segunda-feira, 8 de julho de 2024

 “MAIO, ANTES QUE

VOCÊ ME ESQUEÇA”

ou

(UM TRATAMENTO LEVE PARA UMA TEMÁTICA DEMASIADAMENTE PESADA.)




         Ah! As boas surpresas do TEATROQue boa surpresa é o espetáculo “MAIO, ANTES QUE VOCÊ ME ESQUEÇA”, em cartaz até o dia 20 de julho de 2024 (VER SERVIÇO.), no Teatro do Centro Cultural Solar de Botafogo! Como não conhecia o trabalho do autor do texto nem da dupla de atores e, considerando a temática da peça, o mal de Alzheimer, que muito me apavora, confesso que relutei em aceitar o convite de RIBAMAR FILHO, assessor de imprensa do espetáculo. Apesar de ter pago R$ 55, por um período de menos de três horas de estacionamento – UM ASSALTO!!! -, valeu a pena ter assistido à peça.

 


            Talvez eu seja um dos poucos críticos de TEATRO que não tenha assistido a “Acredite, um Espírito Baixou em Mim”, uma COMÉDIA que já se tornou um grande fenômeno do TEATRO BRASILEIRO, uma vez que, caminhando para os 26 anos em cartaz, já foi assistida por mais de três milhões de espectadores, interpretada pelo mesmo par de atores que atuam em “MAIO, ANTES QUE VOCÊ ME ESQUEÇA”, ILVIO AMARAL e MAURÍCIO CANGUÇÚ. Depois do que vi, na última 6ª feira (06/07/2024), no palco do Teatro Solar de Botafogo, fiquei muito interessado em assistir àquela COMÉDIA.

 

 

 

 

SINOPSE:

Hélio (ILVIO AMARAL), que está acometido pelo Alzheimer, precisa passar um fim de semana na casa do filho, Mauro (MAURICIO CANGUÇÚ), com quem sempre manteve uma relação distante.

Mauro tem uma irmã, Ceci, que é quem cuida, de fato, do pai, e um irmão, Paulo, que mora longe e nunca aparece.

Durante esses dias juntos, enfrentando estranhamentos e revivendo episódios do passado, pai e filho se redescobrem e ressignificam seus afetos e memórias.


 

 

             Muito possivelmente, “MAIO, ANTES QUE VOCÊ ME ESQUEÇA” não vá atingir a marca de “Acredite, um Espírito Baixou em Mim”, porém tem tudo para fazer muitas temporadas, pela qualidade do espetáculo e sua importância na disseminação de orientações sobre como se deve tratar de um paciente com aquele terrível mal e dos cuidados que deve haver no contato com tal tipo de paciente, principalmente no que diz respeito ao trato entre pais e filhos. Esta é a segunda temporada no Rio de Janeiro, mas a peça vem sendo mostrada há quase quatro anos, desde sua estreia nacional, em novembro de 2020, ainda em plena pandemia de COVID-19, em Fortaleza, Ceará, na “Mostra de Teatro Transcendental”. Depois, seguiu para temporadas em Belo Horizonte e apresentações em várias cidades do interior de Minas Gerais. Também participou da reinauguração da “Casa da Ópera”, em Ouro Preto; do “Festival de Teatro” da “Mostra Tiradentes em Cena”; e da “Mostra do Teatro Brasileiro”, no Cine Theatro Brasil Vallourec, em Belo Horizonte, cidade sede da “Cangaral Produções Artísticas”, fundada por ILVIO e MAURÍCIO.

 

 

 

  O texto e a direção da peça são assinados por JAIRO RASO, para quem a peça “é um trabalho artístico e de conscientização”, com o que concordo plenamente e acrescento: e de utilidade pública, além de aplaudir a iniciativa, uma vez que este é mais um dos muitos papéis da ARTE, que salva (“É verdade este bilete (SIC)!” – Momento descontração). RASO entende muitíssimo do assunto, visto que é médico neurocirurgião, acostumado a lidar com e tratar (d)esse tipo de paciente. Sua vivência laboral foi plenamente aproveitada na boa dramaturgia, com diálogos bem claros e diretos, para serem assimilados por qualquer pessoa de QI médio. Ainda que o tema seja muito “áspero”, dorido, o autor do texto faz com que ele seja tratado com o máximo de naturalidade e respeito, abrindo espaço para o humor leve. Reforço a informação de que “O conhecimento teórico e prático que possui deu ao diretor a capacidade de navegar pelo tema também no palco, onde pai e filho, interpretados por Ilvio Amaral e Maurício Canguçú, redescobrem seus afetos entre memórias, lapsos e ressentimentos”. Pelo fato de o Alzheimer ser uma doença que atinge e afeta não apenas o paciente, mas a família toda, o autor é de opinião de a que a devastação que ela causa no seio de uma família inteira, sem falar no círculo de amizade mais próximo ao doente, “pode ser também uma oportunidade para se rever relações de afeto dentro de uma família. Também considero mais que pertinente, oportuna, a abordagem da temática. Ainda uma reflexão certeira de JAIRO RASO: “A peça é um drama que aborda o assunto em várias de suas facetas. Vai do riso à tensão conflituosa e violenta até a delicadeza da expressão do afeto”. O autor/diretor também criou a trilha sonora para a encenação.

 

 

 

   Penso que fugir a uma realidade que parece estar presente entre nós, cada vez mais, não seria a melhor atitude. Nada de varrer, para debaixo do tapete, a doença, fingir que ela não existe, na nossa família ou muito próxima a nós. Quanto mais aprendemos sobre o assunto, menos árdua se torna a tarefa de lidar com a doença; menos pesado se torna o fardo, principalmente para quem lida diretamente com o acometido do mal.

 

 

 

   A montagem é bastante simples, o que jamais será sinônimo de ruim ou coisa parecida. Pelo contrário, grande é o mérito de todos os envolvidos no projeto, por conseguirem tocar tanto os corações dos espectadores com um espetáculo bonito e sem gorduras nem invenções fantásticas, como a “da roda”. O cenário, de ANDRÉA RASO, se limita a uma paisagem no centro do fundo do palco, com árvores e folhagens, representando o exterior do apartamento de Mauro. Ocupando o espaço cênico poucos móveis: apenas um sofá, num dos cantos do palco, e, do outro, uma bancada com duas cadeiras. O que resta de livre no palco é para ser bem ocupado pelos atores, obedecendo a uma discreta direção de movimento. Boas e precisas marcações, nenhum movimento parecendo ser artificial ou presumível. ANDRÉA também é responsável pelos adequados e sóbrios figurinos. O espetáculo ganhou uma, também, discreta iluminação, criada por MARINA ARTHUZZI e JAIRO RASO, sem firulas nem nada mirabolante, o que não ficaria mesmo nada bem nesta peça. O princípio do “menos é mais” foi aplicado, com bastante acerto e sabedoria, pela dupla de iluminadores. 

 

 

           Os dois atores tem um ótimo rendimento no palco, com um brilhantismo ímpar em algumas cenas, muita cumplicidade, que pode até ser justificada pelo hábito de contracenarem entre si há muito tempo. Ambos são generosos e "armam as jogadas para o outro ampliar o placar da partida". Arrisco dizer que, pela minha ótica, ILVIO AMARAL merece uma indicação de "Melhor Ator", pelo menos, a algum prêmio de TEATRO, pela composição de seu personagem, o "Seu Hélio", como o filho o trata, numa prova mais que concreta da distância que há entre eles.        


 


 

FICHA TÉCNICA:

Texto e Direção: Jair Raso

Assistente de Direção: Andréa Raso

Elenco: Ilvio Almaral e Maurício Canguçú

Cenário e Figurino: Andréa Raso

Iluminação: Marina Arthuzzi e Jair Raso

Trilha Sonora: Jair Raso

Técnico Iluminação e Som: Gabriel Guilardo

Fotos: Pedro Vale, Raquel Guerra e Stan Carvalho

Programação Visual: Márcio Miranda e Samuel Araújo

Administração: Mauro Canguçú

Produção: Cangaral Produções Artísticas

Coordenação de Produção RJ: Joaquim Vidal

Assessoria de Imprensa: MercadoCom – Ribamar Filho e Gabriel Folena

 

 


 



 

SERVIÇO:

Temporada: De 21 de junho a 20 de julho de 2024.

Local: Teatro Solar de Botafogo.

Endereço: Rua General Polidoro, nº 180 – Botafogo - Rio de Janeiro.

Horários: 6ªs feiras e sábados, às 20h.

Valor dos Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada).

Ingressos à venda pelo https://bileto.sympla.com.br/event/95345

Capacidade: 175 espectadores.

Indicação Etária: 14 anos.

Duração: 60 minutos.

Gênero: Drama.

 

 

 

 

           Repetindo o que já falei no início desta crítica, ao receber o convite para conhecer o trabalho da “Cangaral Produções Artísticas”, pensei, mais de uma vez, se deveria aceitá-lo, se eu gostaria de assistir a uma peça que girasse em torno de uma temática que me assombra, que é um fantasma na minha vida. Depois de ter assistido à peça, vi que não havia motivos para a minha apreensão. Recomendo, com empenho, o espetáculo.

 


 

 

 

 


FOTOS: PEDRO VALE,

RAQUEL GUERRA

E

STAN CARVALHO

 

 

 

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