sexta-feira, 10 de maio de 2024


“32º FESTIVAL DE

CURITIBA”

“LECI BRANDÃO –

NA PALMA DA MÃO”

ou

(AMOR E RELIGIOSIDADE

RESUMEM TUDO.)






         Enquanto houver o “Festival de Curitiba”, não perco a esperança de poder assistir a algum espetáculo pelo qual me interessei e, por algum motivo, sempre independente da minha vontade, deixei de ver, enquanto estava em cartaz. Tive algumas oportunidades para conferir o musical “LECI BRANDÃO – NA PALMA DA MÃO”, que fez algumas temporadas no Rio de Janeiro, todas de sucesso, entretanto sempre algum óbice me impedia de ir ao Teatro em que a peça estava sendo encenada. Até que chegou o dia 1º de abril de 2024 – não era mentira –e fui ao SESC da Esquina, em Curitiba, já sabendo que iria encontrar um ótimo espetáculo de TEATRO musical, mas não tão bonito, agradável e emocionante, feito por gente muito competente. A minha expectativa era grande, mas saí do Teatro gostando muito mais do espetáculo do que poderia imaginar.

 

 


 

     “LECI BRANDÃO – NA PALMA DA MÃO” é uma justa e merecida homenagem a uma grande artista, nascida Leci Brandão da Silva, no Rio de Janeiro, em 12 de setembro de 1944, bem próxima, portanto, de se tornar uma octogenária, cantora e compositora, como atividades laborais principais, também com destacada presença na política, tendo sido, uma vez reeleita, em 2022, a primeira mulher negra a cumprir quatro mandatos consecutivos na história da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP). É, sem dúvida, um dos maiores nomes de destaque da Música Popular Brasileira, principalmente no universo do samba, embora tenha composto canções românticas também.  Como parlamentar, dedica-se, primordialmente, à promoção da igualdade racial, ao respeito às religiões de matriz africana e à cultura brasileira, ainda que, da mesma forma, defenda a questão das populações indígena e quilombola, da juventude, das mulheres e do segmento LGBTQIA+.

 

 



 

 

SINOPSE:

A trajetória de uma das maiores artistas brasileiras, LECI BRANDÃO (TAY O’HANNA), é contada em um musical, a partir das histórias de seus orixás, Ogum e Iansã, e por meio do doce olhar de sua mãe, Dona Lecy (COM “Y”) (VERÔNICA BONFIM) e um de seus grandes aliados nessa trajetória, Zé do Caroço (SÉRGIO KAUFFMANN).

O caminho trilhado pela artista, da ala de compositores da Mangueira à Assembleia Legislativa de São Paulo, é mostrado em cena, ao som de sucessos, como “Isso É Fundo De Quintal” e “Zé do Caroço”, além de 15 outros.

 


        



LECI (COM “I”) começou sua carreira no início da década de 1970, tornando-se a primeira mulher a participar da ala de compositores da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, rompendo uma bolha, até então, impenetrável, de onde nunca saiu. Gravou muitos discos, com sucesso, teve composições de sua lavra gravadas por grandes cantores da MPB e participou de um festival de música. Além disso, arriscou-se, uma única vez, como atriz, tendo atuado numa telenovela. Atualmente, dedica-se à carreira musical e ao parlamento paulista. Paralelamente à carreira artística, ou aproveitando-se dela para garantir vez e voz, sempre foi uma grande ativista nas questões que dizem respeito aos menos favorecidos ou que sofrem preconceitos, tendo sido a primeira cantora famosa brasileira a se pronunciar como uma mulher lésbica, em 1978.

 


 



 

 

 Fico muito feliz sempre que vejo homenagens feitas a quem as merece, quando ainda em vida. Não foi diferente desta vez. É bem verdade que, infelizmente, existem homenagens e “homenagens (?)”. Com relação a estas, tenho certeza de que o “homenageado” ia preferir o ostracismo. É muito constrangedor isso. Mas não é, absolutamente, o caso da grande artista lembrada, de forma carinhosa, merecida e competente, neste musical. Por ser biográfico, é evidente que a construção da dramaturgia precisaria se pautar numa profunda pesquisa sobre a vida e a obra do(a) protagonista, como se deu em “LECI BRANDÃO – NA PALMA DA MÃO”. Tudo o que de mais importante marcou, e ainda marca, a vida de LECI está bem registrado no texto. E não é nada desprezível o seu legado.

 

 

 




 

 LEONARDO BRUNO, jornalista ligado ao universo do samba, comentarista de carnaval, escritor, roteirista e dramaturgo, autor da pesquisa para a peça, garimpou muito material acerca de LECI, como artista e cidadã, e ele, LORENA LIMA, LUIZ ANTONIO PILAR e LUIZA LOROZA, responsáveis pela adaptação dramatúrgica, fincaram pé em dois esteios, para exaltar a homenageada: o amor e a religiosidade, não, necessariamente, nessa ordem. E também optaram por não mostrar a personagem apenas como artista, jogando bastante luz na figura da mulher, a cidadã LECI, na sua condição de negra e lésbica, que mais pesa, ainda, pelo fato de ser uma mulher, num país ainda machista, como o nosso. A figura frágil de LECI contrasta com a imensa carga de amor e afetividade que ela carrega e demonstra pelos que lhe estão (estavam) próximos, principalmente por sua mãe, Dona Lecy de Assumpção Brandão, falecida, aos 96 anos de idade, em 2019. No que tange à religiosidade, jamais isso poderia ter ficado de fora do roteiro desta peça, visto que o Candomblé, religião de matriz africana que LECI escolheu para professar, sempre desempenhou um papel de vital importância na sua vida particular. Um dos grandes acertos do texto reside no fato de o dramaturgo ter escolhido exatamente Dona Lecy para contar a história da querida e ilustre filha, da forma mais real e afetiva possível.


 

 





 

 

Não é comum um espetáculo de TEATRO, já no seu início, na primeira cena, “pegar de jeito” o espectador, para mantê-lo “sob suas rédeas” durante todo o desenrolar da peça. No caso, este musical é uma dessas raridades, já que, dado o terceiro sinal, o espectador começa a se sentir fisgado pela beleza da luz projetada sobre a cenografia, que abraçam a bela e exuberante figura do ator SÉRGIO KAUFFMANN, cantando, com uma voz possante e agradável aos ouvidos, um ponto religioso em louvor a um orixá do Candomblé, Exu, no caso, o “orixá dos caminhos”. Durante o espetáculo, os “santos de cabeça” de LECI BRANDÃO, Ogum e Iansã, e outras entidades também aparecem em letras de canções da trilha sonora. Já ali, naquele primeiro momento da peça, sentimos que “não perdemos a viagem”. E o melhor ainda estava por vir.

 

 

 



 

 


  Na entrevista que concedeu aos profissionais que cobriam o “32º Festival de Curitiba”, na manhã do dia da primeira apresentação da peça, o premiado diretor do espetáculo, LUIZ ANTONIO PILAR, discorreu, em detalhes, sobre o processo de construção da encenação, falando de sua estreita relação com a família de LECI, destacando o fato de que o musical só existe em função de um pedido da irmã da homenageada, Iara, feito a ele, antes de falecer, em 2022: que a história da irmã chegasse ao grande público via TEATRO, e pelas mãos daquele encenador. Mais uma prova da presença do amor no espetáculo. Pedido feito, pedido atendido. Dali, foi só “azeitar a máquina” e “colocar a mão na massa”.


 

 



 

 

 LEONARDO BRUNO foi muito feliz na seleção daquilo que julgou mais importante chegar ao conhecimento dos fãs e admiradores de LECI ou, simplesmente, dos que apreciam um bom TEATRO musical. A dramaturgia mescla trechos narrativos, diálogos e 17 canções, a maioria das quais compostas pela própria LECI, como “A Filha da Dona Lecy”, “Ombro Amigo”, “Gente Negra”, “Preferência”, “Isso É Fundo de Quintal” e “Zé do Caroço”, as duas últimas, talvez, seus dois maiores sucessos, as quais ou fazem alusão a alguma passagem da vida da artista, ou ajudam a contar a história, fazendo parte do corpo da narrativa.

 

 

 



 

 

 A direção comporta-se de forma simples, objetiva e com bastante inventividade e bom gosto. LUIZ ANTONIO PILAR cercou-se de excelentes artistas de criação, para atingir seu objetivo - e o conseguiu -, como LORENA LIMA, que assina uma cenografia tão simples quanto bela e repleta de muita significação, na qual se destacam uma árvore, mangueira, fazendo alusão à escola de samba de coração de LECI, algumas plantas e o piso totalmente coberto por muitas folhas da referida árvore (“Quando eu piso em folhas secas / Caídas de uma mangueira, / Penso na minha escola / E nos poetas da minha Estação Primeira.” – “Folhas Secas”, autores: Nelson Cavaquinho, Nelson Antônio da Silva e Guilherme de Brito.). Responde pelos figurinos, muito acertados e pertinentes a cada personagem, RUTE ALVES. Toda a beleza plástica da montagem talvez não fosse tão notada, se não ampliada pelo belíssimo desenho de luz, de DANIELA SANCHEZ.

 


 



 

 

 Merecem créditos, ainda, ARIFAN JÚNIOR, o diretor musical do espetáculo, bem como os músicos que acompanham os atores/cantores ao vivo: MATHEUS CAMARÁ, THAINARA CASTRO, PEDRO IVO e RODRIGO PIRIKITO.

 

 

 



 

 

  Do ponto de vista técnico, o protagonismo do espetáculo gira em torna de LECI BANDÃO, a personagem, todavia, considerando-se o nível de atuação dos três atores, VERÔNICA BONFIM, SÉRGIO KAUFFMANN e TAY O’HANNA, totalmente nivelados no topo, em talento e rendimento cênico, não titubeio em dividir, entre o trio, o protagonismo da peça. Todos interpretam, cantam, e dançam, quando requisitados a isso, de forma brilhante, empolgando a plateia, a qual, após todos os números musicais, se manifesta na forma de prolongados aplausos, que só perdem para a derradeira ovação, ao final do espetáculo.

 

 

 





 

 

 

FICHA TÉCNICA: 

Texto e Pesquisa: Leonardo Bruno

Adaptação Dramatúrgica: Lorena Lima, Luiz Antonio Pilar e Luiza Loroza

Direção: Luiz Antonio Pilar

Direção Musical: Arifan Júnior

 

Elenco: Verônica Bonfim, Sérgio Kauffmann e Tay O’Hanna

 

Banda: Matheus Camará (violão, clarinete e agogô), Pedro Ivo (cuíca, tantan, surdo, caixa, tamborim, congas e efeitos), Rodrigo Pirikito (violão, cavaquinho e xequerê) e Thainara Castro (pandeiro, atabaque, congas, repique de anel, repinique e efeitos)

 

Assistência de Direção: Lorena Lima

Direção de Movimento: Luiza Loroza

Cenografia: Lorena Lima

Figurinos: Rute Alves

Iluminação: Daniela Sanchez

Preparação Vocal: Pedro Lima

Assistência de Direção Musical: Rômulo dos Anjos

Assistência de Cenografia: Tarso Tabu

Assistência de Figurino: Diogo Jesus

Cenotécnico: Vicente Mota

Direção de Produção: Bruno Mariozz

Identidade Visual: Patricia Clarkson e Rafael Prevot

Comunicação: Natasha Arsenio

Fotos: Maringas Maciel (Fotógrafo Oficial do "32º Festival de Curitiba")

Produção Executiva: Angélica Lessa

Produção: Palavra Z Produções Culturais

Idealização e Realização: Lapilar Produções Artísticas.






 

        “LECI BRANDÃO – NA PALMA DA MÃO” é um musical que foge ao padrão daqueles que consomem altos custos, contudo é um belo espetáculo, que não dá margem a comentários críticos negativos e que merece ser visto e aplaudido sempre que voltar ao cartaz. Se isso vier a acontecer, certamente, estarei, outra vez, na plateia.


 


 

LecI & Dona LecY.

 

 


 

FOTOS: MARINGAS MACIEL

(Fotógrafo Oficial do "32º Festival de Curitiba".)

 

 

 

GALERIA PARTICULAR:

(Fotos: Gilberto Bartholo.)

 

 

(Foto:Annelize Tozetto)



(Com Luiz Antonio Pilar.)



(Com Sérgio Kauffmann.)




 

 

 

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