40
ANOS
ESTA
NOITE
(O FUTURO DE CINCO (?)
VIDAS NUMA NOITE.
ou
DA ARTE DE SE TOCAR NA FERIDA
COM DELICADEZA E CUIDADO.
ou
“QUALQUER MANEIRA DE AMOR
VALE A PENA,
QUALQUER DE MANEIRA DE AMOR
VALE AMAR” –
"PAULA E BEBETO" -
MILTON NASCIMENTO
MILTON NASCIMENTO
e
CAETANO VELOSO.)
“Uma
ideia na cabeça e uma câmera na mão”, ou vice-versa, não importa. (Glauber Rocha). E surgia o Cinema Novo. Mas não é de cinema que
estou aqui, para falar. É sobre TEATRO.
Um bom TEATRO. Um excelente TEATRO, daqueles que nos
arrebatam e nos fazem voltar para casa extremamente felizes. Estou falando de “40 ANOS ESTA NOITE”, em cartaz no Teatro Ipanema, Rio de Janeiro (VER SERVIÇO).
No
caso, aqui, a ideia original veio da cabeça de GISELA
DE CASTRO, e a câmera foi substituída pelo computador, que serviu de
instrumento para que FELIPE CABRAL, autor do argumento e do texto, desse forma a um dos melhores textos dos
últimos tempos. Sim, amigos, esta
peça é excelente, daquelas que nos despertam a vontade de voltar no dia
seguinte, o que estou pensando em fazer, neste momento.
O espetáculo, de uma maneira muito delicada
e sutil, trata da, tão em voga, questão da formação de novos modelos
familiares, as famílias homoafetivas.
SINOPSE:
A comédia
dramática LGBTI+ discute questões relativas à sexualidade, relações
parentais, gênero e preconceito, através do encontro de dois casais
homoafetivos, na noite de comemoração pelos 40 anos de GABRIELA (GISELA
DE CASTRO).
Morando
junto com sua namorada, CLARICE (KARINA
RAMIL), ela convida um amigo de infância, BERNARDO (GABRIEL ALBUQUERQUE), e seu namorado JOÃO (FELIPE CABRAL), para uma discreta celebração, e surpreende a
todos com o convite para que BERNARDO
se torne o pai do filho que as duas estão tentando ter, sem sucesso, através da
inseminação artificial.
A
partir daí, chovem conflitos por todos os lados, de toda sorte, e o
que era para ser uma comemoração se torna uma discussão calorosa e que parece
jamais atingir o fundo de um poço.
O final nos revela uma
grata surpresa.
O
texto, de FELIPE CABRAL, partindo de uma ideia original de GISELA DE CASTRO, é uma aula de boa dramaturgia, em todos os sentidos. FELIPE consegue inserir humor, o ótimo
humor, numa seara tão séria e preocupante, que tem sido motivo de grandes
debates, e embates, entre os que apoiam a adoção de crianças, por casais
homoafetivos, e os que são radicalmente contrários a isso. Trata-se de um texto inédito, totalmente adequado ao
momento de intolerância contra a causa LGBT+,
a que estamos submetidos, num país que, infelizmente, está sendo (des)governado
por um “ser” incompetente e, declaradamente, homofóbico, o qual instiga as
massas de manobra à agressão aos homossexuais e simpatizantes da causa, que é, única
e exclusivamente, um “problema” de cada um, e que tem de ser respeitado.
No programa da peça, BRUCE GOMLEVSKY diz que recebeu, com imensa alegria, o convite para dirigir a peça e que, assim que leu o texto, interessou-se pela sua atualidade e pela forma bem-humorada como, nele, se abordam temas importantes, que precisam ser discutidos na nossa atual realidade política, social e cultural. Perdão, BRUCE, mas qualquer diretor do teu conceituado gabarito teria tido a mesma reação. Fosse eu diretor de TEATRO, começaria a dirigir o espetáculo na hora, pelo aprofundamento da qualidade do texto. Raramente, nos dias atuais, encontra-se um, inédito, com tão incomensurável gabarito, em todos os sentidos.
FELIPE
CABRAL resolveu mexer, com muito cuidado, num grande vespeiro e traz, para
a discussão, aspectos muitos áridos, como a discriminação e o preconceito; a dificuldade de aceitação da sexualidade alheia; a falta de diálogo, para que sejam
aparadas as arestas quanto às diferenças,
as quais são saudáveis e necessárias, além de ser uma realidade que ninguém
pode negar. E a peça, tecnicamente muito bem escrita, acaba
por se tornar, nas palavras de BRUCE, “uma ode ao amor, à amizade, ao afeto, à
família, em todas as suas formas possíveis com que o núcleo familiar se
manifesta hoje, em todas as suas formas possíveis, imagináveis e inimagináveis.”.
Com seu texto, FELIPE dá voz a todos os que passam pelo mesmo sofrimento e lhes
garante espaço para um grito de revolta e cobrança de respeito e justiça.
Basta de sustentar a visão hipócrita
e, falsamente, cristã de que “uma família
é formada por um homem e uma mulher, unidos pelos laços matrimoniais, que geram
filhos”. Antes, eram apenas os biológicos; a adoção foi um capítulo posterior.
E por que casais homoafetivos não podem gerar, por inseminação artificial,
filhos; ou adotá-los? Quer aceitemos ou não esse fato, é fundamental que se
respeitem os direitos de quem deseja fazê-lo e enxergar nisso uma nova composição
familiar, tão normal e com direito à felicidade, como o arquétipo que a
sociedade nos impõe.
Um dos pontos altos do texto, além da linguagem e da agilidade
e inteligência empregadas nos diálogos, é a capacidade de conduzi-lo, o tempo
todo, mesclando humor com falas mais dramáticas; não é uma comédia, como parece ser, de início, nem um drama rasgado; trata-se de uma deliciosa
e inteligentíssima comédia dramático-romântica. Quando a discussão fica
mais acalorada, à beira de um ataque de nervos, o humor chega, como válvula de
escape, mas não por acaso, de graça; sempre presente com um tom crítico.
Antes de encerrar os comentários sobre a brilhante dramaturgia,
quero parabenizar o ator FELIPE CABRAL, por ter incluído, o que
me pareceu “caco”, mas que espero que seja incorporado, definitivamente, ao texto, a fala em que seu personagem faz
sérias e justíssimas críticas ao senhor que, no momento, ocupa o cargo de maior
responsabilidade da nação, sem que esteja preparado para isso, e lamenta o fato
de um cidadão, no caso, um parlamentar, ter de recorrer ao autoexílio, para se
livrar das ameaças de morte que vem recebendo, pelo fato de ser, assumidamente,
“gay” e defender a causa de seus pares. Aproveito, também, para elogiar as
falas em que o mesmo personagem apresenta dados estatísticos acerca das mortes
e agressões a pessoas da população LGBT+, no Brasil – um verdadeiro absurdo,
que precisa ter fim!!! Ainda quero elogiar o momento em que o personagem JOÃO conta a história do surgimento da bandeiro símbolo do movimento LGBT+. Lindo e emocionante relato!
Passemos
a tecer os devidos e merecidos comentários a um dos melhores diretores de TEATRO de sua geração, BRUCE GOMLEVSKY, tantas vezes premiado
e, no momento, com algumas indicações a prêmios, por trabalhos executados em 2018. Extremamente inteligente e
exigente no que faz, BRUCE percebeu,
de saída, que não precisava ser mais um inventor da roda e que toda a força do espetáculo estaria no incrível texto, de CABRAL. Como não pode, e não deve mesmo, trabalhar sozinho,
cercou-se de excelentes profissionais,
para ajudá-lo a erguer, sem patrocínio, a vitoriosa montagem, tão recentemente estreada e já um grande sucesso, de
público e crítica. Num primoroso trabalho de mesa, junto com os atores, foi definindo o perfil de cada
um e encontrando a melhor zona de conforto para suas atuações, de modo que o espetáculo ficasse leve e, ao mesmo
tempo, profundo. São ótimas as suas marcações e os mínimos detalhes,
visivelmente, de direção, passados a
cada ator/atriz.
Que
elenco fabuloso!!! O quarteto está afinadíssimo, no mesmo tom, na mesma
sintonia, no mesmo alto rendimento em cena. Da primeira à última, os talentos se
revelam. Praticamente, não se pode falar em protagonismo, do ponto de vista técnico-didático, dentro da estrutura
de um texto teatral, se bem que o “plot”
gire mais em torno do desejo – mais que isso, da necessidade – de GABRIELA, de ser mãe, uma vez que já
estava “ficando velha”, para a maternidade. Por outro lado, o envolvimento dos
quatro personagens é tão integral,
com relação à problemática, que todos ganham relevo na trama e cada um dos que
os representam dá um “show” particular de interpretação. “São quatro personagens muito diferentes, que se veem
diante de uma oportunidade única: formar uma família. Como cada um encara isso
é o conflito que os empurra um contra o outro.”, diz o autor do
texto, como consta no “release”, enviado por BRUNO MORAIS (MARROM GLACÊ ASSESSORIA DE
IMPRENSA). A tarefa de representar
GABRIELA, CLARICE, BERNARDO e JOÃO não poderia ser melhor executada
do que é, por GISELA DE CASTRO, KARINA RAMIL, GABRIEL ALBUQUERQUE e FELIPE
CABRAL, respectivamente. Já conhecia, e admirava, o trabalho de três, do elenco, mas, salvo engano, não tivera,
ainda, a oportunidade e o prazer de ver GABRIEL
ALBUQUERQUE atuando. Como é bom o
seu trabalho!!!
Os elementos técnicos de suporte à peça funcionam perfeitamente. O cenário é “clean”
e, principal e intencionalmente, quero crer, transparente, como devem ser todas
as relações afetivas e amigáveis. A ação inteira se passa numa sala de jantar,
com todas as peças (mesas e cadeiras) em acrílico transparente, incolor; todos os
utensílios utilizados durante o jantar “festivo” também são transparentes e
incolores. Acima da mesa, funcionando como uma gigantesca luminária, um
conjunto de várias bolas, de igual forma, transparentes e incolores, que absorvem
a excelente luz de RUSSINHO. O belo e criativo cenário é assinado pelo “craque” FERNANDO MELLO DA COSTA. CAROL LOBATO, sempre esbanjando bom
gosto, criou lindos e bem talhados
figurinos, com destaque para o macacão usado por JOÃO, de “jeans”,
com detalhes de aplicações, vazadas, de plástico transparentes. Aí, já entram os meus devaneios: JOÃO é “gay” assumido, daí os apliques das transparências; por
outro lado, seu namorado, BERNARDO,
já teve namoradas e vive meio dentro do armário, enrustido, fora de seu círculo
de amigos “gays”, talvez, por
isso, trajando-se bem discretamente, no estilo “casual” fino. KLEITON RAMIL é o responsável pela trilha
sonora da peça.
FICHA TÉCNICA:
Ideia Original: Gisela de
Castro
Argumento e Texto: Felipe
Cabral
Direção: Bruce
Gomlevsky
Assistente
de Direção: Bruna Diacoyannis
Elenco: Felipe
Cabral, Gabriel Albuquerque, Gisela de Castro e Karina Ramil
Cenário: Fernando
Mello da Costa
Figurino: Carol
Lobato
Iluminação: Russinho
Trilha
Sonora: Kleiton Ramil
Preparação
Vocal: Verônica Machado
Fotos
de Divulgação: Dalton Valério
Design
Gráfico: Redson
Redes
Sociais: Rafael Teixeira
Assessoria
de Imprensa: Marrom Glacê Assessoria - Gisele Machado &
Bruno Morais
Direção
de Produção: Luciana Duque
Produção
Executiva: Tatiana Alvim
SERVIÇO:
Temporada: De 12 de janeiro a 25 de fevereiro de 2019.
Local: Teatro Ipanema.
Endereço: Rua Prudente de Morais, 824 – Ipanema – Rio de
Janeiro.
Telefone: (21) 2267-3750.
Dias e Horários: Sábado, às 21h; domingo e 2ª feira, às
20h.
(Haverá um debate, toda 2ª feira, após o espetáculo.)
Valor
dos Ingressos: R$50,00 (inteira) e R$25,00 (meia
entrada).
Ingressos à venda “on line” ou na bilheteria, de 5ª feira
à 3ª feira, aberta uma hora antes do início do espetáculo que estará em cartaz
naquele determinado dia.
Duração: 90 minutos.
Classificação Etária: 16 anos.
Gênero: Comédia Dramática.
Muito distante do que possa parecer, o espetáculo não é voltado para o público
LGBT+. É para todos. É para pessoas inteligentes, sensíveis e abertas ao diálogo.
Creio que tudo o que FELIPE CABRAL
intencionava, com seu magnífico texto,
ele o consegue: fazer com que a reflexão seja o prato principal, servido
naquele jantar, no lugar do tão esperado “bobó
de camarão da CLARISSA” (Perdão: "CLARICCCCCCEEEEE!"), e que a plateia “sinta a tensão e pondere os pontos de vista de cada um, na construção
dessa nova possível família” (Extraído do já citado “release”.).
Com o objetivo de “inserir
os espectadores, de forma ampla, no universo LGBTI+”, a produção realiza, todas as 2ªs feiras, após a
sessão, debates com pessoas de notável
saber e envolvimento com a causa LGBT+.
“Acredito que estamos vivendo uma transição,
em termos de visibilidade desta temática. Eu acho sensacional que tenhamos mais
peças assim, até para que o público não seja somente de espectadores LGBTI+. Se
eu assisto a peças em que o conflito é centrado em personagens heterossexuais,
e isso nunca foi um problema para mim, por que o contrário seria?”, encerra o autor. Muito bem, FELIPE! BRAVO!!!
RECOMENDO, COM MUITO EMPENHO, O ESPETÁCULO!!!
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
(FOTOS
: DALTON VALÉRIO.)
Gilberto! Que alegria máxima ler sua crítica, sempre cuidadosa e minuciosa. Há dez nos acompanhamos de perto e sei o quanto você respeita e ama o teatro. Sigamos juntos! Você nos representa!
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