terça-feira, 20 de maio de 2025

“TUDO QUE EU

QUERIA TE DIZER –

15 ANOS DEPOIS”

ou

(O QUE É BOM

NÃO ENVELHECE.)

ou

(A VERDADE DAS CARTAS.)

 


         O que é bom, de verdade, seja lá o que for, não envelhece. Com o TEATRO não seria diferente. Há 15 anos, assisti, no Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, hoje, Teatro Léa Garcia, a um espetáculo que muito me agradou, fez grande sucesso, de público e de crítica, e que, por ser de alta qualidade, deixou muita gente, que não conseguiu assistir a ele, com o desejo de conhecê-lo e provocou, em quem teve a sorte de conferi-lo, a vontade de revê-lo, como aconteceu comigo. Felizmente, ele está de volta e consegui matar um meu antigo desejo, na noite do último sábado, 17 de maio de 2025. É ele “TUDO QUE EU QUERIA TE DIZER - 15 ANOS DEPOIS”, com texto de MARTHA MEDEIROS, direção de VICTOR GARCIA PERALTA, na interpretação de ANA BEATRIZ NOGUEIRA. Sim, é um monólogo.



       Monólogos são montagens simples de se fazer - até a página 5 -, uma vez que muita gente não aparece em cena, mas são todos fundamentais para o acontecer teatral. Mas acaba sendo um trabalho mais acessível, para sair em turnês e fazer apresentações esporádicas de finais de semana, aqui, ali e acolá. Também são produções que requerem pouco investimento, se bem que qualquer coisa, em TEATRO, por mais simples que seja, para ser bem sucedida, precisa de recursos financeiros e de pessoal gabaritado.



        Qual é o segredo para o sucesso desta peça? O que justifica as sessões com lotações esgotadas ainda hoje? Não é preciso pensar muito. A resposta está na extrema qualidade de um texto, magnificamente dirigido e dito por que tem competência para dar e vender. Acredito que essa seja a receita para o sucesso, apoiada nesse tripé. Quem ousaria dizer que MARTHA MEDEIROS não é uma unanimidade, o que jamais será uma “burrice”, como provoca o polêmico Nelson Rodrigues? Quem seria capaz de não reconhecer o talento do premiadíssimo diretor VICTOR GARCIA PERALTA? E quem não considera ANA BEATRIZ NOGUEIRA uma das maiores atrizes de sua geração e do Brasil? O espetáculo em tela é daqueles que atraem público pelo velho e bom processo de divulgação boca a boca.



      O texto, cujo título é o mesmo de um livro de MARTHA, se resume a meia dúzia de cartas com destinatários distintos, pelas quais a missivista põe no papel tudo o que tinha guardado dentro de si, para expurgar várias coisas. As cartas são como um mecanismo catártico que só poderiam fazer bem a quem precisa acionar um estopim que faz explodir uma bomba, sem que ela possa causar um dano muito violento no destinatário. Essas cartas são um vetor de libertação, para quem as escreve. MARTHA diz as suas verdades e expõe os seus sentimentos de maneira simples, humana, sincera e, por vezes, até doce e engraçada, muito próximo à imagem que ela passa aos seus leitores, fãs incontestáveis, como eu. MARTHA escreve para todas as gentes, poeticamente, sem ser rebuscada. Este parágrafo bem poderia equivaler a uma SINOPSE da peça.



         A leitura do livro é um incomensurável deleite, cada carta melhor que a outra, entretanto ouvir a sua leitura, como, talvez, se fôssemos nós os seus destinatários, pela boca de ANA BEATRIZ, ganha um “up” incalculável. ANA valoriza cada palavra ou frase, com entonações e pausas perfeitas, fruto de como ela interpreta o conteúdo do que está dizendo, como se fossem as cartas escritas por si própria. MARTHA por ANA, ou ANA em MARTHA.



(Martha Medeiros.)

     Cada uma das cartas se apoia em temas diferentes, tais como o amor, a rejeição, a saudade, a ética e o desejo, por exemplo. ANA BEATRIZ se desdobra na pele de seis mulheres de universos completamente distintos. Para interpretá-las, assume vozes, posturas corporais e máscaras faciais diferentes, variando de acordo com o teor de cada correspondência. São palavras da atriz: “A proposta da peça sempre foi um belo exercício, despojado de cenário e figurinos. Todas essas mulheres que interpreto estão vivendo momentos-limite de desabafo, de mudanças em suas vidas”.



        De tanto que já trabalhou com ANA BEATRIZ NOGUEIRAVICTOR GARCIA PERALTA a conhece muito bem e, da forma mais inteligente possível, soube explorar os vários recursos naturais da grande atriz e não se preocupou em “inventar a roda”, apoiando-se na proposta de direção em que “menos é mais”. O foco está na brilhante atriz. A falta de recursos plásticos, como o cenário e um figurino específico, em nada atrapalha a encenação. Muito pelo contrário. Nada além de uma cadeira, um traje simples e uma luz econômica e apropriada a cada cena. 



(Victor Garcia Peralta.)

         ANA BEATRIZ NOGUEIRA nos dá uma aula do que seja o bom TEATRO. Quero registrar o aumento da potência dos meus aplausos à querida atriz, pelo fato de ter, naquela noite, se sacrificado bastante, para não ter que cancelar a sessão, com dificuldade de respiração e de projetar a voz, recém-saída de uma forte gripe.


(Ana Beatriz Nogueira.)


 

 


FICHA TÉCNICA:


Texto Original: Martha Medeiros

Direção: Victor Garcia Peralta

 

Elenco: Ana Beatriz Nogueira

 

Cenário: Victor Garcia Peralta e Ana Beatriz Nogueira

Figurino: Victor Garcia Peralta e Ana Beatriz Nogueira

Iluminação: Rogério Medeiros 

Assessoria de Imprensa: Dobbs Scarpa 

Fotos: Divulgação

Produção: Trocadilhos 1000 Produções Artísticas Ltda.

Realização: Ana Beatriz Nogueira


 





 


SERVIÇO:


Temporada: De 09 de maio a 01 de junho de 2025.

Local: Teatro PRIO.

Endereço: Avenida Bartolomeu Mitre, nº 1110 - Lagoa, Rio de Janeiro (Dentro do Jóquei Clube Brasileiro).
Dias e Horários: Sexta-Feira e sábado, às 20h; domingo, às 19h.
Valor dos Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia-entrada).

Indicação Etária: 14 anos.

Duração: 60 minutos.

Gênero: Monólogo.



 


      A atual programação teatral do Rio de Janeiro não está seguindo, infelizmente, um bom padrão de qualidade, com algumas exceções, como é o caso de “TUDO QUE EU QUERIA TE DIZER – 15 ANOS DEPOIS”, e é por esse motivo que RECOMENDO A PEÇA.

 

 

FOTOS: DIVULGAÇÃO.

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!




 





































Um comentário:

  1. Receita maravilhosa de monólogo! Textos de Martha Medeiros são sempre sensíveis que tratam do cotidiano da nossa alma e traduzem em sentimentos que muitas vezes nem queremos externar. Mas ela é delicadamente cirúrgica. E a Ana Beatriz, consegue instrumentalizar, com sua voz e interpretação, cada uma das cartas. Parabéns, Gilberto! Quem não viu, não sabe o que perdeu!

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