“O(S) MAMBEMBE(S)”
ou
(UMA ODE
AO TEATRO
E AOS ATORES.)
ou
(EXCELENTE
RELEITURA
DE UMA OBRA CONSAGRADA.)
Antes de mais nada, é
preciso justificar o título da peça, com a desinência nominal de número plural (S) grafado entre parênteses. É simples o
motivo. Trata-se de uma adaptação do original, escrito, a quatro mãos, pelo escritor e
dramaturgo maranhense ARTUR AZEVEDO e JOSÉ PIZA,
“O
Mambembe”, uma comédia clássica do TEATRO BRASILEIRO, escrita em 1904,
que conta as aventuras de uma trupe mambembe viajando pelo Brasil. A história acompanha a saga de uma trupe
teatral que viaja pelo interior do país, enfrentando dificuldades para realizar
espetáculos e atrair público. A peça explora diversos aspectos da vida
cotidiana, como namoros, infidelidades conjugais, relações familiares e
sociais.
A
peça chega ao Rio de Janeiro, depois de ter sido apresentada, a céu
aberto, em vias públicas, no Maranhão, Pará, Espírito
Santo e Minas Gerais, além de ter tido a honra de abrir a programação
oficial do “33º Festival de Curitiba”, onde, infelizmente, por motivos
alheios à minha vontade, não tive a oportunidade de assistir, o que fiz agora,
com muita boa expectativa, a qual acabou sendo superada pela apresentação, neste
espetáculo, em que a vida imita a arte.
SINOPSE:
O ator-empresário Frazão convida Laudelina
Pires, uma jovem e talentosa atriz amadora, para ser a primeira-dama de
sua companhia itinerante.
Ao saírem em turnê pelo interior do país, os
artistas se deparam com o Brasil dos coronéis e passam a
depender da boa vontade dos poderes locais para o sucesso de sua viagem.
Com a alegria e a agilidade de uma COMÉDIA
sobre rodas, OS MAMBEMBES convidam a
todos para uma viagem ao mundo do TEATRO, um mundo em que jogo,
trabalho e divertimento podem significar uma coisa só.
Além da já referida
apresentação no “Festival de Curitiba”, no Teatro Positivo, para um público de 2.400
espectadores, esta é a primeira temporada feita num teatro, na
formatação de palco italiano. Apesar de eu ter gostado muito da montagem,
confesso que fui mordido pelo “bichinho da curiosidade”, para ver
esse espetáculo encenado numa praça pública, como uma montagem do grupo “O
Galpão”, de Belo Horizonte, por achar que a proposta da direção
da peça esteja muito mais de acordo com uma encenação mambembe de fato, ao ar
livre. Mas analisemos o que temos para falar.
A universalidade e a atemporalidade
do texto estão presentes no palco, de forma marcante, com uma transposição para
o momento atual, guardadas as singularidades do original. Encarrega-se de
representar os personagens um elenco afinadíssimo de grandes nomes do TEATRO
BRASILEIRO, em ordem alfabética: CLÁUDIA ABREU, CAMILA BOHER,
DEBORAH EVELYN, JULIA LEMMERTZ, LEANDRO SANTANNA, ORÃ
FIGUEIREDO e PAULO BETTI, acompanhados pelo músico CAIO PADILHA,
que também exercita a sua porção ator. A concepção contemporânea é de EMÍLIO
DE MELLO, que divide a direção do espetáculo com GUSTAVO
GUENZBURGER. Em sua “mambembagem” (Acabei de criar um
neologismo.), “a vida imita a cena”, dado que o
grupo de atores profissionais caiu na estrada, literalmente, e já foi aplaudido
por um público estimado em mais de 18 mil pessoas, na maioria,
espectadores que tiveram o seu primeiro contato com o TEATRO.
Se, hoje, a peça é consagrada e muito
bem recebida pelo público, isso não aconteceu sempre, e, quando apresentada
pela primeira vez, em 1904, apesar de o texto ter sido exaltado pela crítica e
pelos intelectuais que, como o próprio autor, ajudaram a inaugurar a Academia
Brasileira de Letras, o mesmo não aconteceu por parte do grande público, que
não aceitou, de cara, “o refinamento do novo tipo de comédia
musical proposta em ‘O mambembe’, e o espetáculo teve que fechar as portas
depois de poucas apresentações”. Destarte, “O Mambembe” só se tornaria
um marco do TEATRO BRASILEIRO, apenas meio século depois de escrito.
Em 1959, o texto voltou a
ser encenado pelo importantíssimo, para O TEATRO BRASILEIRO, grupo do “Teatro
dos Sete” em sua estreia, no Theatro Municipal, sonhado por ARTUR AZEVEDO, e foi um dos maiores
sucessos da história do nosso TEATRO, elevando o autor ao rol dos
grandes dramaturgos nacionais e marcou a carreira de uma geração de artistas como Fernanda
Montenegro, Sergio Britto e Ítalo Rossi, entre alguns, dirigidos pelo grande
encenador italiano Gianni Ratto. Foi uma grande superprodução com mais cerca de
outros 40 artistas contratados. “O público ficou encantado com o que viu e
lotou dezenas de milhares de cadeiras, em seis meses de temporada,
transformando “O Mambembe”, definitivamente, em um clássico da nossa
dramaturgia, como acontece até hoje. O Teatro Casa Grande, com quase 1000
lugares estava superlotado, e assim vem acontecendo, conforme apurei.
Um pouco da atual
montagem, de acordo com o “release” da peça, que recebi via DANIELLA CAVALCANTI, assessoria
de imprensa: “CLÁUDIA ABREU e EMÍLIO DE MELLO planejavam
uma empreitada conjunta há muito tempo, e viram, no texto de ARTUR AZEVEDO (e JOSÉ PIZA), a
chance de produzir um espetáculo falando sobre TEATRO. Mas o espetáculo teria
que mambembar na vida real, levando TEATRO para lugares em que os atores do Rio,
normalmente, não conseguem trabalhar. Em algumas semanas, CLÁUDIA e EMÍLIO já
estavam realizando leituras com atores amigos e, poucos meses depois,
conseguiam, em parceria com o produtor ARLINDO BEZERRA, um patrocínio, através
de edital. Nessa hora, surgiram os primeiros desafios: Como encenar, com apenas
sete atores, um texto que tem 80 personagens, linguagem do século XIX e
estrutura de um grande musical em três atos? Foram necessários oito meses de
trabalho na adaptação do texto original, realizada por EMÍLIO, em parceria com
o dramaturgo DANIEL BELMONTE e o diretor e pesquisador GUSTAVO GUENZBURGER. GUSTAVO
também foi convidado por EMÍLIO para dividir, com ele, a direção do espetáculo. Reuniu-se,
então, um elenco de amigos, artistas com longa carreira de TEATRO, que já
trabalharam, muitas vezes, juntos e que teriam disposição para encarar, com bom
humor, os percalços de um teatro itinerante. Essa rede de amizades e
conhecimentos teatrais acabou sendo fundamental, para que a trupe de “O(S) MAMBEMBE(S)”
pudesse transformar, em criação teatral, os desafios de uma encenação
verdadeiramente contemporânea, para o clássico de ARTUR AZEVEDO (...)”.
Acho muito difícil alguém
encontrar algum defeito, um ponto fraco, nesta montagem, a começar pelo tripé
de sustentação de qualquer espetáculo teatral: texto, direção
e interpretação.
O texto
é impecável, para os padrões da época em que foi escrito e deve assim ser
encarado pelo público, que, realmente, me parece fazê-lo. A direção
é muito “enxuta” e inteligente, com uma excelente ideia de fazer com
que vários atores representem, em revezamento, mais de um personagem, masculinos
e femininos, sem distinções de gênero, o que confere uma graças a mais à peça.
Essa troca de papéis estabelece uma linguagem de jogo e liberdade criativa, que
define o tipo de TEATRO que se deseja homenagear. O público identifica os personagens por meio de uma peça de roupa e acessórios, que são trocados entre os artistas, em cena ou fora dela, com as coxias à mostra. O elenco não poderia ter
sido melhor reunido, com o devido destaque para todos. São nomes que dignificam
a arte de representar, alguns dos quais muito famosos, por suas atuações na TV,
mas que nem por isso deixaram de topar a experiência divina de mambembar por
praças públicas e parques, em contato muito próximo com o público.
No que diz respeito aos
demais “ingredientes” que entram na “feitura deste bolo de festa de
aniversário”, devidamente “confeitado”, tudo funciona a
contento, sem escassezes nem excessos: a cenografia, de MARCELO ESCAÑUELA; o figurino, de MARCELO OLINTO; e a iluminação, de NADJA NAIRA.
Tanto o texto original
quanto este, da adaptação, permitem a reunião de “diversas camadas de tempo e de
estilos teatrais”. A farsa, a “commedia dell’arte”, o realismo
tchekoviano, a desconstrução do aqui agora, programa de auditório, melodrama,
metalinguagem – todas as ferramentas que os atores puderem dispor estão sendo
manejadas, na tarefa de destrinchar com olhos de hoje o clássico de ARTUR AZEVEDO.
FICHA TÉCNICA:
Idealização
do Projeto: Cláudia Abreu e Emílio de Mello
Texto:
Artur Azevedo e José Piza
Adaptação
Dramatúrgica: Daniel Belmonte, Emílio de Mello e Gustavo Guenzburguer
Direção
Geral: Emílio de Mello
Direção:
Emílio de Mello e Gustavo Guenzburguer
Direção
Musical e Músico / Ator: Caio Padilha
Elenco: Cláudia Abreu, Camila Boher, Debora Evelyn, Julia Lemmertz, Leandro Santanna, Orã Figueiredo e Paulo Betti
Direção
de Movimento: Cristina Moura
Cenografia:
Marcelo Escañuela
Figurino:
Marcelo Olinto
Iluminação:
Nadja Naira
Caracterização:
Mona Magalhães
“Designers”: Celina Kuschnir e Laura Nogueira
Assessoria
de Imprensa: Vanessa Cardoso e Daniella Cavalcanti
Fotos: Elisa Maciel, Annelize Tozetto, Lina Sumizono, Humberto Araújo e Maringas Maciel
Coordenação
de Produção: Arlindo Bezerra
Direção
de Produção: Dadá Maia
SERVIÇO:
Temporada:
De 15 de maio a 22 de junho de 2025.
Local:
Teatro Casa Grande.
Endereço:
Avenida Afrânio de Melo Franco, n° 290 – Leblon – Rio de Janeiro.
Telefone:
(21) 2511-0800.
Dias
e Horários: 5ª e 6ª feira e sábado, às 20h; domingo, às 18h.
Valor
dos Ingressos: Plateia VIP = R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia-entrada); Plateia
Setor 1 = R$ 180 (inteira) e R$ 90 (meia-entrada); Balcão Setor 2 = R$ 160
(inteira) e R$ 80 (meia-entrada); Balcão Setor 3 – R$ 90 (inteira) e R$ 45
(meia-entrada).
Venda
de ingressos: Plataforma Eventim ou na Bilheteria do Teatro. Funcionamento da
Bilheteria: 4ª feira, das 12h às 18h; 5ª e 6ª feira, das 15h às 20h30; sábado,
das 14h às 20h30; domingo, das 13h às 19h30.
Capacidade:
926 pessoas.
Duração:
90 minutos.
Classificação
Etária: Livre.
Gênero: COMÉDIA.
Atualmente, o Rio
de Janeiro vem recebendo um considerável número de COMÉDIAS, felizmente de
boa qualidade – a maioria – e esta, sem dúvida, é uma das melhores a que
venho assistindo ao longo deste ano, o que merece a minha RECOMENDAÇÃO.
FOTOS: ELISA MACIEL, ANNELIZE TOZETTO, LINA SUMIZONO, HUMBERTO ARAÚJO e MARINGAS MACIEL
É preciso ir ao
TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói,
sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que,
juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro!
Espetacular !
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