“CRIATURA,
UMA
AUTÓPSIA”
ou
(E FEZ-SE
A CRIATURA!)
Depois de muito sucesso na capital
paulista, em algumas temporadas, três magníficas atrizes, desconhecidas do
público carioca, se lançaram num projeto muito corajoso, ousado mesmo, de
trazer, para o Teatro Poeirinha, no Rio de Janeiro, uma Mostra, chamada “ANÔNIMAS”, que abarca três lindos solos,
interpretados por elas mesmas, a saber: “Aquele Trem” (Denise Dietrich), “Criatura, Uma Autópsia” (Bruna
Longo) e “Inventário”
(Erica Montanheiro), respectivamente, às 3ªs e 4ªs feiras, 5ªs e 6ªs feiras e sábados e domingos. Sobre o primeiro e o terceiro, já escrevi,
restando o segundo, que é motivo desta crítica.
SINOPSE:
“CRIATURA, UMA AUTÓPSIA”, espetáculo solo de BRUNA LONGO, é um amálgama entre
o romance “Frankenstein”, ou “O Prometeu Moderno”,
e a vida de sua autora Mary Shelley.
Como a tônica da Mostra é “jogar luz sobre o
silenciamento histórico de artistas mulheres”, é bem justificado que o
nome da escritora britânica Mary Shelley fosse lembrado. Os
solos passeiam por três séculos, atravessando os universos da literatura,
através da escritora Mary Shelley (1797-1851) e seu “Frankenstein”,
no século XIX; das artes plásticas, através da escultora Camille
Claudel (1864-1943), que viveu à sombra do amante e escultor Auguste
Rodin, no século XX; e do Teatro, através
da história pessoal da atriz Denise Dietrich (século XXI),
sobrinha-neta de Marlene Dietrich.
A
feitio dos outros dois, o solo em tela trata da supressão da autoria
feminina, ao longo do tempo. Como
as duas colegas, BRUNA LONGO nos traz um belíssimo solo sobre uma
artista, um universo de desafios em comum. É impossível separar a narrativa de “Frankenstein”
das experiências de sua autora, Mary Shelley, com a morte e o
abandono, com sua própria luta por espaço, numa vida cercada por intelectuais
de renome. Como suas personagens, as três atrizes, assim como outras artistas,
ao longo da história, até os dias de hoje, buscam ser ouvidas e ter seu valor
simbólico – e econômico - reconhecido.
O monólogo, junto com
os dois anteriormente, já comentados por este crítico, formam um mosaico sobre
o que é ser artista mulher numa sociedade patriarcal. As ideias e as estéticas
se completam, buscando criar novas narrativas para as artistas mulheres.
O machismo e a
misoginia não são fenômenos modernos, embora pareçam, a cada dia, infelizmente,
se tornar mais robustos, levando, inclusive aos crimes de feminicídio. Se,
hoje, as mulheres já têm que matar uma família de leões por dia, para provar
seu valor e o direito de igualdade com os homens, pode-se imaginar como esse
quadro era bem mais cruel e acentuado no século XIX.
Mary Shelley publicou, de forma anônima, seu romance “Frankenstein”,
ou “O Prometeu Moderno”, considerado a primeira obra de ficção
científica, em 1818, um romance de terror gótico com inspirações do movimento
romântico. Era inconcebível, para a época,
uma mulher, ainda mais uma jovem de 18 anos, ter escrito uma obra
que fugia do padrão clássico de “literatura para mulheres”. O
livro foi atribuído a seu parceiro, o célebre poeta Percy Bysshe Shelley.
Mesmo com a edição de 1831 trazendo o nome da autora e prefácio
sobre a origem do romance, ainda hoje, há teorias que questionam sua autoria. Mary
passou boa parte de sua vida meio que “cancelada” pelos que a
cercavam.
Ainda que eu tenha gostado imensamente da encenação, confesso
que fiquei meio reticente, quanto a escrever ou não sobre este espetáculo. E o
motivo é bem simples: para mim, pelo menos, a complexidade do texto - a mistura
de locutores - me fez “viajar” um pouco. Mas há um aspecto muito
válido nisso, que é o fato de que aquele certo hermetismo obriga o espectador a
se manter o mais atento possível, para não perder nenhuma preciosidade do
texto.
Isso não é, totalmente, um óbice, e o espetáculo vale
pelo conjunto da obra: pelo texto, sim, também; pela
magnífica atuação de BRUNA LONGO, a “cereja do bolo”
(QUE ATRIZ ARREBATADORA!!!), com estudos e atuação no Brasil
e no exterior; pela cenografia, o figurino e a iluminação.
O nome de quem é o responsável pela direção, magistral, diga-se
de passagem, não aparece na FICHA TÉCNICA, porém creio que a
própria atriz se dirigiu.
E qual é a relação do romance de Shelley com
esta peça? “Frankenstein” é um romance sobre o ato da criação e
sobre busca por identidade e pertencimento, e o espetáculo se debruça sobre
esses temas, mesclando a vida de Mary Shelley e sua obra mais
famosa.
Para dar forma à dramaturgia da peça, BRUNA
LONGO se lançou numa profunda pesquisa, debruçando-se, com acesso
irrestrito, sobre os diários, cartas e
manuscritos originais de Mary Shelley, a convite da Universidade
de Oxford.
FICHA
TÉCNICA:
Concepção,
Dramaturgia e Atuação: Bruna Longo
Assistentes:
Giovanna Borges e Letícia Esposito
Cenário:
Bruna Longo e Kleber Montanheiro
Cenotécnica:
Evas Carreteiro, Nani Brisque e Alício Silva
Figurino:
Kleber Montanheiro
Objetos:
Bruna Longo
Desenho
de Luz: Rodrigo Silbat
Trilha Sonora:
Bruna Longo
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação - João Pontes e Stella Stephany
Fotos:
Danilo Apoena
Colaboradores
Artísticos: Larissa Matheus (provocações de dramaturgia), Lino
Colantoni (edição de trilha), Mateus Monteiro (interpretação
textual), Victor Grizzo (direção de arte) e Ana Toledo (canto)
FICHA
TÉCNICA DA MOSTRA “ANÔNIMAS”:
Idealização:
Bruna Longo, Denise Dietrich e Erica Montanheiro
Produtor
Associado e Direção Técnica da Mostra: Flávio Tolezani
Consultoria
Cenotécnica da Ocupação: Kleber Montanheiro
Artes
Gráficas: Kleber Montanheiro e Patrícia Cividanes
Fotos:
Danilo Apoena, Kim Leekyung e Marcelle Cerutti
Operador
de Luz: Bruno Aragão
Operador
de Som e Vídeo / Videomapping: Rafael Marreiros
Direção
de Produção: Erica Montanheiro
Produção
Executiva: Bruna Longo e Denise Dietrich
"Marketing" Digital: Lead Performance
Realização
Lolita & La Grange Produções Artísticas, Teatro Volátil Produções
Artísticas e Cia. desaFRONTe
Apoio:
Antro Positivo
Assessoria
de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
SERVIÇO:
Temporada: De 06 de novembro a 19 de dezembro de 2025.
Local: Teatro Poeirinha.
Endereço: Rua São João Batista, nº 108, Botafogo – Rio de
Janeiro.
Telefone: (21) 2537-8053.
Dias e Horários: 5ªs e 6ªs feiras, às 20h.
Valor dos Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada).
Vanda dos Ingressos: Plataforma Sympla (com taxa de serviço) e
na Bilheteria do Teatro (sem taxa de conveniência).
Horário da Bilheteria do Teatro
Poeira/Poeirinha (vendas em espécie, cartões de crédito e de débito e
PIX): De 3ª feira a sábado, das 15:00h às 20:00h; domingo, 15:00 as
19:00hs.
Classificação Etária: 12 anos.
Duração: 70 minutos.
Gênero: Monólogo (Drama).
RECOMENDO MUITO O ESPETÁCULO, que só tem mais duas apresentações: depois de amanhã e na próxima 5ª feira.
FOTOS: DANILO APOENA
É preciso
ir ao TEATRO, ocupar todas as
salas de espetáculo, visto
que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir
sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos
divulgar o que há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!
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