segunda-feira, 9 de setembro de 2013


JIM      UM GRITO EM MOVIMENTO NO AR
 

            Está em cartaz, de 3ª a 5ª feira, às 21 horas, e permanecerá até o final de setembro, no Teatro do Leblon (Sala Tônia Carrero), o espetáculo (musical) JIM, texto de Walter Daguerre, direção de Paulo de Moraes, com Eriberto Leão e Renata Guida como intérpretes.

            Embora goste muito de “rock’n’roll”, eu não me considero um roqueiro, nem quando tinha idade para isso.  Será que há limite de idade para ser roqueiro?  Não sei; mas, para se gostar de “rock”, certamente, não. 

Também Jim Morrison e a banda “The Doors”, da qual era líder e vocalista, nunca me atraíram tanto, já que a minha “praia” sempre foi um “light rock” (existe um?), mas não há como deixar de reconhecer a importância desse ícone e sua influência sobre a música pop que veio depois dele. 

Precocemente desaparecido, aos 27 anos, desconhece-se, ainda hoje, a sua “causa mortis”, por não ter sido realizada a autópsia.  Atribui-se a uma “overdose”.  Morreu em Paris, numa banheira, em 1971.

Jim foi influenciado por grandes filósofos, pensadores e escritores, como Nietzsche, Rimbaud, Baudelaire, Molière, Kafka, Balzac e Cocteau, dentre outros, influência essa que transportou para suas letras de canções e para outros escritos.  Não era nada “fraco” esse rapaz.

Mas não é dele que me proponho a tecer comentários, mas sim sobre o espetáculo JIM, baseado em sua conturbada, instigante e polêmica figura.

A peça, como muitos podem pensar, não se propõe a contar a biografia de Jim Morrison.  Trata-se de um momento na vida de um ardoroso fã dele, chamado João Mota, o qual, frustrado com os rumos de sua vida, decide, de forma alucinada, “acertar as contas” com o seu ídolo, fazendo-lhe uma “visita” ao cemitério onde este foi enterrado e propondo-lhe um jogo de roleta-russa.

            Mais por curiosidade e por “dever do ofício”, fui assistir ao espetáculo.  Havia, ainda, outros componentes que me indicavam uma ida àquele teatro: o texto de um autor que muito admiro, Walter Daguerre; a direção de um homem que merece todo o respeito, um polivalente peão de um tabuleiro de xadrez, chamado TEATRO, Paulo de Moraes; e as interpretações de dois atores que muito me agradam em cena: Eriberto Leão e Renata Guida.

            Fui à estreia, temendo ser denunciada, por minha voz e fisionomia, a minha desaprovação ao espetáculo, quando fosse cumprimentar os meus amigos e conhecidos, ao final da sessão.  Realmente, não o fiz, mesmo, mas por um outro motivo, este, sim, desagradável: estava bastante incomodado, com dor num dos joelhos, potencializada pelo desconforto da poltrona que ocupei, o que me empurrava, célere, para casa.  Não fosse isso, teria cumprido o ritual de praxe.  Mas a prova de que gostei do espetáculo são estas palavras.

            Nos agradecimentos, ao fechar do pano, Eriberto Leão, o idealizador do projeto, falou da coragem de Walter Daguerre e de Paulo de Moraes, quando aceitaram escrever e dirigir, respectivamente, a peça.  Entendi essa observação à minha maneira.  Aquele, por ter conseguido escrever um texto, às vezes, hermético (já revi o espetáculo, para dirimir algumas dúvidas que me haviam ficado) e de difícil costura, mas que atinge seu objetivo; este, pelo desafio de conter, em cena, o ímpeto de dois atores que tinham tudo para extrapolar os limites da interpretação, pelas personalidades que representam, e não o fazem, a não ser Eriberto, com seu João Mota, em algumas cenas, perfeitamente aceitável, pelo histórico da vida do personagem.  (Vida?)

            Eriberto Leão é um grande ator e se revelou um bom cantor de “rock”.  Sua movimentação, no minúsculo palco da Sala Tônia Carrero, magnetiza a plateia.  Não é a primeira vez que me agrada o seu trabalho nem a em que interpreta um texto de Daguerre.  Seu desempenho, em A MECÂNICA DAS BORBOLETAS (excelente espetáculo), no CCBB e, recentemente, reencenado nos palco do Imperator,, só fez aumentar a minha admiração por seu indiscutível talento.

Renata Guida atravessa uma trajetória profissional que conheço apenas há uns três ou quatro anos, o suficiente para reconhecer nela um talento que só faz crescer, a cada trabalho.  No último a que assisti, SARAU DAS PUTAS, ela esbanja desprendimento e verdade em sua interpretação. 

Dois pontos fortes da peça são a direção musical, de Ricco Vianna e a iluminação de Maneco Quinderé.

Ricco, que também é responsável por essa “gaveta”, na Armazém Companhia de Teatro, onde vem fazendo excelentes trabalhos, orienta três excelentes músicos (José Luiz Zambianchi, nos teclados; Felipe Barão, na guitarra; e Rorato, na bateria), uma banda que mexe com as estruturas daquela construção arquitetônica.  Sobra som no Tônia Carrero.  Seus arranjos são ótimos.

Maneco Quinderé é responsável por um dos melhores trabalhos de iluminação dos últimos tempos.  Nunca pensei que, um dia, pudesse seguir outras pessoas, na plateia, numa atitude tão inusitada.  Acreditem: aplaudimos a luz, numa determinada sequência que ocorre em uma das cenas.  Pode-se dizer que, como ocorre em UMA NOITE NA LUA, do brilhante João Falcão, magistralmente interpretado por Gregório Duvivier, a luz não chega a ser um personagem, mas quase.

Os figurinos de Rita Murtinho são bastante interessantes; simples, porém satisfatórios e condizentes com os dois personagens e a situação em que se inserem.

O cenário é simples, porém bastante interessante, também de Paulo de Moraes: num dos cantos, um túmulo, o de Jim, sob a forma de um gigantesco piano inclinado.  Por todo o palco, diferentes microfones, para captar as falas dos personagens, todas utilizando esse recurso tecnológico.  Compõem uma bela imagem.  

Recomendo o espetáculo e deixo, aqui, algumas das célebres frases de Jim Morrison, algumas delas pontuando a peça e servindo de motivação para que você vá assistir a JIM, além de serem muito pertinentes, neste momento revolucionário que estamos vivendo, de soltar as amarras e exigir um mundo melhor, o reconhecimento de nossa cidadania e o fim de uma longa era de mentiras e corrupção, além do sepultamento das impunidades:     

Jim Morrison
 
 
Eriberto Leão
 
Renata Guida e Eriberto Leão
 
 
“SE EXPONHA A SEU MEDO MAIS PROFUNDO; DEPOIS DISSO, O MEDO NÃO TEM MAIS FORÇA, E O MEDO DA LIBERDADE ENCOLHE E DESAPARECE. VOCÊ ESTÁ LIVRE.”

 

"ALGUNS NASCEM PARA O SUAVE DELEITE; OUTROS, PARA OS CONFINS DA NOITE.”

 

“O FUTURO É INCERTO E O FIM ESTÁ SEMPRE PERTO!”

 

“ISSO É O QUE CORRESPONDE AO VERDADEIRO AMOR: DEIXAR UMA PESSOA SER O QUE ELA REALMENTE É.”

 

“TUDO O QUE É DESORDEM, REVOLTA E CAOS ME INTERESSA; E, PARTICULARMENTE, AS ATIVIDADES QUE PARECEM NÃO TER NENHUM SENTIDO.  TALVEZ SEJAM O CAMINHO PARA A LIBERDADE.”

 

“A REBELIÃO EXTERNA É O ÚNICO MODO DE REALIZAR A LIBERTAÇÃO INTERIOR.”

 

“A FRAQUEZA DA MENTE ESCONDE O INFINITO DE NÓS.”

 

“SEMPRE FUI ATRAÍDO PELAS IDEIAS CONTRA A AUTORIDADE. GOSTO DAS IDEIAS REFERENTES À QUEBRA DE SISTEMA, DESTRONAMENTO DA ORDEM ESTABELECIDA."

 

“A ÚNICA OBSCENIDADE QUE CONHEÇO É A VIOLÊNCIA.”

 

“NÃO ME IMPORTARIA DE MORRER NUM AVIÃO.  SERIA UMA BOA FORMA DE IR.  NÃO QUERO MORRER DORMINDO, OU DE IDADE OU DE OVERDOSE.  QUERO SENTIR COMO É.  QUERO SABOREAR, OUVIR, SENTIR O CHEIRO DISSO.  A MORTE SÓ VAI ACONTECER UMA VEZ; NÃO QUERO PERDÊ-LA.”

"QUEREMOS O MUNDO E O QUEREMOS... AGORA"

“UM DIA, PEGUEI UMA MARGARIDA E FIZ O “BEM-ME-QUER, MAL-ME-QUER”…  NA PRIMEIRA VEZ, DEU “BEM-ME-QUER”; ENTÃO, ME AMA.  NA SEGUNDA, VEIO “MAL-ME-QUER”; MAS NÃO FIQUEI PREOCUPADO…  AS MARGARIDAS TAMBÉM PODEM MENTIR!”

Um comentário: