“A CASA DE
HUGO IVO”
ou
(“ABRA AS
SUAS ASAS,
SOLTE SUAS
FERAS,
CAIA NA
GANDAIA,
ENTRE NESTA
FESTA!”
- “DANCING
DAYS” –
NELSON MOTTA
E RUBAN)
Desde quando recebi o convite para
assistir a uma peça teatral, “A CASA DE HUGO IVO”, em cartaz no Teatro III do CCBB – Rio de janeiro (VER SERVIÇO.), fiquei
bastante curioso e agendei, junto à assessoria
de imprensa (Marrom Glacê Comunicação) minha ida àquele simpático e
importantíssimo Centro Cultural,
no mais breve tempo que me fosse possível. E meu interesse pelo espetáculo só
fez crescer, à medida que ia ouvindo comentários
elogiosos à peça, vindos de amigos próximos, em cujo bom gosto confio. A
temática central da montagem gira em torno do estigma relacionado ao vírus HIV, ainda que este tenha
perdido bastante do seu lado “assassino”,
graças aos avanços da Ciência,
mas não podemos negar que ainda existem muitas pessoas que se afastam de indivíduos
diagnosticados como soropositivos, com medo sabe-se lá de quê, e outras que ainda morrem por causa do HIV. Visto apenas por
este ângulo, deixando-se de lado outros, o espetáculo já tem seu valor garantido,
como um vetor de informação e, portanto, algo de interesse público, uma vez
que, aborda o HIV
por meio de metáforas, trabalhando a desestigmatização do tema.
Foi com tal intenção que o multiartista ZÉZA escreveu o texto da peça para esta montagem teatral inédita, feita pela MULTIFOCO CIA. DE TEATRO, dirigida por RICARDO ROCHA. Trata-se de uma interessante encenação que se utiliza de diversas formas de linguagens cênicas, a saber: acrobacia circense, TEATRO e dança, oferecendo, a pessoas com necessidades especiais, a oportunidade de se sentirem acolhidas, em sessões com tradução em língua de sinais (LIBRAS). De um total previsto de 28 apresentações, 8 são com tradução simultânea de LIBRAS e 2 contando com audiodescrição ao vivo. E mais: com incentivo da Prefeitura do Rio de Janeiro e focada em receber um público de jovens e estudantes, a montagem realiza também apresentações gratuitas e vespertinas, em paralelo com a temporada noturna e independente, “para alcançar o grande público”, ambas no CCBB - RJ.
SINOPSE:
A peça aborda o vírus HIV,
isento de estigmas, trabalhando o tema através de metáforas.
Hugo Ivo (ZÉZA) recebe
pessoas para uma festa em sua casa e promete “diversão
sem limites”.
Mas o que parecia um acordo com consentimento se
revela invasivo e tóxico.
A festa, que nunca acaba, chega à
beira do colapso, e é preciso parar.
Será necessário encontrar novas
formas de habitar e conviver; novos horizontes serão abertos.
Um pacto para a construção de novas
pontes contra a desinformação, contra os estigmas
e o preconceito, em favor do respeito, da diversidade
e da saúde.
O “didático” costuma caminhar, no
imaginário popular, de mãos dadas com o “chato”, o “enfadonho”. Seriam
capazes de imaginar um espetáculo extremamente didático, sem o menor ranço de entediante,
algo nada maçante e, muito pelo contrário, uma encenação que dura 90
minutos cronológicos e um tempo muito inferior, do ponto de vista
psicológico, quando o nosso tempo interior não bate com o exterior? A peça
termina e temos a impressão de que mal começara; e sentimos aquele pesar: “Que
pena que já acabou!”. Fica o gostinho do “quero mais”, o que é um
bom sinal.
Voltando a bater na mesma tecla, fico muito feliz, quando
vou ao Teatro com uma boa expectativa e, ao sair, constato que ela se
tornou muito mais robusta do que eu imaginara. Foi como deixei o histórico
prédio do CCBB – Rio, na noite de ontem (18/07/2024), voltando
para casa agradecendo à assessoria de imprensa da peça, na pessoa der BRUNO MORAIS, pelo convite, e ao
elenco, pelo imenso prazer que me proporcionaram.
O espetáculo já começa no corredor que dá acesso à sala de
exibição, com uma “pré-festa”, uma espécie de “aquecimento”.
Recepcionados por alguns elementos do elenco, oferecem-nos preservativos,
masculinos e FEMININOS também (Isso é importantíssimo!), com o
apoio do “Grupo Pela Vidda!” – com dois “d” mesmo -, que
merecerá, ao final destes escritos, um espaço de divulgação; uma cachacinha (Onde já se viu festa sem
bebida?) e a oportunidade de cantarmos num karaokê. É muito alegre,
leve e divertido. Eu, que já fui um “rato dos karaokês”, há muitos anos
afastado dos microfones, jamais poderia imaginar que iria ao CCBB
e receberia um microfone para cantar “Aparências”, a “canção-chiclete”, rainha
desse tipo de entretenimento. Ninguém é obrigado a cantar, a fazer nada ali,
que não seja de sua vontade. É claro que soltei a voz! Quem quiser também pode “soltar
a franga”, sem nenhum pudor ou censura.
Já no interior, propriamente dito, da sala de espetáculos,
já acomodados, percebemos que, como “voyeurs”, também somos convidados
para aquela celebração coletiva. Ninguém ali pode se comportar como “penetra”.
Menos ainda, não se penetra nem se é penetrado. A única “penetração” permitida é
na alegria daquela festa e se deixar levar por um texto inteligente, na boca de
um formidável elenco, que, além de representar, demonstra uma força física e
muita agilidade, assumindo posições acrobáticas, além de demonstrar ser um
ótimo encontro de gente que sabe dançar. As coreografias são alegres; simples,
porém interessantes. Não há, na FICHA TÉCNICA, alusão a quem as
concebeu. Talvez tenham sido desenhadas pelo mesmo excelente profissional
responsável pela direção de movimento: PALU
FELIPE (A conferir.).
“A CASA DE HUGO IVO” é daqueles espetáculos sobre os quais se pensa em quem seria o(a) protagonista e, ainda que, tecnicamente, essa rubrica caiba ao personagem dono da casa, pelo estupendo desempenho do quinteto de atores, não pestanejo e divido os 100% da atuação pelos cinco, em fatias iguais de 20%. Todos são protagonistas, na minha avaliação. São eles: BÁRBARA ABI-RIHAN, DIOGO NUNES, ERICK TULLER, FERNANDA XAVIER e ZÉZA. É surpreendente o trabalho de todos, com uma nova surpresa no minuto seguinte ao de uma cena. Além do já difícil trabalho de interpretar, é digna de muitos elogios a capacidade de decorar todos movimentos que O QUINTETO tem que fazer, para movimentar, DURANTE TODO O ESPETÁCULO, as “peças” de uma cenografia “de fazer cair o queixo” de qualquer espectador sensível; uma obra de arte a merecer, no mínimo, indicações a prêmios. É criação de RICARDO ROCHA, que também dirige a peça e, por esse mesmo motivo, já projetou um cenário, naturalmente, pensando nas marcações e nas múltiplas disposições, e configurações daquela “peça-chave”, a única criação cenográfica da encenação, que lembra um origami gigante, o qual não apenas adorna, mas, sobretudo, interage com os atores e os desdobramentos da história. “O espetáculo traz uma grande metáfora da relação do HIV com as diversas etapas do vírus com o corpo humano: da entrada ao colapso do corpo, até o tratamento com os medicamentos antirretrovirais. A infecção é tematizada numa pessoa que não é LGBTQIAPN+ justamente para desassociar a infecção desta população, algo tão comum e equivocadamente relacionado”, pontua RICARDO. Não sei se poderão entender – TÊM QUE ASSISTIR À PEÇA!!! -, mas não considero nenhum exagero ou absurdo afirmar que o cenário é um sexto actante.
HALYSON FÉLIX é
responsável pelos ótimos figurinos, confeccionados em cores
vivas, vibrantes, bem coloridas, como devem ser as “roupas de festa”.
RICARDO ROCHA, o “mentor”
daquela “saudável loucura”, por dirigir o espetáculo, também assina uma
iluminação
frenética, com efeitos de cores de uma incalculável paleta a cobrir de brilho e
cores todo o espaço cênico. Sua direção é algo que marca o espectador sensível,
o leigo, e, mais ainda, aqueles que têm algum conhecimento de TEATRO.
Quando se pensa que o diretor já nos desafiou o
suficiente, com suas ideias e marcas, eis que surge algo mais impressionante
ainda. RICARDO deu ao espetáculo um
colorido de festa; mas uma festa especial, na qual são discutidos assuntos
seriíssimos, como mariposas em torno de uma lâmpada acesa, com destaque maior
para o vírus HIV. Um trabalho que marca.
Já falei um pouco sobre o formidável elenco, assim
como da direção, contudo reconheço que a genialidade do diretor “ficaria
no vácuo”, se ele não pudesse contar com cinco profissionais talentoso,
dedicados e atentos ao que fazem. Todos têm seus momentos de protagonismo
real e sabem muito bem como aproveitá-los, em cenas mais tensas e
dramáticas e naquelas que são usadas como válvula de escape, provocando risos.
O espetáculo é uma soma só de acertos, que contou, também, com
importantes participações, como a de AYANA
DIAS, que prestou uma consultoria dramática a ZÉZA, autor do texto e das composições;
VINÍCIUS MOUSINHO, na direção
musical e na trilha sonora, além de parceiro de ZÉZA, nas composições originais; CAROL FUTURO, na preparação vocal; DIEGO NUNES, no visagismo; além de VIVIANE PEREIRA, atriz que, durante a
encenação “invade”, pontualmente, o espaço cênico, com algumas breves
intervenções em LIBRAS.
Dando um delicioso mergulho no excelente “release” a mim enviado
pela assessoria
de imprensa, vi que ZÉZA,
autor do texto, considera sua obra como uma “saída oficial desse segundo
armário, chamado HIV”. São palavra dele: “Qualquer pessoa tem o direito,
assegurado por lei, de manter a sua sorologia em sigilo, mas,
há anos, eu falo sobre ser uma pessoa vivendo com HIV. Só que é difícil falar
abertamente sobre esse tema ainda tão estigmatizado e silenciado pelo
preconceito. As pessoas têm dificuldade de falar de HIV,
porque toca em dois temas tidos como polêmicos: o sexo e a morte.”.
Diferente de hoje em dia, antes, o “HIV era sinônimo de uma sentença de fim;
na contemporaneidade, o cenário é bem outro”, graças aos cientistas,
que não se cansam de se empenhar pela cura da AIDS e, ainda não tendo conseguido,
pelo menos chegam perto, criando mecanismos de defesa contra o vírus,
capacitando o infectado a levar uma vida como qualquer outra pessoa. Segundo ZÉZA,
a comunidade LGBTQIAPN+, da qual é um dos representantes, “sempre
foi o principal alvo de todos os preconceitos ligados ao vírus e,
talvez por isso mesmo, seja a grande responsável pelos avanços que
conseguimos em relação a esta epidemia. Esta história se
compromete a afirmar que o vírus pode acometer qualquer pessoa,
independente (sic) da raça, gênero ou orientação sexual”,
pondera.
FICHA TÉCNICA:
Dramaturgia e Composições: Zéza
Consultoria
Dramatúrgica: Ayana Dias
Direção: Ricardo Rocha
Elenco: Bárbara
Abi-Rihan, Diogo Nunes, Erick Tuller, Fernanda Xavier e Zéza
Cenografia: Ricardo
Rocha
Iluminação: Ricardo
Rocha
Figurino: Halyson Félix
Direção de Movimento:
Palu Felipe
Direção Musical e Trilha
Sonora: Vinícius Mousinho
Composições Originais:
Vinícius Mousinho e Zéza
Preparação Vocal: Carol
Futuro
Assistente de Preparação Vocal: Zéza
Visagismo: Diogo Nunes
Preparação em Libras:
Laís Rosa
Intérprete de Libras:
Claudia Chelque
Assessoria de Imprensa:
Marrom Glacê Comunicação
Mídias Sociais: Viviane
Dias
Filmagem e Fotografia:
Daniel Debortoli
Audiovisual: Codigos.art
Programação Visual: Zéza
Produção Executiva:
Clarissa Menezes e Fernanda Xavier
Assistência de Produção:
Chris Rebello
Direção de Produção:
Multifoco Produções Culturais (Bárbara Abi-Rihan, Clarissa Meneses, Ricardo
Rocha e Viviane Pereira)
Realização: Multifoco
Companhia de Teatro
SERVIÇO:
Temporada: De 11 de julho a 11 de agosto de 2024.
Local: CCBB Rio de
Janeiro (Teatro III).
Endereço: Rua Primeiro
de Março, nº 66 – Centro (Candelária) – Rio de Janeiro.
Tel. (21) 3808-2020.
Dias e Horários: De 5ª
feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$
30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada), disponíveis na bilheteria física ou no “site” do CCBB (bb.com.br/cultura) (Estudantes, maiores de 65 anos e
Clientes Ourocard pagam meia entrada.)
Apresentações gratuitas:
17, 19, 24, 26 e 31/07 e 01, 07 e 08/08 – todas às 14h.
Classificação Indicativa:
16 Anos.
Duração: 90 minutos.
Gênero: “Dramédia” (Termo, atualmente, em uso, para designar um
Drama com pitadas de COMÉDIA.)
SOBRE O
“GRUPO PELA VIDDA”:
(Texto extraído da internet, com supressões e
adaptações.)
O “Grupo Pela VIDDA do Rio de Janeiro (GPV-RJ)”
foi fundado em 24 de maio de 1989, pelo escritor e ativista Herbert
Daniel.
É uma ONG (Organização Não-Governamental)
de luta contra a AIDS.
É uma instituição sem fins lucrativos,
que realiza ações baseadas no trabalho voluntário e na solidariedade.
Atua, também, na parte de Direitos
Humanos e Controle Social.
Trata-se do primeiro grupo fundado no Brasil
por pessoas vivendo com HIV e AIDS, seus amigos e
familiares.
Suas ações e iniciativas são garantidas
pela intensa dedicação de voluntários e de profissionais engajados na luta
contra a epidemia de AIDS no país.
São várias pessoas envolvidas no
quotidiano da organização (dentre usuários, voluntários e funcionários) e um
importante quadro de voluntários que atuam em várias ações, projetos e
atividades pontuais e/ou estratégicas (manifestos, o 1º de dezembro (“Dia Nacional de
Combate à AIDS”), eventos etc.).
Como não tem fins lucrativos, o “GPV-RJ”
se mantém por meio de uma série de financiamentos de instituições brasileiras e
internacionais que atuam em saúde e desenvolvimento social.
Conta, também, com um grande número de
importantes parcerias locais, como organizações que lutam pela defesa da
cidadania e a rede pública de saúde.
Os objetivos principais do “Grupo
Pela VIDDA-RJ” são a ruptura do isolamento e a desconstrução do estigma
relacionado à doença; a reintegração no quotidiano social das pessoas vivendo com
HIV
e AIDS; por fim, a defesa dos direitos e a garantia da dignidade
dessas pessoas.
Para tanto, o “Grupo” desenvolve
diversas atividades de ajuda mútua, em sua sede, para diversos grupos
específicos (mulheres, homens, jovens, travestis etc.).
Desde 1990, a organização
oferece assistência jurídica gratuita às pessoas afetadas pela epidemia, já
tendo beneficiado mais de 3.500 indivíduos.
Criou o primeiro serviço regular de
informações telefônicas sobre o assunto no Brasil (Disque-AIDS Pela VIDDA).
Dentre as atividades externas,
destaca-se o “Projeto Rio Buddy”, de acompanhamento domiciliar a pessoas
vivendo com AIDS, em parceria com o “Grupo Arco-Íris”, desde 1997.
O “GPV-RJ” dedica-se a uma forte
articulação política, por considerá-la o principal meio de transformação
social.
Busca, portanto, estar diretamente
envolvido na formulação das políticas públicas de saúde, participa ativamente
dos diversos foros, conselhos e assembleias municipais e estaduais de saúde e
desenvolvimento social.
O “Grupo” contribui, direta ou
indiretamente, em foros específicos sobre HIV-AIDS, como o “Comitê
Nacional de Vacinas Anti-HIV”, a “Comissão Nacional de Aids”, o “Conselho
Nacional de Saúde” e o “Grupo Temático do UNAIDS”, no
Brasil.
Para manter a população esclarecida e
mobilizada com relação aos temas que envolvem a epidemia, o “Grupo”
desenvolve diversas atividades de prevenção primária e secundária, atividades
de capacitação, publicações e material informativo para segmentos específicos.
Frequentemente, promove oficinas,
seminários de atualização sobre diversos temas relacionados ao combate à AIDS,
bem como seminários internacionais.
Jamais
poderia deixar de RECOMENDAR O ESPETÁCULO, pelo
tanto que ele traz de informações, pela importância do tema, tão bem tratado, e
pela teatralidade como é representada a temática. Tenho plena certeza de que
aqueles que lerem esta minha modesta apreciação desta obra teatral se sentirão
motivados a assistir à peça, da mesma forma com também estou certo de que
deixarão o Teatro III do CCBB – RJ como saí: com as expectativas, que já
eram boas, muito ampliadas e tornadas concretas.
FOTOS: DANIEL
DEBORTOLI
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E
SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
COMPARTILHEM ESTA CRÍTICA, PARA QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
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