OCUPAÇÃO ARTESANAL
CIA.
DE TEATRO
(ESPAÇO
SESC)
LUDWIG/2
(UM
GRANDE ESPETÁCULO TEATRAL, MUITO ALÉM DO “SIMPLES DESEJO DE PERMANECER UM
ENIGMA”.)
Lastimo,
profundamente, só ter conseguido assistir a esta peça na sua última semana, na
curta temporada, de apenas três, cumprida no Mezanino do Espaço SESC (Copacabana), de 4 a 27 de setembro de 2015.
Trata-se de um espetáculo
que merecia ser visto por um grande público, em longa temporada, pelo que ele
representa para o TEATRO BRASILEIRO.
Uma montagem inesquecível, que ficará escrita nos anais da nossa “teatrografia” (permito-me o
neologismo). Se oportunidade tivesse, teria assistido, com muita vontade e
prazer, outras vezes, a um dos dez
melhores espetáculos que tive a oportunidade de ver este ano, até o
presente momento. Tenho, porém, minha inabalável fé voltada aos “deuses do TEATRO”, de que haverão de
permitir que o espetáculo volte ao cartaz.
Fez parte de uma “Ocupação”, no Mezanino do Espaço SESC (Copacabana) da excelente ARTESANAL CIA. DE TEATRO, no ano em que
comemora seus 20 anos de magníficos
serviços prestados ao nosso TEATRO,
mormente na área direcionada às crianças. Além da peça alvo destes comentários,
o terceiro para adultos, a ARTESANAL
reapresentou, ainda, nessa “Ocupação”,
os seguintes espetáculos, todos infantis, ganhadores de muitos prêmios: “O Homem que Amava Caixas”, “A Lenda do Príncipe que Tinha Rosto” e
“O Gigante Egoísta”.
A coroa do poder.
O
embrião desta peça surgiu este ano mesmo, durante uma residência artística dos
diretores HENRIQUE GONÇALVES e GUSTAVO BICALHO, na Alemanha. Da ideia, partiu-se para a concepção do
espetáculo, totalmente desenvolvido em Munique, pela ARTESANAL CIA. DE TEATRO, na Internationales
Künstlerhaus Villa Waldberta (Casa Internacional do Artista Villa Waldberta),
às margens do Lago Starnberger (próximo ao local onde LUDWIG morreu), e com patrocínio da Secretaria de Cultura da Cidade de Munique
(Kulturrefart München).
Amantes.
Pronto o espetáculo, houve
quatro apresentações lá mesmo, no teatro do Pasinger Fabrik, com excelente repercussão na crítica local e
aceitação total do público. Um familiar de LUDWIG,
ao final de uma das apresentações, chegou a ressaltar, a GUSTAVO BICALHO, salvo engano, o fato de que “foi necessário uma companhia brasileira vir para a Alemanha, para
contar tão bem a história do rei LUDWIG”, ou algo parecido.
Alguns trechos (traduzidos)
de críticas publicadas
na imprensa de
Munique:
1) “O espetáculo é uma viagem, de
uma hora e meia (na verdade, são 75 minutos), em uma montanha russa, pelas
emoções mais íntimas do rei; do homem por trás do mito”.
2) “‘LUDWIG/2’ é de altíssimo
nível”.
3) “GUSTAVO BICALHO consegue
levar ao palco um espetáculo fora do comum, uma obra que recria o mito no
presente e traz à tona inúmeras questões muito relevantes, que permeiam a
humanidade até hoje. No conceito e na dramaturgia, reconhece-se um verdadeiro
artista em BICALHO, que, com seu vasto conhecimento sobre a vida de LUDWIG II,
consegue, de forma brilhante e fantástica, levar ao palco sua interpretação e
sua visão de mundo. Como diretor e autor, BICALHO acerta em cheio”.
4 “A tentativa da ARTESANAL CIA.
DE TEATRO, de trazer, aos palcos de Munique, uma visão humana sobre o mito
LUDWIG II, do homem por trás do Rei Cisne, não poderia ter dado mais certo. BICALHO
acerta em cheio. Inteligente e intenso são os adjetivos que melhor definem esta
extraordinária obra da ARTESANAL CIA. DE TEATRO. O elenco obtém sucesso, na
tentativa de trazer ao palco uma visão multidimensional sobre LUDWIG II, que
aqui, na Baviera, é muito conhecido, mas, após assistir a este espetáculo, até
o maior conhecedor da história de LUDWIG II, sairá do teatro intrigado e mexido,
por ter tido a oportunidade de tê-lo visto vivo, diante de seus olhos, por uma
hora e meia. Vale a pena ver”.
SINOPSE:
LUDWIG II (Luís II), Rei da
Baviera, também conhecido como Rei
Cisne ou Rei de Conto de Fadas, foi
um rei alemão, conhecido, mundialmente, pelos castelos que construiu e que,
hoje, são grandes atrações turísticas para o estado da Baviera.
Seus pais pretendiam batizá-lo como Otto, mas o seu avô, Luís I, da Baviera, insistiu em que o neto
recebesse o seu nome, uma vez que ambos haviam nascido no dia 25 de agosto,
dia de São Luís, padroeiro da Baviera. O seu irmão mais novo, porém, nascido três anos depois,
foi batizado como Otto.
LUDWIG assimiu o trono, aos 18 anos de idade, inesperadamente,
em função da morte súbita do pai, embora não estivesse devidamente pereparado
para o exercício da realeza. Apesar disso, sua juventude e boa aparência o
tornaram popular entre seus súditos.
Apaixonado pela música, um dos seus primeiros atos,
como rei, foi convocar o compositor Richard
Wagner para a sua Corte, em Munique, tornando-se seu patrono.
A título de curiosidade, Wagner
tinha uma notória reputação de revolucionário e namorador e estava,
constantemente, em fuga dos credores. Isso era motivo para que a população não
olhasse com bons olhos a amizade entre o rei e o compositor. LUDWIG o admirava, desde a adolescência,
depois de ter assistido, aos 15 anos de idade, a algumas de suas óperas. As
composições de Wagner apelavam para
a imaginação e a fantasia do rei e preenchiam um vazio emocional. LUDWIG foi, provavelmente, quem salvou
a carreira do célebre compositor.
O comportamento extravagante e escandaloso de Wagner desagradou o povo, conservador, da Baviera e LUDWIG foi
forçado a pedir a ele que
deixasse a capital, seis meses depois de ter sido assumido na Corte.
Ao longo do seu reinado, o rei teve uma sucessão
de amizades íntimas com outros homens, além de seu escudeiro e mestre de
cavalo. Privaram de sua intimidade de alcova, o ator de teatro, húngaro, Josef Kainz e o cortesão Alfons Weber, por exemplo.
Evitava aparecer em eventos públicos, preferindo
uma vida mais reclusa.
LUDWIG era um homem bastante visionário, extremamente sensível e
muito pacifista, que viveu profundamente atormentado pela sua homossexualidade, punível, na Baviera da época.
Foi noivo de sua prima SOPHIE-CHARLOTTE (irmã mais nova da
imperatriz Sissi, da Áustria), mas o casamento nunca foi
consumado, uma vez que, durante seu noivado, conheceu RICHARD HORNIG, chefe da cavalaria, e, provavelmente, o grande amor
de sua vida.
De personalidade excêntrica,
o rei foi deposto, aos 40 anos de idade, sob alegação de insanidade, morrendo,
em seguida, três dias depois, e de forma misteriosa, afogado numa parte rasa do
Lago Starnberger.
A morte de Luís
II foi considerada, oficialmente, como suicídio, “por afogamento”, mas isso tem sido questionado, uma vez que o rei
era conhecido como um exímio nadador, em sua juventude, e a água, no local em
que seu corpo foi encontrado, não alcançava sequer sua cintura. Além disso, o laudo da necropsia indicou que não havia água em seus
pulmões.
Luís havia expressado sentimentos suicidas,
durante suas crises de (suposta) loucura, mas a teoria de suicídio não explica,
totalmente, a morte de seu acompanhante, naquele passeio, o Dr. Gudden, o que mais parece ter sido
uma “queima de arquivo”.
Muitos sustentam que o rei foi assassinado por
seus inimigos, enquanto tentava escapar de Berg.
Memorial erguido no local onde o corpo de
Ludwig II
foi encontrado, no Lago
Starnberger.
O inusitado da peça já
pode ser notado pelo fato de ser apresentada em forma bilíngue, parte em
português e parte em alemão (com legendas). O espetáculo traz um recorte sobre
o homem por trás do mito, analisando as personagens sob a ótica dos amores
impossíveis: “Quis contar a história de LUDWIG sob uma perspectiva contemporânea,
buscando um contato direto com o público atual. Por isso usamos recursos
computadorizados na encenação. Para isso, convidamos o artista DANIEL BELQUER,
que desenvolve um trabalho bem interessante nessa área. BELQUER é também
responsável pela trilha sonora da peça, que traz versões eletrônicas de alguns
trabalhos de Wagner e também um pouco do rock brasileiro”, explica GUSTAVO BICALHO.
Crise.
Esta é a primeira montagem
internacional da ARTESANAL CIA. DE
TEATRO, e a terceira para adultos, agora, incluindo elementos multimídia,
controlados por computador, dentro da pesquisa estética desenvolvida pelo
grupo.
A busca por encenações que
transcendem o mero entretenimento é uma característica do grupo, que, através
de uma dramaturgia própria ou da adaptação de clássicos da literatura, oferece,
ao espectador, elementos que o fazem refletir sobre a experiência humana.
O texto, de GUSTAVO BICALHO, é um primor, fruto de muita pesquisa, cuidadosa e
profunda. GUSTAVO é um apaixonado
pela história e vida do rei, desde que assistiu ao filme de Luchino Visconti - “Ludwig”, que eu recomendo, o que ascendeu sua paixão pelo mito
bávaro.
Divide-se em três blocos (prefiro “blocos” – soa-me mais sólido, mais
germânico - ao termo “capítulos”),
com uma espécie de prólogo, retomado ao final, onde é recitado um trecho do Gênesis: “No princípio, criou Deus o céu e a terra. E a terra era sem forma
e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo...”.
No primeiro bloco, é
abordado o relacionamento do protagonista com sua prima SOFIE-CHARLOTTE, com predomínio da correspondência trocada entre os
dois. Em seguida, o foco vai para a
tumultuada relação homoafetiva do rei com seu chefe de cavalaria, RICHARD HORNIG. A terceira parte aborda
a solidão de LUDWIG, encerrado nas
torres de um de seus castelos, onde passa por profundas crises emocionais, chegando
à depressão.
Enganam-se,
redondamente, os que pensam que a proposta maior do irretocável texto seja contar a história da vida de
LUDWIG. Seria, por demais, simplório. Ele transpõe
uma simples proposta folhetinesca. Seu real desejo é desvendar a humanidade do
rei, suas mais profundas emoções e descobrir o verdadeiro ser humano,
encoberto, com o auxílio da névoa cenográfica, por uma figura trágica, assim
como o que possa tê-lo levado à loucura e, finalmente, à morte.
Os que tiveram a feliz, e
rara, oportunidade de assistir à peça, e os que possam vir a assistir a ela, não
podem deixar de prestar atenção ao que está subjacente, oculto por um texto
profundamente impactante, além de inteligente, perspicaz (dizer sem falar),
além de ser bastante atual e eivado de uma universalidade a toda prova. Há, nas
entrelinhas, a intenção de chamar a atenção do espectador para temas que vêm
incomodando e desafiando as civilizações, ao longo dos tempos, ligados à
existência humana. O “ser ou não ser”,
aqui, também se manifesta. Aliás,
guardadas as devidas proporções, GUSTAVO
BICALHO parece ter bebido no universo e na linguagem shakespeariana, par
escrever este texto, digno de premiação.
No que diz respeito à direção, a seis mãos, GUSTAVO, HENRIQUE GONÇALVES e DANIEL
BELQUER não poderiam ter sido mais inspirados, ao abandonar o academicismo
e ousar transgredir, radical e ordenadamente, os parâmetros da direção tradicional, partindo para uma
proposta inovadora, desafiadora, totalmente cônscios da “loucura” proposta.
Nenhuma cena deixa pistas para o que vem a seguir. É tudo surpreendente, novo,
deliciosamente imprevisível.
O simples fato de a peça
ser apresentada, ora em português, ora em alemão, já é, por si só, um elemento
impactante. O espetáculo poderia ter sido representado, em Munique, no idioma
local, e, no Brasil, na língua de Camões,
entretanto a opção pelo bilinguismo é um achado. Algumas pessoas defendem a tese
de que melhor seria a utilização de um idioma único, durante toda a encenação,
o que fez com que os diretores, informalmente, consultassem a opinião de alguns
admiradores do trabalho deles, inclusive eu. Penso, como a maioria, que não
deve ser alterado esse detalhe, uma vez que a sonoridade do alemão conta muito,
nas cenas em que é utilizado este idioma, sem falar que o protagonista, MANOEL MADEIRA, ainda que brasileiro, é
fluente nele e sabe explorar, com maestria, os recursos sonoros do idioma de Göethe.
O elenco da peça - MANOEL
MADEIRA, SUZANA CASTELO e o ator
alemão, convidado, ANDREAS MAYER - é
um elemento valiosíssimo no projeto. O trio atua em perfeita harmonia, os três
sustentando-se e iluminando-se, um ao outro, numa triangulação irretocável. A
entrega dos três grandes artistas e o profundo mergulho na construção dos
personagens são dignos de todos os aplausos.
Suzana Castelo,
Manoel Madeira e Andreas Mayer.
SUZANA compõe uma corretíssima SOFIE-CHARLOTTE, na montagem brasileira
(em Munique, o papel foi feito pela atriz Dai
Fiorati), submissa, conformada, sabedora do que, realmente, representa para
LUDWIG, que não era, exatamente, o
que ela desejava que fosse. A atriz tem uma forte presença em cena,
transformando-se completamente, em relação à sua figura fora de cena.
Desloca-se, pelo espaço cênico, com leveza e imponência, demonstrando um
domínio de palco próprio de uma tarimbada atriz, a despeito de sua pouca idade
e incipiente prática na profissão. Um ótimo trabalho!
Para a montagem em
Munique, foi convidado um ator local, o alemão, ANDREAS MAYER, que, veio ao Rio de Janeiro, para a temporada
carioca. ANDREAS é um ator aplicado,
de grandes recursos cênicos, firme, que interpreta um RICHARD HORNIG de forma muito correta, precisa, dentro dos limites
que o papel lhe oferece. A cena em que, tendo de ceder à pressão social,
revela, com a maior naturalidade, impassível, ao amante, o rompimento do relacionamento entre os dois, anunciando seu
casamento com uma mulher, é um dos pontos altos do espetáculo, graças à carga
emotiva dos dois atores. Muito bom o seu
trabalho!
A “cereja do bolo”, ou
melhor, da “fábrica de bolos”, porque uma cereja só é muito pouco para ele,
chama-se MANOEL MADEIRA, uma das
maiores, e felizes, surpresas que tive, nos últimos anos, em se tratando de TEATRO. Fiquei, e ainda estou,
completamente encantado, fascinado, hipnotizado por seu trabalho. A importância,
a intensidade e a força do personagem exigiam que o papel fosse entregue a um
grande ator, daqueles que formam a relação dos melhores à disposição. Num breve exercício de imaginação e devaneio,
vêm-me a cabeça nomes do quilate de um Paulo
Autran, de um Rubens Corrêa ou
de um José Wilker, para citar apenas
alguns, os quais, mais jovens, certamente, dariam um grande LUDWIG. Não me falta convicção para
dizer que nenhum deles faria melhor figura que MANOEL; estariam, isto sim, no mesmo nível de interpretação. Se
acham que posso estar exagerando, vamos, mais uma vez, incomodar os “deuses do TEATRO”, para que o
espetáculo volte ao cartaz. Certamente,
estarei na primeira fila, na reestreia. E MANOEL
MADEIRA será o motivo maior disso.
Poucas
vezes, num palco de TEATRO, vi um
ator tão visceral, tão intenso, tão abissalmente mergulhado num personagem,
como tive a oportunidade de ver no trabalho desse ator. Além de uma bela
presença em cena, e de uma excelente voz, ele arranca, do mais profundo de sua
alma, o tom certo de voz e a emoção que deve permear cada uma de suas cenas. É
apaixonante o tratamento que ele dá ao atormentado personagem. Parece que
sente, na própria pele, o horror de sustentar uma situação insustentável, uma farsa: ter
de se casar, para corresponder às exigências sociais e manter a garantia do
trono, com a sucessão de um herdeiro, abrindo mão do amor por outro homem, sem contar o quanto de
sofrimento a assunção da irrefreável homossexualidade do personagem representava
para este, criado sob a fé católica, enxergando, na sua “anomalia”, um
imperdoável e “terrível” pecado.
Suzana e Manoel.
A
cada nova cena, parecia que o ator se superava, sublimava-se, até me levar a um
questionamento: “Até onde ele vai chegar
com essa interpretação?!”
Quero ver MANOEL MADEIRA sempre, por sua
capacidade de se dar, por inteiro, à construção de um personagem,
principalmente um de tão difícil elaboração, como o jovem LUDWIG. MANOEL não teme
desafios e chega a se ferir, em cena, em momentos mais tensos, que exigem que o
ator pratique agressões físicas contra si mesmo. Parece estar em transe.
Nenhum adjetivo, dos que conheço - e olha que meu
vocabulário é farto - seria suficiente para qualificar o trabalho de ATOR, com todas as maiúsculas, de MANOEL MADEIRA.
O TEATRO
não comporta o solitário; é trabalho de equipe e, para que dê certo, é preciso
que cada um faça, corretamente, a sua parte.
Se possível, da melhor forma que conseguir. Melhor, ainda, se não houver
falha alguma. É o que acontece em “LUDWIG
/ 2” .
O desenho de
luz é um elemento fundamental nesta montagem. Primeiro trabalho assinado
por RODRIGO BELAY, até então
assistente e operador de iluminação de um mestre, Jorginho de Carvalho, o que se vê, no palco, é um projeto de requintado
bom gosto e acerto. Perfeitamente de acordo com a proposta da peça, na maior
parte do tempo, nada merece estar sob intensa iluminação, já que o mistério, o
proibido, o que deve ser escondido, o pecaminoso, o torto, o ENIGMA, tudo isso é para não estar
claramente revelado, às vistas do público. A ideia das duas espécies de
cortinas de fios elétricos, ou móbiles, se preferirem, pendentes, nas laterais
do palco, com lâmpadas comuns, bem fracas, nas extremidades, por dentro dos
quais caminham os dois personagens coadjuvantes, é sensacional. Funcionam,
também, a iluminação lateral, a contra-luz, os efeitos provenientes de lâmpadas
estroboscópicas, tudo à hora exata, ora destacando elementos do cenário, ora mantendo
focos sobre o que merece mais atenção, ora delimitando espaços e tempos, integrando-se, sempre, a uma excelente cenografia.
Quanto à cenografia
da peça, de LINDA SOLLACHER e KARLLA DE LUCA, só posso dizer que
deve ter sido milimetricamente pensada, a fim de contribuir, de forma
parcimoniosa, porém corretíssima, para o sucesso do espetáculo. O cenário é um amplo espaço vago, com um
fundo preto, assim como as laterais, e o que se vê, de móveis, em cena, são
apenas uma mesa e uma poltrona, cujo assento e encosto não têm forração, com as
molas aparentes, e quando voltada, de costas, para a plateia, a superfície posterior do
encosto serve de tela para a projeção de imagens, tudo dentro do mais moderno
conceito tecnológico, sobre o qual se deitou a direção do espetáculo. Sobre a mesa, é
interessante a sua utilização, quando colocada em outra posição, com o tampo
voltado para o público, como se fosse uma parede, sobre o qual brilham e piscam
lâmpadas de “led”, creio eu, numa cena fantástica, em que LUDWIG “dá um salto para o futuro” e vai a uma boate “gay”, uma das
melhores “sacadas” da direção.
Para fechar o escaninho da cenografia, não podemos nos esquecer da perfeita maquete de um
castelo, utilizada numa sequência das mais lindas no espetáculo.
De certa forma incorporados ao ambiente cenográfico,
merecem destaque a fumaça, utilizada muitas vezes, e as projeções de imagens,
incluindo algumas do verdadeiro LUDWIG
II.
Um dos elementos do tripé que sustenta este
espetáculo, fora de cena, é DANIEL
BELQUER, responsável pela direção
musical e “video mapping”. Se os
prêmios direcionados à melhor direção
musical levassem em consideração apenas o quesito “ousadia”, só isso
bastaria para que BELQUER, por esta
montagem, fosse considerado “hors-concours”.
Completamente alheio à época em que viveu o protagonista, e perfeitamente
inserido na proposta multidimensional e atemporal da direção, DANIEL BELQUER
coloca, no mesmo liquidificador, e aciona o botão “ON”, o próprio Wagner,
no original ou em curiosíssimas versões “techno-pop”, passando por ritmos lentos
e frenéticos, contemplando, inclusive, a MPB,
com Lenine, por exemplo. É
importante destacar que cada tema musical escolhido por DANIEL está perfeitamente moldado à cena em que é utilizado. A programação e a trilha sonora adicionais contaram com a contribuição de CAESO.
Os figurinos,
de HENRIQUE GONÇALVES e FERNANDA SABINO, atendem bem à
proposta da peça, pois não se prendem, rigidamente, à época em que viveu LUDWIG, seguindo a intenção da
atemporalidade. Guardam elementos de época, mas são complementados com detalhes
contemporâneos. São simples, entretanto de muito bom gosto e fino acabamento.
São importantes, para o visagismo dos personagens. Quanto a este detalhe, um
destaque vai para os cabelos de LUDWIG,
longos e, invariavelmente, desgrenhados.
Não posso omitir um aplauso para a ótima direção de movimento, de PAULO MAZZONI, responsável por belos
momentos do espetáculo.
FICHA TÉCNICA:
Concepção do Projeto: Gustavo Bicalho
Dramaturgia e texto: Gustavo Bicalho
Tradução: Lilli-Hannah Hoepner e Manoel
Madeira
Elenco: Manoel Madeira, Suzana Castelo e
Andreas Mayer (ator convidado)
Direção Artística: Gustavo Bicalho,
Henrique Gonçalves e Daniel Belquer.
Desenho de Luz: Rodrigo Belay
Cenário: Linda Sollacher e Karlla de Luca
Figurinos e Adereços: Henrique Gonçalves e
Fernanda Sabino
Direção Musical e Vídeo Mapping: Daniel
Belquer
Programação e Trilha Sonora Adicionais:
Caeso
Direção de Movimento: Paulo Mazzoni
Programação Visual: Andrea Batitucci
Fotografias: Nadaine Löes e Henrique
Gonçalves
Produção: Gustavo Bicalho, Henrique
Gonçalves e Manoel Madeira
Não tenho a menor dúvida de que “LUDWIG / 2”
marcará o ano teatral de 2015, como uma das mais instigantes e perfeitas
produções desta temporada.
(FOTOS: NADAINE LÖES
e
HENRIQUE GONÇALVES.)
Amei ter assistido na reestreia! Lindo!
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