segunda-feira, 1 de maio de 2023

 

“31º FESTIVAL

DE CURITIBA”

“O QUE

MEU CORPO NU

TE CONTA?”

ou

(UMA “IMERSÃO CÊNICO-PERFORMATIVA”

CORAJOSA

E IMPACTANTE.)

ou

(MEU CORPO,

SUA RÉGUA.)

(NOTA: Em função da grande quantidade de críticas a serem escritas, entre espetáculos que fizeram parte do “31º FESTIVAL DE CURITIBA” e outros, assistidos no Rio de Janeiro e em São Paulo, por algum tempo, fugirei à minha característica principal, como crítico, de mergulhar, “abissalmente”, nos espetáculos, e vou me propor a ser o mais objetivo e sucinto possível, numa abordagem mais “na superfície”, até que seja atingido o fluxo normal de espetáculos a serem analisados.)







        Por cerca de três anos, acompanhei, assídua e avidamente, “on-line”, as atividades artísticas do “COLETIVO IMPERMANENTE”, sediado em São Paulo, em três edições de sucesso de espetáculos virtuais nesse período – “(IN)CONFESSÁVEIS” 1, 2 e 3 –, após um extenso processo de investigação, tendo como foco, o TEATRO narrativo e autoficcional.

 

 


 

O “COLETIVO”, liderado pelo ator, dramaturgo e diretor MARCELO VARZEA, foi criado em 2020, a partir da junção de cerca de 30 atores e atrizes de diferentes regiões do Brasil. Depois daquelas vitoriosas experiências, o grupo partiu para uma outra, tão ousada quanto genial. Estava surgindo “O QUE MEU CORPO NU TE CONTA?”, que já fez muitas apresentações em São Paulo.

 

 


 

Não consegui assistir à peça lá, porque a estreia estava marcada para um dia após o meu retorno ao Rio, entretanto o querido VARZEA me convidou para testemunhar o ensaio geral, na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Fui, assisti e fiquei muito interessado no espetáculo, embora frustrado, porque era um “ensaio”, ainda, porém esperançoso de que, um dia, teria a oportunidade de conferir a montagem pronta, objetivo, felizmente, atingido, num fim de tarde, durante o “31º Festival de Curitiba”


 

Marcelo Varzea.


 

 SINOPSE:

“O QUE MEU CORPO NU TE CONTA?" reflete sobre temas como assédio, vícios, pressões sociais, etarismo, gordofobia, machismo, racismo e infertilidade, além de outros.

Dispostos em um grande tabuleiro de corpos, os artistas do “COLETIVO IMPERMANENTE” se revezam, cada um deles limitado a um espaço cênico de 2m², para revelar histórias autobiográficas, totalmente despidos, a cerca de um metro de distância dos espectadores. 

 

 



        A proposta é de uma “imersão cênico-performativa”, dirigida por MARCELO VARZEA. A delicadeza que envolve os temas abordados gera relatos em tom íntimo, quase confessional e justifica, em parte, a opção pelo nu, sem que, absolutamente, haja qualquer intenção de erotização e apelo sexual, ainda que o sexo seja o centro de muitos dos relatos.

 

 


 

        A dinâmica do espetáculo se dá com o público adentrando um salão, em cujo chão está traçado um grande tabuleiro, como o de um jogo de xadrez, com cadeiras dispostas à volta e dentro do tabuleiro. Cada pessoa escolhe um lugar para se sentar. Em frente a ela, um ator ou atriz, ainda vestidos, aguarda o momento de se despojar de suas vestes e fazer, olho no olho, seu depoimento para aquele que seria seu espectador único.

 

 


  

Todos os depoimentos têm, sempre, a duração de quatro minutos, ao fim dos quais ouve-se um sinal, uma campainha, e todos se levantam e partem para outra cadeira escolhida. E o processo continua, agora conduzido por outro(a) artista. Isso equivale dizer que é a plateia que “escolhe” a história que quer ouvir, embora não saiba o que ouvirá. O espectador poderá se sentar em frente a alguém diante de quem já esteve antes e ouvir outro relato, visto que cada actante tem mais de um a fazer. Ou pode ouvir uma repetição. É do jogo.

 

 


 

Segundo o diretor, “O público fica entre a intimidade e esse poder de escolha meio falso. A grande pergunta é: o que é verdade ou mentira?”. Sim, porque cabe ao espectador tentar perceber se o que está ouvindo é um fato real ou ficcional, que pode, ou não, ter acontecido com o relator ou com outra pessoa.

 

 


 

Parafraseando o “rei de todos os poetas”, na minha opinião, Fernando Pessoa, o ator é um fingidor. Finge tão perfeitamente, que faz parecer verdade aquilo que mente. E quem faz os relatos são atores, de excelente qualidade, todos. Mesmo conhecendo bastante o elenco e sendo amigo pessoal de alguns, confesso que, diante de tão grande talento de mentir (Entenda-se: REPRESENTAR.), em muitos dos relatos que ouvi, fiquei totalmente impactado e troquei de cadeira levando comigo a grande dúvida: “Será que foi mesmo?”. Aqui, faço questão de destacar o alto nível de coragem de cada um dos que se dispuseram a se despir por fora e por dentro. 

 

 


  

Desde quando o espetáculo foi anunciado em São Paulo, como não se poderia esperar algo diferente, houve um grande interesse, e procura pelos ingressos, por parte de pessoas que estavam mais interessadas em ver semelhantes nus (“voyeurs”) do que ouvir os relatos. Em Curitiba, é claro, não foi diferente, e será assim em qualquer parte em a peça vier a ser apresentada, porque o nu sempre atrai o Homem, por sua natureza humana. Ocorre, porém – e isso é curiosíssimo e precisa ser dito -, que é, praticamente, impossível desviar o olhar para a genitália dos artistas, por mais que haja curiosidade, uma vez que, como já disse, os relatos são feitos olho no olho, com tanta verdade, com tamanha entrega, com muita carga emocional, que, por constrangimento ou por estar totalmente “hipnotizado” pelas palavras do(a) ator(atriz), a pessoa até se esquece de que existem órgão sexuais expostos a menos de um metro de distância dos seus olhos.

 

 


 

Também ocorre, o que pode, de certa forma, também justificar o exposto no parágrafo acima, que uma situação de vulnerabilidade e de constrangimento existe de ambas partes. Os atores, mesmo acostumados à nudez em público, no TEATRO, ali estão expondo sua intimidade a um(a) desconhecido(a) muito próximo a ele(a), em termos de distância física, e não podem adivinhar a reação da pessoa a quem está se dirigindo, podendo vir a ser vítima de algum assédio, físico ou moral (O dito ser humano é capaz de tudo.). Da mesma forma, mesmo o mais ousado dos espectadores, aquele que foi impelido a ir ao TEATRO com escusas intenções, fica totalmente “quebrado”, ao perceber que o que lhe estão mostrando não é um “show” de pornografia.

 


 

 

De acordo com o “release” que recebi, de RENAN REZENDE, um dos responsáveis pela divulgação do espetáculo, e também um dos atores, “Neste palco, cabem corpos nus e tudo aquilo que cerca a necessidade de se mostrar vulnerável. (...) Nesse encontro de histórias, revela-se a micropolítica. O tabuleiro, como totalidade, representa, parcialmente, a sociedade, o macro” – palavras do diretor. VARZEA ainda acrescenta que “mesmo com a nudez em cena, o espetáculo não tem qualquer pretensão erótica, pornográfica ou almeja trabalhar com qualquer tipo de provocação que cause, deliberadamente, desconforto ao público. A nudez, em verdade, embora acene para a sua presença já no título do espetáculo, talvez nem tenha importância assim.”. E prossegue: “Ao mesmo tempo, é importante que [os atores e as atrizes] estejam nus, mas a questão não é o erotismo; é o desnudar-se na frente de alguém e colocar o seu coração na mão do outro. É sobre intimidade que tratamos”. Concordo, plenamente, com o pensamento de MARCELO VARZEA, chegando, até mesmo, a dizer a ele, em Curitiba, que, se, no espetáculo, os atores estivessem vestidos, o excelente resultado obtido seria o mesmo, visto que não há como sobrepor a nudez ao conteúdo dos relatos.

 

 


 

O grande protagonismo, nesta peça, a meu juízo, se concentra no fator surpresa e nos questionamentos que ela desperta. Será verdade? Será mentira? Como eu reagiria diante de tal situação? Eu gostaria de que acontecesse comigo? Conheço alguém que tenha passado por uma situação análoga a esta? O fator surpresa acompanha o espectador a cada mudança de lugar. E, assim, as pessoas vão construindo o seu próprio quebra-cabeça, dentro daquele geral, ao longo de toda a experiência.

 

 


 

Em função da proposta, a presença de alguns elementos de criação, exigidos, via de regra, em montagens teatrais, não faz o menor sentido e, por consequência, não fazem parte da FICHA TÉCNICA, como é o caso da cenografia e do figurino, este, por motivos óbvios (Momento descontração.). VINI HIDEKI, também ator no projeto, mas que não atuou na sessão em que estive presente (Alguns atores se revezam nas funções.), fica encarregado da luz, que é simples e perene, luz de salão.

 

 


 

Há um pouco de música na montagem, com canções originais, compostas pelo diretor, MARCELO VARZEA (letras) e FLÁVIO PACATO (melodias), também ator, acumulando a direção musical da peça. ERICA RODRIGUES assina a direção de movimento e LARA CÓRDULLA se encarregada preparação vocal. O trabalho de preparação corporal é conduzido por VERONICA NOBILLI. Todos esses profissionais, assumindo, “in totum”, o sentido do “COLETIVO”, realizam um trabalho de excelente qualidade e extrema importância. A bem da verdade, em poucas vezes, pude testemunhar um grupo de artistas trabalhando de forma tão cooperativa, amalgamada, sem o que fica muito difícil atingir um bom resultado, não fosse o TEATRO uma ARTE COLETIVA.

 

 


 


 FICHA TÉCNICA: 

Criação, Dramaturgia e Direção: Marcelo Varzea

Atuação e Textos: Coletivo Impermanente

Assistência de Direção: Talita Tilieri e Bruno Rods

Músicas Originais: Marcelo Varzea e Flávio Pacato

Direção Musical: Flávio Pacato

 

Elenco (por ordem alfabética): Agmar Beirigo, Ana Bahia, André Torquato, Bruno Rods, Camila Castro, Dani D'eon, Eduardo Godoy, Flavio Pacato, John Seabra, Letícia Alves, Renan Rezende, Stephanie Lourenço, Thiene Okumura, Veronica Nobili e Vini Hideki

 

Direção de Movimento: Erica Rodrigues

Preparação Vocal: Lara Córdulla

Iluminação: Vini Hideki

Consultoria Teórica: Mariela Lamberti

Preparação Corporal: Veronica Nobili

“Design” Gráfico: Bruno Rods

Vídeos e Fotos: Otto Blodorn e Bruna Massarelli

Assessoria de Imprensa: Renan Rezende e Katia Calsavara

Produção Coletivo Impermanente: Camila Castro

Produção: Corpo Rastreado - Leo Devitto

Classificação Indicativa: 16 anos. (Contém cenas de nudez explícita.) 

 




      “MEU CORPO, SUA RÉGUA”, um dos subtítulos que escolhi para esta crítica, me parece sintetizar a essência do espetáculo e o seu grande objetivo: eu me desnudo, denotativa e conotativamente, diante de você, que, utilizando o seu poder de análise, mede e avalia a minha experiência.

 

 


       

 O sucesso da peça, no “Festival”, foi de tal ordem, que ela foi um das que tiveram que fazer uma sessão extra, por conta da grande procura por parte do público. E não houve outras (Estavam programadas apenas duas.) porque não havia condições de tempo e espaço para novos agendamentos. A despeito de o “COLETIVO IMPERMANENTE” já estar voltado para uma nova produção, este espetáculo já estreou fadado a uma vida longa e continua sua trajetória. Gostaria muito de poder revê-lo no Rio de Janeiro.


     

 

 

 

FOTOS: OTTO BLODORN

E

BRUNA MASSARELLI.



GALERIA PARTICULAR

(FOTOS: GILBERTO BARTHOLO.)

 




 


VAMOS AO TEATRO,

COM TODOS OS CUIDADOS!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO

 DO BRASIL,

COM TODOS OS CUIDADOS!!! 

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

RESISTAMOS, SEMPRE MAIS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO,

PARA QUE, JUNTOS,

POSSAMOS DIVULGAR

O QUE HÁ DE MELHOR NO

TEATRO BRASILEIRO!!!

 

 

 







































































































































Nenhum comentário:

Postar um comentário