quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

 

“A MÁQUINA”

ou

(É OBRA-PRIMA

QUE SE DIZ?)

 

 

 

         25 anos, na virada do século, uma peça de TEATRO chegou ao Rio de Janeiro, como um divisor de águas entre um tipo de espetáculos “comuns”, para o grande público, e uma nova proposta estética, que logo tomou de assalto os amantes do bom TEATRO e se tornou o maior sucesso, de público e de crítica, naquele ano 2000. Falo de “A MÁQUINA”, que apresentou aos cariocas quatro novos e geniais atores, então desconhecidos da mídia, os quais se tornaram, depois, e assim se mantêm até hoje, exemplos da maior importância como atores de sua geração. Eram eles Wagner Moura, Lázaro Ramos, Vladimir Brichta e Gustavo Falcão. O quarteto dividia o palco com Karina Falcão. A icônica montagem era dirigida por JOÃO FALCÃO, baseada no romance homônimo de Adriana Falcão. A encenação, no palco do antigo Teatro Casa Grande, antes do incêndio, que deu origem a uma nova e moderna construção, contava com um notável palco giratório, simbolizando a “roda da vida”, pesando mais de 600 quilos, “para dar ritmo à narrativa circular, inspirada na literatura de cordel”.



         Passado um quarto de século, esse mesmo texto, das coisas mais lindas e poéticas do TEATRO brasileiro, do que conheço até hoje, que não é pouco, volta a ser encenado, novamente adaptado e dirigido por JOÃO FALCÃO, trazendo, em revezamento, no papel de Antônio, um jovem simples e simplório, apaixonado pela mocinha sonhadora, Karina, interpretada por Karina Falcão, quatro fabulosos atores, do Coletivo paulistano “Ocutá”: ALEXANDRE AMMANO, BRUNO ROCHA, MARCOS OLI, e VITOR BRITTO, no mesmo revezamento do personagem Antônio. Como Karina, a produção nos apresenta a AGNES BRICHTA, atriz convidada, que merece os mesmos aplausos que os quatro atores, por sua vibrante atuação.


SINOPSE:

O enredo convida o espectador a imaginar e adentrar a pacata e fictícia cidade de Nordestina, um lugar comum, sem recursos, como tantas cidades do interior do Brasil, onde o jovem Antônio (ALEXANDRE AMMANO, BRUNO ROCHA, MARCOS OLI e VITOR BRITTO) decide mudar seu destino — e o do mundo —, para impedir a partida de sua amada Karina (AGNES BRICHTA).

Em Nordestina, a esperança de uma vida melhor é quase nula, além da simples vontade de sair de lá, e muitos habitantes, como tantos nordestinos, buscam novas perspectivas de vida em outras paragens.

Essa é a fixação de Karina, telespectadora assídua de novelas, que, por isso mesmo, deseja ser atriz, como tantas moças que ela vê nos folhetins da telinha.

Assim, a jovem sonhadora vive seus dias ensaiando diferentes cenas de amor, treinando beijos técnicos com Antônio, acreditando que deve estar preparada para a hora em que aparecer a grande chance de sua vida.

Ela deseja ganhar o mundo e conseguir desvendar os mistérios da vida, e o rapaz, para não perder a namorada, resolve “viajar” na “‘sua’ máquina do tempo”, sair de Nordestina, a fim de conhecer o mundo e trazê-lo ao encontro de Karina.

Dessa forma, muito dentro do universo cordelista estamos diante de um mundo fabuloso, descomprometido com a unidade de tempo.

 


 

         Nesta montagem, JOÃO FALCÃO lança mão de algo já experimentado, com bastante sucesso, em espetáculos seus anteriores, ou seja, uma abordagem do tempo não cronológico, mas psicológico, amalgamando as três unidades temporais: passado, presente e futuro, uma de suas esplêndidas digitais.



      O espetáculo volta ao cartaz guardando a aura da primeira montagem, porém, visivelmente, renovada, com muito mais vigor, a meu juízo, e pode ser vista, infelizmente em final de temporada, no recém-inaugurado Teatroiquè, no bairro do Butantã, São Paulo, um espaço alternativo, bastante acolhedor. O resultado é magnífico, forte e emocionante, como a primeira versão.



       Trago, na memória afetiva, a sensação que experimentei, ao deixar o Teatro Casa Grande, depois de ter assistido a “A MÁQUINA”, querendo não acreditar no que havia visto, contudo arrisco-me até a receber críticas pelo que passo a dizer, porém, preso à minha verdade, ouso dizer que, a despeito do que representou, para mim, a peça, em sua primeira versão, acho que prefiro esta, talvez porque o tempo amplia a distância e o meu emocional recente pese mais.



Como no ano 2000, o quinteto de atores é desconhecido do grande público, o que não tem a menor importância. Todos são fantásticos. Tenho plena certeza de que, muito em breve, os cinco estarão na mídia, expondo-se em outros trabalhos importantes, como este. Um detalhe curioso – apenas isso – é que, na primeira montagem, o elenco contava com um único ator negro e quatro brancos. Hoje, dá-se exatamente o contrário. É apenas um detalhe, visto que um bom profissional, competente, em qualquer setor, independe de sua cor e raça, porém, do ponto de vista social, isso tem a maior importância. O quinteto se apresenta no seu maior potencial interpretativo, jogando-se de cabeça em seus personagens. Resolvi não escrever nada sobre o currículo de cada um do elenco, mas sugiro uma pesquisa sobre eles. Quem o fizer ficará sabendo muito da formação de cada um e de seus trabalhos anteriores, dentro do país ou além-fronteiras.



Não tenho a menor condição de eleger quem interpreta melhor o personagem Antônio, pois todos estão nivelados no mesmo sarrafo, da mesma forma como não posso dedicar à única atriz da peça um tratamento diferente do que atribuo ao quarteto masculino. A proposta estética de JOÃO FALCÃO é assaz difícil de ser posta em prática. O ritmo da encenação é super frenético, o que exige um esforço físico hercúleo dos cinco. Como parte importantíssima da encenação, os quatro atores, com o impulso de suas pernas e mãos, ao longo dos 70 minutos de duração da peça, fazem girar uma roda, como a da primeira montagem, como se fosse a “roda da vida”, em movimentos frenéticos, que marcam o intenso ritmo do espetáculo, como já dito.



Muita atenção e concentração são exigidas do elenco, principalmente para atingir o grau de perfeição, em termos de sincronicidade, nos gestos e nas falas. Por muitas vezes, o texto é dado, pelos quatro homens, em uníssono, sem a menor imperfeição, fazendo as vezes de um bem ensaiado jogral, emoldurado por criativas marcações, bem ao feitio do consagrado diretor, o qual, já na época da primeira montagem da peça, era considerado um dos mais importantes em sua função.



"Cada um dá o que tem" – já dizia a minha avó - e se expõe, assim, a receber uma resposta do público. O elenco tem muito a dar, dizendo um texto inteligente e poético, obedecendo às corretíssimas orientações da direção. E,  tendo muito a oferecer, o resultado vem em forma de muitos aplausos em cena aberta, merecidíssimos, diga-se de passagem.



Não resta a menor dúvida de que Nordestina representa um microcosmo do nordeste, e não são poucos aqueles que migram para outras regiões do país, mormente o sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo), por causa da falta de oportunidades de trabalho ou sobrevivência, em busca de um mundo melhor. Karina representa o nordestino raiz, principalmente do interior, que sonha com um novo “status”, uma maneira mais digna de sobreviver.



A cenografia da peça, criada por JOÃO FALCÃO e VANESSA POITENA, é, por demais, simples, restrita a uma roda giratória. Encantei-me pelos criativos figurinos, que saíram da imaginação de CHRIS GARRIDO. A luz (CÉSAR DE RAMIRO) é um elemento que me leva a pensar que contracena com os atores; ou vice-versa. É precisa e serve totalmente à proposta da direção.



 

FICHA TÉCNICA:

Idealização: Clayton Marques

Baseado no livro homônimo de Adriana Falcão

Adaptação e Direção: João Falcão

 

Elenco (por ordem alfabética): Agnes Brichta, Alexandre Ammano, Bruno Rocha, Marcos Oli e Vitor Britto

 

Codireção e Preparação Corporal: Gustavo Falcão

Assistente de Direção e Comunicação: Duda Martins

Assistente de Direção e Produção: Jofrancis

Oficina de Danças Populares: Alisson Lima

Cenografia: João Falcão e Vanessa Poitena

Cenografia Original: João Falcão e Denis Nascimento

Assistente de Cenografia: Renata Garcia

Figurino: Chris Garrido

Assistentes de Figurino: Maria Helena Alcântara e Valquíria Reducino

Desenho de Luz: César de Ramires

Visagismo: Louise Helène

Música Original: DJ Dolores

Trilha Sonora: Ricco Viana e João Falcão

Direção Musical: Ricco Viana

Desenho de Som: Raul Teixeira, Edézio Aragão e Thiago Schin

Direção de Palco: Luis Felipe Machado

“Hair Style”: Steffone

Operação de Som: Edézio Aragão e Thiago Schin

Operação de Luz: Daniel Galván

“Designer” e Comunicação Visual: Helbert Rodrigues

Fotos: Flora Negri

Redes Sociais: Alexandre Ammano e Caroli

“Videomaker”: Daniel Bianchi, Victor Canhada e Davi Gambra

Assessoria de Imprensa: Factoria Comunicação – Vanessa Cardoso e Daniella Cavalcanti

Financeiro: Nicole Bitu

Equipe Cenotécnica: Cia Malagueta - Alício Silva, Giorgia Massetani, Joana Pegorari, Igor B. Gomes, Danndhara Shoyama, Shampzs, Luna Costa, André Costa, João Chiodo, Matheus Muniz, Beatriz Leandro e Júlia Leandro.

Anexo de Arquibancadas: Jamelão - Cinecidade

Aderecista: Ricardo Costa

Assessoria Jurídica: Rafael Novaes e Amanda Mayumi

Assessoria Contábil: Fratem

Gerente de Projetos: David Henrique França

Direção de Produção: Clayton Marques e Oliver Tibeau

Produção: Daniel Bianchi e Margarete Calgaro

Correalização: TeatroIquè

Realização: MaquinaMaquina Produções


 

 

 

SERVIÇO:

Temporada: De 09 de outubro a 14 de dezembro de 2025.

Local: TEATROIQUĖ

Endereço: Rua Iquiririm, nº 110 - Vila Indiana - Butantã - São Paulo.

Dias e Horários: 5ª e 6ª feira, às 21h; sábado, às 18h e 21h; domingo, às 18h.

Valor dos Ingressos: R$ 150 (inteira) e R$ 75 (meia-entrada), à venda pela plataforma Sympla.

Lotação 200 lugares.

Duração: 70 minutos.

Classificação Etária: Livre.

OBSERVAÇÃO: Informamos que não existem assentos marcados. Todos os lugares da plateia contemplam a visão ideal do espetáculo.

Gênero: COMÉDIA Dramática.

 

 

Tudo, em “A MÁQUINA” é fabuloso, é intenso, é formidável, é superlativo... "VISCERAL" resume tudo! Assistir a esta montagem é participar de uma experiência inesquecível. RECOMENDO, INTENSAMENTE, O ESPETÁCULO e aguardo, com muita ansiedade, sua vinda para o Rio de Janeiro, o que deve acontecer no próximo ano. Classifico este espetáculo como uma OBRA-PRIMA!!!

 

 

 

 

FOTOS: FLORA NEGRI.



GALERIA PARTICULAR

(Foto: Carlos Sabag)

 




 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!














































 








































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