quinta-feira, 24 de janeiro de 2019


UMA

INTERVENÇÃO


(UMA GRATA SURPRESA
DE INÍCIO DE ANO.)






            Uma boa surpresa de início de ano é a peça “UMA INTERVENÇÃO”, em cartaz no Teatro Ipanema (VER SERVIÇO.).

            Fui assistir a ela com poucas referências, além do que havia lido, no “release”, enviado por LU NABUCO (ASSESSORIA DE IMPRENSA). Sabia do autor do texto (E como!!! Sou fã!!!), o, até certo ponto, polêmico dramaturgo inglês MIKE BARTLETT, por alguns de seus excelentes textos já encenados no Brasil, como “Contrações”, “Cock” e “Love, Love, Love”, por exemplo, além de outros que. apenas. li, e de uns raros nomes da ficha técnica, entretanto não conhecia bem os atores nem a diretora; ou, pelo menos, não estava ligando seus nomes aos trabalhos por eles realizados e aos quais eu já assistira. E agora? O que fazer? Ir!!! É claro!!! Primeiro, porque amo TEATRO e, depois, por me sentir na “obrigação” de assistir a tudo, sendo crítico de TEATRO e jurado de dois Prêmios de TEATRO. Parodiando os geniais Milton Nascimento e Fernando Brant (“Nos Bailes da Vida”), TODO CRÍTICO E JURADO DE PRÊMIOS DE TEATRO TEM DE IR AONDE O TEATRO ESTÁ. Fui e não me arrependi.




          Achei o espetáculo bastante interessante, uma proposta que desperta o interesse e a atenção da plateia, desde quando o pano se abre até que se feche. Confesso, sim, que, no início, não estava conseguindo compreender, perfeitamente, a que conflito os personagens estavam se referindo (A sinopse fala sobre isso.), para o qual seria necessária “UMA INTERVENÇÃO”. Passada a confusão mental do início, fui acompanhando o desenrolar da trama, de modo a não ter ficado com dúvidas, ao final da encenação. Acredito que o mesmo tenha acontecido com muitas pessoas.








SINOPSE:

A montagem acompanha uma conversa entre dois amigos. Apesar do afeto que os une, eles têm opiniões sensivelmente distintas, o que fica latente, quando começam a discutir sobre uma certa intervenção.

A natureza do conflito, aqui, é, propositalmente, embaçada, dando, ao espectador, a chance de imaginá-la a partir de sua própria vivência. O fato é que um deles é contra a tal intervenção. O outro é a favor.

O amor que há entre eles é testado, quando ambos descobrem que possuem visões de mundo diferentes. No confronto, posicionamentos políticos, ideologias e forma de se relacionar com o outro abrem novas chaves de reconstrução dessa amizade.

Numa desconstrução progressiva, a conversa parte do que orbita a relação dos amigos, para chegar ao mais íntimo deles. Não sem dor, eles descobrem que há muitas maneiras de interferir na vida de alguém.

Discordar passa a ser motivo de não aceitação. A capacidade de modificar a vida do outro - para o bem ou para o mal - é um dos fios condutores da peça.








É bastante pertinente dizer que “Qualquer semelhança com o recente momento da política brasileira, quando a polarização tomou de assalto relações de todos os tipos, é encarada pela equipe como uma oportunidade de reflexão” (Texto retirado do “release”.). Não seria, portanto, “mera coincidência”. O texto foi escrito em 2014 e se mostra completamente atual, mais, ainda, em função de o Brasil ter mergulhado, muito recentemente, nas trevas, em termos políticos, embora a temática possa ser considerada atemporal.

Relações humanas não é coisa para os fracos. Conviver com o semelhante, harmoniosamente, um respeitando a individualidade do outro e, consequentemente, seus pensamentos e atitudes, sempre foi, e será, um grande desafio entre os chamados “seres racionais”. Cada vez mais, as pessoas priorizam o dizer e deixam de lado o ouvir. Insistem em ser “donas da verdade’, não aceitando que se oponham aos seus pensamentos, “fortalecidas” pelas redes sociais, por meio das quais todos entendem de tudo, e de mais alguma coisa. Quantas e quantas amizades, entre amigos, conhecidos ou, até mesmo, parentes, foram rompidas ou, no mínimo, abaladas, por causa das extremadas posições das pessoas, quanto a dois candidatos à presidência da República, na recente eleição do final do ano de 2018, no Brasil?






            Com seu texto, BARTLETT chama, para o centro das discussões, um debate, ou, pelo menos, o propõe, sobre a complexidade das relações interpessoais, um tema intrínseco à humanidade, com um olhar bastante aguçado e crítico, utilizando diálogos ágeis e provocativos.

            Sem usar de didatismo, preferindo utilizar situações e ações que poderiam fazer parte do dia a dia de qualquer um, BARTLETT procura chegar, o mais perto possível, ao objetivo de chamar a atenção do espectador para como saber lidar com as diferenças do seu semelhante e, mais do que isso, conseguir lidar com elas, para evitar conflitos e embates desgastantes, inócuos e prejudiciais à saúde mental.

Não considero este seu melhor texto, mas não posso deixar de dizer que é bastante interessante e leva o espectador a pensar e, possivelmente, mudar seu comportamento, sua visão do outro, podendo vir a exercitar mais a empatia. Sempre será importante e fundamental discutir sobre “o direito à autonomia, a importância da escuta, o impacto de opiniões divergentes na vida do outro e a possibilidade de o diálogo ser matéria-prima de salvação”.









           Parti para o Teatro Ipanema com uma expectativa média e saí de lá classificando o espetáculo como BOM, pelo conjunto da obra: bom texto, boa direção, boas atuações e bom aproveitamento dos recursos técnicos.

       Considero muito aplicável à temática a concepção da diretora, explorando os pungentes e robustos toques de tambores, para marcar o ritmo das cenas, assim como a utilização do tango, um tipo de música ligado ao universo passional – e aqui já aproveito para valorizar o ótimo trabalho da própria CLARISSA FREIRE e MARCO FRANÇA, na deliciosa trilha sonora – e as marcações em cena. Também aproveito este momento para tecer elogios ao trabalho de direção de movimento; não há, na ficha técnica, um nome específico, responsável por ela, o que me faz deduzir ser, também, obra da diretora.

           Os dois atores têm um bom rendimento, com o mesmo ritmo e qualidade de atuação, do início ao fim da peça, com uma ligeira supremacia – ligeira mesmo – de GABRIEL SANCHES, o que, talvez, possa ser atribuído ao fato de seu personagem lhe permitir um pouco mais de condições de destaque, por sua posição no “combate”. Em muitas das cenas, as marcas da direção sugerem uma quase luta corporal, com excelentes trocas de olhares, de ambas as partes, o que apimenta muito o desenrolar da trama.






        Absolutamente, não podem deixar de ser citados o nome e a participação de LUDIMILA D’ANGELIS, que executa, durante toda a encenação, um belo trabalho de toques de alguns tambores, espalhados no espaço cênico, marcando a intensidade de cada cena e sublinhando os movimentos dos atores, o que, em muito, valoriza a montagemUm belíssimo e importante trabalho!!!

            Como já fiz alusão à trilha sonora, extremamente agradável, acrescento o nome de MARCO FRANÇA, também, à boa direção musical do espetáculo, para cujo bom resultado, contribui a interessante cenografia, de TECA FICHINSKI, que também assina os corretos figurinos, junto com CLÁUDIO CARPENTER. Também faz parte da ficha técnica o trabalho de visagismo, muito criativo, diga-se de passagem, feito por DIEGO NARDES.

        A montagem ganha um colorido especial (sem a intenção de fazer trocadilho) com a competente e bela iluminação, a cargo de PAULO CÉSAR MEDEIROS, em, mais um de seus tantos ótimos trabalhos.   




 




FICHA TÉCNICA:

Texto: Mike Bartlett
Tradução Original: Amanda Vogel
Tradução Adaptada: Ana Beatriz Figueras
Direção e Concepção: Clarissa Freire
Assistência de Direção: Flávia Rinaldi

Elenco: Gabriel Sanches, Pedro Yudi e Ludimila D’Angelis

Direção Musical: Marco França
Trilha Sonora: Clarissa Freire e Marco França
Cenário: Teca Fichinski
Figurino: Teca Fichinski e Claudio Carpenter
Visagismo: Diego Nardes
Iluminação: Paulo César Medeiros
Designer Gráfico: Victor Hugo Cecatto
Fotos: Thiago Sacramento
Direção de Produção: Maria Alice Silvério
Produção Executiva: Joana D’Aguiar
Administração: Alan Isidio De Abreu
Realização: Alan Isidio De Abreu Prod. Culturais
Mídias Sociais: Fernanda Con’Andra
Assessoria de Imprensa: Lu Nabuco - Assessoria em Comunicação








SERVIÇO:

Temporada: De 17 de janeiro a 01 de março de 2019.
Local: Teatro Ipanema: Rua Prudente de Morais, 824 – Ipanema – Rio de Janeiro.
Telefone: (21) 2267-3750.
Dias e Horário: 5ªs e 6ªs feiras, às 20h.
Valor do Ingresso: R$50,00 e R$25,00 (meia entreada).
Horário de Funcionamento da Bilheteria: 5ªs e 6ªs feiras, a partir das 19h.
Vendas também através do site riocultura.superingresso.com.br
Capacidade: 222 lugares.
Duração: 60 minutos.
Classificação Etária: Não recomendado para menores de 12 anos.
Gênero: Drama







            “UMA INTERVENÇÃO” promete fazer uma bela carreira no Teatro Ipanema, porque tem cacife para isso. Montar BARTLETT é, a meu juízo, uma ousadia, como se já não o fosse “fazer TEATRO, no Brasil”, que quem tem condições técnicas e competência para fazê-lo sempre acaba colhendo bons frutos, como estou prevendo para esta produção.

            RECOMENDO O ESPETÁCULO.



 


E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

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POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!







(FOTOS: THIAGO SACRAMENTO.)
















































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