“TITANÍQUE –
O MUSICAL”
ou
(É FAZENDO RIR
QUE SE É APLAUDIDO.)
ou
(E ELE NAUFRAGOU
NUM OCEANO
DO MELHOR
BESTEIROL.)
Quem não se comoveu, em
1997, ao assistir ao filme “Titanic”, nome de um
célebre navio de passageiros britânico, um imenso transatlântico, pensado
para ser o navio mais luxuoso e mais seguro de sua época, gerando
lendas de que era, supostamente, “inafundável”, mas que naufragou, em 1912, ao colidir com um iceberg,
em sua viagem inaugural, com mais de 1 500 pessoas a bordo, sendo um
dos maiores desastres marítimos em tempos de paz de toda a história, deixando um grande saldo de mortos e menos de um terço de pessoas
sobreviventes, entre passageiros e tripulantes?
Na mesma proporção,
não há quem não se dobre, de tanto rir, deixando-se contaminar pelo humor
cáustico de uma hilaríssima COMÉDIA, construída sob o
guarda-chuva do besteirol, em cartaz, em São Paulo,
porém, infelizmente, já em final de temporada, no Teatro Sabesp Frei
Caneca, “TITANÍQUE – O MUSICAL”, inclusive com um acento agudo
que contraria, de propósito, quero crer, a gramática, presente até no título
original, em inglês, o que é mais absurdo ainda, numa língua que não contempla
acentos gráficos que indicam tonicidade.
Aos incautos e mal-informados,
adianto logo que se trata, como já disse, de uma COMÉDIA, uma “senhora
COMÉDIA!”. Destarte, ninguém espere ver a uma visão teatral do drama
que conta a triste história de um naufrágio. Não é nada disso. O naufrágio
existe, sim, porém com um final feliz, uma licença poética que é permitida à
nobre arte do TEATRO.
SINOPSE:
Uma
comédia hilária e irreverente do clássico “Titanic” (1997), “TITANÍQUE
— O MUSICAL” está repleto de reviravoltas absurdas e canções icônicas, que
elevam a experiência a algo verdadeiramente inesquecível.
O
espetáculo é uma carta de amor à música “pop”, ao cinema e ao TEATRO
musical, prometendo sessões cheias de risadas, emoção e pura alegria, tudo ao
som inesquecível de Céline Dion.
Aliás,
o título do espetáculo, no Brasil, ganhou um acréscimo: “TITANÍQUE
– UMA COMÉDIA COM OS HITS DE CÉLINE DION”.
Sucesso absoluto por onde passou, antes
de aportar em São Paulo (Nova York - “off-Broadway”, Londres,
Sydney, Toronto e Paris), o musical nos chega graças à BARHO
Produções e Uma Boa Produção, sob a direção de GUSTAVO
BARCHILON.
O original foi criado por Tye Blue,
Marla Mindelle e Constantine Rousouli, mas não
consigo imaginar outras encenações da peça, visto que parece ter sido escrito
por um brasileiro, para o nosso povo. O espetáculo tem a cara do Brasil
e do humor direto e escrachado brasileiro. É claro que, na nossa versão, feita
por GUSTAVO BARCHILON e RAFAEL OLIVEIRA, houve uma série imensa
de adaptações ao nosso idioma, além de muitas piadas internas, relativas à
nossa cultura, ao TEATRO e a outras fontes, sem falar nos muitos “cacos”,
que, inevitavelmente, surgem, ao longo da encenação, e que arrancam estrondosas
gargalhadas de quem se deixa mergulhar naquele maravilhoso universo “non
sense”. Até o elenco “sucumbe” ao humor que ele mesmo
produz.
Aqui,
a história de amor de Jack (Leonardo DiCaprio) e Rose
(Kate Wisnlet), no filme de James Cameron, é reimaginada,
sob a ótica exagerada e dramática da diva "pop" Céline Dion, que
assume o papel de narradora (ALESSANDRA MAESTRINI) e conduz o público por uma jornada cheia de emoção,
risadas e números musicais eletrizantes. Sim, senhores, neste musical, a
consagrada intérprete canadense está viajando no navio, bem como a
personificação do “iceberg”, sob a forma de Tina Turner
(VALÉRIA BARCELLOS), numa fantástica composição da personagem, que está
mais para um “furacão” (Momento descontração!). A
imitação da cantora é perfeita e engraçadíssima.
As
canções que embalam o musical são alguns dos maiores “hits” de Dion,
como o icônico “My Heart Will Go On”, acompanhado pelo público, “It’s
All Coming Back to Me Now” e “All By Myself”,
apresentados em arranjos vocais arrebatadores, acompanhados por uma fabulosa
banda, formada por THIAGO GIMENES (maestro e pianista), JOHNNY
MANTELATO (piano 2 e sub regência), RAMIZ OLIVEIRA e ABNER
PAUL (alternante) (bateria), EVANDRO MOISÉS e JAIME
BASS (alternante ) (baixo) e TIAGO GUITA SAUL e ALE
RODRIGUES (alternante) (guitarra e violão). A propósito, as
tentativas da personagem Molly Brown, de TALITA REAL, de
interpretar a última canção relacionada são de nos fazer explodir em
gargalhadas.
Por meio de gestos curtos e expressões
corporais, os atores brincam com a dramaticidade contida nas letras, todas
interpretadas em inglês. Quem domina o idioma de Shakespeare tem
aí uma outra oportunidade de se divertir à farta. E que fique bem claro que a
produção brasileira não é uma réplica; é como se fosse uma montagem
original, com cenografia, figurinos e direção
adaptados ao contexto e ao humor brasileiros.
Quem é “habitué” de TEATRO, ao tomar contato com a preciosidade revelada pelos nomes que compõem a FICHA TÉCNICA, logo se apressa a assistir a esta delícia de espetáculo. Foi reunido um time do que há de melhor entre profissionais de criação e artistas de um modo geral.
A direção musical, os arranjos
e a orquestração, a cargo de THIAGO GIMENES, valorizam as
canções que embalam a peça. O dinamismo verificado nas cenas se deve muito ao
trabalho de direção de movimento, assinado por ALONSO BARROS.
NATÁLIA LANA assina mais uma de suas admiráveis cenografias,
que lembra, um pouco, o cenário idealizado pela própria NATÁLIA,
para um espetáculo de Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello
(“Conserto para Dois”) e que serve de motivo a uma das excelentes
piadas da peça. Os figurinos, desenhados por THEO COCHRANE,
são formidáveis, com dois destaques importantes, a meu juízo: um elegante modelo de vestido,
usado pela personagem Rose, e um exuberante traje que veste LUÍS
LOBIANCO, complementado pelo ótimo visagismo, de FELICIANO
SAN ROMAN, com um hilário detalhe de uma pomba na cabeça. MANECO
QUINDERÉ ilumina tudo com a mesma maestria de sempre com que assina seus desenhos
de luz.
O espetáculo é “um bolo com duas cerejas”,
representadas estas pela direção e pelo elenco. GUSTAVO
BARCHILON, com grandes e premiadas produções para o TEATRO Musical
Brasileiro em seu currículo, abraça uma difícil função, a de ser o
maestro de um espetáculo para fazer rir. Fazer rir sempre será, em muito mesmo,
mais difícil do que provocar emoções que podem levar ao choro. E isso GUSTAVO
mostrou que também sabe fazer, extraindo o que há de melhor, em termos de fazer
humor, dos seus maravilhosos dirigidos.
Que elenco!!! Há uma
total integração entre todos, os quais se divertem muito em cena, representando
seus personagens. É tudo muito natural e espontâneo na troca de falas em cada
diálogo. Dos protagonistas aos personagens coadjuvantes (Sempre
coadjuvantes são os personagens, não os atores.) todos se apegam às
possibilidades de mover o público a gostosas gargalhadas (Muito mais que
risos.). Tenho, entretanto, alguns destaques a fazer, nas pessoas de ALESSANDRA
MAESTRINI, GIULIA NADRUZ, TALITA REAL, VALÉRIA BARCELLOS,
MARCOS VERAS, GEORGE SAUMA, LUÍS LOBIANCO, MATHEUS
RIBEIRO e WENDELL BANDELACK.
FICHA
TÉCNICA:
Versão
Brasileira: Gustavo Barchilon e Rafael Oliveira
Direção
Artística: Gustavo Barchilon
Assistência
de Direção: Talita Real e Gabi Camisotti
Elenco:
Alessandra Maestrini (Céline Dion), Marcos Veras (Jack), Giulia Nadruz (Rose), Luís
Lobianco (Ruth), George Sauma (Carl), Wendell Bandelack (Victor Garber),
Valéria Barcellos (Tina Turner), Talita Real (Molly Brown), Matheus Ribeiro
(Marinheiro), Luiza Lapa, Marcos Lanza e Luan Carvalho
Direção
Musical, Arranjos e Orquestração: Thiago Gimenes
Direção
de Movimento: Alonso Barros
Cenografia:
Natália Lana
Figurino:
Theo Cochane
Desenho
de Luz: Maneco Quinderé
Visagismo:
Feliciano San Roman
Desenho
de Som: João Baracho
Assessoria
de Imprensa: Pombo Correio
Fotos: Caio Gallucci
Direção
de Produção: Thiago Hofman
SERVIÇO:
Temporada:
De 11 de outubro a 14 de dezembro de 2025.
Local:
Teatro Sabesp Frei Caneca (Shopping Frei Caneca).
Endereço:
Rua Frei Caneca, nº 569 - 7° Piso - Consolação - São Paulo.
Dias
e Horários: Sábados, às 17h e 20h, e domingos, às 15h e 18h.
Duração:
110 minutos, sem intervalo.
Capacidade:
600 pessoas.
Classificação
Indicativa: 12 anos.
Valores dos Ingressos: Não divulgados. Vendas pela internet (com taxa de serviço): (https://uhuu.com/evento/sp/sao-paulo/titanique-uma-comedia-com-os-hits-de-celine-dion-14940) ou na Bilheteria do Teatro Sabesp Frei Caneca (sem incidência de taxa
de serviço) - 7º Piso do Shopping Frei Caneca.
Horário de funcionamento da bilheteria: De terça-feira a domingo, das 12h às
15h, e das 16h às 19h. Na segunda-feira, a bilheteria está fechada.
Gênero:
Musical
RECOMENDO,
SEM PESTANEJAR, ESTE FANTÁSTICO MUSICAL, que provoca o riso por
meio de uma exploração do “nonsense”, do exagero e da quebra de
lógica, transformando uma tragédia épica numa celebração escancaradamente “camp
e queer”, onde tudo cabe e nada é “gordura”. Nas palavras
do diretor, as quais eu endosso, “O palco vira um navio
performático, onde a precariedade vira linguagem e o erro é bem-vindo. O
público está por dentro da piada, sabe que está vendo TEATRO e, por isso mesmo,
embarca com ainda mais prazer.”.
“TITANÍQUE ...” é uma das COMÉDIAS
que mais me fizeram gargalhar até hoje, até sentir dor nos maxilares e nas bochechas.
FOTOS: CAIO GALLUCCI
É preciso ir ao TEATRO,
ocupar todas as salas de espetáculo, visto
que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre
mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que
há de melhor no TEATRO BRASILEIRO!
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