domingo, 25 de outubro de 2015


2ª “MARATONA” TEATRAL

EM SÃO PAULO/2015

PARTE I

 

“JACQUES

E

SEU AMO”

 

(BOA COMÉDIA,

COMO NOS VELHOS TEMPOS.)

 

 


 

 

            Está em cartaz, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo, uma deliciosa comédia, que vale a pena ser vista: “JACQUES E SEU AMO”, de MILAN KUNDERA, com direção de ROBERTO LAGE, contando com um ótimo elenco: HUGO POSSOLO, EDGAR BUSTAMANTE, RENATA ZHANETA, ANDO CAMARGO, ÂNGELO BRANDINI, GRETA ANTOINE e FELIPE RAMOS.

 

            O espetáculo pode, E DEVE, ser visto de 5ª feira a domingo, até o dia 13 de dezembro (ver SERVIÇO).

 

            Em sua primeira, e única, incursão na dramaturgia, o consagrado escritor tcheco MILAN KUNDERA, de “A Insustentável Leveza do Ser” (1984), foi muito feliz, e é uma pena que não tenha escrito outros textos para o TEATRO.

 

            A peça foi escrita em 1971, baseada no romance "Jacques, o Fatalista, e seu Amo", do iluminista francês Denis Diderot. Originalmente escrita em três atos, a versão ora encenada, e motivo destes comentários, é apresentada em apenas um, o que me parece ter sido uma excelente ideia da direção.

 

            O texto é inédito, no Brasil, e é um sonho acalentado, há mais de vinte anos, pelo diretor ROBERTO LAGE.

 

 

 

Sao Paulo, SP, Brasil. Data 07-10-2015. Espetaculo Jacques e seu Amo. Atores Hugo Possolo (esq) e Edgar Bustamante (dir). Teatro Centro Cultural do Banco do Brasil. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress

Jacques e seu Amo.

 

 

 

 
SINOPSE:
 
Dois homens, um amo e seu criado (JACQUES), estão numa viagem, a pé, para um destino que só é revelado no final.
 
No caminho, os dois vão rememorando suas aventuras e desventuras amorosas, descritas de tal forma, que, atualmente, poderiam ser consideradas “politicamente incorretas”.
 
A ação se passa no século XVIII, porém não há nenhum rigor quanto à época ou estilo da comédia.
 
O criado JACQUES conta como foi que perdeu a virgindade; o FIDALGO (AMO), que se apresenta anônimo, lembra a traição da amada com seu melhor amigo; e a TABERNEIRA conta a história de uma DUQUESA vingativa, que ilude seu amante e o leva a se casar com uma prostituta.
 

 

 

 


Casamento arranjado.

 

 

A carpintaria do texto é bastante interessante, misturando o passado e o presente, de forma muito dinâmica, que leva o espectador a não perceber a passagem dos 90 minutos de pura ação e divertimento. Trata-se de um texto muito engraçado, daqueles em que o humor, crítico e refinado, leva as pessoas a refletir sobre a hipocrisia humana, no seu meio social, seja em que época for. Aqui, o que se vê, ocorrendo no século XVIII, numa França pré-revolução, é, facilmente, identificado como as mazelas que vivemos hoje e a elas comparado. Dá para se perceber, em cena, três tragicomédias distintas, vividas ao mesmo tempo, fatos relacionados ao fatalismo determinista do personagem JACQUES e um grande apelo erótico (não pornográfico).

 

As passagens de tempo (passado / presente) se dão da forma mais natural possível, misturando-se, às vezes, e os atores se aproveitam disso para atirar farpas contra o próprio autor da peça, um invadindo o papel do outro e emitindo comentários, nem sempre abonadores, sobre o texto.

 

Os tempos atuais estão presentes, em cena, quando se pode perceber um fato que vem ocupando os espaços da mídia de hoje, a relação entre patrões e empregados, modernamente bem mais flexíveis que em outras épocas. Na peça, porém, ao contrário do que se pode pensar, KUNDERA, seguindo Diderot, estabelece uma grande intimidade, uma cumplicidade, entre amo e criado, numa total subversão hierárquica, em relação aos padrões da época. A referência a estarmos todos, atores e público, “no 3ª andar do CCBB”, para justificar a impossibilidade de se ter um determinado elemento em cena, incapaz de ser transportado até aquele espaço, também é uma interferência moderna, que, obviamente, foge ao texto original e funciona muito bem, como piada.

 

O elenco se apresenta em excelente padrão de qualidade, tecnicamente falando, com um ligeiro destaque para HUGO POSSOLO (JACQUES, o CRIADO). De reconhecida formação circense (palhaço), o ator “parlapatão” explora o humor ingênuo do circo, seja nos gestos, seja nas entonações, seja nas improvisações, sejas nas caretas “fora de cena”, sempre ótimo em qualquer situação. A frase que vive repetindo, para contar ao AMO como perdera a virgindade (“Perdi a donzelice e o cabacinho”.) é uma bobagem que, na boca do ator, provoca grandes gargalhadas.

 

 

 


O elenco.

 

 

Ainda que interessantes, mesmo fazendo parte de uma galeria já tão conhecida do público, comuns em tantas outras histórias, todos os personagem são enriquecidos, graças à correta interpretação dos atores, quando acrescentam, em seus trabalhos, toques pessoais de interpretação. À exceção de HUGO, EDGARD BUSTAMANTE (AMO) e FELIPE RAMOS, todos os outros fazem mais de um personagem, distintos e perfeitos em suas composições. Além de POSSOLO e BUSTAMENTE, RENATA ZHANETA também se destaca, tanto como a TABERNEIRA quanto na pele da MARQUESA. ANDO CAMARGO (SAINT-OUEN e BIGRE PAI)N, GRETA ANTOINE (JUSTINE e FILHA), graciosa, leve, feminina e bela em cena; ÂNGELO BRANDINI (BIGRE FILHO e COMISSÁRIO) e FELIPE RAMOS (MARQUÊS) completam o equilibrado elenco.

 

 

 


Hugo Possolo, Renata Zhaneta e Edgar Bustamante.

 

 

            Uma espera por tanto tempo e o enorme desejo de encenar este texto podem explicar, e justificar, o empenho de ROBERTO LAGE, para que este seu “filho”, longe de ser um “patinho feio” se revelasse ao público, após o terceiro sinal, como um belo e imponente “cisne branco”. LAGE captou as entrelinhas do texto de KUNDERA e soube decodificá-las, de forma bem simples, descomplicada, para o público, o qual percebe o que se quis dizer por trás do que foi dito, e, até, do que não foi dito. Soube utilizar bem o cenário, para, com muita criatividade, fazer as passagens de tempo e espaço, de uma forma simples e convincente, de modo a levar a plateia a perceber, facilmente, essas passagens e já aguardá-las em cenas seguintes. Não sei se a ideia é apenas da direção ou se contou com o dedo de JULIANA GARAVATTI, responsável pelo desenho coreográfico, muito interessante, no espetáculo. Com relação a este elemento, também acrescento a boa ideia de fazer com que os dois protagonistas “trotem”, lembrando um caminhar, entre uma narrativa e outra, em animadas conversas, pelos caminhos por onde andam. Em cenas em que é necessário mostrar um personagem encarcerado, bastou que o ator fosse colocado no palco nu (o palco, não o ator), sendo projetada, sobre e contra ele, apenas a sombra da grade de uma cela, contando com o trabalho de iluminação de WAGNER FREIRE, correto, em todo o espetáculo.

 

 


Edgar Bustamante e Hugo Possolo.

 

 

            Em tempos de crise econômica, o TEATRO não poderia ficar de fora. Não se trata de uma montagem luxuosa, em termos de cenário e figurino, porém estes, sob a responsabilidade de profissionais competentes, podem ser simples, mas funcionar bem, numa montagem teatral, como é o caso de “JACQUES E SEU AMO”.

 

            No cenário (KLEBER MONTANHEIRO), que não define um ou mais espaços, há um linóleo (pereceu-me, sem tocar nele), ao fundo, com manchas assimétricas, em tons pastéis amarelados, sugerindo um vazio. Completam-no dois banquinhos e armações de madeira clara (pinho, creio eu), no fundo e nas laterais, lembrando escadas e que intrigam o espectador, ao tomar conhecimento delas. São muito úteis e bem exploradas, como já disse, nos momentos de transição entre tempo e espaço.  

 

Nos figurinos, FÁBIO NAMATAME, um dos melhores profissionais na área, nos apresenta modelos comportados, isentos de exageros, porém fruto de uma pesquisa, necessária à sua confecção.

 

Na parte técnica, além do que já foi citado, agradaram-me os efeitos produzidos pela sonoplastia e a trilha sonora (DR. MORRIS).

 

Oxalá o público carioca possa ter a oportunidade de conferir o que estou dizendo, caso o espetáculo faça uma temporada no Rio de Janeiro.

 

Indo a São Paulo, não deixe de assistir a “JACQUES E SEU AMO”! 

 

Vale a pena a pessoa ver a peça e ter a sensação de que voltou no tempo, lembrando-se das gostosas e bem montadas comédias de outras décadas. 

 

Sem nenhum saudosismo, por favor!!!

 

 

 

 
FICHA TÉCNICA:
 
Texto: Milan Kundera
Tradução: Aline Meyer
Direção: Roberto Lage
Assistência de Direção: Juliana Garavatti
 
Elenco:
Hugo Possolo (Jacques)
Edgar Bustamante (Amo)
Renata Zhaneta (Taberneira / Marquesa)
Ando Camargo (Saint-Ouen / Bigre Pai)
Greta Antoine (Justine / Filha)
Angelo Brandini (Bigre Filho / Comissário)
Felipe Ramos (Marquês)
 
Figurinos: Fábio Namatame
Cenografia e Adereços: Kleber Montanheiro
Iluminação: Wagner Freire
Trilha Sonora: Dr Morris
Fotos: João Caldas
Projeto Gráfico: Heron Medeiros
Vídeos: J. P. Rezek e Graziela Barduco
Direção de Produção: Maurício Inafre
Produtor Executivo: Regilson Feliciano
Assistência de Produção: Jô Nascimento
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena
 

 

 

 


Momento “ternura”.

 

 

 

 
SERVIÇO:
 
Temporada: Até 13 de dezembro (2015)
Local: Centro Cultural Banco do Brasil – São Paulo
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112. Centro / São Paulo
Metrô Sé e São Bento
Telefone: (11) 3113.3651/52
Dias e Horários: De 5ª feira a sábado, às 20h; domingo, às 19h
Ingressos: R$ 10,00 (meia-entrada = R$ 5,00)
Funcionamento da Bilheteria: das 9h às 21h, de 4ª feira a 2ª feira
Gênero: Comédia Clássica
Duração: 90 min
Classificação: 14 anos
Capacidade: 130 lugares
Acessibilidade para pessoas com deficiência física.
Ingresso pela Internet: www.ingressorapido.com.br
 

 

 

 

 

 

(FOTOS: JOÃO CALDAS)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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