e recorrente, nas minhas entrevistas. Pela minha idade, mais de 50 anos dedicados ao TEATRO, e por conta da minha paixão por musicais, sempre que falo sobre eles, lembro-me da dificuldade que havia, há poucas décadas, para a formação do elenco de um musical, no Brasil. Sempre cito, como um dos exemplos, o desespero do saudoso Flávio Rangel, para montar, em 1972, o grande musical “O Homem de La Mancha”, diferente do Falabella, quando remontou o espetáculo, em 2014, porque, antigamente, um cantava, mas não dançava; o outro interpretava muito bem, mas não cantava; aquele(a) dançava, mas não cantava e era “canastra”. Era um sofrimento, que também existe hoje, porém na posição oposta. Quem quer montar um musical, hoje em dia, no Brasil, sofre muito, nas audições, porque necessita de 30, mas aparecem 2000, dos quais 300 são ótimos. O difícil é dispensar gente talentosa: “escolha de Sofia”. Os atores não aprendiam tudo, nas poucas escolas de TEATRO que havia, antigamente, e até bem pouco tempo. O que mudou, então, na formação do ator brasileiro, principalmente os mais jovens, se bem que os mais velhos também vêm demonstrando jogar em mais de uma posição?

  

VM: Acredito que, com o crescimento do estilo, no país, muitas instituições apostam na formação, a partir da procura de atores jovens e admiradores. Atores já encaminhados e veteranos tiveram a oportunidade de buscar especialização. Eu me lembro de, depois de formado na UNIRIO, ter me matriculado no CEFTEM, para me aprofundar mais e mais. Hoje, eu dou aula nessa escola e fico impressionado com a quantidade de talentos que passam por lá.



("Alô, Dolly!"

(Foto: Leonardo Rocha.)


("Alô, Dolly!"

(Foto: Leonardo Rocha.)

 

32) OTMR: Há alguns atores e atrizes, com os quais ainda não tenha trabalhado, profissionalmente, com quem você gostaria de dividir o palco, como ator, ou montar uma coreografia para essas pessoas? 

 

VM: Olha, em montar coreografia, eu não penso. Mas adoraria dançar com a Claudia Raia, fazer um espetáculo musical intenso com a Drica Moraes e a Andrea Beltrão, juntas, e fazer uma comédia com a Fernanda Torres. Eu sou louco por essas quatro.


("Alô, Dolly!"

(Foto: Leonardo Rocha.)


("Alô, Dolly!"

(Foto: Leonardo Rocha.)


 ("Alô, Dolly!"

(Foto: Leonardo Rocha.)


33) OTMR: Gostaria de que nos apontasse um ou mais, se desejar, espetáculo(s) que tenha(m) sido bem desafiadores, para você, no sentido de mais trabalhoso; ou na criação coreográfica ou na composição do personagem, e diga por quê. 

 

VM: Acho que eu já falei sobre isso em alguma resposta acima. Eu escrevo tanto, que, às vezes, me antecipo. (Risos.) Foi mal! (Risos meus. Grifo meu: Foi bem!)


("Alô, Dolly!"

(Foto: Leonardo Rocha.)


("Alô, Dolly!"

(Foto: Leonardo Rocha.)


("Alô, Dolly!"

(Foto: Leonardo Rocha.)

 

34) OTMR: Com total isenção, esquecendo-se de que também sou crítico teatral e seu particular amigo, como você a crítica brasileira? 

 

VM: Acho que crítica é uma opinião, e o artista deve encará-la como um ponto de vista. Não dá para sofrer com uma crítica ruim nem se gabar por uma maravilhosa. Eu, geralmente, não concordo com 80% das coisas que eu leio. (Risos meus.) Existem pessoas que escrevem, porque entendem; outras por “hobby”; e outras, por carência, e necessitam de alguma atenção. O artista tem que saber quem é quem. E se divertir, ou aprender, ou se pautar por aquelas palavras.


 

("Alô, Dolly!"

(Foto: Leonardo Rocha.)


("Alô, Dolly!"

(Foto: Leonardo Rocha.)


("Alô, Dolly!"

(Foto: Leonardo Rocha.)

 

35) OTMR: Uma pergunta que já fiz a outros entrevistados: O nosso futuro, como humanidade, no momento que atravessamos, é completamente uma incógnita, pós-pandemia. Disso, acho que ninguém tem dúvidas. Quanto ao TEATRO, quais as suas previsões com relação a quando teremos sessões “normais” ou como deve ser essa volta à “normalidade”? No caso dos musicais, a coisa é mais complexa, certo?


VM: Ah, meu amigo, vai demorar! Vai demorar, porque o TEATRO MUSICAL não se mantém com metade de uma casa cheia. As contas não fecham. Sem esquecer que grandes espetáculos necessitam de uma equipe grande e é inevitável a aglomeração. Antes da vacina, vamos ter que nos contentar com as “performances” virtuais e ao ar livre.


(Comissão de Frente - Desfile das Escolas de Samba - Marquês de Sapucaí.)

(Foto: Autor desconhecido.)


36) OTMR: Ser artista, no Brasil, não é para os fracos. Principalmente para os que escolheram o TEATRO. É preciso muito amor pela profissão e muita coragem. Em tempos de pandemia, sob as rédeas de “pessoas” (?) cujos nomes nem merecem ser citados, você, como eu, não deve ter a menor dúvida de que continuar no ofício, não desistir nunca, mesmo “apanhando” mais, a cada novo dia, é, realmente, um ato político e de resistência, pelo que aplaudo, cada vez mais, e de pé, os artistas brasileiros. Ou estaria eu errado?

 

VM: Certíssimo! A gente cria coragem ainda no berço. A gente enfrenta a família que “não sonhava isso pra gente”, os professores, na escola, perguntando “Quem quer ser médico? Engenheiro? Advogado? Veterinário? Professor?”, mas nunca mencionam a nossa vocação, nos fazendo sentir desimportantes e desinteressantes. A gente enfrenta um país que prefere que as pessoas não sejam cultas, e ponto. A gente é xingado de “mamador, encostado, puta, veado, ralé...”. E a gente aprendeu a rir disso. A gente incomoda, porque a gente nunca cansa da nossa profissão. O nosso ganha-pão vem da vocação e se constrói no coração. É invejável. É inadmissível. O nosso ofício é o lazer dos engravatados. E o lazer não pode ser todo dia, para gente “decente”. Consegue imaginar o quanto a gente incomoda? (Fiquei muito emocionado com a resposta. Grifo meu.)


(Comissão de Frente - Desfile das Escolas de Samba - Marquês de Sapucaí.)

(Foto: Autor desconhecido.)

 

37) OTMR: Já ouvi, mais de uma vez, você dizer que “a arte é o que me move”. Você, realmente, não viveria sem ela, não saberia sobreviver de outra forma?


VM: Talvez eu fosse "puta". (Muitos e muitos risos meus.)


(No "set" de filmagem de "Quem Vai Ficar Com Mário?")

(Foto: Heloísa Tolipan.)


(No "set" de filmagem de "Quem Vai Ficar Com Mário?")

(Foto: Heloísa Tolipan.)



(No "set" de filmagem de "Quem Vai Ficar Com Mário?")

(Foto: Heloísa Tolipan.)


38) OTMR: Um famoso samba-enredo da escola de samba União da Ilha do Governador dizia, em sua letra: “Como será o amanhã? Responda quem souber!”. Você saberia responder apenas sobre o seu? Quais são os seus principais projetos profissionais, para o que se convencionou chamar de “o novo normal” – expressão que eu detesto -, tanto como coreógrafo quanto como ator? 

 

VM: Eu, de verdade, estou focando no audiovisual. Fazendo cursos, com profissionais do cinema, estudando edição de vídeo. Quero dar esse passo. Quero atuar em TV e no cinema e, para isso, estou me preparando bastante. Estou preparando um monólogo, com texto do André Gabeh, que, além de cantor e compositor, é um autor de mão-cheia. Quero realizar desafios novos. Quero expandir.

 

 


(Com Victor Maia.)
(Foto: Vinícius de Oliveira,)

 

 

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