UMA
INTERVENÇÃO
(UMA GRATA SURPRESA
DE INÍCIO DE ANO.)
Uma
boa surpresa de início de ano é a peça
“UMA INTERVENÇÃO”, em cartaz no Teatro Ipanema (VER SERVIÇO.).
Fui
assistir a ela com poucas referências, além do que havia lido, no “release”, enviado por LU NABUCO (ASSESSORIA DE IMPRENSA).
Sabia do autor do texto (E como!!! Sou fã!!!), o, até
certo ponto, polêmico dramaturgo inglês MIKE BARTLETT, por alguns de
seus excelentes textos já encenados
no Brasil, como “Contrações”, “Cock” e “Love, Love, Love”, por exemplo, além
de outros que. apenas. li, e de uns raros nomes da ficha técnica, entretanto não conhecia bem os atores nem a diretora;
ou, pelo menos, não estava ligando seus nomes aos trabalhos por eles realizados
e aos quais eu já assistira. E agora? O que fazer? Ir!!! É claro!!! Primeiro, porque amo TEATRO e, depois, por me sentir na “obrigação” de assistir a
tudo, sendo crítico de TEATRO e jurado de dois Prêmios de TEATRO.
Parodiando os geniais Milton Nascimento
e Fernando Brant (“Nos Bailes da Vida”),
TODO CRÍTICO E JURADO DE PRÊMIOS DE
TEATRO TEM DE IR AONDE O TEATRO ESTÁ. Fui e não me arrependi.
Achei
o espetáculo bastante interessante,
uma proposta que desperta o interesse e a atenção da plateia, desde quando o
pano se abre até que se feche. Confesso, sim, que, no início, não estava
conseguindo compreender, perfeitamente, a que conflito os personagens estavam se referindo (A sinopse fala sobre isso.), para o qual seria necessária “UMA INTERVENÇÃO”. Passada a confusão
mental do início, fui acompanhando o desenrolar da trama, de modo a não ter
ficado com dúvidas, ao final da encenação.
Acredito que o mesmo tenha acontecido com muitas pessoas.
SINOPSE:
A montagem acompanha uma conversa entre dois amigos. Apesar do afeto
que os une, eles têm opiniões sensivelmente distintas, o que fica latente,
quando começam a discutir sobre uma certa intervenção.
A natureza do conflito,
aqui, é, propositalmente, embaçada, dando, ao espectador, a chance de
imaginá-la a partir de sua própria vivência. O fato é que um deles é contra a
tal intervenção. O outro é a favor.
O amor que há entre eles é
testado, quando ambos descobrem que possuem visões de mundo diferentes. No
confronto, posicionamentos políticos, ideologias e forma de se relacionar com o
outro abrem novas chaves de reconstrução dessa amizade.
Numa desconstrução
progressiva, a conversa parte do que orbita a relação dos amigos, para chegar
ao mais íntimo deles. Não sem dor, eles descobrem que há muitas maneiras de
interferir na vida de alguém.
Discordar passa a ser
motivo de não aceitação. A capacidade de modificar a vida do outro - para o bem
ou para o mal - é um dos fios condutores da peça.
É bastante
pertinente dizer que “Qualquer semelhança com o recente momento
da política brasileira, quando a polarização tomou de assalto relações de todos
os tipos, é encarada pela equipe como uma oportunidade de reflexão” (Texto
retirado do “release”.). Não seria,
portanto, “mera coincidência”. O texto foi
escrito em 2014 e se mostra
completamente atual, mais, ainda, em função de o Brasil ter mergulhado, muito recentemente, nas trevas, em termos
políticos, embora a temática possa
ser considerada atemporal.
Relações
humanas não é coisa para os fracos. Conviver com o semelhante, harmoniosamente,
um respeitando a individualidade do outro e, consequentemente, seus pensamentos
e atitudes, sempre foi, e será, um grande desafio entre os chamados “seres
racionais”. Cada vez mais, as pessoas priorizam o dizer e deixam de lado o
ouvir. Insistem em ser “donas da verdade’, não aceitando que se oponham aos
seus pensamentos, “fortalecidas” pelas redes sociais, por meio das quais todos
entendem de tudo, e de mais alguma coisa. Quantas e quantas amizades, entre
amigos, conhecidos ou, até mesmo, parentes, foram rompidas ou, no mínimo,
abaladas, por causa das extremadas posições das pessoas, quanto a dois
candidatos à presidência da República,
na recente eleição do final do ano de 2018,
no Brasil?
Com
seu texto, BARTLETT chama, para o
centro das discussões, um debate, ou, pelo menos, o propõe, sobre a complexidade das relações interpessoais,
um tema intrínseco à humanidade, com um olhar bastante aguçado e crítico,
utilizando diálogos ágeis e provocativos.
Sem
usar de didatismo, preferindo utilizar situações e ações que poderiam fazer
parte do dia a dia de qualquer um, BARTLETT
procura chegar, o mais perto possível, ao objetivo de chamar a atenção do
espectador para como saber lidar com
as diferenças do seu semelhante e, mais do que isso, conseguir lidar com elas, para evitar conflitos e embates desgastantes,
inócuos e prejudiciais à saúde mental.
Não considero
este seu melhor texto, mas não posso
deixar de dizer que é bastante interessante e leva o espectador a pensar e, possivelmente,
mudar seu comportamento, sua visão do outro, podendo vir a exercitar mais a empatia. Sempre será importante e
fundamental discutir sobre “o direito à autonomia, a importância da
escuta, o impacto de opiniões divergentes na vida do outro e a possibilidade de
o diálogo ser matéria-prima de salvação”.
Parti
para o Teatro Ipanema com uma
expectativa média e saí de lá classificando o espetáculo como BOM, pelo conjunto da obra: bom texto, boa direção, boas atuações
e bom aproveitamento dos recursos técnicos.
Considero
muito aplicável à temática a concepção da diretora,
explorando os pungentes e robustos toques de tambores, para marcar o ritmo das
cenas, assim como a utilização do tango, um tipo de música ligado ao universo
passional – e aqui já aproveito para valorizar o ótimo trabalho da própria CLARISSA FREIRE e MARCO FRANÇA, na deliciosa trilha
sonora – e as marcações em cena. Também aproveito este momento para tecer
elogios ao trabalho de direção de
movimento; não há, na ficha técnica,
um nome específico, responsável por ela, o que me faz deduzir ser, também, obra
da diretora.
Os
dois atores têm um bom rendimento,
com o mesmo ritmo e qualidade de atuação, do início ao fim da peça, com uma
ligeira supremacia – ligeira mesmo –
de GABRIEL SANCHES, o que, talvez,
possa ser atribuído ao fato de seu personagem
lhe permitir um pouco mais de condições de destaque, por sua posição no “combate”.
Em muitas das cenas, as marcas da direção
sugerem uma quase luta corporal, com excelentes trocas de olhares, de ambas as
partes, o que apimenta muito o desenrolar da trama.
Absolutamente,
não podem deixar de ser citados o nome e a participação de LUDIMILA D’ANGELIS, que executa, durante toda a encenação, um belo
trabalho de toques de alguns tambores, espalhados no espaço cênico, marcando a intensidade de cada cena e sublinhando os
movimentos dos atores, o que, em
muito, valoriza a montagem. Um belíssimo e
importante trabalho!!!
Como
já fiz alusão à trilha sonora, extremamente
agradável, acrescento o nome de MARCO
FRANÇA, também, à boa direção musical
do espetáculo, para cujo bom
resultado, contribui a interessante cenografia,
de TECA FICHINSKI, que também assina
os corretos figurinos, junto com CLÁUDIO CARPENTER. Também faz parte da ficha técnica o trabalho de visagismo, muito criativo, diga-se de
passagem, feito por DIEGO NARDES.
A montagem ganha um colorido especial
(sem a intenção de fazer trocadilho) com a competente e bela iluminação, a cargo de PAULO CÉSAR MEDEIROS, em, mais um de
seus tantos ótimos trabalhos.
FICHA TÉCNICA:
Texto:
Mike Bartlett
Tradução
Original: Amanda Vogel
Tradução
Adaptada: Ana Beatriz Figueras
Direção
e Concepção: Clarissa Freire
Assistência
de Direção: Flávia Rinaldi
Elenco:
Gabriel Sanches, Pedro Yudi e Ludimila D’Angelis
Direção
Musical: Marco França
Trilha
Sonora: Clarissa Freire e Marco França
Cenário:
Teca Fichinski
Figurino:
Teca Fichinski e Claudio Carpenter
Visagismo:
Diego Nardes
Iluminação:
Paulo César Medeiros
Designer
Gráfico: Victor Hugo Cecatto
Fotos: Thiago Sacramento
Direção
de Produção: Maria Alice Silvério
Produção
Executiva: Joana D’Aguiar
Administração:
Alan Isidio De Abreu
Realização:
Alan Isidio De Abreu Prod. Culturais
Mídias
Sociais: Fernanda Con’Andra
Assessoria
de Imprensa: Lu Nabuco - Assessoria em Comunicação
SERVIÇO:
Temporada:
De 17 de janeiro a 01 de março de 2019.
Local:
Teatro Ipanema: Rua Prudente de Morais, 824 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Telefone:
(21) 2267-3750.
Dias
e Horário: 5ªs e 6ªs feiras, às 20h.
Valor
do Ingresso: R$50,00 e R$25,00 (meia entreada).
Horário
de Funcionamento da Bilheteria: 5ªs e 6ªs feiras, a partir das 19h.
Vendas
também através do site riocultura.superingresso.com.br
Capacidade:
222 lugares.
Duração:
60 minutos.
Classificação
Etária: Não recomendado para menores de 12 anos.
Gênero:
Drama
“UMA INTERVENÇÃO” promete
fazer uma bela carreira no Teatro
Ipanema, porque tem cacife para isso. Montar BARTLETT é, a meu juízo, uma ousadia, como se já não o fosse “fazer TEATRO, no Brasil”, que quem tem
condições técnicas e competência para fazê-lo sempre acaba colhendo bons frutos,
como estou prevendo para esta produção.
RECOMENDO O
ESPETÁCULO.
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
(FOTOS: THIAGO SACRAMENTO.)
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