ALICE
E
GUSTAVO
(RELIGIÃO, AMOR E LIBERDADE
COM MOLHO DE PIMENTA,
Em 2015, não sei, precisamente, quando, fui convidado a assistir a uma
leitura dramatizada, no Theatro NET Rio. Era um texto, a quatro mãos, da atriz CAROL LOBACK e do professor e crítico
teatral RODRIGO MONTEIRO; aquela,
creio, lançando-se como dramaturga;
deste, já havia assistido a outra peça,
“Vou Deixar o Amor Pra Outra Vida”,
que se passava num apartamento da zona sul do Rio de Janeiro, dirigida por JORGE
FARJALLA, que também assina a direção/encenação
desta “ALICE E GUSTAVO”. Durante
aquele espetáculo, era servido um
jantar, regado a vinho, preparado pelo próprio diretor. Experiência muito interessante. Quanto a “ALICE E GUSTAVO”, gostei bastante do texto, ao primeiro contato com ele, e
fiquei imaginando-o encenado, um exercício muito interessante, para quem ama o TEATRO, como eu. Passaram-se três anos
e a leitura dramatizada virou uma encenação, com a própria CAROL LOBACK e MARCOS NAUER vivendo os dois protagonistas.
O espetáculo fez uma brevíssima
temporada, no Teatro Candido Mendes, em dezembro de 2018, e voltou ao cartaz, no Teatro Glaucio
Gill, neste início de ano teatral de 2019 (VER
SERVIÇO.).
SINOPSE:
Há uma semana que ALICE (CAROL
LOBACK), mãe de dois filhos, evangélica e dona de
casa, recém-separada do marido, saiu de Laranjeiras, com o que restou de sua família, os dois filhos, para viver em Niterói, onde não conhecia ninguém.
No início de um ataque de pânico, ALICE
conheceu GUSTAVO (MARCOS NAUER),
dono de uma banca de revista, solitário e "gay", que nunca havia conseguido
encontrar um bom parceiro, para dividir a vida, sempre sonhando encontrar um
bom companheiro, casar, adotar filhos, comprar um cachorro e viver feliz para
sempre.
Ela desconfia de que fora traída pelo marido; ele, de que deixou de ser amado.
Nesse contexto de carência e solidão, entre trufas, revistas, jornais,
ataques de respiração e fricotes, o tempo passa e eles se tornam amigos, amantes (?) e inimigos, e vão se encontrar e construir uma relação de amizade, ódio e amor,
tão improvável e contraditória quanto as histórias das quais ouvimos falar no
nosso mundo real, fora dos livros, das telas e palcos.
A desgastada frase “Os opostos se atraem.” parece-me muito bem aplicável ao casal de protagonistas,
uma vez que ambos ocupam um espaço tão distante, um do outro, do ponto de vista
social e, aparentemente, pessoal, também, o que não é tão verdade assim, uma vez que
alguns detalhes, como a solidão, a sensação de perda, o desejo de atingir a
felicidade e a falta de noção os mantêm próximos, muito próximos, a cada encontro,
a cada situação, a cada experiência nova, juntos, a cada cena, enfim, e isso os faz “pessoas
comuns”.
Diz o “release” da peça, enviado por GUILHERME
SCARPA (DOBBS SCARPA ASSESSORIA DE
COMUNICAÇÃO): “Encontros e despedidas. Assim é a
vida de quase todo mundo.”. E que graça haveria, pergunto eu, em viver,
se não fosse assim?
O texto me agrada, pela temática e pela forma como foi construído, simples e descomplicado, bem diferente do que ocorre nas vidas dos personagens, além de mostrar como, apesar das diferenças entre os seres humanos, cada um com a sua própria identidade, sempre podem ser descobertos pontos em comum, entre duas pessoas, o que as pode levar, numa hora de fragilidade emocional de uma das partes, ou de ambas, como é o caso em tela, à construção de uma amizade, servindo, um ao outro, de apoio, de reconhecimento e revelação do valor e da importância do outro, como ser humano, de um motivo para não se entregar e lutar pela felicidade, tão almejada por qualquer ser humano, por mais que os obstáculos surjam no caminho à sua procura. O patético e a inverossimilhança, propositalmente, assinam ponto na dramaturgia, de forma bastante curiosa e imprevisível.
“ALICE
descobre um alento em GUSTAVO, um singelo vendedor de uma banca de jornais,
quando se separa do marido, após um casamento desgastado e com dois filhos para
criar. Gay e solitário, ele também se afeiçoa à dona de casa. É aí que as tramas
do destino agem, para modificar suas vidas para sempre - e, quem sabe?, do
público.”, consta no já citado “release”.
É bem provável, mesmo, que algumas pessoas deixem o Teatro “modificadas” ou com tal
pretensão.
Não
resta a menor dúvida de que “o amor, literalmente, dá toda a tônica do
espetáculo”. Na voz de MARCOS
NAUER, "É uma das forças mais poderosas da vida: pode unir, construir,
enternecer, mas, com igual intensidade, destrói e divide". Está aí
“ALICE E GUSTAVO” para ratificar tal
pensamento.
CAROL LOBACK é enfática, ao dizer que “A
encenação proposta por FARJALLA empresta, à montagem, uma mistura de suor e
loucura” e que ela, LOBACK,
se identifica muito com a personagem,
pelo fato de ALICE ser parte de
várias figuras que já passaram por sua vida. Na verdade, pelo pouco que conheço da vida particular da autora/atriz, há muito de sua vivência pessoal no texto, com as cores da ficção.
Ambos os personagens sofrem do moderno mal da humanidade, a solidão, entretanto esta se faz mais presente, facilmente detectado, na peça, em GUSTAVO, que “Vive das manchetes do mundo e da vida dos outros, enquanto sua existência é uma repetição de frustrações amorosas com homens casados”. A laranja só tem duas metades; ser uma terceira não pode dar certo nunca, porque esta não existe.
A
direção do espetáculo é assinada por JORGE
FARJALLA, já, há muito, considerado um dos melhores, se não for o melhor, encenadores das peças rodriguianas, sempre
fazendo questão de acrescentar, em suas assinaturas, “na visão de JORGE FARJALLA”. Ora, todas as direções teatrais são, a rigor, feitas “na visão do diretor X”, contudo não conheço quem se utiliza dessa
observação farjalliana, que é muito interessante, por sinal, pois é, exatamente, essa sua "visão" que faz toda a diferença, nas suas encenações.
Isso, porém, ainda que possa estar presente, de uma forma mais parcimoniosa, a meu juízo, em “ALICE E GUSTAVO”, não me parece tão marcante. As suas digitais estão presentes, sim, na encenação, porém de forma menos arrojada e, até mesmo, ousada, como ocorreu nos seus últimos trabalhos, e a única restrição que faço a este diz respeito a alguns detalhes que não consegui
atingir, enquanto assistia à peça,
provavelmente, por incapacidade minha. Pude entendê-los posteriormente, lendo o programa da peça. Não vou
transcrever as palavras do diretor,
porém confesso que, para mim, suas “explicações” me surpreenderam e creio que
poucos espectadores conseguem atingi-las; digo, as intenções da direção. Mas isso é um detalhe, que não
contribui para uma classificação “ruim” do espetáculo nem, muito ao contrário, me
impede de recomendá-lo.
Agradaram-me,
sem a menor dúvida, os trabalhos de interpretação
de CAROL e NAUER, ambos bem entregues a seus personagens, com uma interpretação, ao mesmo tempo, se é que isso
possa existir, realista/naturalista
(FARJALLA diz ter fugido ao “naturalista”), valorizando as falas
que atingem a emoção do espectador, assim como exercitando, de forma bem agradável,
a difícil arte de fazer humor, quando este está traduzido em algumas das falas.
Às vezes, intencional; em outras, parece-me que não, embora a plateia o
identifique, deixando escapar uma espécie de “sorriso nervoso”. Gosto disso, pois julgo que algumas pessoas estão
se identificando com as situações em que esse tipo de “humor” aparece.
Parceiro, de longa data, nas direções/encenações
de FARJALLA, aqui, mais uma vez, JOSÉ DIAS brilha com seu cenário, simples, prático e
extremamente criativo. Ainda assina a direção
de arte.
JORGE FARJALLA também é o criador dos figurinos, todos na cor branca, traduzindo
- decodifiquei eu - a pureza que existe em todas as pessoas, independentemente
de seus “modus vivendi” e de sua porção
“impura”.
Outro
grande parceiro de FARJALLA é JOÃO PAULO MENDONÇA, que assina a interessante
e original trilha sonora (tenor, laptop, arranjo e composição),
junto com EDUARDO SEABRA (guitarra, laptop, composição e arranjo).
Também acerta, em seu trabalho, FELÍCIO MAFRA (RUSSINHO), na iluminação, não chegando a ser este
elemento algo tão marcante, merecedor de destaque na montagem; nada além de, apenas boa, combinando com o conjunto da obra.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Carol Loback e Rodrigo Monteiro
Direção e Encenação: Jorge Farjalla
Assistente de Direção: Raphaela Tafuri
Elenco: Carol Loback e Marcos Nauer
Cenário e Direção de Arte: José Dias
Figurino: Jorge Farjalla
Trilha Sonora: João Paulo Mendonça (tenor, laptop, arranjo e composição)
e Eduardo Seabra (guitarra, laptop, composição e arranjo)
Iluminação: Felício Mafra (Russinho)
Cenotécnico: Cláudio Roberto (Claudinho)
Operador de Som, Contrarregra e Assistente de Iluminação: Anthony Fonseca
Assistente de Produção e Contrarregra: Daniel Paz
Design Gráfico: Letícia Andrade
Fotos: João Salamonde
Fotos: João Salamonde
Parceria Estratégica: Glória Diniz
Marketing: Maurício Tavares
Assessoria de Imprensa: Dobbs Scarpa Assessoria de Comunicação
Direção de Produção: Alina Lyra
Idealização: Carol Loback
Realização: Alkaparra Produções e Brain +
SERVIÇO:
Temporada: De 05 a 27 de janeiro de 2018.
Local: Teatro Glaucio Gill.
Endereço: Praça Cardeal Arcoverde s/nº, Copacabana – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2332-7904.
Valor dos Ingressos: R$40,00 e R$20,00 (meia entrada).
Classificação Etária: Não foi divulgada (Provavelmente, 14 anos.)
Gênero: Comédia romântica
Pode-se
dizer, sem medo de errar, que “‘ALICE E
GUSTAVO’ é uma história (de amor), realmente, contemporânea, pois fala de
preconceitos atuais e busca adocicar os corações endurecidos".
Trata-se de um espetáculo que merece ser
visto, para dar um bom início ao ano teatral de 2019.
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO
BRASILEIRO!!!
(FOTOS: JOÃO SALAMONDE.)
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