“A MENINA DANÇA”
ou
(A HORA E A VEZ DO TEATRO INFANTIL.)
OU
(A VEZ E A HORA DA MULHER HEROÍNA BRASILEIRA.)
É com muito prazer que me ponho a
escrever sobre o espetáculo infantil “A
MENINA DANÇA”, em cartaz, GRATUITAMENTE,
no Teatro
Domingos de Oliveira (Planetário do Rio de Janeiro), aos
sábados
e domingos, às 11h, até o próximo dia 01 de junho.
Vários motivos me levam a dedicar parte do meu tempo a expor minha opinião sobre
o espetáculo, sendo o principal deles, como não poderia deixar de ser, o fato
de ele ter me agradado bastante, como um verdadeiro TEATRO para os pequenos,
os quais, infelizmente, vivem sendo bombardeados por “produções” que deixam muito
a desejar. Acompanhei, de perto, a “gestação” do texto e do projeto e
muito reverencio o papel de idealizadora e dramaturga de PATY LOPES nesta produção.
(Foto: Gilberto Bartholo.)
SINOPSE:
Através dos ritmos e danças africanas, as
crianças conhecem a história de Maria Felipa, uma personagem que se
depara com quarenta e dois navios portugueses, prontos a tirar sua liberdade.
Com muita ludicidade, a peça retrata sua
procura para proteger o Brasil e expulsar a esquadra
portuguesa de nosso país.
O espetáculo tem uma linguagem específica
para crianças da pré-infância à infância, com cantigas que elas conhecem,
trazendo conexão com a história que é contada.
(Foto Gilberto Bartholo.)
A história do Brasil sempre foi muito
mal contada e nomes importantes, para a construção de uma civilização e cultura
brasileira, foram varridos para debaixo do tapete e sofreram um processo de
apagamento, como é o caso de Maria Felipa, sobre quem passo a
discorrer.
(Foto: Gilberto Bartholo.)
Maria Felipa de Oliveira, nascida na Ilha
de Itaparica, na Bahia, em data incerta, e falecida,
na mesma Ilha, em 04 de julho de 1873, foi uma negra,
marisqueira, pescadora e trabalhadora braçal, que participou da luta pela Independência
da Bahia. A tradição oral dá conta de que ela liderou um
grupo de cerca de 200 pessoas, entre mulheres negras, índios
tupinambás e tapuias, para lutar contra os soldados
portugueses que atacaram a Ilha de Itaparica, entre os anos de 1822
e 1823.
Com o apoio de todos, queimou inúmeras embarcações portuguesas, diminuindo o
poderio colonizador, no decorrer da batalha, e, depois, enfrentou os
portugueses, usando folhas de “cansanção”, uma planta típica da
região, que, em contato com a pele, dá a sensação de queimação. E toda a ação
resultou em uma queda no número de soldados da tropa portuguesa.
Conta-se que Maria Felipa era uma mulher alta e
corpulenta, descendente de negros escravizados, vindos do Sudão. Maria
Felipa foi declarada “Heroína
da Pátria Brasileira” e teve seu nome inscrito no “Livro dos Heróis e Heroínas da
Pátria”, que se encontra no “Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo
Neves”, situado em Brasília / DF. No entanto, por uma
total injustiça, Maria Felipa, como tantos outros heróis e heroínas, não faz
parte da história “oficial”, nos livros escolares brasileiros, “uma
invisibilidade que a cultura trabalha para reverter, revivendo essas memórias,
principalmente para o público infantil, ainda em formação e multiplicador de
ideias”.
(Monumento em homenagem a Maria Felipa, inaugurado em 27 de julho de 2023, na praça homônima, anteriormente denominada Visconde de Cairu, em Salvador.)
E o TEATRO vem colaborar para isso, pelas
mãos de PATY LOPES e um grupo de artistas,
que inclui atores / cantores / bailarinos, um músico, artistas de criação e
técnicos, numa produção simples, porém muito bem cuidada, bonita e criativa, extremamente lúdica, que não deixa margem a críticas negativas.
A concretização do projeto
deve-se à sensibilidade para ele, por parte do Ministério da Cultura e
do Instituto
Cultural Vale, que viabilizaram a sua realização, como um projeto
itinerante, que passou por vários lugares, em circulação por algumas escolas
da rede pública municipal da cidade do Rio de Janeiro, além de outros
municípios fluminenses, como Nilópolis, Itaguaí e Mangaratiba, e mais uma curta temporada no Teatro Municipal Domingos de Oliveira,
onde tive a oportunidade de conhecer o trabalho ontem, 18 de
maio de 2025.
O espetáculo, lindo de ser
visto, é direcionado ao público infantil, mas consegue, também, despertar a
criança adormecida nos adultos. “A
MENINA DANÇA” é uma obra de dança e TEATRO, de fundamentos afros,
contidos no maracatu, jongo, maculelê, samba
de roda e outros ritmos, que homenageiam Maria Felipa.
A tenacidade e a coragem dos envolvidos neste
projeto merecem todo o nosso aplauso, dado que, para atingirem certos complexos
de favelas, tiveram que transpor obstáculos – até derrubar barricadas –, para fazer
o espetáculo chegar a locais dominados por traficantes e milicianos, numa prova
inequívoca de que o bem pode se sobrepor ao mal e que “O TEATRO SALVA”.
“A MENINA DANÇA” traz uma personagem
acessível ao espectador mirim, espectador este que percebe a importância do tema. Através da
dança, são reveladas histórias que precisam ser multiplicadas. Durante a apresentação,
a personagem conta a sua história, fala da sua amizade com os peixes - que
estão em cena também - e como conseguiu afundar, juntamente com seus amigos
locais, 42 navios, na Ilha de Itaparica (BA), em prol da Independência do
Brasil.
PATY
LOPES revela que levar a montagem para as escolas é um momento mágico de sua
carreira: “Levar a peça para dentro das unidades de educação é empregar o nosso
propósito na fonte, na base. As crianças precisam ser educadas de forma que
elas se tornem referências para os seus adultos, levando essas histórias para
dentro de suas casas. Nada melhor que uma apresentação gratuita, para que esse
propósito seja alcançado”. E ainda reforça que “para contar a história de Maria
Felipa nos dias de hoje, não necessitamos mais da busca estética colonizadora
como referência iconográfica. Hoje, já temos nossas cores e elas são bem mais
vivas e reais do que as aquarelas relatadas pelos registros das escolas
europeias”.
Com relação à parte
musical deste trabalho, o projeto defende a ideia das cantigas de roda, com
palmas, através da percussão corporal. “A meta é levar pertencimento e protagonismo
do público para as apresentações. O objetivo é reverberar a história do Brasil,
os feitos da Maria Felipa e também entrar nas brincadeiras de roda, com base
nos corpos dos bailarinos. A musicalização acontece através de cantigas”.
Destacam-se, nesta
produção, a beleza plástica, traduzida pelos figurinos, de RICARDO ROCHA, assim como os adereços,
e a iluminação,
a cargo de VALMYR FERREIRA e AMANDA BARROSO.
O elenco se comporta com
total perfeição e graciosidade, nas interpretações de CHELLE (Maria Felipa), BELLAS
DA SILVEIRA (Dona Raia), MARCELO DOG
(Riobaldo), PRISCILA ARAÚJO (Amiga Africana) e YAGO CERQUEIRA (Músico), todos nivelados
bem por cima, afinados no mesmo diapasão.
FICHA TÉCNICA:
Texto,
Idealização e Direção de Produção: Paty Lopes
Colaboração
Artística: Rosana Reategui
Direção
Artística e Coreografia: Flávia Souza
Elenco
(por ordem alfabética): Bellas da
Silveira, Chelle, Marcelo Dog, Priscila Araújo e Yago Cerqueira
Figurino:
Ricardo Rocha
Desenho
de Luz Original: Valmyr Ferreira
Adaptação
de Desenho de Luz e Operadora de Iluminação: Amanda Barroso
Coordenação
de Produção: Júlio Luz
Produção
Executiva: Eliano Lettieri
Assistência
de Produção: Alessa Fernandes
Programação
Visual: Josué Ribeiro
Fotos
de Divulgação: Cido Acioly - A4 Filmes
Assessoria
de Imprensa: Alessandra Costa
“Controller” Financeira: Letícia Napole - Vianapole Arte e
Comunicação
Administração:
Sérgio Dias
Mídias
Sociais e Comunicação: Leo Vianna - Copa Comunicação
Contabilidade:
Contemporânea Contabilidade
Assessoria
Jurídica: Gomes & Medeiros MManhães
Realização:
Lamparina Produções Culturais, Ministério da Cultura e Governo Federal
Patrocínio:
Instituto Cultural Vale, através do Lei de Incentivo à Cultura - Lei Rouanet
SERVIÇO:
Temporada:
De 03 de maio a 01 de junho de 2025.
Local:
Teatro Municipal Domingos de Oliveira.
Endereço:
Avenida Padre Leonel Franca, nº 290 – Gávea – Rio de Janeiro (Anexo ao Planetário
do Rio de Janeiro).
ESTACIONAMENTO GRÁTIS NO LOCAL.
Valor
dos Ingressos: GRATUITOS.
Duração:
45 minutos.
Classificação
Indicativa: Livre. Indicado para crianças a partir dos 02 anos.
Gênero: Teatro Infantil.
Com o maior empenho,
RECOMENDO este espetáculo.
FOTOS: CIDO ACIOLY
É preciso ir ao
TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo,
visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre
mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há
de melhor no TEATRO brasileiro!
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