“NARA”
OU
(ELA NUNCA
FOI APENAS
“UM PAR DE
JOELHOS”.)
ou
(É MUITA
BELEZA,
POESIA
E DELICADEZA
NUM PALCO
SÓ.)
NOTA INTRODUTÓRIA:
Assisti a este MAGNÍFICO ESPETÁCULO no dia 29 de fevereiro próximo passado, quando de sua estreia, e deixei o Teatro Firjan SESI Centro, no Rio de Janeiro, de tal forma encantado com o que vi, que logo me pus a escrever esta crítica.
No dia seguinte, terminei o meu trabalho, ávido por publicá-lo, entretanto não o fiz, por só ter recebido 4 fotos de estúdio, que aqui estão expostas.
Eu não havia recebido nenhuma foto de cena.
Como gosto de ilustrar bastante, com imagens de cenas da peça, as minhas críticas, fiquei aguardando recebê-las, com a promessa de que seriam feitas num dos dias do fim de semana seguinte, o que me parece não ter acontecido ainda.
Sendo assim, pela primeira vez, publico uma crítica quase sem fotos, aguardando recebê-las o mais breve possível.
Quando isso acontecer,
vou inseri-las no corpo da crítica e apagar esta NOTA
INTRODUTÓRIA.)
Até se
provar o contrário, só se chega a uma certeza por meio da concretude, substantivo
feminino que equivale à “qualidade do que é concreto, real, palpável
material”. Comigo, essa máxima não funciona sempre, quando o assunto é TEATRO, visto que são incontáveis as
vezes em que parti para assistir a uma peça já com a certeza de que retornaria
a casa feliz e, muitas vezes, com a vontade de rever o espetáculo, como ocorreu
numa quarta-feira, 29 de fevereiro de 2024, um dia a
mais, num ano bissexto. Coincidência ou não, foi num dia especial, que só
incide no calendário gregoriano de quatro em quatro anos, que estreou, no Teatro
Firjan SESI Centro (VER SERVIÇO.) um musical especialíssimo: “NARA”, com o qual MIGUEL FALABELLA presta uma singela e merecida homenagem à cantora NARA LEÃO, que nos deixou muito
precocemente, em 1989, aos 47 anos de idade, a qual voltou a “ganhar
vida”, num palco de um Teatro, tendo como “cavalo”
ZEZÉ POLESSA.
(ESPAÇO RESERVADO PARA FOTO.)
Eu, FALABELLA e ZEZÉ temos alguma coisa em comum (Eu e MIGUEL, certamente, outras
mais, aplicadas à CULTURA e à ARTE.): somos, sempre fomos e, eternamente,
seremos fãs de NARA LEÃO, muito
embora eu, pelo menos, vivesse sendo criticado por gostar de ouvir “aquela
moça que canta pra dentro”, “aquela que só mia, quando canta” ou
a “João
Gilberto de saias”, como se isso fosse uma ofensa. Eram críticas das pessoas que estavam acostumadas a
ouvir – o que só admitiam, em música – cantores e cantoras que “soltavam
a voz”, que se repetiam em estupendos agudos, “botando o gogó pra funcionar”,
contra os quais, absolutamente, nada tenho, como Dalva de Oliveira, Ângela
Maria, Leny Everson e Lana Bittencourt, por exemplo, no “time”
feminino, e Vicente Celestino, Orlando Silva, Jorge Goulart e Cauby
Peixoto, no lado masculino, apenas para citar alguns dos grandes nomes.
Não entendiam aqueles críticos, os quais eu tinha dentro da minha própria casa,
que cantar não era só atingir notas altíssimas, agudos admiráveis e
desafiadores, até conseguir quebrar copos de cristal. Não percebiam que o canto
dos anjos era diferente: baixo, suave e delicado. Não conseguiam perceber que
ninguém cantava “aos berros” para provar que ainda estava vivo, embora o grande
poeta moçambicano Mia Couto diga que “cantar é um afastamento da morte”.
(ESPAÇO RESERVADO PARA FOTO.)
Uma
confissão que não creio que vá me render alguns “cancelamentos”, para o
que, diga-se de passagem, estou pouco me importando: fui um adolescente meio “rebeldinho”,
para não fugir à regra, a ponto de falsificar uma carteira de estudante,
valendo-me do fato de ser alto e aparentar ter mais idade, para poder entrar em teatros
e cinemas que apresentassem algumas atrações proibidas para menores de 18 e até 21 anos,
o que acontecia bastante naquela época, com o nefasto golpe militar de 1964 a
todo vapor. Quando quis assistir ao icônico “show” “Opinião”,
não exclusivamente para ver e ouvir NARA
de perto, no extinto Teatro de Arena, no Rio
de Janeiro, o qual estreou em 11 de dezembro de 1964, não logrei êxito e ainda tive de ouvir
um sermão do porteiro. Não consegui enganá-lo. Eu tinha 15 anos completos de
idade, 18 ou 19 de aparência e 21
de carteirinha escolar falsificada. Mas não desisti, deixei passar um tempo e
lá voltei. E consegui ver Zé Kéti, João do Vale e... Maria
Bethânia. Sim, NARA, por
problemas “de saúde” (Será que foi só isso mesmo?), havia
abandonado o espetáculo, tendo sido substituída por essa outra “deusa”
da MPB,
em início de carreira.
(ESPAÇO RESERVADO PARA FOTO.)
Fiquei
só um pouquinho frustrado - porque Bethânia é Bethânia -, com
a força de seu canto e sua visceral interpretação. E adorei o espetáculo. Mas, como, de vez em quando, a sorte me procura, não tanto tempo depois -
dois anos -, a convite do tio de uma grande amiga, o qual era um “graudão”
da extinta TV Record, de São Paulo, a maior emissora de TV do
país, à época (A "Vênus Platinada" começava a engatinhar.), eu, já com 17
anos, fui, pela primeira vez, a São Paulo, de terno e gravata, ao
antigo Teatro Paramount, atual Teatro Renault, para assistir à
final do “Festival de Música
Popular Brasileira”, em sua segunda edição, no dia 10 de outubro de 1966, quando, por fim, vi e ouvi NARA LEÃO, a alguns metros de mim,
cantando, com Chico Buarque, o autor da canção, “A Banda”, que se sagrou
vencedora do certame, empatada com “Disparada”, de Geraldo Vandré e Théo
de Barros, defendida por Jair Rodrigues, Trio Novo e Trio
Marayá. Confesso que torci por esta, mas disparado ficou meu
coração, também, por “A Banda”. Ou teria sido por NARA?
No
ano passado, por esta mesma época, assisti a um outro musical sobre a cantora –
“Nara – A Menina Disse Coisas” -, no Teatro Ipanema, que me
pareceu, infelizmente, um grande equívoco. Fiquei bastante triste com o que vi.
Ela merecia alguma coisa muito mais do que aquilo; muito mais mesmo. E já não
era sem tempo, motivo de sobra, e que já bastava, para eu aplaudir,
vigorosamente, a iniciativa de ZEZÉ
POLESSA e MIGUEL FALABELLA,
porque é preciso apresentar, às novas gerações, os grandes artistas brasileiros
do passado, a fim de que que eles continuem “vivos”, no presente, e
assim seja por todo o futuro. Podemos dizer que, naquela linha de “a
pandemia de COVID foi um horror, mas, felizmente, deixou algumas coisas boas,
positivas”, o espetáculo aqui analisado é uma delas, dado que a ideia
de sua concepção surgiu naquele triste e indelével momento, quando ZEZÉ passou a se interessar mais por NARA, depois de ter lido sua biografia,
“Ninguém
Pode com Nara Leão”, que já estou me agilizando para comprar, do
jornalista, escritor e crítico musical Tom Cardoso, logo encomendando ao MIGUEL um texto-solo para ela
interpretar a personagem.
Ao
longo de toda a sua trajetória, NARA LEÃO
(1942-1989)
assumiu um compromisso intenso com a liberdade e se eternizou como uma das
grandes personalidades brasileiras do século passado.
ZEZÉ POLESSA revive agora o mito dessa
mulher pioneira, que marcou época, quebrou tabus, lançou modas e esteve no
centro de movimentos como a Bossa Nova, o Tropicalismo, os grandes
festivais, o resgate do samba e as canções
de protesto durante a ditadura militar.
Escrito
e dirigido por MIGUEL FALABELLA, “NARA” traz de volta a cantora, que volta do passado
– ou do futuro – para dividir, com a plateia, as suas lembranças e reflexões,
além de reviver seus muitos sucessos radiofônicos, como “A Banda”, “Diz
Que Fui Por Aí”, “Corcovado” e “Marcha da Quarta-Feira de
Cinzas”.
A carreira e a trajetória de vida de NARA LEÃO acabam por nos conduzir a
dois substantivos que parecem pertencer a seu legado: substância e estilo.
E são eles que norteiam o espetáculo, uma
homenagem a esta cantora originalíssima, de extremo bom gosto e fraseado e,
acima de tudo, uma mulher do seu tempo.
NARA foi uma das mais
contundentes vozes a favor das liberdades individuais e dos direitos civis, numa
das mais violentas e opressivas eras da nossa recente história.
Não foi por acaso que um de seus grandes
sucessos tenha sido o "show" “Opinião”, já um clássico do gênero,
em que, além do resgate musical, NARA
dizia textos de Armando Costa, Ferreira Gullar e Oduvaldo
Vianna Filho, defendendo a liberdade de pensamento.
A artista trouxe uma voz instigante e
atuante, na sua bagagem, até o fim de seus dias.
Sempre curiosa, sempre em busca de caminhos que, talvez, nem ela mesma soubesse quais eram, mas que sempre se provavam consistentes e originais.
Não
vou me deter muito em detalhes da vida da cantora, porque, como se trata de um musical
biográfico, tudo o que lhe aconteceu de mais importante, na vida
pessoal e artística de NARA LEÃO, está
no texto, para quem quiser saber. É só “dar um GOOGLE”, como a própria
personagem diz, num determinado momento da peça. - Quem não for ao Teatro Firjan
SESI Centro não pode imaginar o que estará perdendo -, mas é muito importante
dizer que NARA pertencia à alta
burguesia carioca, moradora num amplo apartamento, em plena Avenida
Atlântica, Copacabana, no edifício Champs-Elysées, um dos endereços
mais nobres do Rio de Janeiro, na sua época. E o porquê da importância de
lembrar esse detalhe? É para que possamos alcançar a relevância dessa mulher,
a qual, indo na direção oposta à da irmã, Danuza, um exemplo de “socialite”,
não era dada a luxos e ostentações e se aproximou, o quanto pôde, das classes
sociais menos favorecidas, em atitudes pioneiras e revolucionárias, sem medo de
se expor em suas críticas, nada veladas, aos “milicos de plantão”, “gorilões”
da ditadura, e ao regime bárbaro e cruel, em si, imposto aos brasileiros, que custou
o sangue e a vida de muita gente.
(ESPAÇO RESERVADO PARA FOTO.)
NARA foi uma cantora eclética, tendo
circulado por vários ritmos, gêneros e movimentos musicais, não dando a mínima
importância às críticas que recebia, demonstrando uma personalidade muito forte.
Era determinada em fazer o que lhe desse vontade, sempre com a ideia fixa de
liberdade. Destarte, reinou, “quase soberana” (Ou majestosamente mesmo?),
na Bossa
Nova (Silvinha Teles “lhe fazia uma certa sombra”, mas não a ocultava.). Reza a lenda que o título de “Musa da Bossa Nova” foi creditado a NARA pelo cronista Sergio Porto, mas nem a homenageada
sabia, ao certo, de onde surgiu tal reconhecimento. De “Musa da Bossa Nova”, passa a
ser cantora de protesto e simpatizante das atividades dos Centros Populares de Cultura da UNE (União Nacional dos Estudantes). Não hesitou em cantar sambas, músicas
românticas, as “de protesto” e até canções de Roberto e Erasmo
Carlos, da turma da “Jovem Guarda”, movimento execrado
pelo “xiitas”
da MPB.
Ainda merece registro sua passagem pela “Tropicália”, quando aderiu ao "Movimento Tropicalista", tendo participado da gravação do
disco-manifesto do movimento, “Tropicália ou Panis et Circenses”, lançado pela gravadora Philips, em 1968.
Sua interpretação para a faixa “Lindonéia” (grafia da época), um
bolero (acelerado) de Caetano Veloso e Gilberto
Gil, é um primor de gravação. Não deixem de ouvir (o disco inteiro)! (“Ah, meu amor, a solidão vai me matar de dor!”)
Quando, no segundo
subtítulo que escolhi para esta crítica, eu disse que “É MUITA BELEZA,
POESIA E DELICADEZA NUM PALCO SÓ”, não fiz uso de nenhum exagero. Ative-me,
somente, ao que vi sobre as tábuas, desde o texto, passando pelo
trabalho de todos os artistas de criação, a direção
e a interpretação
de ZEZÉ POLESSA.
Como dramaturgo,
MIGUEL FALABELLA criou mais um texto
que, por
mim, vai para o mesmo baú onde deve guardar, com muito carinho e
cuidado, muitas das OBRAS-PRIMAS que escreveu para o TEATRO: “A
Partilha”, “Veneza”, “Império” (em parceria com JOSIMAR CARNEIRO),
“O
Homem de La Mancha” e “O Som e a Sílaba” são algumas delas,
as minhas favoritas. Apesar de ter vivido, relativamente, pouco, NARA teve sua vida marcada por grandes
e inesquecíveis momentos, bons e ruins, quase todos retratados na peça (Seria
impossível fazer caber todos no tempo médio de uma peça de TEATRO,
principalmente num monólogo). Para tanto, o autor mergulhou numa
profunda pesquisa e soube “pescar” o que ele achou ser mais significativo
e que poderia ser mais bem explorado dramaturgicamente. MIGUEL transita, igualmente bem, no drama e na COMÉDIA,
de sorte que, nesta peça, ele soube dosar muito bem elementos daquele e deste
gênero teatral, de uma forma poética, doce, delicada, criativa e inteligente.
Até a morte é pintada de uma forma leve. Frases ternas se alternam com outras
que carregam uma dose de humor ingênuo e “bem temperado”. O autor não perde a
oportunidade de trazer à tona alguns temas dos quais NARA foi testemunha ou personagem
diretamente ligada, como a repressão sofrida no período da ditadura
militar, o exílio, o avanço do debate feminista, a revolução
comportamental das décadas de 60 e 70, a maternidade, os célebres
casos de amor e as demais paixões da cantora.
(ESPAÇO RESERVADO PARA FOTO.)
Assistindo à peça ou
lendo a biografia de NARA, fica-se
sabendo que ela adorava namorar, o que justifica a considerável quantidade de
namoros, namoricos, flertes e “crushes” que lhe atravessaram o
caminho. Ela procurava seguir sua vida numa estrada em linha reta e bem
pavimentada, porém, sempre, em cada encruzilhada com alguma “via
vicinal”, encontrava alguém que mexia com o seu coração. Aproveitando
esse “gancho”,
FALABELLA não se preocupou em traçar
detalhes “quentes” desses encontros e, aproveitando-se do fato de,
alguma vez na vida, NARA ter
manifestado o desejo de trabalhar no cinema, como montadora de filmes,
criou uma marca, que arranca risos e gargalhadas do público: Toda vez que a personagem
vai falar sobre um desses novos encontros "calientes", ela interrompe o texto, faz um gesto
e diz: “CORTA PARA...!”, passando a descrever paisagens bucólicas, deixando à plateia o direito e a oportunidade de exercer a imaginação. A cena
em que fala do nascimento de Isabel, (28 de setembro de 1970),
sua primeira filha com Cacá Diegues, em Paris,
onde se encontrava exilada com o marido, é de uma beleza indescritível. Há
outras também no mesmo nível. Em 17 de janeiro de 1972, já de volta
ao Rio
de Janeiro, nasceu Francisco, o segundo filho do casal.
Um adendo importantíssimo: é belíssima e rica a escrita de FALABELLA, que se estende ao trecho que ele criou para o lindo programa
da peça, uma raridade, nos dias de hoje. MIGUEL e eu quase fomos contemporâneos, na Faculdade de Letras da UFRJ, na Avenida Chile (Acho que eu estava no último ano, quando ele entrou, meu calouro.). Além de muito culto, FALABELLA sabe como escrever e traduzir suas emoções em palavras, sendo muito preciso, e "precioso", ao colocar o verbo na boca de seus personagens.
(ESPAÇO RESERVADO PARA FOTO.)
MIGUEL também assina a direção da peça, da mesma maneira brilhante como a escreveu, conforme ocorre, via de regra, em todos os espetáculos em que exerce essa função (De seus quase 40 trabalhos como diretor, talvez uma meia-dúzia não me tenha arrebatado tanto.). A liberdade de pensamento e expressão, em função da qual NARA vivia, parece ter ter sido concedida a ZEZÉ POLESSA, no exercício de sua atuação. Todas as marcações são precisas e nem um pouco previsíveis. Não gosto, quando o(a) ator(atriz) está dando um texto e já percebo para onde ele vai se deslocar, nos segundos seguintes. O óbvio, em termos de marcações, pareceu-me não existir nesta montagem.
A atuação de ZEZÉ POLESSA é irretocável, um encantamento só, pelo tom de voz, a interpretação das canções que fazem parte da trilha sonora, pelos gestos elegantes, milimetricamente estudados, um trabalho que contou, efetivamente, com a indispensável e esplendorosa orientação de MARINA SALOMON, a qual, além de assinar a delicada e harmoniosa direção de movimento, ainda se presta a fazer a assistência de direção. De acordo com a concepção do autor/diretor, a grande protagonista surge, no palco, “como se estivesse vindo de algum lugar do futuro – ou do passado –, para compartilhar, com o público, algumas lembranças e reflexões. Através de um grande fluxo de consciência, o texto relembra momentos e canções da cantora sem preocupação com cronologias, datas ou qualquer outra formalidade, bem no estilo NARA, uma intérprete que sempre foi ‘fora da caixa’, quando esta expressão nem era tão usada assim.”. Tudo isso existe no solo, graças ao “privilégio do TEATRO” (Eu substituo "privilégio" por "magia".), como a própria personagem justifica sua presença ali, e a formidável atuação desta. Importante é dizer que a atriz não procura imitar o jeito de falar ou cantar da homenageada, mas lembra muito a cantora, no geral.
(ESPAÇO RESERVADO PARA FOTO.)
Também me parece não ter havido, por parte de MARCELO DIAS, responsável pelo ótimo visagismo do musical, a intenção de transformar, por fora, ZEZÉ em NARA, porém a imagem da atriz/personagem, em cena, se aproxima bastante do verdadeiro visual da NARA, que conhecemos, das lembranças da cantora em registros fotográficos e em imagens cinéticas. ZEZÉ, ainda que não seja uma exímia cantora, o que não lhe lhe subtrai um centímetro de acerto na composição da personagem, soube tirar partido de sua voz e, contando com aulas de canto e a preparação vocal, feita esta por MARIANA BALTAR, consegue interpretar todos os 13 números musicais com graciosidade e, principalmente, muita emoção. Gosto de todos, entretanto confesso ter sentido os olhos úmidos, quando ela interpretou a canção “Com Açúcar, Com Afeto”, de Chico Buarque, uma canção belíssima, porém, para os dias de hoje, de letra completamente “politicamente incorreta”, mostrando todo o alto grau de submissão de uma mulher para com seu marido adúltero. A música é interpretada só até a metade, o que já foi suficiente para me fazer sacar o lenço (Mentira! Não uso lenço de tecido. Seria a manga da camisa mesmo. Momento descontração.) Estou certo de que tenha sido um grande desafio para a atriz, com 50 anos de carreira e muitos sucessos no seu portfólio, interpretar NARA LEÃO, compromisso que assumiu com garra e fé, e do qual dá conta da melhor forma possível. ZEZÉ/NARA nos comove (O verbo fica mesmo no singular, porque a pessoa e a “persona” se confundem numa só.).
(ESPAÇO RESERVADO PARA FOTO.)
Texto lindo e
interpretação impecável, o que dizer dos elementos de criação responsáveis
pela plasticidade
da peça: Nada menos que “belíssimos”, tudo acompanhando o
toque de – vou repetir – BELEZA, POESIA E DELICADEZA, marcas registradas desta
montagem. É bem possível que DINA SALEM
LEVY, que desenhou o cenário, quando se lançou ao
trabalho, tenha se questionado: “O que posso bolar, em termos de cenografia,
para uma peça em que a única personagem, física, no palco é alguém que poderia
ser chamada de “Garota de Copacabana”, da mesma forma como “Helô Pinheiro se
tornou a eterna “Garota de Ipanema?”. Sem dúvida, NARA era a representante mais perfeita do bairro onde morou a maior
parte de sua vida. Por conta disso, a cenógrafa desenhou uma espécie de “caixa”,
dentro da caixa preta do palco, para simbolizar o lugar, físico, de voz da
personagem, não se sabe se no passado ou no futuro. E, ocupando boa parte do
espaço cênico, uma escada e um pequeno escorrega, colocados ao fundo do palco, e
inúmeras ondas gigantes, recortadas em madeira compensada, quero crer, as quais sugerem movimentos plácidos e criam um ambiente onírico, quando realçadas pela esplêndida luz, desenhada, a quatro mãos, por RICARDO VIVIAN e SARAH SALGADO, os quais fazem uso
abundante de tons pastéis (azul, verde, amarelo rosa...), criando uma
ambientação quase indescritível, de tão bela.
(ESPAÇO RESERVADO PARA FOTO.)
NATHALIA DURAN desenhou um único traje para a personagem, um
vestido de caimento perfeito, uma lindíssima peça, num tom azul-bebê, muito
pálido, suave como a "modelo" que o veste, quase se aproximando do branco, peça que absorve todas as demais cores
que incidem sobre ela, para a alegria dos nossos olhos. A roupa traz um rasgo,
no lado esquerdo, que deixa à mostra um dos tão "cobiçados" joelhos, em várias cenas, detalhe muito
bem explorado pela direção, sem qualquer tipo de "apelação". Para interpretar algumas canções, a atriz vai
buscar, na coxia, trazendo para o palco, para cada uma delas, um elemento
cenográfico diferente que eu não sei como nomear, uma espécie de "totem", em tamanho natural, como aquelas
peças de brinquedo, "que servem para
vestir bonecas", aquele brinquedo infantil, sempre uma diferente para cada cena, dependendo do
teor delas. Uma excelente ideia que funciona muito bem. As pinturas dos trajes são creditada a MARINA
BARROCAS e LUCAS CHEWIE.
(ESPAÇO RESERVADO PARA FOTO.)
Para encerrar os comentários sobre os artistas
que fazem parte da FICHA TÉCNICA
do musical, não poderia omitir, sob hipótese alguma, os mais que corretos
trabalhos de direção musical, arranjos e produção musical, assinados
por JOSIMAR CARNEIRO, um
velho parceiro de FALABELLA. Todas as canções são cantadas sobre um ‘‘playback“, cuja gravação da base contou
com o próprio JOSIMAR (violão),
ANTÔNIO GUERRA (piano e
acordeão), PEDRO AUNE (contrabaixo),
RUI ALVIM (saxofone, clarinete
e clarone) e ANDRÉ BOXEXA (bateria
e percussão).
Texto: Miguel Falabella
Direção: Miguel Falabella
Direção Musical, Arranjos e Produção Musical: Josimar Carneiro
Atuação: Zezé Polessa
Assistência de Direção e Direção de Movimento: Marina Salomon
Cenografia: Dina Salem Levy
Figurino: Nathalia Duran
Desenho de Luz: Ricardo Vivian e Sarah Salgado
Desenho de Som: Arthur Ferreira
Visagismo: Marcelo Dias
Preparação Vocal: Mariana Baltar
Operação de Luz: Luana Della Crist
Operação de Som e Microfonista: João Gabriel Mattos
Assistência de Cenografia: Alice Cruz
Cenotécnico: Rodrigo Shalako
Contrarregras: Nivaldo Vieira e Rahira Coelho
Camareira: Maninha Xica
Assessoria de Comunicação: Pedro Neves
Comunicação Digital: Bruna Paulin
Concepção Visual | Projeto Gráfico: Gringo Cardia
"Designer" Gráfico: Matheus Meira
Fotografias: Flavio Colker
Audiovisuais | Comunicação Digital: Gil Tuchtenhagen
Produção: Quintal Produções
Direção de Produção: Verônica Prates
Coordenação de Projetos: Valencia Losada
Produção e Administração: Letícia Vieira
Produção Executiva: Camila Camuso
Assistência de Produção: Ellen Miranda
Realização: Ministério da Cultura, Governo Federal
Patrocínio: Petrobras
Temporada: De 29 de fevereiro a 21 de abril de 2024.
Local: Teatro Firjan SESI Centro.
Endereço: Rua Graça Aranha, nº 01 – Centro – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2563-4163.
Dias e Horários: 5ªs e 6ªs feiras, às 19h; sábados e domingos, às 18h.
Valor dos Ingressos: Plateia Baixa = R$ 40 (inteira) e
R$ 20 (meia-entrada); Plateia Alta (ingressos populares) = R$ 30 (inteira) e R$ 15
(meia-entrada).
Vendas de ingressos "on-line" pela plataforma SYMPLA (com taxa de conveniência) ou, presencialmente, na bilheteria
do Teatro (sem taxa de conveniência).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: De
2ª a 6ª feira, das 12h às 19h; sábados,
domingos e feriados, 2h antes do início do espetáculo.
Acessibilidade: Nos dias 28 de março e 07 de
abril, sessões com intérprete de libras.
Duração: 80 minutos.
Classificação Etária: Livre.
Gênero: Monólogo Musical.
“NARA” é
um espetáculo onírico, que emociona e diverte, informa e provoca reflexões, o
qual eu não poderia deixar de recomendar, e com o maior empenho. NARA nos deixou ao meio-dia de uma
quarta-feira de junho, que não era a “de Cinzas”, canção que ela interpretava
com tanta graciosidade - “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”,
de Carlos
Lyra e Vinícius de Moraes: “E, no entanto, é preciso cantar. / Mais que
nunca, é preciso cantar. / É preciso cantar e alegrar a cidade”. E o
espetáculo termina com NARA deixando
o palco e nos alegrando, ao som de “Diz Que Fui Por Aí”, de Zé Kéti: “Se alguém perguntar por mim, / Diz
que fui por aí, / Levando o violão debaixo do braço.”. E ela está mesmo
por aí. E sempre estará.
FOTOS: FLAVIO COLKER
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
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