quarta-feira, 2 de setembro de 2020

NA COXIA, COM...

...CAIO BUCKER.


Caio Bucker.


Caio Bucker.

 

      CAIO BUCKER não precisa de apresentação, para quem vive no universo das artes, principalmente do TEATRO, dos “shows” e das festas em discotecas e afins, porém o grande público precisa ficar conhecendo um pouco do trabalho e da importância desse “cara” “que engana”.

CAIO “engana”, no melhor dos sentidos, a quem não o conhece e tem o péssimo hábito de julgar as pessoas pela aparência física. 30 anos, aparentando menos, um rapaz que chama a atenção, por sua beleza física, seus dois metros de altura (ou mais), cabelos bem pretos, lisos e longos, até a metade das costas, quase sempre contidos num coque – um tipo “exótico”, que foge aos padrões convencionais -, esse tijucano, desde sempre, um amante da vida, com um bom figurino e a ajuda de um maquiador e de um visagista, passaria, facilmente, por um herói “bárbaro”, de um filme épico, de aventuras.

Ou, também, pode levar o observador “pré-conceituoso” a pensar que pode estar diante de um surfista, “boa vida”, “filhinho de papai”, que vive a flertar com o sol, durante o dia, cavalgando ondas, e a namorar a lua, ou sob ela, nas noitadas “animadas”. Alguém sem maiores preocupações, na vida, um “menino do Rio”, adepto, “full time”, da teoria “pagodinhiana” do “deixa a vida me levar”.

O que muitos não sabem é que CAIO é um dos mais competentes e respeitados profissionais do seu ofício. Sinceramente, eu nem saberia dizer, com precisão, o que ele faz, profissionalmente, de tão eclético que é; mais fácil seria dizer o que ele não faz, quando o assunto está ligado a um palco, a uma produção artística.



Pronto! Uma palavra, “produção”, me fez chegar perto do que eu queria dizer sobre o CAIO. Ele é aquele que não aparece, a não ser nas plateias, mas que está por trás dos bastidores, acompanhado de alguns outros competentes profissionais, como ele, ligados à sua empresa, a “BUCKER PRODUÇÕES” – e, aí, destaco o nome de Ricardo Fernandes – para “fazer com que as coisas aconteçam”, para que tudo dê certo, quando as cortinas se abrirem.

Trabalhando pesado, desde muito mais jovem do que é hoje, e se divertindo, também, naquilo que faz – e isto é muito importante: trabalhar e se divertir, simultaneamente, fazendo, de forma séria, aquilo de que se gosta  -, CAIO BUCKER já atuou na linha de frente de muitas importantes atrações artísticas e de entretenimento, jogando em mais de uma posição, tendo começado, salvo engano, com DJ, porém, hoje, abraça, com mais frequência e competência, as funções de produtor - de TEATRO, “shows” e eventos culturais - e professor, dividindo, com quem tem interesse no assunto, os caminhos e a dicas para se tornar um bom gestor cultural.

No meio artístico, é preciso que se estabeleça, com total transparência e sinceridade, quem entra na nossa gaveta dos conhecidos, dos colegas e dos amigos. Por ser um “cara” enorme, por fora (Eu, que não sou baixo, quase me sinto um anão, perto dele. Momento descontração.), e imenso por dentro, CAIO BUCKER ocupa um considerável espaço, na minha gaveta dos amigos, o que, para mim, é motivo de grande alegria e orgulho.



Há, entre nós, uma relação de grande respeito e admiração mútua, que faz com que ele, mesmo me “contrariando”, só me trate por “mestre”. É bastante curioso – e prato cheio, para quem acredita em vidas passadas, como eu – a nossa relação. Sinto um prazer enorme em estar com ele, em conversar com ele, em assistir a um espetáculo ao lado dele, e sempre percebo que é um sentimento mútuo. Parece que nossa relação vem de vidas passadas, a julgar pelo pouco tempo da nossa amizade, desde quando nos conhecemos e passamos a conviver, pelos palcos e plateias da vida. É como se fôssemos amigos de infância, apesar das quatro décadas que separam as nossas idades.

CAIO BUCKER é uma das pessoas mais competentes, respeitosas, sinceras, probas e generosas com as quais convivo, no dia a dia do TEATRO. E é por isso, e por mais outros muitos motivos, que ele está aqui, atendendo ao meu convite.


 

1) O TEATRO ME REPRESENTA: CAIO, é um grande prazer conversar com você e conhecer mais um pouco dessa sua vida de “workaholic” cultural (Isto é um elogio.), cuja cabeça, sempre em ebulição, está pensando num projeto novo, para “agitar as massas”. E sempre consegue. Se alguém me perguntar quem é CAIO BUCKER, eu vou dizer que, além de meu querido amigo, é um produtor cultural. Essas duas palavras, apenas, bastariam para identificar você, como profissional? Agora, sou eu que pergunto: Quem é CAIO BUCKER?

 

CAIO BUCKER: Sim, bastariam. Eu sou produtor cultural, sou um amante da arte e um realizador de projetos ou, como já me chamaram, um “agitador cultural”. Minha cabeça, inquieta, pulsa arte o tempo todo, e eu não consigo parar de pensar e de ter ideias! (Risos).


 

2) OTMR: A rubrica “produtor cultural” tem vários tentáculos e você parece que tem mais do que oito, como os polvos, porque atua em várias áreas, em frentes diferentes, embora eu o veja mais como um homem ligado ao TEATRO, seja na forma de peças teatrais, seja no formato de “shows”, passando, também, pelos “stand-up comedies”. Qual foi, ou ainda continua sendo, a sua formação acadêmica?

 

CB: Eu sou formado em Comunicação Social, com bacharelado em Cinema, pela PUC-Rio. Fiz uma Especialização em Arte e Filosofia, também pela PUC-Rio, e, agora, terminei o Mestrado em Filosofia da Arte, na UERJ. Ou seja, minha pesquisa acadêmica também é em arte. Mas, sim, me considero um “homem de TEATRO” e da música. Bem antes de entrar para a faculdade, eu já trabalhava com ambos. Comecei a tocar violão aos 9 anos e minha primeira experiência como DJ veio aos 15; e o primeiro curso de TEATRO que fiz foi aos 13 anos.


 

3) A palavra “GERINGONÇA” representa o que, na sua vida?

 

CB: Representa o início da minha carreira. O projeto “Geringonça” foi meu primeiro contato com o palco. Aconteceu ali o meu primeiro curso de TEATRO e, durante os anos em que fiquei no projeto, aprendi muito. Virei mestre de cerimônia das apresentações, que eram “shows” com bandas independentes e artistas já do “mainstream”, esquetes teatrais, poetas, cineastas; ou seja, era um redemoinho artístico. Lá, eu conheci muita gente incrível, muito artista talentoso, cujos “shows” tive a honra e a oportunidade de apresentar, como Jorge Mautner, Jards Macalé, Rogério Skylab, Baia, Teresa Cristina e o Zéu Britto, que, anos depois, veio trabalhar comigo.



 

4) OTMR: Como se deu a evolução e a transformação da figura do muito jovem DJ para o profissional bem maduro e competente que você é hoje?

 

CB: Comecei como DJ, aos 15 anos, tocando em festas de aniversário, em “plays”, e em formaturas das escolas. Passei pelas matinês clássicas da época e, anos depois, fiz minha primeira apresentação numa festa “pop”: o “Chá da Alice”. Nessa época, virei residente da “Festa da Música Tupiniquim”; participei do lançamento da festa e fiquei lá por um tempo. Saí, para seguir uma carreira na noite “pop”. Virei residente da festa “Wallpaper”, na “The Week Rio”, e por lá fiquei durante 9 anos, além de outras festas, como a “DUO”, na extinta “00”, na Gávea, e na “Zozô”, na Urca. Paralelamente ao trabalho de DJ, terminei o colégio, fiz faculdade, pós, era ator, trabalhei em produtoras, fiz cinema e televisão, tive bandas... O trabalho de DJ sempre foi em paralelo com outros trabalhos, ajudava-me, financeiramente, e era um escape da semana corrida, pois eu aproveitava para “curtir”. Conheci muita gente bacana na noite: profissionais da arte, empresários e artistas, e, com isso, o trabalho de DJ me abriu diversas portas para meu trabalho como produtor.


 

5) OTMR: Fale um pouco da sua intimidade com as “carrapetas” e nos diga que tipo de prazer e retorno existe na função de DJ.  

 

CB: Eu amo música, ouço música o dia inteiro, pesquiso, gosto do “old school” e de saber o que está na moda. A música é presente na minha vida desde que eu nasci. Nas carrapetas, eu me divertia sempre. Estudei, para aprender as técnicas que um DJ precisa saber: mixagens, fazer “mashups”, efeitos... Um dos meus diferenciais era o repertório; era o “feeling” da pista e das pessoas que ali estavam para dançar. O DJ é um músico e as “pick-ups” são o instrumento. Tem que tocar com o coração, sentir e colocar a emoção em música. Era incrível ver o público animado, dançando, cantando. Essa sensação é a melhor de todas, ver que seu trabalho, que é feito com alma, tem efeito. A missão estava cumprida. É como o ator aplaudido em cena aberta e a plateia emocionada por uma cena.


 

6) OTMR: Você já teve experiência como ator. Quanto tempo durou? Gostaria de que nos falasse um pouco sobre isso e o que ela representou na sua vida. E por que não investiu na carreira?

 

CB: Tive, e foi incrível! Comecei a estudar TEATRO com 13 anos e o trabalho como ator durou quase 9 anos. Meu primeiro contato com a arte foi na música, pois, aos 9, fazia curso de violão. Mas, com 13, foi quando fui viver no meio da “galera” mesmo, fui estudar com professores renomados, companhias teatrais e dividir cena com atores bem mais experientes. Ali, eu vi o que era ser ator e como seria viver de arte. Vi que seria uma carreira difícil, cheia de incertezas e matando um leão por dia. Mas seria uma carreira feliz. O trabalho de ator foi meu grande amadurecimento como artista e como ser humano também. Comecei a ver o mundo de uma forma livre, já aos 13 anos, e isso foi incrível. Senti a liberdade. O TEATRO é isso: liberdade. No palco, eu mexia com emoções e questionamentos que nem sabia que tinha. Aos 17 anos, idealizei meu primeiro projeto; atuava e produzia. Quase dois anos depois, estreava o projeto que considero como um dos mais marcantes que tive, que é a peça “Garotos”. Idealizei, montei o elenco e fazia parte dele também. Fizemos temporadas e turnês durante quatro anos. Construímos uma grande família e, ali, com certeza, foi minha maior escola. Ali, também, eu percebi que gostava mais de produzir e fazer a coisa acontecer do que atuar. E confesso que sempre me achei melhor produtor que ator. (Risos.) Assim que terminou a temporada de “Garotos”, eu estava terminando uma série de participações num programa na TV. Aí, decidi encerrar o lado ator e focar, totalmente, no lado produtor, idealizador e realizador. Eu continuo no palco, continuo com frio na barriga, antes de entrar em cena, continuo ensaiando e estudando, mas, agora, fico no “backstage”. Então, tá tudo certo.





7) OTMR: Você também já praticou o seu lado cineasta. Como foi/foram essa(s) experiência(s)?

 

CB: E ainda pratico. Formado em Cinema, durante a faculdade, comecei a trabalhar como produtor e assistente de direção, cheguei a dirigir dois curtas e um programa de entrevistas sobre Cinema. Depois, continuei, embora sejam trabalhos mais pontuais e em menor quantidade, em relação aos trabalhos com TEATRO e música, mas eu nunca parei. Em 2017, dirigi meu primeiro longa-metragem, o documentário “Do Velho Casarão ao Congo - Uma História de Resistência”, que fala sobre a criação da Faculdade de Direito da UERJ e o sistema de cotas. Foi um convite feito pelos produtores e pela UERJ. Adorei essa experiência e tenho mais dois projetos para fazer, ambos documentários, e como diretor, mas, agora, como produtor e idealizador também.



 

8) OTMR: Se você tivesse de escolher alguma, das várias atividades em que se envolve, na área cultural, no momento, qual a que escolheria?

 

CB: Difícil escolher uma só, porque acho que elas se complementam. Uma não atrapalha a outra; muito pelo contrário. Penso que a multidisciplinaridade é essencial, principalmente neste momento que vivemos. A gente “joga nas 11”, faz e acontece. Eu costumo dizer que recebo a bola, driblo o time inteiro, vou para o canto cruzar e corro, para cabecear. E, se tiver que defender, faço também. Quanto mais funções tem um artista, mais completo e apto ele é. Mesmo que não faça todas as coisas o tempo todo, elas estão sempre ligadas. Eu me inspiro muito no Miguel Falabella, que escreve, dirige, atua, canta, dança, produz e ainda se diverte.

 




9) OTMRM: Até chegar à “BUCKER PRODUÇÕES”, foi um espinhoso caminho ou as coisas sempre fluíram bem para você, na realização dos seus projetos?

 

CB: Eu não posso reclamar. Acho que tive sorte de conhecer pessoas incríveis. Mas tive muitos “nãos”, na minha vida. Aprendi uma coisa com a Nany People, anos atrás: “O não a gente já tem; vamos lutar pelo sim.”. E, quase sempre, foi assim. Na época em que eu era muito jovem, sem experiência, queria aprender tudo, respirar arte e ganhar o mundo. Eu era bem chato com essa sede de viver e vencer. Mas isso me ensinou e me fez amadurecer. Conheci profissionais que, mesmo eu sendo um moleque, abriram os braços e me acolheram, como o ator e palhaço Jujuba, o diretor Henrique Britto e o produtor Fábio Maleronka. Mas eu sou grato por como tudo aconteceu e como as coisas ainda acontecem. Sempre tive garra e corri atrás dos objetivos; e continuo sendo assim. Nunca tive patrocínio fácil. Aliás, quase nunca tive patrocínio. Mas isso não me impediu de realizar projetos de sucesso. Sempre me virei e busquei formas alternativas de produzir. Digo uma coisa sempre: “O que é fácil não é foda.”


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10) OTMRM: Na “BUCKER PRODUÇÕES”, você trabalha com uma equipe fixa ou, para cada projeto, há a necessidade de contar com profissionais de diferentes formações e atuações?

 

CB: Não tenho equipe fixa. Tenho apenas o Ricardo Fernandes junto, em todos os projetos. E, a partir da demanda, vamos convidando profissionais e montando cada equipe. Claro que temos pessoas que, sempre que possível, estão com a gente. Mas é legal, também, essa variação de profissionais, cada um com sua estética e sua forma de trabalhar. 


Ricardo Fernandes.


Ricardo Fernandes, Nany People e Caio Bucker.

 

11) OTMR: Existem universidades que oferecem cursos regulares de Produção Cultural. Você tem ideia de como esses cursos funcionam e se eles são muito procurados por candidatos, na época dos vestibulares?

 

CB: Confesso que conheço poucas faculdades com cursos de Produção Cultural. O mais conhecido, para mim, é o da UFF, que se estrutura em três blocos: uma parte, com Teorias da Arte e Cultura; outra, com Fundamentos dos Meios de Expressão; e a terceira, com Planejamento Cultural. Conheço bastante gente que se formou lá e “curte” bastante, mas ainda acho que não é tão procurado. Existe uma coisa de acharem que ser produtor é “loucura”, é ser explorado e viver num estresse danado. Apenas um ponto de vista: eu amo produzir e me divirto.

 


12) OTMR: Quando a gente lê a ficha técnica de um espetáculo, costuma encontrar duas rubricas diferentes: “diretor de produção” e “produtor executivo”. Qual é a função de cada um na engrenagem que vai fazer a máquina funcionar?

 

CB:  Esses termos variam um pouco, dependendo da área, principalmente no Cinema. No TEATRO, o diretor de produção é o cabeça do projeto, que estrutura tudo e planeja a montagem; o produtor executivo é quem executa. Às vezes, o produtor executivo fica responsável pelo orçamento e pelo dinheiro do projeto; em outras produções, há um administrador. Agora, no Cinema, é um pouco diferente: o produtor executivo é o responsável pelo orçamento e pela captação de recursos, pagamento dos profissionais e outras funções; o diretor de produção administra esses recursos e atua com outros membros da equipe, estruturando a produção, em si, do filme. 

 


13) OTMR: A mesma pergunta se aplica ao produtor teatral.

 

CB: O produtor teatral é o realizador do espetáculo. Pensa tudo, desde o início, desde o orçamento, contratação de equipe, pautas, captação etc., e faz a coisa acontecer, realiza. Nos EUA, há o termo “produtor”, que é o idealizador e realizador do projeto. É a figura que pensa, que, muitas vezes, tem a ideia, convida a equipe e faz o projeto acontecer.

 



14) OTMR: Com a falta de incentivos e com os patrocínios minguando, cada vez mais, tem-se tornado muito difícil viajar com os espetáculos. Apesar disso, as suas últimas produções, graças ao grande sucesso que fizeram (Estou me referindo aos espetáculos “TsuNANY”, com Nany Pepople; “Ícaro And The Black Stars”, com Ícaro Silva; e “Delírios na Madrugada” e “Zéu Britto Sem Concerto”, com Zéu Britto.) já viajaram por boa parte do Brasil. Como é que você consegue isso?

 

CB: Contando sempre com parceiros e apoiadores! E, quando me refiro à parceiros/apoiadores, não é, necessariamente, com dinheiro, mas, às vezes, com ajuda para a compra de passagens, permuta em alimentação e hospedagem, promoções em veículos de comunicação, para ter uma boa divulgação etc..



 



15) OTMR: Embora lhe falte tempo, eu sei que você, sempre que pode, vai ao Teatro, para prestigiar os amigos. Dos últimos espetáculos a que assistiu, qual(quais) aquele(s) que mais lhe chamou(ram) a atenção e qual aquele(s) que o levou(aram) a pensar: “Eu bem que poderia ter produzido este(s) espetáculo(s)!”?

 

CB: Assisti a bastante coisa boa, nos últimos tempo. Destaco “Suassuna - O Auto do Reino do Sol”, da “Barca”; “A Vida Não É Um Musical - O Musical”; “Imortais”, com a genial Denise Weinberg (Assisti em São Paulo.); “O Condomínio”, com Pedroca Monteiro e Sávio Moll; “Sonhos de uma Noite de Verão na Bahia”, adaptação e direção de João Falcão (Assisti em Salvador.); e “Antígona”, com a Andréa Beltrão. Agora, uma peça que, ao vê-la, pensei: “Poderia ter produzido este espetáculo!” foi “Edward Bond Para Tempos Conturbados”, dirigido pelo Daniel Belmonte, com dramaturgia do André Pellegrino. É uma linguagem com que me identifico, com ironia, um humor ácido, crítico e político. 






 

16) OTMR: Eu gostaria de que você nos falasse um pouco de dois espetáculos, dois projetos em que você esteve envolvido, profissionalmente, que muito me agradaram: “Farnesse da Saudade”, com o querido Vandré Silveira, e “O Julgamento de Sócrates”, com o não menos talentoso e querido Tonico Pereira.

 

CB: O “Farnese” é um dos espetáculos que, quando assisti pela primeira vez, pensei: “Poderia ter produzido este espetáculo!”. E deu certo! Assisti à primeira montagem, no Teatro Sergio Porto, e, logo depois, fiquei amigo do Vandré Silveira, ator, cenógrafo e idealizador do espetáculo. Depois disso, assisti a mais três espetáculos de que ele participou e insisti, durante um tempo, para remontar o “Farnese”. Eis que ele me convidou para produzir, e fizemos uma temporada incrível, no Teatro Poeirinha. É uma peça sensível, que faz você respirar diferente, enquanto está naquela experiência.







O “...Sócrates” foi assim: Eu queria trabalhar com o Tonico em outro projeto meu. Mas não “rolou”. Aí, um dia, o Ivan Fernandes me contou que tinha adaptado o texto “Apologia a Sócrates”, de Platão. Fizemos uma leitura, com o Tonico, e ele topou fazer. Foi o seu primeiro monólogo, em 50 anos de carreira. Aliás, foi o espetáculo que comemorou seus 50 anos de carreira. Foi muito especial participar desse momento, desde a criação, que rendeu duas temporadas, alguns festivais, uma turnê de mais de um ano, e duas indicações a prêmios. O Tonico é um artista com quem você aprende o tempo todo. 






Vai, aqui, um segredo, aqui, pra vocês. Tenho projetos novos com os dois: com o Vandré e com o Tonico.


17) OTMR: Mais uma vez, lembrando o quanto você trabalha, como produtor cultural, sempre encontra tempo para dividir o seu conhecimento com outras pessoas, em aulas, palestras, cursos e “workshops”. Há muita gente interessada nessa área e qual é o retorno mais imediato que você nota, nos alunos, fazendo esse trabalho?

 

CB: Eu vejo procura, cada vez maior, nos cursos voltados para a produção. Desde que comecei a dar aulas, queria fazer algo diferente, e, daí, surgiu o meu curso “O Artista Gestor”, que é voltado para artistas, em geral, técnicos e, até, para produtores que queiram aprender coisas novas, e os amantes da arte, em geral. O objetivo é instigar o espírito empreendedor de cada um, criando seus próprios projetos, independentemente de leis de incentivo ou editais. Eu mostro um pouco da minha experiência, fazendo muita coisa na garra, que se tornou sucesso. Então, dá para fazer. Não é “papo”, é real. Eu “mato a cobra e mostro o pau.”. (Risos.) Esse curso surgiu, porque observei muitos colegas que tinham ideias ótimas, mas não sabiam o que fazer ou, quando convidavam alguém, para produzir, não sabiam se estavam fazendo certo, se estavam sendo enrolados; e por aí vai... Então, eu passo um panorama geral sobre a produção cultural, sobre ter uma ideia e transformá-la em algo vendável, sobre a elaboração de um projeto, sobre idealizar e realizar este projeto, custe o que custar. Eu sempre vejo a “galera” produzindo e criando durante o curso; inclusive, esse é o objetivo. Acho que o maior reconhecimento é quando me mandam um projeto pronto ou o convite para assistir a um “show” ou a um espetáculo que começaram a produzir no meu curso. Aí, vejo que a missão foi cumprida. Atualmente, o curso está disponível, em sua versão online, na Escola Nacional das Artes (www.escolanacionaldasartes.com.br).




 

18) OTMR: Pergunta de um total ignorante no assunto: Certa vez, numa mesa de bar, pude ouvir (porque falavam muito alto) o “papo” de um produtor bem conhecido, que conversava com um casal de atores, idem, e ele falava muito a respeito de uma “tal” de “carta de anuência”. Entendi que era algo relacionado à parte burocrática do trabalho dele. Fiquei curioso, mas guardei essa curiosidade comigo até agora (Esqueci-me de recorrer ao Tio Google. Momento descontração). Você pode nos dizer em que consiste uma “carta de anuência”?  

 

CB: A “carta de anuência” manifesta, por escrito, o interesse de determinado profissional em participar de tal projeto. Por exemplo: Convido o Amir Haddad, para dirigir um espetáculo. Vou colocar, na “carta”, as informações pessoais do Amir (nome completo, RG, CPF, endereço...) e a sua função no projeto (diretor), informações sobre o espetáculo (título, período, local de realização), para onde está sendo submetido (se é um edital, uma lei, uma pauta) e quem é o proponente, com as devidas informações (nome da empresa, CNPJ...). A “carta” deve conter data e assinatura do profissional. 

 


19) OTMR: De repente, veio a ordem: “Todo mundo em casa! Fechem os Teatros! Suspendam todas e quaisquer atividades artísticas presenciais!”. Era a tal da pandemia, que nos pegou de surpresa, virou o mundo de ponta-cabeça e, praticamente, fez com que a Terra parasse de girar em torno de seu eixo. Nesse momento, dia 13 de março de 2020, uma fatídica sexta-feira, 13, exatamente, que projetos seus estavam em cartaz, e o que já estava sendo planejado para adiante, e tiveram de ser “abortados”?

 

CB: Eu estava em cartaz com o espetáculo “TsuNANY”, com a Nany People, no Teatro PetroRio das Artes - Shopping da Gávea, desde janeiro. Devido ao sucesso, a temporada, que iria acabar no início de fevereiro foi para o final de março, já com a possibilidade de ser estendida a abril. Cancelado! Estava, também, com a turnê do “show” “Zéu Britto Sem Concerto”, com Zéu Britto e Natália Carrera. Fizemos uma temporada em janeiro, também no Teatro PetroRio das Artes, e começamos a turnê, pelo nordeste, com apresentações em Teresina, Fortaleza e Salvador. Pausamos, por conta do carnaval, mas já havia diversas cidades marcadas na agenda, retorno ao Rio, temporada de “shows” em São Paulo. Tudo cancelado! Além disso, tínhamos sete espetáculos para entrar em cartaz e turnê durante o ano, sendo cinco estreias e dois já conhecidos do público: “Ícaro And The Black Stars” e “Parem de Falar mal da Rotina”. Agora, só em 2021. Faz parte. Segue o baile!




20) OTMR: Embora eu ache bem interessante as “lives”, que viraram “febre”, porque tenho aprendido bastante com algumas pessoas, confesso que já estou meio cansado disso. Qual a sua posição sobre as “lives” e você tem assistido e/ou participado delas?

 

CB: Eu acho que ficou um pouco cansativo, sim, mas normal. Logo no primeiro dia da pandemia, conversando, pelo telefone, com meu amigo Ivan Mendes, a primeira coisa que ele falou foi esta: “Todo mundo está fazendo ‘live’!”. E já era verdade. Acho que Há muita “live” interessante, com conteúdo, como as da Teresa Cristina; o projeto “Cultú”, da Thay Blois; os “bate-papos” semanais, do João Luiz Azevedo; a “Live de Quinta”, do Vandré Silveira; o projeto de “lives” “#EmCasaComSesc”... Eu fico com preguiça mesmo de assistir a “live” que fala a mesma coisa sempre, ou que não tem conteúdo e fazem apenas “porque está todo mundo fazendo”. Eu só participei de três e adorei todas: com a Estela Albani, com o Edmundo Albrecht e com a Thay Blois, encerrando a temporada do “Cultú”. Foram papos interessantes, instigantes, falamos sobre produção, sobre o mundo artístico pós-pandemia, sobre questões socioculturais... Agora, “rolou” uma coisa engraçada: certo dia, fui chamado pra fazer uma “live”, perguntei qual era o tema, e me disseram: “Vamos falar sobre a pandemia.”. Estou fora. É só abrir o jornal ou ligar a TV, que já há bastante coisa sobre isso. 



 

21) OTMR: O que você acha de TEATRO via “streaming”, que, para mim, não é TEATRO, apesar de eu ter assistido a algumas experiências; poucas boas. Há projeto(s), para esse tempo, longo, que ainda teremos pela frente, de produzir algum trabalho nesse sentido?

 

CB: Sim, TEATRO é TEATRO. Isso não é TEATRO. É TEATRO “on-line”, é TEATRO gravado, é assistir a TEATRO pelo computador, é “vídeo-teatro”; é outra coisa. Como disse o Aderbal (Freire-Filho) pode ser uma nova arte que vem surgindo. Mas TEATRO é ao vivo, é experiência, é olho no olho e energia. Sou purista nesse sentido. (Complemento meu: também o sou.) Acho válido fazer “on-line”, seja ao vivo ou gravado, a título de uma nova experiência e de registro. Mais para o final do ano, devo fazer alguma coisa. E, aos que estão fazendo, seja para manter a arte viva, seja para manter o trabalho rodando ou, até, para arrecadar alguma renda, eu acho o máximo e dou maior apoio. Assisti a algumas coisas bem interessantes também. Evoé!

 


22) OTMR: Para quando voltarmos ao normal (Detesto essa história de “novo normal”.), ao normal mesmo, com os Teatros funcionando a toda carga, após, evidentemente, o surgimento de uma vacina eficaz, quais são os projetos que o CAIO BUCKER já tem na cabeça? Pode nos adiantar alguma coisa?

 

CB: Tenho algumas coisas, até porque, como falei no início, eu não consigo parar de pensar e de ter ideias. (Risos.) Vamos estrear: o espetáculo “Mulheres Que Nascem Com Os Filhos”, com a Samara Felippo e a Carolinie Figueiredo, direção da Rita Elmôr; o espetáculo “A Hora do Boi”, texto da Daniela Pereira de Carvalho, direção do André Paes Leme, com o Vandré Silveira no elenco; o novo solo do Tonico Pereira; um projeto novo, com o Zéu Britto, que também vai lançar disco novo; e um infantil, que estou, há um tempo, para montar, com texto do Ivan Fernandes.


 

 

23) OTMR: Por fim, eu gostaria de saber o que, profissional e pessoalmente, representam, para você, estas três pessoas: Nany People, Ícaro Silva e Zéu Britto?

 

CB: Eita!”. Essa é para fechar com tudo. (Risos.) Ícaro é um dos meus melhores amigos. A gente se conheceu na época de “Garotos”, e ele foi um dos que mais me mostraram o mundo artístico e me botou com o pé no chão. Eu era recém-chegado, e ele, embora quase da mesma idade, já estava fazendo televisão e TEATRO. Trabalhamos juntos, desde então, e lá se vão mais de 10 anos.




            Nesse mesmo período, eu conheci a Nany People, que considero minha madrinha na arte. Ela diz que, “comigo, “faz qualquer coisa de olho fechado” (Eu sinto que contém ironia. Risos.). Mas eu é que digo isso. Ela é uma força da natureza, e trabalhar com ela é refletir a vida e a arte o tempo todo.



A imagem pode conter: 3 pessoas, pessoas sentadas e área interna


            O Zéu, eu o conheci durante o projeto “Geringonça”, bem no início da minha carreira artística. Apresentei o “show” dele, declamando um de seus poemas. Ele ficou super feliz e, desde então, passamos a nos falar. Sempre fui muito fã dele, acompanhava seus “shows”, peças, tudo... Até que, certo dia, assistindo a uma das peças em que ele estava em cartaz, no Rio, chamei-o para um chope, pois queria convidá-lo para um projeto novo. Ele também me chamou para um projeto. E, a partir daí, nos tornamos sócios do “Projeto Zéu Britto”, passei a ser o empresário dele e produzo os seus projetos musicais e teatrais. Zéu é pura poesia. Ele é lúdico, assim como eu. Somos uma boa dupla.




            Eu amo esses três e admiro todos. São pessoas muito importantes na minha vida e espero estar com eles para todo sempre.


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COMPLEMENTO DA ENTREVISTA: CAIO, resolvi fazer uma surpresa para você, pedindo a esses três grandes e queridos amigos, também meus, que, da mesma forma, respondessem à pergunta anterior, invertendo a situação. Eles falando de você.

Infelizmente, não consegui falar com o Ícaro (Acho que, por conta da pandemia, ele entrou naquela nave espacial dele e “deu nos calos”. Esperto! Deve estar cruzando a galáxia, porque não atendeu a nenhuma das minhas tentativas de contato. Mas ainda está em tempo. Se, após a publicação desta entrevista, eu conseguir me comunicar com ele, acrescento o seu depoimento, que já imagino como seria.)

Com a Nany e o Zéu, entretanto, eu consegui falar e eles, gentilmente, aceitaram o meu pedido. Aqui vão os dois depoimentos (Pedi que falassem o máximo, com o mínimo de palavras.), sendo que, da parte da Nany, só reproduzi o “publicável”, o que ela mandou por escrito. As mensagens de voz... “Prefiro não comentar!” (Copélia, “by” Miguel Falabella.) (Risos.) Acrescento que também sinto, pelos três, o mesmo que você.

 

NANY PEOPLE: “CAIO “KIRIDU” BUCKER. Tive a sorte grande de conhecê-lo, ainda “querubim”, na faculdade, fazendo um belo trabalho de pesquisa sobre o humor. Inteligente, criativo, sagaz e trabalhador. Que presente é conviver com esse grande homem de TEATRO que você se tornou, pupilo que amo! Você é genial!


Nany People – Wikipédia, a enciclopédia livre

Nany People.

 

ZÉU BRITO: “O CAIO não é só um super produtor, empenhado em renovar e realizar, todo o tempo. Ele, para mim, é aquele amigo do colégio, que compra todas as brigas e quer brincar de todas as brincadeiras que eu proponho. Não é lindo? Amo o profissional e o amigo CAIO BUCKER; e quero brincar com ele para sempre.”.


Zéu Britto retorna a Salvador - Balaio Cultural

Zéu Britto.


XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX


Com Dezo Mota, Nany People e Caio Bucker.


Com Nany People e Caio Bucker.


 

 

E VAMOS AO TEATRO (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!

 

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL (QUANDO HOUVER SEGURANÇA.)!!!

 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

 

RESISTAMOS!!!

 

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!







 

 



































































































































































































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