segunda-feira, 19 de maio de 2025

“A MENINA DANÇA”

ou

(A HORA E A VEZ DO TEATRO INFANTIL.)

OU

(A VEZ E A HORA DA MULHER HEROÍNA BRASILEIRA.)



        

        É com muito prazer que me ponho a escrever sobre o espetáculo infantil “A MENINA DANÇA”, em cartaz, GRATUITAMENTE, no Teatro Domingos de Oliveira (Planetário do Rio de Janeiro), aos sábados e domingos, às 11h, até o próximo dia 01 de junho. Vários motivos me levam a dedicar parte do meu tempo a expor minha opinião sobre o espetáculo, sendo o principal deles, como não poderia deixar de ser, o fato de ele ter me agradado bastante, como um verdadeiro TEATRO para os pequenos, os quais, infelizmente, vivem sendo bombardeados por “produções” que deixam muito a desejar. Acompanhei, de perto, a “gestação” do texto e do projeto e muito reverencio o papel de idealizadora e dramaturga de PATY LOPES nesta produção.

 

 

(Foto: Gilberto Bartholo.)




SINOPSE:

Através dos ritmos e danças africanas, as crianças conhecem a história de Maria Felipa, uma personagem que se depara com quarenta e dois navios portugueses, prontos a tirar sua liberdade.

Com muita ludicidade, a peça retrata sua procura para proteger o Brasil e expulsar a esquadra portuguesa de nosso país.

O espetáculo tem uma linguagem específica para crianças da pré-infância à infância, com cantigas que elas conhecem, trazendo conexão com a história que é contada.


 

 

(Foto Gilberto Bartholo.)


         A história do Brasil sempre foi muito mal contada e nomes importantes, para a construção de uma civilização e cultura brasileira, foram varridos para debaixo do tapete e sofreram um processo de apagamento, como é o caso de Maria Felipa, sobre quem passo a discorrer.


(Foto: Gilberto Bartholo.)


Maria Felipa de Oliveira, nascida na Ilha de Itaparica, na Bahia, em data incerta, e falecida, na mesma Ilha, em 04 de julho de 1873, foi uma negra, marisqueira, pescadora e trabalhadora braçal, que participou da luta pela Independência da Bahia. A tradição oral dá conta de que ela liderou um grupo de cerca de 200 pessoas, entre mulheres negras, índios tupinambás e tapuias, para lutar contra os soldados portugueses que atacaram a Ilha de Itaparica, entre os anos de 1822 e 1823. Com o apoio de todos, queimou inúmeras embarcações portuguesas, diminuindo o poderio colonizador, no decorrer da batalha, e, depois, enfrentou os portugueses, usando folhas de “cansanção”, uma planta típica da região, que, em contato com a pele, dá a sensação de queimação. E toda a ação resultou em uma queda no número de soldados da tropa portuguesa.



(Imagem criada de Maria Felipa com base em depoimentos das pesquisadoras Eny Kleyde Vasconcelos Farias e Rejane Mira, para o projeto "Faces Negras Importam".)


Conta-se que Maria Felipa era uma mulher alta e corpulenta, descendente de negros escravizados, vindos do Sudão. Maria Felipa foi declarada “Heroína da Pátria Brasileira” e teve seu nome inscrito no “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”, que se encontra no “Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves”, situado em Brasília / DF. No entanto, por uma total injustiça, Maria Felipa, como tantos outros heróis e heroínas, não faz parte da história “oficial”, nos livros escolares brasileiros, “uma invisibilidade que a cultura trabalha para reverter, revivendo essas memórias, principalmente para o público infantil, ainda em formação e multiplicador de ideias”.



(Monumento em homenagem a Maria Felipa, inaugurado em 27 de julho de 2023, na praça homônima, anteriormente denominada Visconde de Cairu, em Salvador.)


E o TEATRO vem colaborar para isso, pelas mãos de PATY LOPES e um grupo de artistas, que inclui atores / cantores / bailarinos, um músico, artistas de criação e técnicos, numa produção simples, porém muito bem cuidada, bonita e criativa, extremamente lúdica, que não deixa margem a críticas negativas.



     A concretização do projeto deve-se à sensibilidade para ele, por parte do Ministério da Cultura e do Instituto Cultural Vale, que viabilizaram a sua realização, como um projeto itinerante, que passou por vários lugares, em circulação por algumas escolas da rede pública municipal da cidade do Rio de Janeiro, além de outros municípios fluminenses, como Nilópolis, Itaguaí e Mangaratiba, e mais uma curta temporada no Teatro Municipal Domingos de Oliveira, onde tive a oportunidade de conhecer o trabalho ontem, 18 de maio de 2025.




    O espetáculo, lindo de ser visto, é direcionado ao público infantil, mas consegue, também, despertar a criança adormecida nos adultos. “A MENINA DANÇA” é uma obra de dança e TEATRO, de fundamentos afros, contidos no maracatu, jongo, maculelê, samba de roda e outros ritmos, que homenageiam Maria Felipa.



A tenacidade e a coragem dos envolvidos neste projeto merecem todo o nosso aplauso, dado que, para atingirem certos complexos de favelas, tiveram que transpor obstáculos – até derrubar barricadas –, para fazer o espetáculo chegar a locais dominados por traficantes e milicianos, numa prova inequívoca de que o bem pode se sobrepor ao mal e que “O TEATRO SALVA”.



“A MENINA DANÇA” traz uma personagem acessível ao espectador mirim, espectador este que percebe a importância do tema. Através da dança, são reveladas histórias que precisam ser multiplicadas. Durante a apresentação, a personagem conta a sua história, fala da sua amizade com os peixes - que estão em cena também - e como conseguiu afundar, juntamente com seus amigos locais, 42 navios, na Ilha de Itaparica (BA), em prol da Independência do Brasil.



PATY LOPES revela que levar a montagem para as escolas é um momento mágico de sua carreira: “Levar a peça para dentro das unidades de educação é empregar o nosso propósito na fonte, na base. As crianças precisam ser educadas de forma que elas se tornem referências para os seus adultos, levando essas histórias para dentro de suas casas. Nada melhor que uma apresentação gratuita, para que esse propósito seja alcançado”. E ainda reforça que “para contar a história de Maria Felipa nos dias de hoje, não necessitamos mais da busca estética colonizadora como referência iconográfica. Hoje, já temos nossas cores e elas são bem mais vivas e reais do que as aquarelas relatadas pelos registros das escolas europeias”.




         Com relação à parte musical deste trabalho, o projeto defende a ideia das cantigas de roda, com palmas, através da percussão corporal. “A meta é levar pertencimento e protagonismo do público para as apresentações. O objetivo é reverberar a história do Brasil, os feitos da Maria Felipa e também entrar nas brincadeiras de roda, com base nos corpos dos bailarinos. A musicalização acontece através de cantigas”.



         Destacam-se, nesta produção, a beleza plástica, traduzida pelos figurinos, de RICARDO ROCHA, assim como os adereços, e a iluminação, a cargo de VALMYR FERREIRA e AMANDA BARROSO.



         O elenco se comporta com total perfeição e graciosidade, nas interpretações de CHELLE (Maria Felipa), BELLAS DA SILVEIRA (Dona Raia), MARCELO DOG (Riobaldo), PRISCILA ARAÚJO (Amiga Africana) e YAGO CERQUEIRA (Músico), todos nivelados bem por cima, afinados no mesmo diapasão.  



 


 

FICHA TÉCNICA:

Texto, Idealização e Direção de Produção: Paty Lopes

Colaboração Artística: Rosana Reategui

Direção Artística e Coreografia: Flávia Souza

 

Elenco (por ordem alfabética): Bellas da Silveira, Chelle, Marcelo Dog, Priscila Araújo e Yago Cerqueira

 

Figurino: Ricardo Rocha

Desenho de Luz Original: Valmyr Ferreira

Adaptação de Desenho de Luz e Operadora de Iluminação: Amanda Barroso

Coordenação de Produção: Júlio Luz

Produção Executiva: Eliano Lettieri

Assistência de Produção: Alessa Fernandes

Programação Visual: Josué Ribeiro

Fotos de Divulgação:  Cido Acioly - A4 Filmes

Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa

“Controller” Financeira: Letícia Napole - Vianapole Arte e Comunicação

Administração: Sérgio Dias

Mídias Sociais e Comunicação: Leo Vianna - Copa Comunicação

Contabilidade: Contemporânea Contabilidade

Assessoria Jurídica: Gomes & Medeiros MManhães

Realização: Lamparina Produções Culturais, Ministério da Cultura e Governo Federal

Patrocínio: Instituto Cultural Vale, através do Lei de Incentivo à Cultura - Lei Rouanet


 







SERVIÇO:

Temporada: De 03 de maio a 01 de junho de 2025.

Local: Teatro Municipal Domingos de Oliveira.

Endereço: Avenida Padre Leonel Franca, nº 290 – Gávea – Rio de Janeiro (Anexo ao Planetário do Rio de Janeiro).

ESTACIONAMENTO GRÁTIS NO LOCAL.

Valor dos Ingressos: GRATUITOS.

Duração: 45 minutos.

Classificação Indicativa: Livre. Indicado para crianças a partir dos 02 anos.

Gênero: Teatro Infantil.


 



 

         Com o maior empenho, RECOMENDO este espetáculo.

 

 

 

FOTOS: CIDO ACIOLY

 

 

 

É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro! 

 























































































































































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