SOLO
(UM DESAFIO PARA
UM ESPECTADOR
DESAVISADO.)
Dentre
tantas coisas boas, no campo da cultura,
que nos oferece o Centro Cultural Banco
do Brasil (CCBB), há um concurso de
dramaturgia, chamado “Seleção Brasil
em Cena”, que se propõe a escolher o
melhor texto teatral, dentre os inscritos em todo o Brasil. O prêmio, para o vencedor, é a montagem da peça, sob o patrocínio do Banco, com temporadas em
todas as cidades em que existam células do CCBB
(Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e
Belo Horizonte), podendo, depois, o espetáculo
ser encenado, às expensas de uma produção
particular em outros teatros e praças.
Em
2018, o vencedor foi o texto “SOLO”, que, apesar do título, não se
trata de um monólogo. Seu autor é o muito
jovem dramaturgo FABRÍCIO BRANCO. A peça, dirigida por VINÍCIUS ARNEIRO, está em cartaz no CCBB - Rio de Janeiro (VER SERVIÇO.).
O
concurso “SELEÇÃO BRASIL EM CENA” é
de âmbito nacional e tem como principal objetivo “fomentar a criação de obras
teatrais inéditas por meio de novos dramaturgos. Criado em 2006, o projeto recebeu, até a mais recente realização, mais de 2018 textos de autores de todo o Brasil. Em sua oitava edição, em 2018, foram 418 textos
de 17 estados e do Distrito Federal,
dos quais foram selecionados 12
finalistas, de três estados (um do Paraná, quatro de São Paulo e seis do Rio de Janeiro),
analisados, “no escuro”, por uma comissão de profissionais da área de artes
cênicas. O júri só conheceu os nomes
dos autores após a escolha dos 12 finalistas.
SINOPSE:
Um homem solitário, criado entre lápides
de um cemitério, tem uma profunda devoção pela terra. Uma verdadeira simbiose: HOMEM / TERRA.
É nela que ele encontra aceitação e afeto
e é por ela que ele se transforma.
No cemitério onde trabalha, como COVEIRO, o homem, anônimo, (KADU GARCIA) percebe que os
sepultamentos diminuíram, enquanto o número de cremações aumentou.
Ele resolve, então, despir-se de suas
máscaras sociais e passa a ouvir seu instinto primitivo: começa a alimentar a
terra que o acolheu até ali.
As relações da solidão e do homem com a
terra se misturam, através da apresentação de diferentes personagens, que
contam a história de vida de um homem moldado pela morte.
Em suas mãos, a valorização do único
afeto que recebeu em vida: o amor pela terra.
No elenco,
além de KADU GARCIA (COVEIRO), o protagonista, estão
ALINY ULBRICHT (GORDA), BÁRBARA ABI-RIHAN (MENDIGO) e JANSEN CASTELLAR (PASTOR). “Cada
personagem fala sobre suas mazelas, sem máscaras. Em comum, eles têm o mesmo
sentimento: o de “não pertencimento”, ou seja, o de não se encaixar em tudo que o
rodeia, seja entre amigos, entre desconhecidos, entre colegas de trabalho ou,
até mesmo, em casa, sozinho. Trata-se daquele sentimento de que algo não faz
sentido e tudo parece falso, quase a desmoronar, o que, evidentemente, não é
nada bom, não causa nenhum prazer ou satisfação ao ser humano.
Inicialmente, escrito sob a forma de monólogo, os personagens,
que funcionam como “satélites” do COVEIRO,
ganharam voz, graças à sugestão de VINÍCIUS
ARNEIRO. “O texto do FABRÍCIO levanta uma poeira que a gente tenta baixar. Ele
retrata arquétipos sob o olhar do senso comum”, diz o diretor.
Segundo o “release”,
enviado por BIANCA SENNA (ASSESSORIA DE
IMPRENSA), “A peça apresenta uma narrativa de terror psicológico, tendo como
referência inicial o monólogo “Cine Monstro”, do premiado autor canadense
Daniel MacIvor. “Os livros ‘Intermitências da Morte’, de José Saramago, e
‘Teoria Geral do Esquecimento’, do angolano José Eduardo Agualusa, também
serviram como inspiração para o texto”, lembra o FABRÍCIO. “SOLO” traz uma reflexão sobre questões contemporâneas e apresenta
diversas referências atuais. “Considero o teatro um local de denúncia, e
esta peça levanta questões ligadas às minorias, aos excluídos”,
continua o dramaturgo.
Estamos diante de um espetáculo
que exige o máximo de atenção do espectador, uma vez que não se trata de nada
que leve ao mero entretenimento. Predomina o terror psicológico, que mexe com os nossos nervos, da primeira à última
cena. Durante todo o tempo de duração da peça,
a plateia se sente “oprimida”, meio sufocada, como se estivesse sob aquele
monte de terra que faz parte do interessantíssimo cenário, concebido pelo premiadíssimo artista FERNANDO MELO DA COSTA.
O COVEIRO, solitário, vai desfiando suas
reflexões e lamúrias, interrompido, aqui ou ali, por personagens bizarros, que fazem parte de uma “identidade coletiva”;
todos nos vemos um pouco refletidos neles. São seres marginalizados, que
parecem voltar, para cobrar algo, uma cobrança de um resgate da dignidade do
ser humano.
O texto é, profundamente, hermético e,
por vezes, tive de fazer um exercício muito grande de atenção e concentração,
para discernir o que era real do que parecia ser alucinações. Mas isso, longe
de desvalorizá-lo, mais o torna rico. Não
vá assistir à peça, se procura algo fácil de digerir ou leve.
A direção potencializa o clima e a
mensagem propostos pelo autor, com
soluções e ideias muito incomuns; originais, por isso mesmo, provocando, por
vezes, até asco, no espectador. Repito:
não é um espetáculo de ou para lazer. É
uma obra muito provocativa e, até certo ponto, chocante.
KADU GARCIA vive
um personagem bastante diferente de
todos aos quais eu o vi dar vida. Sua
interpretação é visceral e comovente. Da mesma forma se comportam os três
atores em papéis coadjuvantes. Todos, no
conjunto, formam um elenco merecedor de rasgados elogios.
O cenário é bastante simples, entretanto
muito criativo e impactante, formado por uma extensíssima mesa. O COVEIRO está sentado em frente a ela. No meio da referida mesa, vê-se um monte de terra, de dentro do qual o protagonista
vai retirando “coisas” (Não darei
“spoiler”.) surpreendentes.
Há um
clima de mistério e, mesmo, de terror, durante toda a encenação, para o qual
muito contribui a ótima direção musical,
assinada por MARCELLO H.
TICIANA PASSOS também
deixa a sua colaboração, nesta montagem,
com figurinos bem adequados a cada personagem.
Quanto
à iluminação, de BERNARDO LORGA, além de bastante
correta, cria alguns momentos de suspense, com alguns "black-outs", totalmente integrada à proposta da peça.
FICHA
TÉCNICA:
Dramaturgia: Fabrício Branco
Direção: Vinícius Arneiro
Assistência de Direção: Andreas Gatto
Elenco:
Kadu Garcia, Aliny Ulbricht, Bárbara Abi-Rihan e Jansen Castellar
Cenografia:
Fernando Mello da Costa
Figurino: Ticiana Passos
Direção Musical: Marcelo H
Iluminação: Bernardo Lorga
Programação Visual: Tânia Grillo
Figurino: Ticiana Passos
Direção Musical: Marcelo H
Iluminação: Bernardo Lorga
Programação Visual: Tânia Grillo
Fotos:
Vinícius Arneiro e Daniel Barboza
Produção Executiva: João Eizô Y. Saboya
Assistência de Produção: Alessandro Zoe
Direção de Produção: Sérgio Saboya
Produção Executiva: João Eizô Y. Saboya
Assistência de Produção: Alessandro Zoe
Direção de Produção: Sérgio Saboya
Patrocínio:
Banco do Brasil
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil
SERVIÇO:
Temporada: De 09 de janeiro a 03 de março.
Local: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB - RJ – Teatro III).
Endereço:
Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro.
Dias
e Horários: De 4ª feira a domingo, às 19h30min.
Informações: (21) 3808-2020.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).
Informações: (21) 3808-2020.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).
Duração:
80 min.
Capacidade: 40 lugares.
Classificação Indicativa: 18 anos.
Capacidade: 40 lugares.
Classificação Indicativa: 18 anos.
Gênero:
Drama.
Não cheguei a me “arrepiar”, nem pelo terror, nem pela peça, em si, contudo não posso negar
que se trata de um espetáculo bem
diferente de tudo o que está em cartaz, no momento, além de bem montado, com
bastante esmero e profissionalismo, merecendo, assim, a minha recomendação,
acima de tudo, pela atuação do elenco.
E VAMOS AO
TEATRO!!!
OCUPEMOS TODAS AS
SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI!!!
RESISTAMOS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
FABRÍCIO BRANCO, o jovem dramaturgo.
(FOTOS: VINÍCIUS
ARNEIRO
e
DANIEL BARBOZA.)
e
DANIEL BARBOZA.)
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