quinta-feira, 15 de maio de 2025

“PA! – SOLO TEATRAL”

ou

(UM ARTISTA SE DESPE DA SUA DOR.)

 

 


         Uma crítica curta, mas profunda, sobre uma obra em que um artista se despe da sua dor numa corajosa catarse, para expurgar fantasmas de um passado, que ainda assombravam no presente, a fim de que desapareçam, de vez, no futuro. Resolvi iniciar dessa forma direta uma modesta apreciação crítica acerca do solo “PA!”, que ficou em cartaz por apenas 4 sessões, na Sala Multiuso do SESC Copacabana. Antes de dar prosseguimento à minha opinião sobre o espetáculo, quero dizer que, na verdade, não é, exatamente, um ponto de exclamação que aparece no título, mas sim uma letra “I” maiúscula, de cabeça para baixo, o que não consigo reproduzir no teclado do meu computador. Pelo menos foi isso o que me pareceu, essa é a minha leitura. Esse detalhe é muito importante e nada mais direi sobre ele, deixando, a quem puder assistir à peça, a decifração. Há promessa, ou intenção e esperança, no mínimo, de que ele volte ao cartaz, visto que a última apresentação se deu anteontem, dia 14 de maio de 2025.


 


SINOPSE:

“PA!”, inspirado em uma história real, é um solo que acompanha a jornada de um homem, confrontando os impactos duradouros dos abusos que sofreu nas mãos de suas figuras paternas (SIC).

Em um espaço cru, impregnado de memória, ele revive episódios de violência, rituais, vergonha e silêncios — marcados por gestos de controle, crueldade e ternura fugidia.

Ele busca clareza, encerramento e um sentido de identidade que vá além do passado que o assombra.

À medida que o passado rompe a superfície do presente, “PA!” desafia o silêncio, entrelaçando emoção bruta com momentos de beleza e esperança.

Essa performance visceral oferece um espaço para o diálogo, a cura e a possibilidade de, finalmente, deixar ir.

 

 



     Parece-me que houve algum engano na redação da primeira frase da SINOPSE supra. Reparem que ela fala em “abusos que sofreu nas mãos de suas figuras paternas no plural. A explicação para isso é muito simples: GUILHERME LOGULLO se faz valer de sua experiência particular, de ter sido abusado, na infância, por seu próprio pai, para jogar luz naquilo que acontece com muito mais frequência do que podemos, e não queremos, imaginar. As estatísticas oficiais provam que muito dos casos de abuso sexual acometidos na infância ocorrem dentro de casa, partem de pessoas da própria família, incluindo pais, irmãos e, até mesmo, avôs.

 


         Se a peça não valesse a pena ser vista, como uma representação teatral que não contivesse elementos que a credenciassem como um BOM espetáculo, o que, absolutamente, não é o caso, já bastaria ela existir, para chamar a atenção das pessoas para tão cruel prática. Acontece que, ainda que seja uma montagem bem franciscana, simples, sem grandes aparatos técnicos, erguida com recursos próprios, porém de muito bom gosto, a peça é bem regular e correta naquilo a que se propõe.

 


    Conta com uma cenografia bem simples e totalmente a serviço das necessidades das cenas, idealizada por MARIETA SPADA, um belo e elegante traje, o figurino criado por KAREN BRUSTOLLIN, e uma discreta e pontual iluminação, pensada por PAULO DENIZOT. A encenação é sublinhada por uma correta e bem ajustada trilha sonora, a cargo de JOÃO PAULO MENDONÇA.  

 

 

         O solo recebeu a direção de ARTHUR MAKARYAN, um armênio radicado em Nova Iorque, que veio ao Rio de Janeiro para ser o “maestro” da peça e colaborar com o próprio LOGULLO na dramaturgia do espetáculo, no qual o ator “expõe aspectos íntimos das suas próprias vivências paternas, para promover diálogos e reflexões sobre o tema”. Pesadíssimo tema. Sobre a direção, nada em especial a dizer, além de que é um belo e correto fazer teatral.

 


          Neste trabalho de autoficção, uma espécie de quase “gênero teatral”, que vem se firmando no TEATRO BRASILEIRO e mundial, GUILHERME LOGULLO é a atração maior, convidando o público a uma viagem ao passado, por meio de uma experiência intensa, corajosa e transformadora. No monólogo, o artista, de forma destemida, ousada e visceral, mergulha nos porões do seu passado, principalmente a infância e a adolescência, para expurgar as dores e marcas deixadas por abusos emocionais, físicos e psicológicos, perpetrados por sua figura paterna, representando tantas outras como a dele, adquirindo voz e novos significados. Essas tristes e indeléveis memórias “ganham novo rumo, abrindo diálogos e um caminho para o perdão”.

 

 

         Em cena, o competentíssimo ator GUILHERME LOGULLO é ele mesmo, um homem diante de sua terapeuta, disposto a confrontar as marcas profundas deixadas pelos abusos que sofreu de suas figuras paternas na infância”. Sozinho, numa busca por explicações, ele revive atos de controle, crueldade e, por vezes, de ternura fugaz, enquanto se coloca no encalço de clareza, encerramento e um sentido de identidade, além das memórias que o assombram. São palavras do ator, extraídas do “release” que recebi, via MÁRIO CAMELO, da assessoria de imprensa da peça: “Quis trazer à tona o espetáculo, para dar novos significados às vivências paternas violentas e difíceis que enfrentei em minha vida. De alguma forma, transformando isso em arte, em TEATRO, eu ganho força, libertação e clareza de tudo que vivi. Muito além de expor e compartilhar tais experiências, o objetivo é provocar mudanças e gerar aprendizado. E continua: “É um tema denso, difícil, mas a peça busca jogar uma nova perspectiva e abrir um diálogo franco sobre esse problema, muitas vezes, silencioso, silenciado e estigmatizado, fornecendo uma plataforma para as vítimas compartilharem suas histórias e encontrarem apoio”. Conheço o excelente trabalho do GUI de muito tempo, principalmente em musicais, nos quais ele sempre brilhou, como ator, cantor e bailarino. Aqui, tive a oportunidade de conhecer uma outra faceta desse multiartista, que me fez retornar a casa felicíssimo, embora mexido com o que vi representado.


 

 

FICHA TÉCNICA:


Argumento / Dramaturgia: Guilherme Logullo e Arthur Makaryan

Direção: Arthur Makaryan

 

Elenco: Guilherme Logullo

 

Cenografia: Marieta Spada

Figurino: Karen Brusttolin

Desenho de Luz: Paulo Denizot

Trilha Sonora: João Paulo Mendonça

“Designer” Gráfico: Igor Ferraz

Assessoria de Imprensa: Mário Camelo (Prisma Colab)

Fotos: Thiago Gouvea

Direção de Produção: Guilherme Logullo

Realização: Luar de Abril Produções Ltda.


 


 

         Por motivos óbvios, não faz sentido reproduzir o SERVIÇO da peça, porém estou pronto a divulgá-lo, incansavelmente, caso volte ao cartaz, e espero que muita gente possa assistir a este belíssimo solo.

 

 

 

 

 

FOTOS: THIAGO GOUVEA


 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro! 

 

 

 































































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