segunda-feira, 22 de julho de 2024

 

“GOSTAVA

MAIS

DOS PAIS”

ou

(GOSTAR IGUALMENTE?

NUNCA!

MAS POR QUE NÃO

TAMBÉM?)

ou

(HUMOR LEVE,

INTELIGENTE

E EMOCIONANTE.)

 

 

 

               Sempre me incomodou bastante, e vai continuar incomodando, o fato de alguns “artistas”, em todos os setores “surfarem na onda” de seus pais famosos, sem apresentar o menor talento para o que se propõem a fazer, muitas das vezes, apoiados por uma rede de gente que, de certa forma, ganha alguma coisa com isso (Leia-se: alguns setores da imprensa, divulgando o que não deviam, visando ao lucro.). Por outro lado, satisfaz-me muito ver outros – estes sim - que, “por acaso”, são filhos desta ou daquela “celebridade” (Tenho um ranço desse termo!!!. Usei-o só para ter a oportunidade de dizer isso. Momento descontração!), sem se valerem de sua ancestralidade para a ocupação de um “status” artístico de que, realmente, se fazem merecedores, por seu talento e empenho pessoal, por mais que os nomes do papai ou da mamãe possam ter exercido uma certa facilidade na ascensão de suas carreiras. Aqueles costumam “não se criar” por muito tempo; estes, ao contrário, se mantêm no estrelato, pelo critério único da meritocracia. São, felizmente, a maioria. Neste segundo grupo, incluo, sem pestanejar, os nomes de BRUNO MAZZEO e LUCIO MAURO FILHO.

 

 

 

      BRUNO e LUCINHO se reuniram para prestar uma merecidíssima homenagem a seus pais, os quais nem precisariam de apresentações: CHICO ANYSIO e LUCIO MAURO, respectivamente, dois dos nossos maiores humoristas de todos os tempos. Minha admiração maior recai sobre o primeiro, pelo fato de também ter sido um grande redator de humor, além de seu estupendo trabalho de ator. CHICO, por sua galeria de dezenas de personagens criados por ele mesmo, sem que, em nada, um se parecesse com um outro, na caracterização, na voz e na maneira de falar, merece, no meu critério, o título me “maior intérprete de personagens do Brasil”. Ainda que merecedor do respeito e da admiração dos brasileiros, costumo dizer que, se tivesse nascido nos Estados Unidos ou num grande país europeu, CHICO ANYSIO estaria, em termos de prestígio, no mesmo patamar de um Charles Chaplin, com a certeza de que não estou exagerando, numa mera manifestação de ufanismo.  

 

 

 

           Se a proposta do espetáculo fosse “somente” fazer a citada homenagem, já estaria valendo a pena o deslocamento até o Teatro Casa Grande, onde a peça estreou, em 20 de junho próximo passado, já atingindo a lotação esgotada, para toda a temporada, nos primeiros dias em cartaz (Cerca de 1.000 lugares por sessão.). Um tiro bem no centro do alvo, sem a menor dúvida, unicamente pela qualidade da peça e o talento da dupla de atores, sem falar no acerto dos demais elementos da FICHA TÉCNICA. Mas os “meninos”, como sempre me refiro a eles, ainda nos fazem rir muito com uma crítica aberta à era digital, opinião com a qual me identifico bastante, uma reflexão sobre a adaptação à era da tecnologia virtual, o desafio de se manter relevante na iminência de atingir os 50 anos e a preservação da identidade diante da pressão da herança paterna.

 

 

 

        O espetáculo, que, de antemão, JÁ RECOMENDO, SEM A MENOR SOMBRA DE DÚVIDA, no fundo, é uma dupla celebração: ao legado que CHICO e LUCIO (Pai) nos deixaram e a uma profícua amizade entre os dois grandes atores, seus filhos, sendo que, BRUNO, além de atuar, ainda seguiu os passos do pai, na criação de personagens e na redação de adoráveis e inteligentes textos de humor. Se algum(a) filho(a) de um(a) famoso(a) cantor(a) quiser seguir, profissionalmente, a carreira que conheceu em casa e não tiver talento para isso, poderá até enganar durante um tempo, contudo, se a intenção é ser um(a) humorista, e a tal pretendente não lhe foi dado, naturalmente, talento para aquilo, creio que o desastre será bem maior e, durante muito breve tempo, “brilhará sua estrela”. Isso porque a quem trabalha com COMÉDIA, redigindo ou atuando, são necessárias duas qualidades que nascem com o indivíduo e não são ensinadas em nenhuma escola de TEATRO: inteligência e rapidez de raciocínio, para os improvisos, os quais são, por demais, toleráveis em qualquer espetáculo que se propõe a fazer rir. BRUNO e LUCINHO vieram ao mundo com total “pendor” (Entreguei a idade. O Tio Google ajuda. Momento descontração 2.) para o que fazem e são muito bem recebidos, aplaudidos e elogiados por quem sabe diferir uma boa COMÉDIA de um texto apelativo e de mau gosto. É preciso, também, que haja um bom entrosamento em cena, o que há de sobra entre a dupla.

 

 

 


SINOPSE:

“GOSTAVA MAIS DOS PAIS” é uma deliciosíssima COMÉDIA em que BRUNO MAZZEO e LUCIO MAURO FILHO revelam, com muito humor, as dificuldades de entender os seus lugares no mundo contemporâneo, ao mesmo tempo que lidam com o peso de serem filhos de dois ícones do riso: Chico Anysio e Lucio Mauro, respectivamente.

 


 

 

  Embora os dois, principalmente BRUNO, pudessem, se encarregar de escrever o roteiro do espetáculo, julgo bastante oportuna a ideia de terem convidado ALOÍSIO DE ABREU e ROSANA FERRÃO, para se encarregarem da dramaturgia, arrumar as ideias que os dois tinham em mente, dar-lhes um formato de espetáculo de HUMOR, na melhor acepção da palavra. E o que é preciso para se atingir tal acepção? Simplesmente, que as piadas funcionem, que sejam respeitados os limites do aceitável, em matéria de HUMOR. Mas há algo “inaceitável” no HUMOR? Evidentemente, sim. Não existe, hoje em dia, a menor chance de se aceitar, por exemplo, um dito “humor” que critica e ridiculariza deformidades físicas e anomalias no campo do psíquico. É preciso que se tenha, e se pratique, a empatia e o respeito ao ser humano, para entender como deve se sentir, no seu âmago, uma criatura exposta ao ridículo, por ser portadora de alguma deformidade em seu corpo ou algum desvio mental, fruto de uma doença ou síndrome, assim como seus parentes e amigos. Isso, a meu juízo, é uma desumanidade! Embora, em alguns casos, eu ache um exagero a aplicação do chamado “politicamente correto”, na área a que me referi, penso que ele deva servir de parâmetro para o respeito ao ser humano. E isso é o que acontece nesta peça. 

 

 

   E por que essa – pode-se dizer – digressão, mas que não o é, de verdade? Para afirmar que “GOSTAVA MAIS DOS PAIS” é um espetáculo que nos faz gargalhar à farta, sem qualquer tipo de apelação. E, aqui, refiro-me, também, aos ditos “palavrões”, quando estes são empregados em abundância e sem a menor justificativa, chegando, às vezes, a agredir nossos ouvidos. Não é, EM ABSOLUTO, um pudico quem está dizendo isso. Nada contra as “palavras de baixo* calão”. (*O termo é um pleonasmo grosseiro, visto que “calão” já significa a camada mais baixa da sociedade, na qual esses termos proliferam. Quando se diz “calão”, já se trata de uma palavra grosseira ou palavrão. Dessa forma, não se deve usar “baixo calão”, se “calão” já é um linguajar “baixo”. Crítica teatral também é cultura! Outro momento descontração!).

  

 


  Mas um bom texto de HUMOR bom, inteligente, como o deste espetáculo, não se basta, para provocar o riso; é preciso que seja dito por quem sabe fazê-lo, seguindo as entonações necessárias, no ritmo correto, obedecendo às pausas devidas... BRUNO e LUCINHO tiram isso de letra, pelo talento próprio de cada um e, também, por terem tido uma “escola” em casa. E ainda sabem, de forma magistral, trabalhar as máscaras faciais, que potencializam a força das piadas. Ambos também nos fazem rir muito com alguns momentos de “silêncio expressivo”.

 


     Dois grandes artistas em cena atraem todos os focos de atenção da plateia. Então, não há necessidade de cenários e figurinos. Estes se tornam totalmente desnecessários. Penso que a dispensa, praticamente, de ambos, em detalhes especiais, tenha partido da visão competente e profissional de uma excelente atriz cômica, que é DEBORA LAMM, a qual vem, já de algum tempo, se aplicando na arte de dirigir espetáculos de TEATRO, fazendo-o com correção e perfeição, sempre pautada em explorar o potencial de seus dirigidos, como já atestei em outros espetáculos com esse trabalho assinada por ela. DEBORA executa um excelente trabalho, não interferindo na essência e na naturalidade da dupla de atores. São dela estas palavras: “Rir de si mesmo é humor esperto. Numa mistura de autoficção e variados personagens, os meninos fazem um divertido panorama de suas próprias trajetórias, abraçam a crise da maturidade em meio ao declínio do patriarcado e, simultaneamente, emocionam ao falarem da importância da amizade e parceria que perpassam os anos”.

 

 


  Para que fique o registro, a cenografia (DANIELA THOMAS) se resume a uma parede branca, ao fundo, com duas portas, e duas cadeiras, usadas em algumas cena, Na referida parede são projetadas imagens, inclusive a de uma peça (Coreografia, mais conhecida como “dancinha”.) que serviria, segundo a ideia de LUCINHO, para fazer com que a dupla, um recém-entrado nos 50 anos e outro quase lá, pudessem se fazer conhecer, junto à população jovem, grande consumidora do que é veiculado pela internet. As imagens da "dancinha" estão atreladas a uma canção, interpretada pelos dois, chamada "Balança a Sua Raba". Os figurinos (MARINA FRANCO) são simples, no estilo “casual”; e não era mesmo necessário mais nada do que isso. 

 

 

 

   Dos demais elementos de apoio a uma produção teatral, acrescento que a luz, de WAGNER ANTÔNIO, também se adéqua à proposta da direção do espetáculo e, um detalhe muito especial, fiquei muito feliz, por não ter perdido absolutamente nada do texto, graças ao excelente desenho de som (Não há, na FICHA TÉCNICA, referência quanto a quem o concebeu.). Também tem uma potente importância, na encenação, a trilha sonora, assinada por PLÍNIO PROFETA.  

 

 

 

   Alguém já parou para pensar na responsabilidade que pesa sobre os ombros de quem carrega, no seu DNA, nomes tão cultuados, pelo imaginário popular, como os de Chico Anysio e Lucio Mauro? O aspecto de querer provar talento sem precisar se valer dessa “muleta” é, na verdade, “o fio condutor do espetáculo, embora o humor corra nas veias de BRUNO MAZZEO e LUCIO MAURO FILHO”. Logo no início, por meio de muitas projeções de vídeos, BRUNO mostra (Ou prova?) quão incomodado fica, e com toda razão, quando as pessoas que o entrevistam parecem estar “usando-o”, para falar do pai. Momento hilário, fruto de uma interessante pesquisa, como, praticamente, todos os outros da peça, sem a menor exceção.

  

 

     Por oportuno, é necessário dizer que o espetáculo tem uma estrutura dramática representada no palco, pela dupla, obviamente, e, também, nas projeções na tela, ao fundo do palco. Os atores interpretam cerca de dez personagens e várias versões de si mesmos, numa série de esquetes que se entrecruzam com as suas histórias de vida com temas contemporâneos, como as barreiras impostas ao humor e a dificuldade de encontrar os seus lugares na era digital, a cultura do cancelamento, a instantaneidade das viralizações e as ‘fake News’”.

 

 

 

     No que tange aos esquetes, todos me arrancaram muitas gargalhadas. O de pai e filho, este estudando muito, a fim de fazer Enem para medicina e o pai, indo na contramão do que seria o esperado, na louca ideia de que seu rebento se torne um “influencer” (Naturalmente, comentário meu, para os “idioters”. A piada não é minha, que não tenho competência para isso, mas a considero genial e extremamente verdadeira.). É de um humor inteligente ao extremo. Também o momento em que os atores contracenam com a imagem projetada de uma pretensa e futura “empresária”, mais uma “coach inútil” do que outra coisa, é de quase me fazer morrer de rir. A moça, interpretada, virtualmente, pela atriz LUÍSA PÉRISSÉ – ótima, por sinal, e prima de BRUNO – usa, abundantemente, um vocabulário específico da área de comunicação tecnológica, em inglês, naturalmente – para impressionar mais -, que “assusta” os dois incautos e “ignorantes” “clientes”. Um outro esquete, passado num restaurante, entre um cliente “normal” (LUCINHO) e um “maitre” “excêntrico”, na falta de um adjetivo melhor (BRUNO), é outro grande achado dos roteiristas. Nele, com o qual me identifiquei bastante, na figura do cliente, o foco recai sobre aquilo que, às vezes, chego a considerar uma grande estupidez: exigir-se um linguajar “politicamente correto”, gerando decodificações completamente opostas ao que o emissor pretende comunicar. E o receptor se apura em “ver chifres em cabeça de elefante”. Não conseguiria dizer de qual dos esquetes mais gostei, porém creio que uma atenção toda especial deva ser dada a um que se passa numa loja comercial, a “Raivolândia”, onde um cliente, a fim de destruir o moral de terceiros e infernizar suas vidas, entra para “comprar fake news”. Que ideia genial, uma das coisas mais engraçadas que já vi num palco! Mais numa linha simples, porém não menos hilária, é a cena entre um pai e um filho, este desejando cantar e se acompanhar ao violão, sem a menor condição técnico-artística para fazê-lo.

 

 


    Para aguçar, mais ainda, em que me lê, o desejo de correr ao Teatro Casa Grande, para conferir o espetáculo, digo-lhes que os momentos finais das peça, duas cenas exatamente, se apresentam na formam de duas lindas surpresas, sobre as quais, absolutamente, eu não teria coragem de dar o mínimo de “spoilers”. Mais interessantes se tornam, na medida que são, de verdade, duas indeléveis surpresas, pelo que aplaudo bastante quem teve a ideia de incluí-las na peça.

 

 

 

   “Esse espetáculo é, antes de tudo, a celebração da grande amizade que nossos pais passaram para nós. Nossas trajetórias se entrelaçaram por conta própria, repetindo uma feliz parceria deles, mas do nosso jeito, no nosso tempo”, resume LUCIO. “Na peça, nós os usamos para falar sobre a passagem do tempo e a tentativa de entender o nosso lugar neste mundo novo”, completa BRUNO.

 

 

 

  

 

 

FICHA TÉCNICA: 

Dramaturgia: Aloísio de Abreu e Rosana Ferrão

Direção: Debora Lamm

 

Elenco: Bruno Mazzeo e Lucio Mauro Filho

 

Cenografia: Daniela Thomas

Figurino: Marina Franco

Iluminação: Wagner Antônio

Trilha Sonora: Plínio Profeta

Assessoria de Imprensa: Factoria Comunicação: Vanessa Cardoso e Eduardo Marques

Fotos: Francio de Holanda

 

 

 


SERVIÇO:

Temporada: De 20 de junho a 11 de agosto de 2024. 

Local: Teatro Casa Grande.

Endereço: Avenida Afrânio de Melo Franco, nº 290 - A – Leblon – Rio de Janeiro.

Dias e Horários: 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às 18h.

Valor dos Ingressos: Valores variando de R$ 150 a R$19,30 (meia-entrada), de acordo com a localização e o desconto a que o espectador fizer jus (Consultar o “site” do Teatro.).

Bilheteria e Pontos de Venda: Endereço da Bilheteria (sem taxa de conveniência): Avenida Afrânio de Melo Franco, 290 - A, Leblon, Rio de Janeiro.

Horários de funcionamento da bilheteria física: 4ª feira, das 12h às 18h; de 5ª feira a domingo, das 15h até 30 minutos após o início da última sessão. Em dias de espetáculo, mesmo durante a semana, sempre a partir das 15h. Formas de pagamento: dinheiro, cartão de débito e cartão de crédito (Visa, Mastercard e Elo).
“Site” de vendas: 
eventim.com.br .

Classificação Etária: 14 anos.

Duração: 80 minutos.

Gênero: COMÉDIA.

 


 

Os atores e a diretora 

(Foto: O Globo.)

 

            Nada mais a acrescentar, a não ser que assisti à peça duas vezes e ri, igualmente, nas duas. Acho que, até mesmo, toparia voltar a me divertir bastante com BRUNO e LUCINHO.

 

 

FOTOS: FRANCIO DE HOLANDA

 


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