“TUDO QUE EU
QUERIA TE DIZER –
15 ANOS DEPOIS”
ou
(O QUE É BOM
NÃO ENVELHECE.)
ou
(A VERDADE DAS
CARTAS.)
O que é bom, de verdade,
seja lá o que for, não envelhece. Com o TEATRO não seria diferente. Há 15
anos, assisti, no Centro Cultural Correios, no Rio
de Janeiro, hoje, Teatro Léa Garcia, a um espetáculo
que muito me agradou, fez grande sucesso, de público e de crítica, e que, por ser
de alta qualidade, deixou muita gente, que não conseguiu assistir a ele, com o
desejo de conhecê-lo e provocou, em quem teve a sorte de conferi-lo, a vontade
de revê-lo, como aconteceu comigo. Felizmente, ele está de volta e consegui
matar um meu antigo desejo, na noite do último sábado, 17 de maio de 2025. É ele
“TUDO QUE EU QUERIA TE DIZER - 15 ANOS DEPOIS”, com
texto
de MARTHA MEDEIROS, direção
de VICTOR GARCIA PERALTA, na interpretação
de ANA BEATRIZ NOGUEIRA. Sim, é um monólogo.
Monólogos são montagens
simples de se fazer - até a página 5 -, uma vez que muita gente não aparece em cena,
mas são todos fundamentais para o acontecer teatral. Mas acaba sendo um
trabalho mais acessível, para sair em turnês e fazer apresentações esporádicas
de finais de semana, aqui, ali e acolá. Também são produções que requerem pouco
investimento, se bem que qualquer coisa, em TEATRO, por mais simples
que seja, para ser bem sucedida, precisa de recursos financeiros e de pessoal
gabaritado.
Qual é o segredo para o
sucesso desta peça? O que justifica as sessões com lotações esgotadas ainda
hoje? Não é preciso pensar muito. A resposta está na extrema qualidade de um texto,
magnificamente dirigido e dito por que tem competência para dar e vender. Acredito
que essa seja a receita para o sucesso, apoiada nesse tripé. Quem ousaria dizer
que MARTHA MEDEIROS não é uma
unanimidade, o que jamais será uma “burrice”, como provoca o polêmico Nelson
Rodrigues? Quem seria capaz de não reconhecer o talento do premiadíssimo
diretor
VICTOR GARCIA PERALTA? E quem não
considera ANA BEATRIZ NOGUEIRA uma
das maiores atrizes de sua geração e do Brasil? O espetáculo em tela é daqueles
que atraem público pelo velho e bom processo de divulgação boca a boca.
O texto, cujo título é o mesmo de um livro de MARTHA, se resume a meia dúzia de cartas com destinatários distintos, pelas quais a missivista põe no papel tudo o que tinha guardado dentro de si, para expurgar várias coisas. As cartas são como um mecanismo catártico que só poderiam fazer bem a quem precisa acionar um estopim que faz explodir uma bomba, sem que ela possa causar um dano muito violento no destinatário. Essas cartas são um vetor de libertação, para quem as escreve. MARTHA diz as suas verdades e expõe os seus sentimentos de maneira simples, humana, sincera e, por vezes, até doce e engraçada, muito próximo à imagem que ela passa aos seus leitores, fãs incontestáveis, como eu. MARTHA escreve para todas as gentes, poeticamente, sem ser rebuscada. Este parágrafo bem poderia equivaler a uma SINOPSE da peça.
A leitura do livro é um incomensurável
deleite, cada carta melhor que a outra, entretanto ouvir a sua leitura, como,
talvez, se fôssemos nós os seus destinatários, pela boca de ANA BEATRIZ, ganha um “up”
incalculável. ANA valoriza cada
palavra ou frase, com entonações e pausas perfeitas, fruto de como ela interpreta
o conteúdo do que está dizendo, como se fossem as cartas escritas por si
própria. MARTHA por ANA, ou ANA em
MARTHA.
Cada uma das cartas se apoia
em temas diferentes, tais como o amor, a rejeição, a saudade, a ética e o
desejo, por exemplo. ANA BEATRIZ se
desdobra na pele de seis mulheres de universos completamente distintos. Para
interpretá-las, assume vozes, posturas corporais e máscaras faciais diferentes,
variando de acordo com o teor de cada correspondência. São palavras da atriz: “A
proposta da peça sempre foi um belo exercício, despojado de cenário e
figurinos. Todas essas mulheres que interpreto estão vivendo momentos-limite de
desabafo, de mudanças em suas vidas”.
De tanto que já trabalhou com ANA BEATRIZ NOGUEIRA, VICTOR GARCIA PERALTA a conhece muito bem e, da forma mais inteligente possível, soube explorar os vários recursos naturais da grande atriz e não se preocupou em “inventar a roda”, apoiando-se na proposta de direção em que “menos é mais”. O foco está na brilhante atriz. A falta de recursos plásticos, como o cenário e um figurino específico, em nada atrapalha a encenação. Muito pelo contrário. Nada além de uma cadeira, um traje simples e uma luz econômica e apropriada a cada cena.
ANA BEATRIZ NOGUEIRA nos dá uma aula do que seja o bom TEATRO.
Quero registrar o aumento da potência dos meus aplausos à querida atriz, pelo
fato de ter, naquela noite, se sacrificado bastante, para não ter que cancelar
a sessão, com dificuldade de respiração e de projetar a voz, recém-saída de uma
forte gripe.
(Ana Beatriz Nogueira.)
FICHA TÉCNICA:
Texto Original: Martha Medeiros
Direção: Victor Garcia Peralta
Elenco: Ana Beatriz Nogueira
Cenário: Victor Garcia
Peralta e Ana Beatriz Nogueira
Figurino: Victor Garcia
Peralta e Ana Beatriz Nogueira
Iluminação: Rogério
Medeiros
Assessoria de Imprensa: Dobbs Scarpa
Fotos: Divulgação
Produção: Trocadilhos 1000 Produções Artísticas Ltda.
Realização: Ana Beatriz Nogueira
SERVIÇO:
Temporada: De 09 de
maio a 01 de junho de 2025.
Local: Teatro PRIO.
Endereço: Avenida Bartolomeu Mitre, nº 1110 - Lagoa, Rio
de Janeiro (Dentro do Jóquei Clube Brasileiro).
Dias e Horários: Sexta-Feira e sábado, às 20h; domingo,
às 19h.
Valor dos Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$ 50
(meia-entrada).
Indicação Etária: 14 anos.
Duração: 60 minutos.
Gênero: Monólogo.
A
atual programação teatral do Rio de Janeiro não está seguindo,
infelizmente, um bom padrão de qualidade, com algumas exceções, como é o caso
de “TUDO QUE EU QUERIA TE DIZER – 15 ANOS
DEPOIS”, e é por esse motivo que RECOMENDO A PEÇA.
FOTOS: DIVULGAÇÃO.
É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!
Receita maravilhosa de monólogo! Textos de Martha Medeiros são sempre sensíveis que tratam do cotidiano da nossa alma e traduzem em sentimentos que muitas vezes nem queremos externar. Mas ela é delicadamente cirúrgica. E a Ana Beatriz, consegue instrumentalizar, com sua voz e interpretação, cada uma das cartas. Parabéns, Gilberto! Quem não viu, não sabe o que perdeu!
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