sexta-feira, 24 de maio de 2024

“O VENENO

DO TEATRO”

ou

(AS APARÊNCIAS

ENGANAM.)

ou

(UMA CONTENDA

DE GIGANTES.)

ou

(O PODER DA DIALÉTICA.)

ou

(ADORO UMA BOA

METALINGUAGEM.






            Está em curso, no Teatro Firjan SESI Centro, no Rio de Janeiro, até o dia 02 de junho próximo (VER SERVIÇO.), para uma curta temporada, de apenas um mês, o que, infelizmente, já se tornou um hábito, um espetáculo que merece ser assistido pelos apreciadores das ARTES CÊNICAS. Trata-se de “O VENENO DO TEATRO”, um texto do dramaturgo espanhol RODOLF SIRERA, um dos mais renomados e uma referência, atualmente, na Europa. Também é uma ótima oportunidade para ver, ou rever, em cena, um dos melhores atores de sua geração, OSMAR PRADO, após um afastamento dos palcos que durou 10 anos, ao lado de outro ótimo ator, MAURÍCIO MACHADO. A dupla é dirigida por EDUARDO FIGUEIREDO.

  

 

 


 

SINOPSE:

Um ator é convidado por um excêntrico Marquês para interpretar uma peça teatral de sua autoria, inspirada na morte de Sócrates.

Um encontro entre o Marquês (OSMAR PRADO), um nobre aristocrata egocêntrico, que, de forma surpreendente, passa a controlar, através de um jogo psicológico, o outro personagem, e este, o ator Gabriel de Beaumont (MAURÍCIO MACHADO).

Depois de muitas surpresas no decorrer do espetáculo, o Marquês revela-se um psicopata, capaz de qualquer coisa para atingir seu objetivo.

 

 

 

 

 “O VENENO DO TEATRO” (“El Veneno del Teatro”, no original espanhol.) é um texto clássico, rotundo e com um desfecho totalmente imprevisível, surpreendente, uma obra montada, reconhecida e premiada em vários países, antes de chegar até nós, depois de ter cumprido uma vitoriosa temporada em São Paulo, após algumas pré-estreias em Belo Horizonte e Brasília, sempre com casas lotadas e sessões extras, sucesso absoluto de público e crítica, tendo passado, também, numa meteórica turnê, por outras capitais: Belém, Goiânia e Porto Alegre. Desde quando foi escrita, em 1978, o texto já foi traduzido para mais de 10 idiomas, colecionando prêmios mundo afora.

 

 

 

          E o que pode explicar tamanha aceitação, pelo público e pela crítica? Creio que vários fatores, dentre os quais podem ser destacados seu intenso vigor, sua minuciosa arquitetura dramática e os aspectos universal e contemporâneo da peça, uma vez que, de forma bastante inteligente e contundente, explora temas importantes, até hoje, ligados à condição humana, como a ética, tão empobrecida ultimamente; a estética na ARTE de se representar num palco; as máscaras das convenções sociais, que escravizam o Homem, cada vez mais, a exigir-lhe o seu cumprimento; e o jogo do poder, de todos os feitios, entre outros. E, sobre esses temas, o texto deseja propor, aos espectadores, uma reflexão pura, sem parcialidade e distorções. Cada espectador deve deixar o Teatro levando consigo um farto material para tirar suas próprias conclusões. Tão logo embarquei num vagão de metrô, de volta a casa, passei um longo tempo mergulhado nesse exercício. Tudo por conta do “show” de dialética, palavra com etimologia grega (dialektiké), significando a “arte do diálogo, de debater, de persuadir ou raciocinar”, contida no texto. Fica, ainda, para cada um dos que assistem à peça, a oportunidade da prática de um autoconhecimento, “dentro dos limites da realidade e da ficção”. O texto é repleto de instigantes indagações de cunho filosófico, não tivesse seu autor uma formação em História e Filosofia. Ao longo de sua carreira como autor, SIRERA já escreveu mais de 30 obras e ganhou inúmeros dos mais prestigiados prêmios de TEATRO da Europa, como o “Ciutat de Barcelona”, “Ciutat de València de la Crítica”, “Ciutat de Granollers”, “Ciutat d’Alcoi”, “Premi Born de Teatre”, “Teatre Principal de Palma” e “Jaume Vidal Alcover”.

 

 



 

  Escrito no limiar da década de 1970, após a ditadura de Franco, o “Generalíssimo”, encerrada em 1973, quando se deu o início do processo democrático na Espanha, a trama se passa na França, em 1784, período que antecede à “Revolução Francesa”, ressaltando a era neoclassicista. Como prova da atemporalidade do texto, na versão brasileira, a trama se passa na década de 1920, em Paris. Para o autor, “é uma obra interessante, um jogo dialético sobre ser e representar, uma fábula moral, um ‘thriller’ em torno do que seja ARTE”. E será que sabemos quando somos nós mesmos ou representamos uma outra “persona”? Será que, na vida, temos o direito de não ser e, sim, parecer, seja lá por qual motivo for? Estaríamos contrariando os princípios éticos e morais, no momento em que cedemos vez e voz a um personagem que não somos nós?

 

 

 

  Segundo o diretor do espetáculo, EDUARDO FIGUEIREDO, “Em um momento com tantas adversidades, em que o homem apresenta sérios sinais de retrocesso e barbárie (No Brasil, basta pôr uma lente de aumento nos últimos anos.), a obra de RODOLF SIRERA nos apresenta uma importante reflexão sobre civilidade, poder e até onde pode ir a crueldade do ser humano.”. O espetáculo é todo pontuado por uma música ao vivo, executada pelo violoncelista MATIAS ROQUE FIDELES e tem direção musical de GUGA STROETER.

 

 

 

 Agradou-me muito a direção de EDUARDO FIGUEIREDO, também um dos produtores do espetáculo, cujo trabalho passei a apreciar, sobremaneira, desde quando assisti, em São Paulo, em 2014, no Teatro Raul Cortez, e, posteriormente, revi, no Rio de Janeiro, um ano depois, no Teatro Maison de France, de saudosa lembrança, à encenação da premiada peça “Frida Y Diego”, que muito me comoveu, fanático que sou pela obra dos dois grandes artistas mexicanos; mais dela. Posteriormente, ratifiquei minha admiração pelo trabalho de EDUARDO, por “Um Beijo em Franz Kafka”. E, novamente, aplaudi, por duas vezes, mais uma de suas direções, na deliciosa COMÉDIA “Procuro o Homem da Minha Vida, Marido Já Tive”. Na peça aqui comentada, o diretor, creio que propositalmente, permitiu que a dupla de excelentes atores puxasse bastante nas tintas do exagero, para pôr em destaque a personalidade dos dois protagonistas, tão opostos, em determinadas características, porém ambos com um grande ponto de convergência: a vaidade e a força como se agarram às suas convicções e “verdades”.    

 

 

 

   Pertencentes a duas gerações distantes em mais de duas décadas – OSMAR tem 75 anos de idade e MAURÍCIO, 51 -, os dois atores são dignos de muitos aplausos e respeito, como profissionais, sendo que cada um deles seguiu, mais de perto, um caminho. OSMAR é um ídolo da televisão, veículo que que lhe rendeu tanta popularidade (Estreou em 1964.), e não é tão frequente nos palcos (Seu primeiro trabalho foi em 1972.). Com relação a isso, “O VENENO DO TEATRO” é, como já disse, uma grande oportunidade para vê-lo representando ao vivo, usando e abusando de seu incomensurável talento. Em seu currículo também cabem muitos filmes – o primeiro em 1984 -, pelos quais também já conquistou muitos prêmios. É um grande criador de personagens bem particulares e, desta vez, seu trabalho de construção do Marquês não fugiu à regra. O personagem é dissimulado, a princípio, todavia, aos poucos, entre uma tentativa e outra de persuadir o ator Gabriel, vai revelando sua verdadeira personalidade. Considera-se um artista, um criador, um bom dramaturgo, mas será que merece ser assim considerado? Incomoda-lhe o “nariz em pé” de Gabriel, sua empáfia, mas não demora muito para se igualar ao outro, nesse aspecto, e tentar levantar mais o seu próprio nasal. Seu nível de perversidade e de sadismo “assusta” a plateia – a mim, pelo menos -, que se vê, num crescendo, cada vez mais perplexa, naquele clima de profundo suspense e surpresas.   

 

 



 

       Quanto a MAURÍCIO MACHADO, o qual, ainda que jovem, já tenha acumulado 36 anos de carreira, com alguns prêmios de TEATRO e várias indicações, seu desempenho caminha paralelamente ao trabalho do companheiro de cena. Ambos se revezam na “arte” de “levantar a bola, para que o outro aplique uma possante cortada”. Embora já tenha atuado em outras mídias, como televisão e cinema, MAURÍCIO é o que eu considero um “ator de TEATRO”. Seu personagem tenta enfrentar, de igual para igual, o “rival”, mas não apresenta “estofo” suficiente para lhe fazer frente, a partir do momento em que consegue perceber que fora vítima de uma cilada, envolvido numa trama em que muito mais do que está sendo discutido, dialeticamente, tem importância: a discussão, que, às vezes, chega a parecer estéril, poderá levar a uma trágica consequência. Ver os dois personagens em ação é como se estivéssemos diante de uma violenta contenda, que ora lembra um duelo de espadas, ou o balé elegante de dois esgrimistas, ora se aproxima de uma esdrúxula e pífia luta de vale-tudo; mais as duas primeiras comparações que esta. Fico muito feliz em ver que, a cada novo trabalho, MAURÍCIO MACHADO demonstra uma ascensão de seu talento.  

 

 


          Entre os criativos, mérito para o multiartista KLEBER MONTANHEIRO, que assina uma ótima cenografia, a qual, num determinado momento, se “abre”, literalmente, numa agradabilíssima surpresa, e os elegantes figurinos de época, tudo muito bem valorizado pela profícua luz, que acompanha, “come il faut”, a proposta e a exigência de cada uma das cenas, desenhada, cuidadosamente, por PAULO DENIZOT. Indo contra, porém, este conjunto de acertos, tenho uma observação negativa, que julgo ser fácil de uma correção. Falo da execução da trilha sonora original, que sublinha muitas das cenas do espetáculo. É interessante, assim como a ideia de que seja executada, ao vivo, por um exímio músico, o violoncelista MATIAS ROQUE FIDELES, obedecendo à direção musical de GUGA STROETER, o compositor da referida trilha. São dois detalhes apenas, mas que, para o meu gosto, precisariam ser revistos: além de ser excessiva, gerando um pouco de monotonia, é executada num volume muito alto, que chega a prejudicar, por vezes, a audição das falas dos personagens. Acrescento que não sou deficiente auditivo e que estava sentado na primeira fila do Teatro. Será que só eu observei isso?

 

 

 


FICHA TÉCNICA:

Texto: Rodolf Sirera

Tradução: Hugo Coelho

Direção: Eduardo Figueiredo

 

Elenco: Osmar Prado e Maurício Machado

Músico: Matias Roque Fideles

 

Direção Musical: Guga Stroeter

Cenário: Kleber Montanheiro

Figurinos: Kleber Montanheiro

Desenho de Luz: Paulo Denizot

Desenho de Som: Anderson Moura

Trilha Sonora Original: Guga Stroeter

Assistência de Direção: Gabriel Albuquerque

Técnico de Som: Henrique Berrocal

Técnico de Luz: Lucas Andrade

Contrarregra: Rodrigo Bella Dona

Cenotécnico: Evandro Carretero

Fotografias em Estúdio: Priscila Prade

Fotografias de Cena: Rafa Marques e Fernanda Balda

Programação Visual: Raquel Alvarenga

Camareira: Charlene Soares

Administrador: Marcelo Vieira

Produção Executiva: Paulo Travassos

Assistência de Produção: Mavi Uema

Assessoria de Imprensa: Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho

Relações Públicas: Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho

Financeiro: Thais Vasconcellos

Leis de Incentivo: Renata Vieira

Idealização e Produção: Manhas & Manias Projetos Culturais 

 

 

 


 


 

SERVIÇO:

Temporada: De 02 de maio a 02 de junho de 2024.

Local: Teatro Firjan SESI Centro.

Endereço: Avenida Graça Aranha, nº 1, Centro – Rio de janeiro – RJ.

Dias e Horários: Às quintas e sextas-feiras, às 19h; sábados e domingos, às 18h.

Valor do Ingresso: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada).

Vendas: Bilheteria do Teatro (sem taxa de conveniência), de segunda a sexta-feira, das 12h às 19h; sábados, domingos e feriados, a partir de duas horas antes do início do espetáculo.

Canal de venda “on-line”: Sympla (com taxa de conveniência).

Classificação Etária: 14 anos.

Duração: 70 minutos

Gênero: Comédia Dramática (“Thriller”).

 


 

 

         “O VENENO DO TEATRO” é um espetáculo que merece fazer parte de uma “cesta básica” para aqueles que sabem apreciar e saborear uma boa peça de TEATRO, motivo pelo qual, evidentemente, o RECOMENDO.

 

 


 

 

 

 

FOTOS: PRISCILA PRADE,

RAFA MARQUES

e

FERNANDA BALDA

 

 

 

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