terça-feira, 21 de maio de 2024

 “32º FESTIVAL DE CURITIBA”

“APENAS O FIM

DO MUNDO”

ou

(MISTÉRIOS 

E ENIGMAS”.)

ou

(A VOZ DO SILÊNCIO

TAMBÉM É ELOQUENTE.)



        

       Devido à grande diversidade de espetáculos, em termos de propostas, estéticas, temáticas e outros aspectos, talvez fosse difícil apontar “o melhor” deles, dos que foram apresentados durante o “32º Festival de Curitiba”, realizado entre os dias 25 de março e 07 de abril de 2024. Talvez nem fosse o caso de pedir a alguém que identificasse tal produção, mas eu, apesar de ter gostado bastante de outras montagens, diversificadas ao extremo, não me sentiria nem um pouco em dúvida e diria, peremptoriamente, que, dos 17 espetáculos a que assisti, em 14 dias de “Festival”, aquele que mais me arrebatou, a ponto de me fazer “conversar com o teto do meu quatro de hotel”, durante boa parte da noite de 05 de abril passado, foi “APENAS O FIM DO MUNDO”, apresentado pelo “Grupo Magiluth”, de Recife. O espetáculo estava programado para participar do “Festival” em sua edição de 2020, mas a ideia foi abortada, em virtude da pandemia de COVID-19, que impediu a realização do evento, o qual teve de ser cancelado, por conta da “paralisação dos movimentos de rotação e translação da Terra”. Mas valeu muito a pena ter aguardado quatro anos. Ah, se valeu!!!

 

 







 

         Antes de iniciar as minhas considerações sobre a peça, faço questão de dizer que uma das coisas que mais me atraem ao “Festival de Curitiba”, sendo ele uma descomunal vitrina, é a oportunidade que nos dá de conhecer uma excelente ARTE DRAMÁTICA produzida em todos as partes deste país continental, valorizando os trabalhos oriundos desde as mais cosmopolitas capitais brasileiras até os estados e rincões que jamais são reconhecidos como celeiros de grandes artistas, fora do eixo Rio/São Paulo. A mim, particularmente, em função das minhas viagens pelo país, muito do que é novidade, para os que estão imersos nas duas semanas de “Festival”, acaba não o sendo na mesma medida, entretanto sempre sou apresentado a verdadeiras joias do TEATRO e da dança, quando participo daquele evento, como foi o caso do trabalho do “Grupo Magiluth”, sediado na capital pernambucana, distante mais de 3.000km da paranaense.

 

 


 

          Na pesquisa que realizei, no “site” do “Magiluth”, fiquei sabendo que o “Grupo” já tem duas décadas de existência, tendo sido fundado, em 2004, na Universidade Federal de Pernambuco, certamente, por um grupo de jovens “amantes da balbúrdia”, na visão daqueles... (“Prefiro não comentar!” – bordão da personagem Copélia, do “sitcom” “Toma Lá, Dá Cá”.). A companhia desenvolve um trabalho continuado de pesquisa e experimentação, tendo sido apontado, pela crítica e pela imprensa, como um dos mais relevantes grupos teatrais do país, realizando, colaborativamente, diversas ações nos eixos de pesquisa, criação e formação artística, em constante diálogo com o território em que está inserido. Traz, em seu histórico, onze espetáculos, fundamentados em princípios da criação teatral independente, de realização contínua e com intenso aprofundamento na busca pela qualidade estética. Pela qualidade do seu trabalho, o “Grupo Magiluth” já recebeu várias indicações a prêmios de TEATRO, obtendo algumas conquistas, e já circulou, com seus trabalhos, por 24 capitais brasileiras, além de já ter realizado projetos de intercâmbio, em Lisboa e Londres. Além disso, o “Magilhth” também já participou de diversos festivais de TEATRO no Brasil. Por conta de suas poucas passagens pelo Rio de Janeiro, certamente por desencontros com as minhas agendas, infelizmente, não tinha tido, ainda, a oportunidade de conhecer e aplaudir o seu trabalho. A partir do momento em que pude me acercar do talento daqueles artistas, pretendo não mais perder nenhuma de suas próximas produções.

 

 




         A bem da verdade, eu até poderia ter perdido essa oportunidade ímpar e inesquecível de que fui merecedor, naquele final de tarde, princípio de noite, uma vez que os ingressos para as sessões programadas para o “Festival” foram, apaixonada e rapidamente, disputados e esgotados, assim como os convites, tão logo foram disponibilizados, considerando-se que o espaço em que se deram as apresentações, nos dias 3, 4 e 5 de abril, comportava um público pequeno. Só consegui assistir à peça por conta de uma sessão extra (Houve três. E mais houvesse, mais público adoraria ter assistido e lotado todas as sessões). Posso dizer que acabei lucrando, já que, por uma feliz coincidência (Na verdade, não foi coincidência; foi obra dos DEUSES DO TEATRO, que nunca me abandonam.), o tempo trabalhou de “mocinho” e colaborou para que eu guardasse, indelevelmente, na minha memória, imagens deslumbrantes de uma pancada de chuva, que caiu durante a parte inicial da encenação, mas que passou logo em seguida; um cair de tarde e início de noite, com as luzes se acendendo ao nosso redor; e a participação, como “coadjuvante de luxo”, de uma providencial forte lufada de vento frio, que entrou por um janelão, na cena final, dando um toque de realismo àquela magnífica ficção. Parecia que tudo fora combinado, ensaiado; mas não o foi. “APENAS O FIM DO MUNDO” é um dos melhores espetáculos de TEATRO que já tive a oportunidade de conhecer, em toda a minha vida, de cerca de 60 anos de “rato de TEATRO”.

 

 



 

 

SINOPSE:

O espetáculo conta a história de um homem, Luiz (PEDRO WAGNER), que regressa à casa de seus familiares, para lhes dar a notícia de sua morte próxima, o que, por não ser um fato comum, já causa estranheza.

Após anos distante, ele compreende que é o momento de regressar, com o objetivo de contar, pessoalmente, à família sobre o seu iminente fim.

Luiz sente que sua morte está bem próxima e não há como fugir dela.

Assim, reencontra a mãe, a irmã e o irmão, além de, finalmente, se inteirar da cunhada, que não havia conhecido seu marido, quando ele ainda habitava a casa da família, em sua cidade.

Na tentativa de se comunicar, de dizer aos familiares quem é e como está, bem como quais são seus desejos e dores, Luiz não fala, apenas escuta.

A peça trata de relações familiares de amor e dor, da forma mais íntima e contundente possível.

É esta a grande potência da peça: nada é dito e, no entanto, há uma torrente de palavras.

 


 





 




          “APENAS O FIM DO MUNDO” (“Juste la Fin du Monde”, no original.), data de 1990 e é uma das 25 peças teatrais escritas por JEAN-LUC LAGARCE, dramaturgo francês, também ator e diretor teatral, falecido muito jovem, aos 38 anos, em 1995, vítima da AIDS. Apesar de, relativamente, bem-sucedido em vida, por seu trabalho dramatúrgico, foi após sua morte que conquistou maior notoriedade e, hoje, é considerado um dos dramaturgos franceses contemporâneos mais festejados e montados ao redor do mundo. A peça aqui comentada ganhou, em 2015, uma versão para as telas, na qual já estou interessado.   

 

 



 

         Gostei bastante do texto, no qual podemos enxergar, sem muito esforço, uma influência de Beckett, embora não seja a dramaturgia, a meu juízo, a responsável pelo grande sucesso que o espetáculo desperta, ou despertou, em mim. Indubitavelmente, é para a estética da encenação, para a proposta do “Grupo”, com tudo o que de mais interessante e criativo pode carregar em seu bojo, que convergem todas as luzes que iluminam esta montagem. Se apresentada, convencionalmente, num Teatro com palco italiano, o público confortavelmente acomodado em poltronas, com mudanças de cenários, já posso imaginar o vigor de uma produção desta peça, imaginem - aqueles que não tiveram a primazia que eu tive de conferir o trabalho em tela - o que é assistir a um espetáculo itinerante, em que os cenários, ou melhor, os “sets” são fixos e o público é que vai até eles, seguindo orientações da produção, não recebendo, passivamente, o que lhe é servido, mas partindo à procura de algo novo, que possa esclarecer – ou, pelo menos, ajudar a – as três grandes incógnitas, na minha visão, que cercam a trama (Qual motivo levou o protagonista a abandonar a família, que revelação ele desejava, ou precisava, fazer, e por que, ou para que, de verdade, decidiu retornar ao lar?), surpreendendo-se a cada nova cena.

 

 




 

 Explico: o espetáculo ocupa, praticamente, todas as dependências do Palácio Garibaldi, uma bela construção histórica do século XIX (Sua construção foi iniciada em 1887 e concluída já em 1904.), situado na Praça Garibaldi, coração do Centro Histórico de Curitiba, um prédio tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná, já tendo servido de sede para o Tribunal Regional Eleitoral e o Palácio da Justiça.

 


 

        Já assisti a muitos espetáculos com a mesma dinâmica estrutural, entretanto, em nenhum deles, fiquei tão arrebatado e comovido – Chorei litros e demorei a voltar ao meu normal. - como no dia em que assisti a “APENAS O FIM DO MUNDO”, que traz, no seu título, uma provocação, uma inquietação, ou uma intencional “impropriedade”, representada pelo advérbio de intensidade “apenas”, como se “o fim do mundo” fosse "pouca coisa", aqui representando ruptura, destruição, perda, fim, morte...

 

 








          A proposta de encenação, brilhante, diga-se de passagem, a quatro mãos, de GIOVANA SOAR e LUIZ FERNANDO MARQUES (LUBI), reúne o público, na frente do Palácio Garibaldi, voltado para o enorme portão de ferro, à espera de sabe-se lá o quê. Eis que um táxi para na porta do prédio e dele sai alguém. É Luiz (PEDRO WAGNER), o protagonista, que abre o portão, entra no quintal frontal da casa, trazendo uma mochila bem cheia, e fica parado, durante algum tempo, observando a fachada da construção e, vez por outra, o público, sem parecer que o percebe, indiferente a tudo. Figuras humanas começam a surgir, dentro da casa, curiosas e enigmáticas, visíveis pelas vidraças. O homem atravessa a varanda e entra na habitação, seguido pelos espectadores, os quais se posicionam encostados às quatro paredes de uma sala de estar, até então, vazia.

 









   Mas logo vão chegando os familiares, para recepcionar o “visitante” (Por que o termo “visitante”? Porque parece não haver nenhuma ideia de pertencimento do homem àquela família, como se fosse, de verdade, um forasteiro, um quase desconhecido.): MÁRIO SÉRGIO CABRAL (Antônio, o irmão), GIORDANO CASTRO (Catarina, a cunhada), BRUNO PARMERA (Suzana, a irmã) e ERIVALDO OLIVEIRA, (a Mãe). Creio que o fato de esta personagem ser a única não reconhecida por um nome próprio seja intencional, simbolizando todas as mães do mundo ou qualquer mãe. Parece-me, após a encenação, ter ouvido alguém dizer que alguns atores trocam de personagens, periodicamente (A conferir.). Os quatro residentes na casa, aos poucos, vão trazendo elementos cenográficos: móveis, abajures, tapete e objetos de decoração, para compor o ambiente, auxiliados por LUCAS TORRES, “personagem” criado pelos diretores, o qual desempenha as funções de contrarregra e baterista. Os atores também, em algumas cenas, tocam algum instrumento musical. Começa ali o desenrolar da trama, que percorre vários ambientes do Palácio/residência, incluindo cozinha, terraço e outras dependências interessantíssimas.

 

 



 

         Não é necessário muito esforço, para se perceber uma relação muito estreita, no texto, com a parábola bíblica que trata da volta do filho pródigo ao lar, entretanto há pontos divergentes entre essas duas ações. Tão logo, na minha adolescência, ou por volta daquela época, ao travar conhecimento com o vocábulo “pródigo”, sem pesquisar, como deveria ter feito, sobre a sua origem e significado, deixei-me levar pela primeira sílaba – “pró” – e, erroneamente, pensei se tratar de algo positivo, quando, na verdade a palavra significa “aquele que dissipa seus bens, que gasta mais do que o necessário; gastador, esbanjador, perdulário”, como um dos dois filhos que aparecem no texto bíblico, em Lucas 15:11-32.

 

 






 O filho pródigo partiu com sua parte da herança do pai, em busca de prazeres mundanos, mas logo se encontrou em miséria e arrependimento. Faz-se necessário esclarecer que, a despeito dos erros cometidos, pelos prazeres comprados pelo dinheiro, o jovem que, no texto bíblico, retorna se arrepende de seu comportamento, abandonando o “pecado”, o que é muito bem visto aos olhos dos cristãos. Na parábola dos católicos, o filho pródigo foi em busca de aventuras e novas experiências, contudo, toda a investida longe da casa do pai não passou de uma grande ilusão. No texto de JEAN-LUC LAGARCE, tudo indica que Luís tenha abandonado a família, à procura de sua “libertação”, longe de uma família conservadora, como a única chance de “meter o pé na porta do armário”; para ser verdadeiro, quem, realmente, ele era.

 

 



 

 Não há, porém, indícios de que tenha se arrependido de tudo quanto fez, em “liberdade”; menos ainda de que admitisse ter vivido “em pecado”. Certo, porém, é que ele pagou caro por sua “ousadia” e, ironicamente, “vontade de viver”. E, pela reação da família, que o recebe com um amálgama de assombro, perturbação, receio, ressentimento, uma pitada de amor e muito de estranhamento, de uma forma geral, mais acentuadamente por parte do irmão, Antônio, diante de sua volta, percebem-se duas coisas: o quanto Luís vivia sufocado, antes de ganhar o mundo, e o peso que ele representava para a família. Todos esses sentimentos do núcleo familiar são expressos por meio de palavras, ações mudas e o total silêncio. A eloquência do silêncio, ainda que tudo, nesta peça, “fale”.

 

 




 

           Para se atingir a perfeição, ou se aproximar, ao máximo, dela, em termos de TEATRO – “APENAS O FIM DO MUNDO” É PERFEITA.” -, é preciso que a excelência esteja presente em todos os setores e fases da montagem e no total dos profissionais envolvidos no projeto, além de muita dedicação, denodo, garra, intrepidez, ímpeto, determinação, além de talento. E, obviamente, resiliência, para se repetir, tantas vezes quanto possível e necessário, uma cena. E muitos mergulhos abissais, à procura da plenitude qualitativa. Assim se comportaram todos aqueles dos quais dependia alguma coisa, para que se chegasse ao resultado final desta encenação. O sucesso do espetáculo deve-se a um trabalho árduo, “desenvolvido em cinco residências artísticas, realizadas em diferentes locais do Brasil, ao longo das quais a sala de ensaio foi aberta ao público, ainda no momento de criação”.

 

 



 

        Para a concepção prática da montagem, a dupla de diretores houve por bem, em primeiro lugar, fugir à utilização de um espaço convencional, para a prática do TEATRO, um edifício teatral, e decidiu-se em se debruçar sobre um conceito conhecido como “site-specific”, que diz respeito a “obras criadas de acordo com o ambiente e com um espaço determinado. De forma geral, são trabalhos planejados – muitas vezes, fruto de convites – para um local em que os elementos dialogam com o meio circundante, para o qual a obra é elaborada”. A ideia era assinar uma obra imersiva. No caso desta peça, atores e público encontram meios e possibilidades de um mergulho reentrante na atmosfera de intimidade do lar. Não sobra nenhuma dúvida na afirmação de que isso representa um trabalho hercúleo, supercriativo e muito difícil, para a direção, o elenco, os artistas de criação e os técnicos.


 




  E, para tanto, surgiu a feliz opção de fazer uso de todo o espaço do belíssimo Palácio Garibaldi, incluindo a parte externa, frente e fundos. Não tenho como afirmar, porém creio que muitos dias foram necessários, para que toda a equipe da montagem pesquisasse cada cômodo e todos os meandros daquela histórica construção, à procura dos melhores locais, a fim de que pudessem “bolar” as cenas. “A gente procura lugares em que se possa perambular e o público possa entrar na intimidade dos personagens.”, palavras de GIOVANNA SOAR, acrescentando que “A plateia é uma espécie de ‘fantasma’, que vê uma situação a qual, talvez, não devesse presenciar.”. Impera uma espécie de “voyeurismo”, da primeira à última cena do espetáculo, o qual considero, mas GIOVANA não, uma peça interativa.

 

 



 

          Depois de tanto me manifestar sobre o espetáculo, nem dei, ao leitor que não viu a peça, a chance de se questionar, já que não o pode fazer diretamente a mim: Que história é essa de o espetáculo apresentar cinco personagens, sendo três femininas, contando com cinco homens no elenco? Fácil e óbvia é a resposta: as três mulheres também são representadas por homens. E que mal há nisso? Seria, então, o caso de não se admitir e reconhecer a arte milenar do TEATRO japonês, como o e o kabuki, por exemplo, e não reconhecer o, também milenar, TEATRO grego, na época clássica, quando as mulheres eram proibidas de atuar, simplesmente pelo fato de não serem consideradas cidadãs das polis (cidades gregas), ficando todas as personagens femininas nas mãos de homens? Só que, nesses dois tipos de TEATRO, os atores atuavam/atuam travestidos de mulheres. Agora, caberia outra pergunta: Em “APENAS O FIM DO MUNDO”, eles interpretam seus papéis, com trajes, adereços e perucas femininos, vozes idem, trejeitos de fêmeas e maquiagem femínea?

 

 




  Esqueçam tudo isso! Todos falam como homens, vozes masculinas, com roupas do dia a dia (Parece que cada um traz, de casa, seu traje preferido para a cena, para aquela sessão; é a impressão que passa.) e, somente vez por outra, algum dos três atores dá uma ligeira “escorregadinha”, na voz e no gestual, que até me parece de propósito, como se para trazer à realidade alguém que possa não estar enxergando ali uma representante do “belo sexo”. De início, aqueles três homens, interpretando mulheres, causam, como não poderia deixar de ser, um certo “incômodo”, no entanto, essa sensação não dura muito tempo.

 

 



 

 O elenco é formado por um quinteto de magníficos atores, que representam com a máxima naturalidade e realismo, a despeito da proximidade com o público, e como se estivessem sozinhos, no espaço cênico, porém, até mesmo, tendo que, em determinadas cenas, esbarrar em pessoas do público, ignoram tudo à sua volta, concentrados no texto e na ação, sem rompimento da quarta parede. É verdade que, muito raramente, há, sim, um momento em que “se representa para plateia”.

 

 




  Na cena que se passa na cozinha, em que o protagonista e a cunhada, que ele só conhece durante essa estada na casa, visto que, quando deixou a família, ela não existia na vida de seu irmão, como já diz a SINOPSE, o público se acotovela, quase literalmente, para não perder o texto e as expressões faciais, o que não incomoda ou desconcentra, de forma alguma PEDRO WAGNER e GIORDANO CASTRO; não interfere no trabalho da dupla. É digno de todos os maiores e melhores aplausos o rendimento do elenco, em todas as cenas. Do ponto de vista da estrutura e da arquitetura dramatúrgica da peça, o protagonismo recai sobre o personagem Luís, emocionantemente interpretado por PEDRO WAGNER, todavia, consideradas todas as outras quatro atuações, o nível artístico do quarteto, em homenagem a eles e agradecimento por tudo o que mostraram naquele dia, alço-os à grandeza de protagonistas também. Não tenho qualquer dúvida quanto ao fato de que todas as cinco composições entram, para o currículo dos cinco atores, como o registro de um grande desafio, cumprido mais do que satisfatoriamente. A meu juízo, toda a potência do espetáculo, considerada pelo estudiosos do autor, como “calcada na língua” acaba perdendo para a linguagem corporal e facial dos atores. A afinação do grupo é algo que emociona e chega a provocar lágrimas em alguns espectadores, nos quais me incluo.

 

 



 

  A temática pesa na nossa alma, entretanto o autor, muito bem traduzido por GIOVANA SOAR, vez por outra, cria situações que descambam, levemente, para o cômico, chegando ao “non sense”. A gente ri de nervoso ou do tom patético que as palavras assumem em certas momentos, como, por exemplo na cena externa, quando a família se prepara para um passeio, num velho fusca, e surge uma discussão para saber quem ocupará que lugar do veículo e quem conduziria o carro. LAGARCE e SOAR sabem trabalhar bem o sarcasmo.

 

 




 

           No que tange aos elementos de criação que entram na FICHA TÉCNICA de uma peça de TEATRO, já teci comentários sobre os figurinos, e a sensação que tive quanto a eles parece se tornar mais robusta, no momento em que não encontro, na FICHA TÉCNICA, o nome de algum profissional que os assine, o mesmo, obviamente, no que concerne ao cenário. Relacionado a este quesito, no entanto, cito o nome de GUILHERME LUIGI, que agregou, aos espaços, objetos interessantes, assinando a direção de arte.

 

 



 

         Há, ainda, um braço muito forte, no baú dos encenadores, que pode valorar ou desvalorizar qualquer encenação, representado pelos profissionais que se encarregam de iluminar um espetáculo. Um bom ou mau desenho de luz pode engrandecer ou derrubar uma produção teatral. É um elemento que tem chamado muito a minha atenção nos últimos anos. No caso específico da montagem aqui analisada, tem que ser lembrado que houve sessões que começaram no final da tarde, ainda com a presença do sol, e outras totalmente à noite. E como fica o trabalho do responsável pelo desenho de luz? No caso, “dos responsáveis”, já que, segundo a FICHA TÉCNICA, é todo o grupo que assina o desenho de luz, um trabalho coletivo, feito a muitas mãos. Foi criado um projeto de luz, o qual, com as sessões extras, vespertinas, mas entrando pela noite, requisitou um “plano B”, que funcionou plenamente, evidenciado imagens indescritíveis (Infelizmente, não pude rever a montagem à noite, como era meu desejo.).   

 



 

FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Jean-Luc Lagarce

Tradução: Giovana Soar

Direção: Giovana Soar e Luiz Fernando Marques (Lubi)

Assistência de Direção: Lucas Torres

 

Elenco: Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner

 

Desenho de Luz: Grupo Magiluth

Direção de Arte: Guilherme Luigi

Técnico: Lucas Torres

“Design” Gráfico: Guilherme Luigi

Fotos: Annelize Tozetto e Humberto Araújo (Fotógrafos Oficiais do “32º Festival de Curitiba”)

Realização: Grupo Magiluth

 


 




 

          Esse texto já teve uma montagem em Curitiba, em 2006, pelas mãos de Márcio Abreu, mas pouco sei sobre ela. Só posso tecer comentários sobre a magnífica direção, a quatro mãos, de GIOVANNA SOAR, uma das curadoras do “Festival de Curitiba” e tradutora do texto original, e LUIZ FERNANDO MARQUES (LUBI). A peça aborda uma temática árida, dura e cruel, mas que não pode, e não deve, ser “varrida para debaixo do tapete”.

 

 



 

   E, para finalizar a minha humilde apreciação sobre esta verdadeira OBRA-PRIMA, apresento as conclusões a que cheguei, concernentes àquilo a que chamei de “as três grandes incógnitas que cercam a trama”, de acordo com a minha decodificação. Lembro que, embora eu pense que grande parte do público deva ter entendido da mesma forma que eu, é fato que outras leituras podem ser admitidas. Em primeiro lugar, o motivo que levou Luiz a tomar a decisão de abandonar a família seria, na verdade, a soma de três: o fato de esta não aceitar a sua condição de homossexual; a necessidade de encontrar condições para ser quem era, realmente, sem fingir; e uma possível, quase certa, discriminação, praticada pelos habitantes de uma localidade sobre a qual não são feitas determinantes referências, no texto, mas que me pareceu ser um lugarejo não muito “arejado” e de “poucas luzes”, em termos de costumes, tolerância e empatia. Sobre a revelação que precisava fazer à família, Luiz a levava dentro da enorme mochila, na forma de muitos remédios para o tratamento da AIDS, o que é revelado numa cena impactante, de tirar o fôlego, ao final da encenação. E, para terminar, pareceu-me que, sabendo de sua sentença de morte, mas não de quanto tempo de vida ainda dispunha, o homem teria voltado para morrer em sua casa ou, simplesmente, apenas para se despedir dos parentes. 

 

 




 

Li, numa publicação sobre o “Festival de Curitiba”, da qual, infelizmente, não me recordo, que “a obra deixou o público em êxtase, mergulhado em sua profundidade emocional e intensidade avassaladora”. Pura verdade. Foi como o espetáculo bateu em mim e naqueles companheiros de assistência. Recuso-me a acreditar que alguém possa tecer algum comentário negativo ao espetáculo. Que Nelson Rodrigues dê cambalhotas em se túmulo – isso pouco me importa -, mas vou dizer, mais uma vez, que UNANIMIDADE EXISTE, SIM, SEU RODRIGUES.

 

 



 

   Seria injusto, se não fizesse aqui um registro importantíssimo, com relação ao tratamento que me foi dispensado durante o tempo em que estive sob a emoção que me foi proporcionada pelo “Grupo Magiluth”. Como, de uns anos para cá, adquiri uma dificuldade de locomoção, após duas cirurgias de coluna e uma fratura de fêmur - mas “topo qualquer parada” -, fui, confesso, bastante apreensivo, para um espetáculo que exigia deslocamentos no espaço, esforços físicos não convencionais e, às vezes, oferecia pouco conforto para os espectadores. Ocorre que, desde o momento em que cheguei ao Palácio Garibaldi, com bem mais de uma hora de antecedência para o início daquela memorável e providencial sessão extra, como é de meu feitio, fui recebido com muita atenção, carinho, generosidade e respeito por parte de todos da produção, em especial pelo LUBI, o qual, preocupado comigo, solidário e empático às minhas dificuldades e necessidades especiais, colocou duas simpaticíssimas e operacionais moças, suas colaboradoras, estagiárias do curso de TEATRO da Universidade Federal do Paraná, LARISSA e ANA CLARA, para me auxiliar durante a “performance”. As duas não saíram do meu lado, o tempo todo, providenciando tudo o que pudesse tornar aquela fantástica experiência menos difícil para mim, ao mesmo tempo deliciosa e inesquecível, além da própria dupla de diretores, LUBI e GIOVANA. E, não satisfeitos, ainda providenciaram a minha volta ao hotel, numa van fretada. A todos a minha eterna gratidão!

 

 




 

 

 

 


FOTOS: ANNELIZE TOZETTO

e

HUMBERTO ARAÚJO.

 

 

 

 

 

 

GALERIA PARTICULAR

(Fotos: Gilberto Bartholo.)

 

 

 



Giovana Soar e Luiz Fernando Marques (Lubi)

 

 

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