terça-feira, 13 de outubro de 2015


OCUPAÇÃO ARTESANAL

CIA. DE TEATRO

(ESPAÇO SESC)

 

LUDWIG/2

 

(UM GRANDE ESPETÁCULO TEATRAL, MUITO ALÉM DO “SIMPLES DESEJO DE PERMANECER UM ENIGMA”.)

 

 

 


 

 

 

            Lastimo, profundamente, só ter conseguido assistir a esta peça na sua última semana, na curta temporada, de apenas três, cumprida no Mezanino do Espaço SESC (Copacabana), de 4 a 27 de setembro de 2015. 

 

Trata-se de um espetáculo que merecia ser visto por um grande público, em longa temporada, pelo que ele representa para o TEATRO BRASILEIRO. Uma montagem inesquecível, que ficará escrita nos anais da nossa “teatrografia” (permito-me o neologismo). Se oportunidade tivesse, teria assistido, com muita vontade e prazer, outras vezes, a um dos dez melhores espetáculos que tive a oportunidade de ver este ano, até o presente momento. Tenho, porém, minha inabalável fé voltada aos “deuses do TEATRO”, de que haverão de permitir que o espetáculo volte ao cartaz.

 

Fez parte de uma “Ocupação”, no Mezanino do Espaço SESC (Copacabana) da excelente ARTESANAL CIA. DE TEATRO, no ano em que comemora seus 20 anos de magníficos serviços prestados ao nosso TEATRO, mormente na área direcionada às crianças. Além da peça alvo destes comentários, o terceiro para adultos, a ARTESANAL reapresentou, ainda, nessa “Ocupação”, os seguintes espetáculos, todos infantis, ganhadores de muitos prêmios: “O Homem que Amava Caixas”, “A Lenda do Príncipe que Tinha Rosto” e “O Gigante Egoísta”.

 

 

 


A coroa do poder.

 

 

            O embrião desta peça surgiu este ano mesmo, durante uma residência artística dos diretores HENRIQUE GONÇALVES e GUSTAVO BICALHO, na Alemanha.  Da ideia, partiu-se para a concepção do espetáculo, totalmente desenvolvido em Munique, pela ARTESANAL CIA. DE TEATRO, na Internationales Künstlerhaus Villa Waldberta (Casa Internacional do Artista Villa Waldberta), às margens do Lago Starnberger (próximo ao local onde LUDWIG morreu), e com patrocínio da Secretaria de Cultura da Cidade de Munique (Kulturrefart München).

 

 


Amantes.

 

 

Pronto o espetáculo, houve quatro apresentações lá mesmo, no teatro do Pasinger Fabrik, com excelente repercussão na crítica local e aceitação total do público. Um familiar de LUDWIG, ao final de uma das apresentações, chegou a ressaltar, a GUSTAVO BICALHO, salvo engano, o fato de que “foi necessário uma companhia brasileira vir para a Alemanha, para contar tão bem a história do rei LUDWIG”, ou algo parecido.

 

 


 

 

 

 
Alguns trechos (traduzidos) de críticas publicadas
na imprensa de Munique:
 
1) “O espetáculo é uma viagem, de uma hora e meia (na verdade, são 75 minutos), em uma montanha russa, pelas emoções mais íntimas do rei; do homem por trás do mito”.
 
2) “‘LUDWIG/2’ é de altíssimo nível”.
 
3) “GUSTAVO BICALHO consegue levar ao palco um espetáculo fora do comum, uma obra que recria o mito no presente e traz à tona inúmeras questões muito relevantes, que permeiam a humanidade até hoje. No conceito e na dramaturgia, reconhece-se um verdadeiro artista em BICALHO, que, com seu vasto conhecimento sobre a vida de LUDWIG II, consegue, de forma brilhante e fantástica, levar ao palco sua interpretação e sua visão de mundo. Como diretor e autor, BICALHO acerta em cheio”.
 
4 “A tentativa da ARTESANAL CIA. DE TEATRO, de trazer, aos palcos de Munique, uma visão humana sobre o mito LUDWIG II, do homem por trás do Rei Cisne, não poderia ter dado mais certo. BICALHO acerta em cheio. Inteligente e intenso são os adjetivos que melhor definem esta extraordinária obra da ARTESANAL CIA. DE TEATRO. O elenco obtém sucesso, na tentativa de trazer ao palco uma visão multidimensional sobre LUDWIG II, que aqui, na Baviera, é muito conhecido, mas, após assistir a este espetáculo, até o maior conhecedor da história de LUDWIG II, sairá do teatro intrigado e mexido, por ter tido a oportunidade de tê-lo visto vivo, diante de seus olhos, por uma hora e meia. Vale a pena ver”.
 

 

 

 


 

 

 

 
SINOPSE:
 
LUDWIG II (Luís II), Rei da Baviera, também conhecido como Rei Cisne ou Rei de Conto de Fadas, foi um rei alemão, conhecido, mundialmente, pelos castelos que construiu e que, hoje, são grandes atrações turísticas para o estado da Baviera.
 
Seus pais pretendiam batizá-lo como Otto, mas o seu avô, Luís I, da Baviera, insistiu em que o neto recebesse o seu nome, uma vez que ambos haviam nascido no dia 25 de agosto, dia de São Luís, padroeiro da Baviera. O seu irmão mais novo, porém, nascido três anos depois, foi batizado como Otto.
 
LUDWIG assimiu o trono, aos 18 anos de idade, inesperadamente, em função da morte súbita do pai, embora não estivesse devidamente pereparado para o exercício da realeza. Apesar disso, sua juventude e boa aparência o tornaram popular entre seus súditos.
 
Apaixonado pela música, um dos seus primeiros atos, como rei, foi convocar o compositor Richard Wagner para a sua Corte, em Munique, tornando-se seu patrono.
 
A título de curiosidade, Wagner tinha uma notória reputação de revolucionário e namorador e estava, constantemente, em fuga dos credores. Isso era motivo para que a população não olhasse com bons olhos a amizade entre o rei e o compositor. LUDWIG o admirava, desde a adolescência, depois de ter assistido, aos 15 anos de idade, a algumas de suas óperas. As composições de Wagner apelavam para a imaginação e a fantasia do rei e preenchiam um vazio emocional. LUDWIG foi, provavelmente, quem salvou a carreira do célebre compositor.
 
O comportamento extravagante e escandaloso de Wagner desagradou o povo, conservador, da Baviera e LUDWIG foi forçado a pedir a ele que deixasse a capital, seis meses depois de ter sido assumido na Corte.
 
Ao longo do seu reinado, o rei teve uma sucessão de amizades íntimas com outros homens, além de seu escudeiro e mestre de cavalo. Privaram de sua intimidade de alcova, o ator de teatro, húngaro, Josef Kainz e o cortesão Alfons Weber, por exemplo.
 
Evitava aparecer em eventos públicos, preferindo uma vida mais reclusa.
 
LUDWIG era um homem bastante visionário, extremamente sensível e muito pacifista, que viveu profundamente atormentado pela sua homossexualidade, punível, na Baviera da época.
 
Foi noivo de sua prima SOPHIE-CHARLOTTE (irmã mais nova da imperatriz Sissi, da Áustria), mas o casamento nunca foi consumado, uma vez que, durante seu noivado, conheceu RICHARD HORNIG, chefe da cavalaria, e, provavelmente, o grande amor de sua vida.
 
De personalidade excêntrica, o rei foi deposto, aos 40 anos de idade, sob alegação de insanidade, morrendo, em seguida, três dias depois, e de forma misteriosa, afogado numa parte rasa do Lago Starnberger.
 
A morte de Luís II foi considerada, oficialmente, como suicídio, “por afogamento”, mas isso tem sido questionado, uma vez que o rei era conhecido como um exímio nadador, em sua juventude, e a água, no local em que seu corpo foi encontrado, não alcançava sequer sua cintura.  Além disso, o laudo da necropsia indicou que não havia água em seus pulmões.
 
Luís havia expressado sentimentos suicidas, durante suas crises de (suposta) loucura, mas a teoria de suicídio não explica, totalmente, a morte de seu acompanhante, naquele passeio, o Dr. Gudden, o que mais parece ter sido uma “queima de arquivo”.
 
Muitos sustentam que o rei foi assassinado por seus inimigos, enquanto tentava escapar de Berg.
 

 

 

 




Memorial erguido no local onde o corpo de Ludwig II

foi encontrado, no Lago Starnberger.

 

 

 

O inusitado da peça já pode ser notado pelo fato de ser apresentada em forma bilíngue, parte em português e parte em alemão (com legendas). O espetáculo traz um recorte sobre o homem por trás do mito, analisando as personagens sob a ótica dos amores impossíveis: “Quis contar a história de LUDWIG sob uma perspectiva contemporânea, buscando um contato direto com o público atual. Por isso usamos recursos computadorizados na encenação. Para isso, convidamos o artista DANIEL BELQUER, que desenvolve um trabalho bem interessante nessa área. BELQUER é também responsável pela trilha sonora da peça, que traz versões eletrônicas de alguns trabalhos de Wagner e também um pouco do rock brasileiro”, explica GUSTAVO BICALHO.

 

 

Ludwig 2

Crise.

 

 

Esta é a primeira montagem internacional da ARTESANAL CIA. DE TEATRO, e a terceira para adultos, agora, incluindo elementos multimídia, controlados por computador, dentro da pesquisa estética desenvolvida pelo grupo.

 

A busca por encenações que transcendem o mero entretenimento é uma característica do grupo, que, através de uma dramaturgia própria ou da adaptação de clássicos da literatura, oferece, ao espectador, elementos que o fazem refletir sobre a experiência humana.

 

O texto, de GUSTAVO BICALHO, é um primor, fruto de muita pesquisa, cuidadosa e profunda. GUSTAVO é um apaixonado pela história e vida do rei, desde que assistiu ao filme de Luchino Visconti - “Ludwig”, que eu recomendo, o que ascendeu sua paixão pelo mito bávaro.

 

 Divide-se em três blocos (prefiro “blocos” – soa-me mais sólido, mais germânico - ao termo “capítulos”), com uma espécie de prólogo, retomado ao final, onde é recitado um trecho do Gênesis: No princípio, criou Deus o céu e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo...”.

 

No primeiro bloco, é abordado o relacionamento do protagonista com sua prima SOFIE-CHARLOTTE, com predomínio da correspondência trocada entre os dois.  Em seguida, o foco vai para a tumultuada relação homoafetiva do rei com seu chefe de cavalaria, RICHARD HORNIG. A terceira parte aborda a solidão de LUDWIG, encerrado nas torres de um de seus castelos, onde passa por profundas crises emocionais, chegando à depressão.

 

 

Ludwig

 

 

Enganam-se, redondamente, os que pensam que a proposta maior do irretocável texto seja contar a história da vida de LUDWIG.  Seria, por demais, simplório. Ele transpõe uma simples proposta folhetinesca. Seu real desejo é desvendar a humanidade do rei, suas mais profundas emoções e descobrir o verdadeiro ser humano, encoberto, com o auxílio da névoa cenográfica, por uma figura trágica, assim como o que possa tê-lo levado à loucura e, finalmente, à morte.

 

Os que tiveram a feliz, e rara, oportunidade de assistir à peça, e os que possam vir a assistir a ela, não podem deixar de prestar atenção ao que está subjacente, oculto por um texto profundamente impactante, além de inteligente, perspicaz (dizer sem falar), além de ser bastante atual e eivado de uma universalidade a toda prova. Há, nas entrelinhas, a intenção de chamar a atenção do espectador para temas que vêm incomodando e desafiando as civilizações, ao longo dos tempos, ligados à existência humana. O “ser ou não ser”, aqui, também se manifesta.  Aliás, guardadas as devidas proporções, GUSTAVO BICALHO parece ter bebido no universo e na linguagem shakespeariana, par escrever este texto, digno de premiação.

 

 

 


 

 

No que diz respeito à direção, a seis mãos, GUSTAVO, HENRIQUE GONÇALVES e DANIEL BELQUER não poderiam ter sido mais inspirados, ao abandonar o academicismo e ousar transgredir, radical e ordenadamente, os parâmetros da direção tradicional, partindo para uma proposta inovadora, desafiadora, totalmente cônscios da “loucura” proposta. Nenhuma cena deixa pistas para o que vem a seguir. É tudo surpreendente, novo, deliciosamente imprevisível.

 

O simples fato de a peça ser apresentada, ora em português, ora em alemão, já é, por si só, um elemento impactante. O espetáculo poderia ter sido representado, em Munique, no idioma local, e, no Brasil, na língua de Camões, entretanto a opção pelo bilinguismo é um achado. Algumas pessoas defendem a tese de que melhor seria a utilização de um idioma único, durante toda a encenação, o que fez com que os diretores, informalmente, consultassem a opinião de alguns admiradores do trabalho deles, inclusive eu. Penso, como a maioria, que não deve ser alterado esse detalhe, uma vez que a sonoridade do alemão conta muito, nas cenas em que é utilizado este idioma, sem falar que o protagonista, MANOEL MADEIRA, ainda que brasileiro, é fluente nele e sabe explorar, com maestria, os recursos sonoros do idioma de Göethe.

 

O elenco da peça - MANOEL MADEIRA, SUZANA CASTELO e o ator alemão, convidado, ANDREAS MAYER - é um elemento valiosíssimo no projeto. O trio atua em perfeita harmonia, os três sustentando-se e iluminando-se, um ao outro, numa triangulação irretocável. A entrega dos três grandes artistas e o profundo mergulho na construção dos personagens são dignos de todos os aplausos.

 

 

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                                           Suzana Castelo, Manoel  Madeira e Andreas Mayer.

 

 

            SUZANA compõe uma corretíssima SOFIE-CHARLOTTE, na montagem brasileira (em Munique, o papel foi feito pela atriz Dai Fiorati), submissa, conformada, sabedora do que, realmente, representa para LUDWIG, que não era, exatamente, o que ela desejava que fosse. A atriz tem uma forte presença em cena, transformando-se completamente, em relação à sua figura fora de cena. Desloca-se, pelo espaço cênico, com leveza e imponência, demonstrando um domínio de palco próprio de uma tarimbada atriz, a despeito de sua pouca idade e incipiente prática na profissão. Um ótimo trabalho!

Para a montagem em Munique, foi convidado um ator local, o alemão, ANDREAS MAYER, que, veio ao Rio de Janeiro, para a temporada carioca. ANDREAS é um ator aplicado, de grandes recursos cênicos, firme, que interpreta um RICHARD HORNIG de forma muito correta, precisa, dentro dos limites que o papel lhe oferece. A cena em que, tendo de ceder à pressão social, revela, com a maior naturalidade, impassível, ao amante, o rompimento do relacionamento entre os dois, anunciando seu casamento com uma mulher, é um dos pontos altos do espetáculo, graças à carga emotiva dos dois atores. Muito bom o seu trabalho!

 


 

A “cereja do bolo”, ou melhor, da “fábrica de bolos”, porque uma cereja só é muito pouco para ele, chama-se MANOEL MADEIRA, uma das maiores, e felizes, surpresas que tive, nos últimos anos, em se tratando de TEATRO. Fiquei, e ainda estou, completamente encantado, fascinado, hipnotizado por seu trabalho. A importância, a intensidade e a força do personagem exigiam que o papel fosse entregue a um grande ator, daqueles que formam a relação dos melhores à disposição.  Num breve exercício de imaginação e devaneio, vêm-me a cabeça nomes do quilate de um Paulo Autran, de um Rubens Corrêa ou de um José Wilker, para citar apenas alguns, os quais, mais jovens, certamente, dariam um grande LUDWIG. Não me falta convicção para dizer que nenhum deles faria melhor figura que MANOEL; estariam, isto sim, no mesmo nível de interpretação. Se acham que posso estar exagerando, vamos, mais uma vez, incomodar os “deuses do TEATRO”, para que o espetáculo volte ao cartaz.  Certamente, estarei na primeira fila, na reestreia. E MANOEL MADEIRA será o motivo maior disso.

            Poucas vezes, num palco de TEATRO, vi um ator tão visceral, tão intenso, tão abissalmente mergulhado num personagem, como tive a oportunidade de ver no trabalho desse ator. Além de uma bela presença em cena, e de uma excelente voz, ele arranca, do mais profundo de sua alma, o tom certo de voz e a emoção que deve permear cada uma de suas cenas. É apaixonante o tratamento que ele dá ao atormentado personagem. Parece que sente, na própria pele, o horror de sustentar uma situação insustentável, uma farsa: ter de se casar, para corresponder às exigências sociais e manter a garantia do trono, com a sucessão de um herdeiro, abrindo mão do amor por outro homem, sem contar o quanto de sofrimento a assunção da irrefreável homossexualidade do personagem representava para este, criado sob a fé católica, enxergando, na sua “anomalia”, um imperdoável e “terrível” pecado.

 


Suzana e Manoel.

 

            A cada nova cena, parecia que o ator se superava, sublimava-se, até me levar a um questionamento: “Até onde ele vai chegar com essa interpretação?!”

Quero ver MANOEL MADEIRA sempre, por sua capacidade de se dar, por inteiro, à construção de um personagem, principalmente um de tão difícil elaboração, como o jovem LUDWIG. MANOEL não teme desafios e chega a se ferir, em cena, em momentos mais tensos, que exigem que o ator pratique agressões físicas contra si mesmo. Parece estar em transe.

 

Nenhum adjetivo, dos que conheço - e olha que meu vocabulário é farto - seria suficiente para qualificar o trabalho de ATOR, com todas as maiúsculas, de MANOEL MADEIRA.

 

 


ludwig2_por_jackeline_nigri_1Manoel Madeira ou Ludwig?

 

 

O TEATRO não comporta o solitário; é trabalho de equipe e, para que dê certo, é preciso que cada um faça, corretamente, a sua parte.  Se possível, da melhor forma que conseguir. Melhor, ainda, se não houver falha alguma. É o que acontece em “LUDWIG / 2”.

 

O desenho de luz é um elemento fundamental nesta montagem. Primeiro trabalho assinado por RODRIGO BELAY, até então assistente e operador de iluminação de um mestre, Jorginho de Carvalho, o que se vê, no palco, é um projeto de requintado bom gosto e acerto. Perfeitamente de acordo com a proposta da peça, na maior parte do tempo, nada merece estar sob intensa iluminação, já que o mistério, o proibido, o que deve ser escondido, o pecaminoso, o torto, o ENIGMA, tudo isso é para não estar claramente revelado, às vistas do público. A ideia das duas espécies de cortinas de fios elétricos, ou móbiles, se preferirem, pendentes, nas laterais do palco, com lâmpadas comuns, bem fracas, nas extremidades, por dentro dos quais caminham os dois personagens coadjuvantes, é sensacional. Funcionam, também, a iluminação lateral, a contra-luz, os efeitos provenientes de lâmpadas estroboscópicas, tudo à hora exata, ora destacando elementos do cenário, ora mantendo focos sobre o que merece mais atenção, ora delimitando espaços e tempos, integrando-se, sempre, a uma excelente cenografia.

 

 


 

 


 

 

Quanto à cenografia da peça, de LINDA SOLLACHER e KARLLA DE LUCA, só posso dizer que deve ter sido milimetricamente pensada, a fim de contribuir, de forma parcimoniosa, porém corretíssima, para o sucesso do espetáculo. O cenário é um amplo espaço vago, com um fundo preto, assim como as laterais, e o que se vê, de móveis, em cena, são apenas uma mesa e uma poltrona, cujo assento e encosto não têm forração, com as molas aparentes, e quando voltada, de costas, para a plateia, a superfície posterior do encosto serve de tela para a projeção de imagens, tudo dentro do mais moderno conceito tecnológico, sobre o qual se deitou a direção do espetáculo. Sobre a mesa, é interessante a sua utilização, quando colocada em outra posição, com o tampo voltado para o público, como se fosse uma parede, sobre o qual brilham e piscam lâmpadas de “led”, creio eu, numa cena fantástica, em que LUDWIG “dá um salto para o futuro” e vai a uma boate “gay”, uma das melhores “sacadas” da direção.

 

Para fechar o escaninho da cenografia, não podemos nos esquecer da perfeita maquete de um castelo, utilizada numa sequência das mais lindas no espetáculo.

 

De certa forma incorporados ao ambiente cenográfico, merecem destaque a fumaça, utilizada muitas vezes, e as projeções de imagens, incluindo algumas do verdadeiro LUDWIG II.

 

 


 

 


 

 

 



 

 

 

Um dos elementos do tripé que sustenta este espetáculo, fora de cena, é DANIEL BELQUER, responsável pela direção musical e “video mapping”. Se os prêmios direcionados à melhor direção musical levassem em consideração apenas o quesito “ousadia”, só isso bastaria para que BELQUER, por esta montagem, fosse considerado “hors-concours”. Completamente alheio à época em que viveu o protagonista, e perfeitamente inserido na proposta multidimensional e atemporal da direção, DANIEL BELQUER coloca, no mesmo liquidificador, e aciona o botão “ON”, o próprio Wagner, no original ou em curiosíssimas versões “techno-pop”, passando por ritmos lentos e frenéticos, contemplando, inclusive, a MPB, com Lenine, por exemplo. É importante destacar que cada tema musical escolhido por DANIEL está perfeitamente moldado à cena em que é utilizado. A programação e a trilha sonora adicionais contaram com a contribuição de CAESO.

 

Os figurinos, de HENRIQUE GONÇALVES e FERNANDA SABINO, atendem bem à proposta da peça, pois não se prendem, rigidamente, à época em que viveu LUDWIG, seguindo a intenção da atemporalidade. Guardam elementos de época, mas são complementados com detalhes contemporâneos. São simples, entretanto de muito bom gosto e fino acabamento. São importantes, para o visagismo dos personagens. Quanto a este detalhe, um destaque vai para os cabelos de LUDWIG, longos e, invariavelmente, desgrenhados.     

 

Não posso omitir um aplauso para a ótima direção de movimento, de PAULO MAZZONI, responsável por belos momentos do espetáculo.

 

 



 

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Concepção do Projeto: Gustavo Bicalho
Dramaturgia e texto: Gustavo Bicalho
Tradução: Lilli-Hannah Hoepner e Manoel Madeira
 
Elenco: Manoel Madeira, Suzana Castelo e Andreas Mayer (ator convidado)
 
Direção Artística: Gustavo Bicalho, Henrique Gonçalves e Daniel Belquer.
Desenho de Luz: Rodrigo Belay
Cenário: Linda Sollacher e Karlla de Luca
Figurinos e Adereços: Henrique Gonçalves e Fernanda Sabino
Direção Musical e Vídeo Mapping: Daniel Belquer
Programação e Trilha Sonora Adicionais: Caeso
Direção de Movimento: Paulo Mazzoni
Programação Visual: Andrea Batitucci
Fotografias: Nadaine Löes e Henrique Gonçalves
Produção: Gustavo Bicalho, Henrique Gonçalves e Manoel Madeira
 

 

 


 

 

         Não tenho a menor dúvida de que “LUDWIG / 2” marcará o ano teatral de 2015, como uma das mais instigantes e perfeitas produções desta temporada.

 



 


 

(FOTOS: NADAINE LÖES

e

HENRIQUE GONÇALVES.)

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