sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

SOLO  
(UM DESAFIO PARA
UM ESPECTADOR
DESAVISADO.)





            Dentre tantas coisas boas, no campo da cultura, que nos oferece o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), há um concurso de dramaturgia, chamado “Seleção Brasil em Cena”, que se propõe a escolher o melhor texto teatral, dentre os inscritos em todo o Brasil. O prêmio, para o vencedor, é a montagem da peça, sob o patrocínio do Banco, com temporadas em todas as cidades em que existam células do CCBB (Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte), podendo, depois, o espetáculo ser encenado, às expensas de uma produção particular em outros teatros e praças.

           Em 2018, o vencedor foi o texto “SOLO”, que, apesar do título, não se trata de um monólogo. Seu autor é o muito jovem dramaturgo FABRÍCIO BRANCO. A peça, dirigida por VINÍCIUS ARNEIRO, está em cartaz no CCBB - Rio de Janeiro (VER SERVIÇO.).

            O concurso “SELEÇÃO BRASIL EM CENA” é de âmbito nacional e tem como principal objetivo “fomentar a criação de obras teatrais inéditas por meio de novos dramaturgos. Criado em 2006, o projeto recebeu, até a mais recente realização, mais de 2018 textos de autores de todo o Brasil. Em sua oitava edição, em 2018, foram 418 textos de 17 estados e do Distrito Federal, dos quais foram selecionados 12 finalistas, de três estados (um do Paraná, quatro de São Paulo e seis do Rio de Janeiro), analisados, “no escuro”, por uma comissão de profissionais da área de artes cênicas. O júri só conheceu os nomes dos autores após a escolha dos 12 finalistas.








SINOPSE:

Um homem solitário, criado entre lápides de um cemitério, tem uma profunda devoção pela terra. Uma verdadeira simbiose: HOMEM / TERRA.
É nela que ele encontra aceitação e afeto e é por ela que ele se transforma.
No cemitério onde trabalha, como COVEIRO, o homem, anônimo, (KADU GARCIA) percebe que os sepultamentos diminuíram, enquanto o número de cremações aumentou.
Ele resolve, então, despir-se de suas máscaras sociais e passa a ouvir seu instinto primitivo: começa a alimentar a terra que o acolheu até ali.
As relações da solidão e do homem com a terra se misturam, através da apresentação de diferentes personagens, que contam a história de vida de um homem moldado pela morte.
Em suas mãos, a valorização do único afeto que recebeu em vida: o amor pela terra.







       No elenco, além de KADU GARCIA (COVEIRO), o protagonista, estão ALINY ULBRICHT (GORDA), BÁRBARA ABI-RIHAN (MENDIGO) e JANSEN CASTELLAR (PASTOR). “Cada personagem fala sobre suas mazelas, sem máscaras. Em comum, eles têm o mesmo sentimento: o de “não pertencimento”, ou seja, o de não se encaixar em tudo que o rodeia, seja entre amigos, entre desconhecidos, entre colegas de trabalho ou, até mesmo, em casa, sozinho. Trata-se daquele sentimento de que algo não faz sentido e tudo parece falso, quase a desmoronar, o que, evidentemente, não é nada bom, não causa nenhum prazer ou satisfação ao ser humano.

         Inicialmente, escrito sob a forma de monólogo, os personagens, que funcionam como “satélites” do COVEIRO, ganharam voz, graças à sugestão de VINÍCIUS ARNEIRO. “O texto do FABRÍCIO levanta uma poeira que a gente tenta baixar. Ele retrata arquétipos sob o olhar do senso comum”, diz o diretor.






            Segundo o “release”, enviado por BIANCA SENNA (ASSESSORIA DE IMPRENSA), “A peça apresenta uma narrativa de terror psicológico, tendo como referência inicial o monólogo “Cine Monstro”, do premiado autor canadense Daniel MacIvor. “Os livros ‘Intermitências da Morte’, de José Saramago, e ‘Teoria Geral do Esquecimento’, do angolano José Eduardo Agualusa, também serviram como inspiração para o texto”, lembra o FABRÍCIO. “SOLO” traz uma reflexão sobre questões contemporâneas e apresenta diversas referências atuais. “Considero o teatro um local de denúncia, e esta peça levanta questões ligadas às minorias, aos excluídos”, continua o dramaturgo.

            Estamos diante de um espetáculo que exige o máximo de atenção do espectador, uma vez que não se trata de nada que leve ao mero entretenimento. Predomina o terror psicológico, que mexe com os nossos nervos, da primeira à última cena. Durante todo o tempo de duração da peça, a plateia se sente “oprimida”, meio sufocada, como se estivesse sob aquele monte de terra que faz parte do interessantíssimo cenário, concebido pelo premiadíssimo artista FERNANDO MELO DA COSTA.





O COVEIRO, solitário, vai desfiando suas reflexões e lamúrias, interrompido, aqui ou ali, por personagens bizarros, que fazem parte de uma “identidade coletiva”; todos nos vemos um pouco refletidos neles. São seres marginalizados, que parecem voltar, para cobrar algo, uma cobrança de um resgate da dignidade do ser humano.

O texto é, profundamente, hermético e, por vezes, tive de fazer um exercício muito grande de atenção e concentração, para discernir o que era real do que parecia ser alucinações. Mas isso, longe de desvalorizá-lo, mais o torna rico. Não vá assistir à peça, se procura algo fácil de digerir ou leve.

A direção potencializa o clima e a mensagem propostos pelo autor, com soluções e ideias muito incomuns; originais, por isso mesmo, provocando, por vezes, até asco, no espectador. Repito: não é um espetáculo de ou para lazer. É uma obra muito provocativa e, até certo ponto, chocante.




KADU GARCIA vive um personagem bastante diferente de todos aos quais eu o vi dar vida. Sua interpretação é visceral e comovente. Da mesma forma se comportam os três atores em papéis coadjuvantes. Todos, no conjunto, formam um elenco merecedor de rasgados elogios.

O cenário é bastante simples, entretanto muito criativo e impactante, formado por uma extensíssima mesa. O COVEIRO está sentado em frente a ela. No meio da referida mesa, vê-se um monte de terra, de dentro do qual o protagonista vai retirando “coisas” (Não darei “spoiler”.) surpreendentes.

Há um clima de mistério e, mesmo, de terror, durante toda a encenação, para o qual muito contribui a ótima direção musical, assinada por MARCELLO H.

TICIANA PASSOS também deixa a sua colaboração, nesta montagem, com figurinos bem adequados a cada personagem.

Quanto à iluminação, de BERNARDO LORGA, além de bastante correta, cria alguns momentos de suspense, com alguns "black-outs", totalmente integrada à proposta da peça.







FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Fabrício Branco
Direção: Vinícius Arneiro
Assistência de Direção: Andreas Gatto

Elenco: Kadu Garcia, Aliny Ulbricht, Bárbara Abi-Rihan e Jansen Castellar

Cenografia: Fernando Mello da Costa
Figurino: Ticiana Passos
Direção Musical: Marcelo H
Iluminação: Bernardo Lorga
Programação Visual: Tânia Grillo
Fotos: Vinícius Arneiro e Daniel Barboza
Produção Executiva: João Eizô Y. Saboya
Assistência de Produção: Alessandro Zoe
Direção de Produção: Sérgio Saboya

Patrocínio: Banco do Brasil
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil














SERVIÇO:

Temporada: De 09 de janeiro a 03 de março.
Local: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB - RJ – Teatro III).
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro.
Dias e Horários: De 4ª feira a domingo, às 19h30min.
Informações: (21) 3808-2020.
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia entrada).
Duração: 80 min.
Capacidade: 40 lugares.
Classificação Indicativa: 18 anos.
Gênero: Drama.







            Não cheguei a me “arrepiar”, nem pelo terror, nem pela peça, em si, contudo não posso negar que se trata de um espetáculo bem diferente de tudo o que está em cartaz, no momento, além de bem montado, com bastante esmero e profissionalismo, merecendo, assim, a minha recomendação, acima de tudo, pela atuação do elenco.





E VAMOS AO TEATRO!!!

OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE ESPETÁCULO DO BRASIL!!!

A ARTE EDUCA E CONSTRÓI!!!

RESISTAMOS!!!

COMPARTILHEM ESTE TEXTO, PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!!!


 
FABRÍCIO BRANCO, o jovem dramaturgo.





(FOTOS: VINÍCIUS ARNEIRO
e
DANIEL BARBOZA.)



































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