“A MÁQUINA”
ou
(É OBRA-PRIMA
QUE SE DIZ?)
Há 25 anos, na virada do
século, uma peça de TEATRO chegou ao Rio de Janeiro,
como um divisor de águas entre um tipo de espetáculos “comuns”,
para o grande público, e uma nova proposta estética, que logo tomou de assalto
os amantes do bom TEATRO e se tornou o maior sucesso, de público
e de crítica, naquele ano 2000. Falo de “A MÁQUINA”, que
apresentou aos cariocas quatro novos e geniais atores, então desconhecidos da
mídia, os quais se tornaram, depois, e assim se mantêm até hoje, exemplos da
maior importância como atores de sua geração. Eram eles Wagner Moura,
Lázaro Ramos, Vladimir Brichta e Gustavo
Falcão. O quarteto dividia o palco com Karina Falcão. A icônica montagem era dirigida por JOÃO FALCÃO,
baseada no romance homônimo de Adriana Falcão. A encenação, no
palco do antigo Teatro Casa Grande, antes do incêndio, que deu
origem a uma nova e moderna construção, contava com um notável palco giratório, simbolizando
a “roda da vida”, pesando mais de 600 quilos, “para
dar ritmo à narrativa circular, inspirada na literatura de cordel”.
Passado um quarto de século, esse mesmo texto, das coisas mais lindas e poéticas do TEATRO brasileiro, do que conheço até hoje, que não é pouco, volta a ser encenado, novamente adaptado e dirigido por JOÃO FALCÃO, trazendo, em revezamento, no papel de Antônio, um jovem simples e simplório, apaixonado pela mocinha sonhadora, Karina, interpretada por Karina Falcão, quatro fabulosos atores, do Coletivo paulistano “Ocutá”: ALEXANDRE AMMANO, BRUNO ROCHA, MARCOS OLI, e VITOR BRITTO, no mesmo revezamento do personagem Antônio. Como Karina, a produção nos apresenta a AGNES BRICHTA, atriz convidada, que merece os mesmos aplausos que os quatro atores, por sua vibrante atuação.
SINOPSE:
O enredo convida o
espectador a imaginar e adentrar a pacata e fictícia cidade de Nordestina,
um lugar comum, sem recursos, como tantas cidades do interior do Brasil,
onde o jovem Antônio (ALEXANDRE AMMANO, BRUNO ROCHA, MARCOS OLI e VITOR
BRITTO) decide
mudar seu destino — e o do mundo —, para impedir a partida de sua
amada Karina (AGNES BRICHTA).
Em Nordestina, a esperança de uma vida melhor é quase nula, além da simples vontade de sair de lá, e muitos habitantes, como tantos nordestinos, buscam novas perspectivas de vida em outras paragens.
Essa é a fixação de Karina, telespectadora assídua de novelas, que, por isso mesmo, deseja ser atriz, como
tantas moças que ela vê nos folhetins da telinha.
Assim,
a jovem sonhadora vive seus dias ensaiando diferentes cenas de amor, treinando beijos técnicos com Antônio, acreditando que deve estar preparada para a hora em que aparecer a grande chance de sua
vida.
Ela deseja ganhar o mundo e conseguir
desvendar os mistérios da vida, e o rapaz, para não perder a namorada, resolve “viajar”
na “‘sua’ máquina do tempo”, sair de Nordestina, a fim de conhecer o mundo e trazê-lo ao encontro de Karina.
Dessa forma, muito dentro do universo cordelista estamos diante de um mundo fabuloso, descomprometido com a unidade de tempo.
Nesta montagem, JOÃO FALCÃO
lança mão de algo já experimentado, com bastante sucesso, em espetáculos seus
anteriores, ou seja, uma abordagem do tempo não cronológico, mas psicológico, amalgamando as três unidades temporais: passado,
presente e futuro, uma de suas esplêndidas digitais.
O
espetáculo volta ao cartaz guardando a aura da primeira montagem, porém,
visivelmente, renovada, com muito mais vigor, a meu juízo, e pode ser vista,
infelizmente em final de temporada, no recém-inaugurado Teatroiquè,
no bairro do Butantã, São Paulo, um espaço alternativo, bastante acolhedor. O resultado é magnífico, forte
e emocionante, como a primeira versão.
Trago,
na memória afetiva, a sensação que experimentei, ao deixar o Teatro Casa
Grande, depois de ter assistido a “A MÁQUINA”, querendo não
acreditar no que havia visto, contudo arrisco-me até a receber críticas pelo
que passo a dizer, porém, preso à minha verdade, ouso dizer que, a despeito do
que representou, para mim, a peça, em sua primeira versão, acho que prefiro
esta, talvez porque o tempo amplia a distância e o meu emocional recente pese mais.
Como no ano 2000, o
quinteto de atores é desconhecido do grande público, o que não tem a
menor importância. Todos são fantásticos. Tenho plena certeza de que,
muito em breve, os cinco estarão na mídia, expondo-se em outros trabalhos
importantes, como este. Um detalhe curioso – apenas isso – é que,
na primeira montagem, o elenco contava com um único ator negro e quatro
brancos. Hoje, dá-se exatamente o contrário. É apenas um detalhe, visto que um
bom profissional, competente, em qualquer setor, independe de sua cor e raça,
porém, do ponto de vista social, isso tem a maior importância. O quinteto se
apresenta no seu maior potencial interpretativo, jogando-se de cabeça em seus
personagens. Resolvi não escrever nada sobre o currículo de cada um do elenco, mas
sugiro uma pesquisa sobre eles. Quem
o fizer ficará sabendo muito da formação de cada um e de seus trabalhos anteriores,
dentro do país ou além-fronteiras.
Não tenho a menor condição de
eleger quem interpreta melhor o personagem Antônio, pois todos estão nivelados no mesmo sarrafo, da mesma
forma como não posso dedicar à única atriz da peça um tratamento diferente do
que atribuo ao quarteto masculino. A proposta estética de JOÃO FALCÃO é
assaz difícil de ser posta em prática. O ritmo da encenação é super frenético,
o que exige um esforço físico hercúleo dos cinco. Como parte importantíssima da encenação, os quatro atores, com o
impulso de suas pernas e mãos, ao longo dos 70 minutos de duração da peça, fazem girar uma roda, como a da primeira
montagem, como se fosse a “roda da vida”, em movimentos
frenéticos, que marcam o intenso ritmo do espetáculo, como já dito.
Muita atenção e concentração são exigidas do elenco, principalmente para atingir o grau de perfeição, em termos de sincronicidade, nos gestos e nas falas. Por muitas vezes, o texto é dado, pelos quatro homens, em uníssono, sem a menor imperfeição, fazendo as vezes de um bem ensaiado jogral, emoldurado por criativas marcações, bem ao feitio do consagrado diretor, o qual, já na época da primeira montagem da peça, era considerado um dos mais importantes em sua função.
"Cada um dá o que tem" – já dizia
a minha avó - e se expõe, assim, a receber uma resposta do público. O
elenco tem muito a dar, dizendo um texto inteligente e poético, obedecendo às corretíssimas
orientações da direção. E, tendo muito a oferecer, o resultado vem em
forma de muitos aplausos em cena aberta, merecidíssimos, diga-se de passagem.
Não resta a menor dúvida de que Nordestina
representa um microcosmo do nordeste, e não são poucos aqueles que migram para
outras regiões do país, mormente o sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo),
por causa da falta de oportunidades de trabalho ou sobrevivência, em busca de um
mundo melhor. Karina representa o nordestino raiz, principalmente
do interior, que sonha com um novo “status”, uma maneira mais
digna de sobreviver.
A cenografia da
peça, criada por JOÃO FALCÃO e VANESSA POITENA, é, por demais,
simples, restrita a uma roda giratória. Encantei-me pelos criativos figurinos,
que saíram da imaginação de CHRIS GARRIDO. A luz (CÉSAR
DE RAMIRO) é um elemento que me leva a pensar que contracena com os atores; ou vice-versa. É precisa e serve totalmente à proposta da direção.
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Clayton Marques
Baseado no livro homônimo de Adriana Falcão
Adaptação e Direção: João Falcão
Elenco (por ordem alfabética):
Agnes Brichta, Alexandre Ammano, Bruno Rocha, Marcos Oli e Vitor Britto
Codireção e Preparação Corporal: Gustavo
Falcão
Assistente de Direção e Comunicação: Duda
Martins
Assistente de Direção e Produção:
Jofrancis
Oficina de Danças Populares: Alisson Lima
Cenografia: João Falcão e Vanessa Poitena
Cenografia Original: João Falcão e Denis
Nascimento
Assistente de Cenografia: Renata Garcia
Figurino: Chris Garrido
Assistentes de Figurino: Maria Helena
Alcântara e Valquíria Reducino
Desenho de Luz: César de Ramires
Visagismo: Louise
Helène
Música Original: DJ Dolores
Trilha Sonora: Ricco Viana e João Falcão
Direção Musical: Ricco Viana
Desenho de Som: Raul Teixeira, Edézio
Aragão e Thiago Schin
Direção de Palco: Luis Felipe Machado
“Hair Style”: Steffone
Operação de Som: Edézio Aragão e Thiago
Schin
Operação de Luz: Daniel Galván
“Designer” e Comunicação Visual:
Helbert Rodrigues
Fotos: Flora Negri
Redes Sociais: Alexandre Ammano e Caroli
“Videomaker”: Daniel Bianchi, Victor Canhada e Davi Gambra
Assessoria de Imprensa: Factoria
Comunicação – Vanessa Cardoso e Daniella Cavalcanti
Financeiro: Nicole Bitu
Equipe Cenotécnica: Cia Malagueta -
Alício Silva, Giorgia Massetani, Joana Pegorari, Igor B. Gomes, Danndhara
Shoyama, Shampzs, Luna Costa, André Costa, João Chiodo, Matheus Muniz, Beatriz
Leandro e Júlia Leandro.
Anexo de Arquibancadas: Jamelão -
Cinecidade
Aderecista: Ricardo Costa
Assessoria Jurídica: Rafael Novaes e
Amanda Mayumi
Assessoria Contábil: Fratem
Gerente de Projetos: David Henrique
França
Direção de Produção: Clayton Marques e
Oliver Tibeau
Produção: Daniel
Bianchi e Margarete Calgaro
Correalização: TeatroIquè
Realização: MaquinaMaquina Produções
SERVIÇO:
Temporada: De 09 de outubro a 14
de dezembro de 2025.
Local: TEATROIQUĖ
Endereço: Rua Iquiririm, nº 110 -
Vila Indiana - Butantã - São Paulo.
Dias e Horários: 5ª e 6ª feira,
às 21h; sábado, às 18h e 21h; domingo, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$ 150 (inteira)
e R$ 75 (meia-entrada), à venda pela plataforma Sympla.
Lotação 200 lugares.
Duração: 70 minutos.
Classificação Etária: Livre.
OBSERVAÇÃO: Informamos que não
existem assentos marcados. Todos os lugares da plateia contemplam a visão ideal
do espetáculo.
Gênero: COMÉDIA Dramática.
Tudo, em “A MÁQUINA” é
fabuloso, é intenso, é formidável, é superlativo... "VISCERAL" resume tudo! Assistir a esta montagem é participar de uma experiência inesquecível. RECOMENDO,
INTENSAMENTE, O ESPETÁCULO e aguardo, com muita ansiedade, sua
vinda para o Rio de Janeiro, o que deve acontecer
no próximo ano. Classifico este espetáculo como uma OBRA-PRIMA!!!
FOTOS: FLORA NEGRI.
GALERIA PARTICULAR
(Foto: Carlos Sabag)
É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto
que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre
mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que
há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!
Fiquei com muita vontade de assistir 😉 adorei a resenha 🥰
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