“SE ESSA LUA
FOSSE MINHA”
ou
(TEMAS DELICADOS
TRATADOS
COM BELEZA
E POESIA.)
ou
(REZA A LENDA...)
ou
A HORA E A VEZ
DO TEATRO MUSICAL
AUTORAL BRASILEIRO.)
Em tom de brincadeira, costumo dizer que tenho o “dom”
de descobrir talentos, no TEATRO, e de vaticinar, verbo que significa “prever,
baseado em fatos reais”, o que, convenhamos, não é tão difícil assim.
Não me lembro de ter errado em nenhuma das vezes em que afirmei: “Esse(a)
é do ramo e vai ser gente, no TEATRO!”. Uma das mais recentes vezes em
que isso aconteceu foi no ano passado, mais precisamente, em outubro, quando,
estando em São Paulo, fui levado, por um amigo de lá, ao “Teatro VIVO”,
para assistir a “Bom Dia Sem Companhia”, um musical autoral, de VITOR
ROCHA. Vi, adorei, escrevi uma crítica e percebi que acabava de reconhecer
mais um grande talento do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO. E não estava
enganado, porque aquele espetáculo, tão simples quanto lindo e poético, havia
sido indicado a várias categorias de prêmios de TEATRO, em São Paulo, em
mais de uma premiação, e, infelizmente, não chegou a vir para o Rio.
Hoje, depois de ter assistido a “SE ESSA LUA FOSSE MINHA”,
reitero, com mais propriedade ainda, aquele “vaticínio”,
acrescentando que VITOR ROCHA é um “POETA
DAS TÁBUAS”, título que eu só atribuo a um pequeno número de
dramaturgos brasileiros. O rapaz, de apenas 25 anos, mineiro, da cidade
de Pouso Alegre, é ator, diretor, escritor, dramaturgo e roteirista , eleito,
pela respeitável revista "Forbes", como
um dos 90 jovens mais bem sucedidos e promissores do país, em 2019. Seu
trabalho mais notório é o musical “Cargas
D'Água - Um Musical de Bolso”, que lhe rendeu diversas indicações
a prêmios e fez com que ele se tornasse o primeiro autor a
receber um "Prêmio Bibi Ferreira", na categoria “revelação”, e ganhou
montagens em Londres e Nova York. Hoje, por seu inquestionável talento,
principalmente como dramaturgo, VITOR não é mais uma “revelação”,
mas um consagrado artista dos palcos.
Como
se não lhe bastasse a superlativa mestria, como artista, o ser humano VITOR
também merece ser aplaudido, por suas iniciativas em prol do semelhante. Ele é fundador
do projeto social “Casubelli”, em 2016, que une artistas,
atletas, personalidades e grandes empresas, em prol de crianças de ONGs e
escolas rurais. Mais de mil crianças, dos estados de Minas Gerais e São Paulo, receberam material escolar de qualidade,
através desse projeto. Também criou outros, culturais, na cidade Jacutinga,
também em Minas, onde morou por algum tempo, como a “Academia
Jacutinguense de Letras” e o “Projeto Pardalzinho”, que incluía,
voluntariamente, aulas de TEATRO, na grade escolar do ensino
fundamental.
Estreou,
profissionalmente, “com o pé direito”, em São Paulo, em 2018,
aos 21 anos, como dramaturgo, ator e diretor, no já citado musical “Cargas
D’Àgua - Um Musical de Bolso”, que lhe abriu as portas para o sucesso,
como um valiosíssimo “cartão de visitas”, reconhecido e aplaudido pelo público e pela crítica.
O
musical "SE ESSA LUA FOSSE MINHA", motivo desta crítica teatral, seu segundo trabalho autoral,
apesar de só agora ter aportado em águas cariocas, estreou em 2019,
tendo como autor das letras (VITOR é coautor.) ELTON TOWERSEY,
outro artista de competência incomensurável, que acumula, no espetáculo em tela,
as funções de compositor das melodias, direção musical e arranjos. É
muita capacidade e vocação reunidas, em duas pessoas apenas.
Elton Towersey e Vitor Rocha.
Ainda saíram da fértil inteligência e sensibilidade de VITOR ROCHA
outros musicais: “O Mágico Di Ó - Um Clássico em Forma de Cordel”, que também
está em cartaz no Rio de Janeiro (Assistirei no próximo domingo.), “Out Of
Water - A Brazilian Pocket Musical” (versão, para o inglês, de “Cargas
D’Água - Um Musical de Bolso”, encenado em Londres e Nova Iorque.)
e “Bom Dia Sem Companhia”.
Quando o
assunto passa para “premiações”, registramos que VITOR
recebeu, até agora, muitas indicações a prêmios, em 7 categorias
diferentes, e conquistou 4, em respeitáveis certames, como o “Prêmio
Bibi Ferreira”, o “Prêmio Reverência”, o “Prêmio
Destaque Imprensa Digital”, o “Broadway World: Brazil Regional
Awards”, o “Prêmio Brasil Musical”, o “Prêmio
Aplauso Brasil de Teatro”, o “Prêmio Arcanjo de Cultura” e
o “Prêmio Cenym”. "SE ESSA LUA FOSSE MINHA" recebeu 17 indicações a prêmios. Mesmo se eu parasse esta crítica aqui, creio
que o que já escrevi, apenas sobre o VITOR e seu trabalho, já seria
suficiente para motivar os que me leem a ir ao “Teatro Glaucio Gill”,
em Copacabana, Rio de Janeiro, para assistir ao musical,
que, infelizmente chegou para uma temporada muito curta, de somente quatro semanas, a
qual termina no próximo dia 28.
SINOPSE:
“SE ESSA LUA FOSSE
MINHA” conta a história de um amor proibido entre
integrantes de povos rivais de uma Ilha fictícia, batizada de Porto Leste,
e faz referência às clássicas cantigas infantis do folclore brasileiro.
Saído de Terrarrosa, uma
província da Espanha, um povo navega pelo oceano, em busca de um lugar para
construir um novo amanhã.
Eis que lhe é apresentada a terra de Porto
Leste, uma ilha que, para a surpresa de todos, já era habitada por um outro
povo.
A diferença de crenças e culturas faz
com que uma divisão se torne iminente e uma linha é riscada no chão, a fim de
evitar a guerra.
De um lado, fica a destemida Leila,
personagem de LUCI SALUTES, e, do outro, o rebelde Iago,
vivido por ARTHUR BERGES.
Quem é que faria um coração respeitar
uma linha riscada no chão?
Através de metáforas, forma-se um
enredo no qual a Lua escuta mais versos de amor do que os próprios amantes.
Enquanto isso, da Espanha, vem Belisa
(MARISOL MARCONDES), destinada a se casar com Iago.
Da terra, vem a flor do alecrim,
talvez a solução para ela.
O lencinho branco cai no chão, o anel,
que era de vidro, se quebra.
Os pés virados para trás.
Um canto que atrai os homens.
Pirulito (VITOR ROCHA)
que tanto bate.
A história, às vezes, rima; em outras,
ensina; e, nas demais, faz os dois ao mesmo tempo.
Não há
como assistir a “SE ESSA LUA FOSSE MINHA” e não se emocionar muito, até as lágrimas, o que ocorre com bastante frequência, diante de tanta
simplicidade, lirismo e poesia. O texto é um primor e trata de temas mais que delicados
de uma forma descomplicada e poética, talvez um dos principais motivos para
tanto sucesso do espetáculo entre um público diversificado, que reúne gente
muito jovem e pessoas de idade mais elevada, as quais se deliciam com a
história.
Ainda
que fale sobre muitas coisas - um texto de temática abundante -, dois temas são
tratados em maior evidência: o amor em tempos de
ódio e o preconceito, o que logo nos reporta à consagrada tragédia criada por Shakespeare,
sobre o proibido amor de Romeu e Julieta.
Impossível não se chegar a essa referência, por vieses diferentes.
Infelizmente, o amor em tempos de ódio e o preconceito são duas questões que
ganharam muita robustez, no Brasil, nos últimos quatro anos, por motivos que
não valem a pena ser lembrados. VITOR, em sua rica dramaturgia, realça,
com desmedida proporção, “a importância do diálogo e do respeito na
construção de um mundo mais possível e humano”, como ele mesmo diz.
No texto, sobra espaço, também, para a exploração de outros assuntos, como o colonialismo, a importância da camaradagem, as covardes invasões territoriais (Não a que acontece na peça, que é pacífica e por um bom motivo.), as relações homoafetivas, a ancestralidade, a luta de classes e outros tópicos, de grande peso dramático, questões vestidas com a embalagem do humor ingênuo e refinado.
A peça, como pode sugerir seu título,
não é um espetáculo infantojuvenil, entretanto é farta na utilização de
referências a lendas, parlendas (Combinações de palavras com temática infantil, que fazem parte do folclore brasileiro. Passadas de geração em geração, elas são
rimas usadas como brincadeira pelas crianças. Costumam ser rimadas
e têm ritmo e métrica quando recitadas.), cantigas e brincadeiras de roda que
fizeram parte da infância de todos nós. “São versos quase universais, que
dão continuidade a essa cultura que nos alcançou através dos tempos de forma
cantada. Um dos jeitos de preservar o imaginário brasileiro é reinventando-o”,
afirma o dramaturgo. Em outras palavras, esses elementos dão um outro
significado ao imaginário do folclore brasileiro, o que encaro como uma das coisas mais importantes
na peça.
O espetáculo
apresenta muitos aspectos que merecem o maior destaque e um deles,
indiscutivelmente, repousa nas muitas canções, que pontuam a encenação, da
primeira à última cena, todas originais, com letras que, como não poderia
deixar de ser, por se tratar de TEATRO MUSICAL, ajudam a contar a
história, com delicadeza, ternura, dramaticidade e, até mesmo, uma dose de
humor, de acordo com o momento em que são inseridas no texto. É brilhante o
trabalho de ELTON TOWERSEY, que compôs as melodias e a letras, estas em parceria com VITOR
ROCHA, como já dito. ELTON também responde pelos excelentes arranjos, musicais e
vocais, assim como pela direção musical do espetáculo.
Considero muito simples e bastante linda e criativa
a leitura que VICTORIA ARIANTE fez do texto, para definir sua linha de
direção. Para um texto simples, direto, uma direção descomplicada, porém com
excelentes “sacadas” de marcação e ideias criativas e originais.
Não sei como o espetáculo foi encenado em outros espaços, mas, no formato de
semiarena, como é a configuração normal do “Teatro Glaucio Gill”,
a peça parece atingir um maior grau de comunicação com o público, o qual, ao
adentrar o auditório, já encontra o elenco em cena, como
se estivessem ensaiando, praticando exercícios de aquecimento e jogos
dramáticos, comuns de se encontrar em aulas de interpretação teatral. Está criada uma grande cumplicidade entre palco e plateia e todos parecem
se divertir muito, com esta muito atenta àquilo, também se regalando, quando
alguém comete um “erro”.
Como pode ser verificado, adiante, na FICHA
TÉCNICA, não há um nome responsável pela cenografia. Ela, praticamente não
existe. O que se vê, no espaço cênico, é um palco vazio de elementos
cenográficos, limitados a uma escada ao fundo, três cubos pretos, vazados em
dois de seu lados, que funcionam como lousas, e uma Lua, pendurada ao fundo. No
chão, há a sugestão do traçado das linhas de um campo de futebol ou uma quadra
de basquetebol, simbolizando o local destinado a uma “batalha”
ou, no mínimo, uma competição.
Também não aparece, na referida FICHA,
o nome de algum responsável pela assinatura dos figurinos, todos bem despojados, dando a
impressão de que o elenco abriu as portas de seus guarda-roupas pessoais e, de lá,
retirou peças “descoladas”, para usarem no musical, o que funciona
muito bem.
FRAN BARROS criou um desenho
de luz que acompanha o tom de simplicidade da encenação, sem muitas “firulas’,
o bastante para complementar a beleza plástica do espetáculo.
Como é formidável o elenco desta
montagem! Todos, dos protagonistas do principal conflito aos demais atores e
atrizes, se comportam da melhor forma possível, dentro de um musical,
interpretando cantando e dançando. Mas, por mais óbvio que seja, não posso me
furtar a destacar os trabalhos de LUCI SALUTES (Leila), a eterna sonhadora;
ARTHUR BERGES (Iago), o jovem rebelde; ANA CAROLINA BATISTA (Anciã /
Madrinha), o retrato fiel da sabedoria e do bom senso; THIAGO
MARINHO (Florípio), o fiel servo e amigo; e VITOR ROCHA (Pirulito).
Suas atuações jamais serão esquecidas, muito pelos
seus momentos de solos nas canções. MARISOL MARCONDES (Belisa Passaláqua),
DANIEL HAIDAR (Levi), EDMUNDO VITOR (Delfim), LEONAM
MORAES (Capitão R. E. Batesquião), LARISSA CARNEIRO (Sra.
Batesquião), ALBERTO VENCESLAU (Cirandeiro Ó) e KIKO
DO VALLE (Chefe dos Guerreiros) também respondem de forma assaz positiva,
quando chamados à cena.
ALBERTO VENCESLAU também tem sua
grande importância, nesta encenação, por conta de seu trabalho de direção de
movimento e pelas ótimas coreografias, muito bem executadas pelo elenco.
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Vitor Rocha
Texto: Vitor Rocha
Letras: Elton Towersey e Vitor Rocha
Direção: Victoria
Ariante
Direção Musical: Elton Towersey
Músicas: Elton Towersey
Arranjos: Elton Towersey
Elenco: Luci Salutes (Leila), Arthur
Berges (Iago), Ana Carolina Batista (Anciã / Madrinha), Marisol Marcondes (Belisa
Passaláqua), Thiago Marinho (Florípio), Vitor Rocha (Pirulito), Daniel Haidar (Levi),
Edmundo Vitor (Delfim), Leonam Moraes (Capitão R. E. Batesquião), Larissa
Carneiro (Sra. Batesquião), Alberto Venceslau (Cirandeiro Ó) e Kiko do Valle (Chefe
dos Guerreiros)
Direção de Movimento: Alberto
Venceslau
Coreografia: Alberto Venceslau
Desenho de Luz: Fran Barros
Operação de Luz: Marina Gatti
Desenho de Som: Paulo Altafim (Audio
S.A.)
Trilha Sonora: Thiago Venturi
Operação de Som: Thiago Venturi
Preparação de Elenco: Lenita Ponce
Produção Geral: Lucas Drummond, Luiza
Porto e Vitor Rocha
Produção Executiva: Victor Miranda
Assistência de Produção: Ana Paula
Marinho
Fotografia e Redes Sociais: Victor
Miranda
Assessoria de Imprensa: MercadoCom
(Leonardo Minardi e Ribamar Filho)
Arte “Poster”: Marina Voigt
Realização: Encanto Artístico e
Gaulia Teatro
Patrocínio: Solo Agência
SERVIÇO:
Temporada: De
06 a 28 de maio de 2023.
Local: Teatro
Glaucio Gill.
Endereço:
Praça Cardeal Arcoverde, s/nº, Copacabana – Rio de Janeiro.
Dias e Horários:
Sábados e domingos, às 20 horas.
Valor dos Ingressos:
De R$25,00 (meia entrada) a R$50,00 (inteira).
Vendas: https://funarj.eleventickets.com/#!/evento/beabb69402299f72e26268ef1ca24bde7f6e1821
Duração: 140 minutos.
Classificação
Etária: 12 anos.
Gênero: Musical.
Como se não bastassem todas as maravilhas que citei, com
relação ao espetáculo, ainda falta dizer que ele foi erguido de forma independente,
ou seja, sem patrocínios ou incentivos oficiais, contando, apenas, com a prestimosa
colaboração de algumas pessoas, que contribuíram, de forma espontânea, para o
efeito desta produção, no formato de benfeitoria, motivo de merecidíssimo aplauso a
todos os envolvidos no projeto e a quem participou da "vaquinha".
É motivo de muito orgulho, para os brasileiros, principalmente os amantes do TEATRO MUSICAl, como este crítico, fervoroso admirador do gênero, esta belíssima produção, que prova quão importante e de extrema qualidade é o TEATRO AUTORAL MUSICAL BRASILEIRO, que conta com tantos talentos, os quais esperam ser valorizados e lançados, até mesmo, no mercado internacional.
“Reza a lenda que uma história só acaba, quando deixa de
ser contada”. Depende de nós o compromisso de que aquilo que se conta no TEATRO
MUSICAL BRASILEIRO jamais deixe de existir.
RECOMENDO, COM O MAIOR EMPENHO, ESTA EXCELENTE PRODUÇÃO!
FOTOS: VICTOR MIRANDA
VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
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TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO
BRASILEIRO!!!
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