“O VENENO
DO TEATRO”
ou
(AS
APARÊNCIAS
ENGANAM.)
ou
(UMA CONTENDA
DE GIGANTES.)
ou
(O PODER DA
DIALÉTICA.)
ou
(ADORO UMA
BOA
METALINGUAGEM.
Está em curso, no Teatro Firjan SESI Centro,
no Rio
de Janeiro, até o dia 02 de junho próximo (VER SERVIÇO.),
para uma curta temporada, de apenas um mês, o que, infelizmente, já se tornou
um hábito, um espetáculo que merece ser assistido pelos apreciadores das ARTES
CÊNICAS. Trata-se de “O VENENO
DO TEATRO”, um texto do dramaturgo espanhol RODOLF SIRERA, um dos mais renomados e uma referência, atualmente,
na Europa.
Também é uma ótima oportunidade para ver, ou rever, em cena, um dos melhores
atores de sua geração, OSMAR PRADO,
após um afastamento dos palcos que durou 10 anos, ao lado de outro ótimo
ator, MAURÍCIO MACHADO. A dupla é
dirigida por EDUARDO FIGUEIREDO.
SINOPSE:
Um ator é convidado por um excêntrico Marquês
para interpretar uma peça teatral de sua autoria, inspirada na morte de Sócrates.
Um encontro entre o Marquês (OSMAR PRADO), um nobre aristocrata egocêntrico, que,
de forma surpreendente, passa a controlar, através de um jogo psicológico, o outro
personagem, e este, o ator Gabriel de Beaumont (MAURÍCIO MACHADO).
Depois de muitas surpresas no decorrer do
espetáculo, o Marquês revela-se um psicopata, capaz de qualquer coisa para
atingir seu objetivo.
“O VENENO DO TEATRO” (“El Veneno del Teatro”, no
original espanhol.) é um texto clássico, rotundo e com um desfecho totalmente
imprevisível, surpreendente, uma obra montada, reconhecida e premiada em vários
países, antes de chegar até nós, depois de ter cumprido uma vitoriosa temporada
em São
Paulo, após algumas pré-estreias em Belo Horizonte e Brasília,
sempre com casas lotadas e sessões extras, sucesso absoluto de público e
crítica, tendo passado, também, numa meteórica turnê, por outras capitais: Belém,
Goiânia
e Porto
Alegre. Desde quando foi escrita, em 1978, o texto já foi
traduzido para mais de 10 idiomas, colecionando prêmios
mundo afora.
E o
que pode explicar tamanha aceitação, pelo público e pela crítica? Creio que
vários fatores, dentre os quais podem ser destacados seu intenso vigor,
sua minuciosa arquitetura dramática e os aspectos universal e contemporâneo
da peça, uma vez que, de forma bastante inteligente e contundente, explora
temas importantes, até hoje, ligados à condição humana, como a ética,
tão empobrecida ultimamente; a estética na ARTE de se representar
num palco; as máscaras das convenções sociais, que escravizam o Homem, cada
vez mais, a exigir-lhe o seu cumprimento; e o jogo do poder, de todos
os feitios, entre outros. E, sobre esses temas, o texto deseja propor, aos
espectadores, uma reflexão pura, sem parcialidade e distorções. Cada espectador
deve deixar o Teatro levando consigo um farto material para tirar suas próprias
conclusões. Tão logo embarquei num vagão de metrô, de volta a casa, passei um longo
tempo mergulhado nesse exercício. Tudo por conta do “show” de dialética,
palavra com etimologia grega (dialektiké), significando
a “arte
do diálogo, de debater, de persuadir ou raciocinar”, contida no texto. Fica,
ainda, para cada um dos que assistem à peça, a oportunidade da prática de um
autoconhecimento, “dentro dos limites da realidade e da ficção”. O texto é
repleto de instigantes indagações de cunho filosófico, não tivesse seu autor
uma formação em História e Filosofia. Ao longo de sua carreira
como autor,
SIRERA já escreveu mais
de 30 obras e ganhou inúmeros dos mais prestigiados prêmios de TEATRO
da Europa,
como o “Ciutat de Barcelona”, “Ciutat de València de la Crítica”, “Ciutat
de Granollers”, “Ciutat d’Alcoi”, “Premi
Born de Teatre”, “Teatre Principal de Palma” e “Jaume
Vidal Alcover”.
Escrito no limiar da década de 1970, após a ditadura de Franco,
o “Generalíssimo”,
encerrada em 1973, quando se deu o início do processo democrático na Espanha,
a trama se passa na França, em 1784, período que antecede à “Revolução
Francesa”, ressaltando a era neoclassicista. Como prova da atemporalidade
do texto, na versão brasileira, a trama se passa na década de 1920, em Paris. Para o autor, “é
uma obra interessante, um jogo dialético sobre ser e representar, uma fábula
moral, um ‘thriller’ em torno do que seja ARTE”. E será que sabemos
quando somos nós mesmos ou representamos uma outra “persona”?
Será que, na vida, temos o direito de não ser e, sim, parecer, seja lá por qual
motivo for? Estaríamos contrariando os princípios éticos e morais, no momento
em que cedemos vez e voz a um personagem que não somos nós?
Segundo o diretor do espetáculo, EDUARDO FIGUEIREDO, “Em
um momento com tantas adversidades, em que o homem apresenta sérios sinais de
retrocesso e barbárie (No Brasil, basta pôr uma lente de
aumento nos últimos anos.), a obra de RODOLF SIRERA nos apresenta uma
importante reflexão sobre civilidade, poder e até onde pode ir a crueldade do
ser humano.”. O espetáculo é todo pontuado por uma música ao vivo,
executada pelo violoncelista MATIAS
ROQUE FIDELES e tem direção musical de GUGA STROETER.
Agradou-me muito a direção de EDUARDO FIGUEIREDO, também um dos produtores do espetáculo, cujo
trabalho passei a apreciar, sobremaneira, desde quando assisti, em São
Paulo, em 2014, no Teatro Raul Cortez, e,
posteriormente, revi, no Rio de Janeiro, um ano depois, no Teatro
Maison de France, de saudosa lembrança, à encenação da premiada peça “Frida Y
Diego”, que muito me comoveu, fanático que sou pela obra dos dois
grandes artistas mexicanos; mais dela. Posteriormente, ratifiquei minha
admiração pelo trabalho de EDUARDO,
por “Um Beijo em Franz Kafka”. E, novamente, aplaudi, por duas vezes, mais uma de suas direções, na deliciosa COMÉDIA “Procuro o Homem da Minha Vida, Marido Já Tive”.
Na peça aqui comentada, o diretor, creio que propositalmente,
permitiu que a dupla de excelentes atores puxasse bastante nas tintas do
exagero, para pôr em destaque a personalidade dos dois protagonistas, tão
opostos, em determinadas características, porém ambos com um grande ponto de
convergência: a vaidade e a força como se agarram às suas convicções e “verdades”.
Pertencentes a duas gerações distantes em mais de duas décadas – OSMAR tem 75 anos de idade e MAURÍCIO, 51 -, os dois atores são
dignos de muitos aplausos e respeito, como profissionais, sendo que cada um
deles seguiu, mais de perto, um caminho. OSMAR
é um ídolo da televisão, veículo que que lhe rendeu tanta popularidade (Estreou
em 1964.), e não é tão frequente nos palcos (Seu primeiro trabalho foi em
1972.). Com relação a isso, “O
VENENO DO TEATRO” é, como já disse, uma grande oportunidade para vê-lo
representando ao vivo, usando e abusando de seu incomensurável talento. Em seu
currículo também cabem muitos filmes – o primeiro em 1984 -, pelos quais
também já conquistou muitos prêmios. É um grande criador de personagens bem
particulares e, desta vez, seu trabalho de construção do Marquês não fugiu à
regra. O personagem é dissimulado, a princípio, todavia, aos poucos, entre uma
tentativa e outra de persuadir o ator Gabriel, vai revelando sua verdadeira
personalidade. Considera-se um artista, um criador, um bom dramaturgo, mas será
que merece ser assim considerado? Incomoda-lhe o “nariz em pé” de Gabriel,
sua empáfia, mas não demora muito para se igualar ao outro, nesse aspecto, e tentar
levantar mais o seu próprio nasal. Seu nível de perversidade e de sadismo “assusta” a plateia
–
a mim, pelo menos -, que se vê, num crescendo, cada vez mais perplexa,
naquele clima de profundo suspense e surpresas.
Quanto
a MAURÍCIO MACHADO, o qual, ainda que jovem, já tenha acumulado 36
anos de carreira, com alguns prêmios de TEATRO e várias indicações,
seu desempenho caminha paralelamente ao trabalho do companheiro de cena. Ambos
se revezam na “arte” de “levantar a bola, para que o outro aplique
uma possante cortada”. Embora já tenha atuado em outras mídias, como
televisão e cinema, MAURÍCIO é o que
eu considero um “ator de TEATRO”. Seu personagem tenta enfrentar, de igual para
igual, o “rival”, mas não apresenta “estofo” suficiente para lhe fazer
frente, a partir do momento em que consegue perceber que fora vítima de uma
cilada, envolvido numa trama em que muito mais do que está sendo discutido,
dialeticamente, tem importância: a discussão, que, às vezes, chega a parecer
estéril, poderá levar a uma trágica consequência. Ver os dois personagens em
ação é como se estivéssemos diante de uma violenta contenda, que ora lembra um
duelo de espadas, ou o balé elegante de dois esgrimistas, ora se aproxima de
uma esdrúxula e pífia luta de vale-tudo; mais as duas primeiras comparações que
esta. Fico muito feliz em ver que, a cada novo trabalho, MAURÍCIO MACHADO demonstra
uma ascensão de seu talento.
Entre os
criativos, mérito para o multiartista KLEBER MONTANHEIRO, que assina uma ótima cenografia, a qual, num
determinado momento, se “abre”, literalmente, numa
agradabilíssima surpresa, e os elegantes figurinos de época, tudo muito bem
valorizado pela profícua luz, que acompanha, “come
il faut”, a proposta e a exigência de cada uma das cenas, desenhada, cuidadosamente, por PAULO DENIZOT. Indo contra, porém, este conjunto
de acertos, tenho uma observação negativa, que julgo ser fácil de uma correção.
Falo da execução da trilha sonora original,
que sublinha muitas das cenas do espetáculo. É interessante, assim como a ideia
de que seja executada, ao vivo, por um exímio músico, o violoncelista MATIAS ROQUE
FIDELES, obedecendo à direção
musical de GUGA STROETER, o
compositor da referida trilha. São dois detalhes apenas, mas que, para o meu
gosto, precisariam ser revistos: além de ser excessiva, gerando um pouco de
monotonia, é executada num volume muito alto, que chega a prejudicar, por
vezes, a audição das falas dos personagens. Acrescento que não sou deficiente
auditivo e que estava sentado na primeira fila do Teatro. Será que só eu
observei isso?
FICHA TÉCNICA:
Texto: Rodolf Sirera
Tradução: Hugo Coelho
Direção: Eduardo Figueiredo
Elenco: Osmar Prado e Maurício Machado
Músico: Matias Roque Fideles
Direção Musical: Guga
Stroeter
Cenário: Kleber
Montanheiro
Figurinos: Kleber Montanheiro
Desenho de Luz: Paulo Denizot
Desenho de Som: Anderson Moura
Trilha Sonora Original: Guga Stroeter
Assistência de Direção: Gabriel Albuquerque
Técnico de Som: Henrique Berrocal
Técnico de Luz: Lucas Andrade
Contrarregra: Rodrigo Bella Dona
Cenotécnico: Evandro Carretero
Fotografias em Estúdio: Priscila Prade
Fotografias de Cena: Rafa Marques e Fernanda Balda
Programação Visual: Raquel Alvarenga
Camareira: Charlene Soares
Administrador: Marcelo Vieira
Produção Executiva: Paulo Travassos
Assistência de Produção: Mavi Uema
Assessoria de Imprensa: Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho
Relações Públicas: Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho
Financeiro: Thais Vasconcellos
Leis de Incentivo: Renata Vieira
Idealização e Produção: Manhas & Manias Projetos Culturais
SERVIÇO:
Temporada: De 02 de maio a 02 de junho de 2024.
Local: Teatro Firjan SESI Centro.
Endereço: Avenida Graça
Aranha, nº 1, Centro – Rio de janeiro – RJ.
Dias e Horários: Às quintas
e sextas-feiras, às 19h; sábados e domingos, às 18h.
Valor do Ingresso: R$ 40 (inteira) e R$ 20
(meia-entrada).
Vendas: Bilheteria do Teatro (sem taxa de
conveniência), de segunda a sexta-feira, das 12h às 19h; sábados, domingos e
feriados, a partir de duas horas antes do início do espetáculo.
Canal de venda “on-line”: Sympla (com taxa de conveniência).
Classificação Etária: 14 anos.
Duração: 70 minutos
Gênero: Comédia Dramática
(“Thriller”).
“O VENENO DO TEATRO” é um espetáculo que merece fazer parte de uma “cesta
básica” para aqueles que sabem apreciar e saborear uma boa peça de TEATRO,
motivo pelo qual, evidentemente, o RECOMENDO.
FOTOS: PRISCILA PRADE,
RAFA
MARQUES
e
FERNANDA BALDA
VAMOS AO TEATRO!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS DE
ESPETÁCULO DO BRASIL!
A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE; E
SALVA!
RESISTAMOS SEMPRE MAIS!
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QUE, JUNTOS, POSSAMOS DIVULGAR O QUE HÁ DE MELHOR NO TEATRO BRASILEIRO!
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