segunda-feira, 10 de março de 2025

             

"SONHO

ENCANTADO 

DE CORDEL,

O MUSICAL"

ou

(UMA GRANDE

CELEBRAÇÃO

SOBRE UM PALCO.)

 

 


 

         No último domingo (09/03/2025), fui ao Teatro Clara Nunes, para assistir ao espetáculo “SONHO ENCANTADO DE CORDEL, O MUSICAL”, que eu já esperava ser de boa qualidade, pelos inúmeros comentários elogiosos que recebi sobre ele, vindos de amigos de São Paulo, onde, antes de estrear no Rio de Janeiro, a peça ficou em cartaz por dois meses, com imenso sucesso, mais dois outros cumprindo viagens por outras praças. Como poderia não me agradar um espetáculo de TEATRO em cujo título há estas três palavras: “ENCANTADO”, “CORDEL” e “MUSICAL”? Três vocábulos que, isoladamente, já contam com a minha simpatia; reunidos no título de uma obra teatral, só poderiam ser bem recebidos. E o foi, superando as minhas expectativas.



 

         Antes de adentrar o Teatro, circulava eu por um dos corredores do Shopping da Gávea, onde se situa o Clara Nunes, quando uma amiga cruzou comigo e me perguntou a que espetáculo eu assistiria, visto que há quatro teatros naquele centro comercial. “Vai assistir ao infantil?” Não, vou ver “SONHO ENCANTADO DE CORDEL, O MUSICAL”. Pensei: Como assim? “Infantil”?” “É... Eu me enganei... É um musical!”. Infantil ou musical? – questionei a mim mesmo. São duas coisas, ou categorias, diferentes? Não poderiam ser uma única obra ou estarem as duas coisas contidas numa só? Pois é exatamente isso que encontrei: um MUSICAL INFANTIL, que, a despeito do adjetivo, é destinado à família, do neto aos avós. E como eu gosto disso, desse tipo de espetáculo?!



 

O TEATRO se presta, além de tantas outras coisas, a grandes celebrações, e, anteontem, tive a oportunidade de ver uma, deliciosíssima, e, principalmente, participar dela. Mas o que foi celebrado? A ingenuidade da infância; uma celebridade do mundo das histórias infantis; o folclore brasileiro; a cultura popular brasileira, mormente a arte dos cordelistas; a verdade e a justiça; uma mestra do carnaval brasileiro; a vida e o próprio TEATRO. Tudo junto e misturado, numa mesma obra, sobre um único palco. Foi exatamente isso que encontrei naquele início de noite, atendendo ao convite de CARLOS PINHO, assessor de imprensa do espetáculo “SONHO ENCANTADO DE CORDEL, O MUSICAL”.



 

Trata-se de uma montagem onírica, singela e lúdica, belíssima e de uma riqueza profunda, do ponto de vista da plasticidade, com o qual THEREZA FALCÃO, autora do texto e diretora da montagem, homenageia um dos nomes mais importantes da arte popular inserida nos desfiles de escolas de samba: Rosa Magalhães, a grande carnavalesca, considerada uma mestra por todos os seus pares e pelo público em geral, recentemente falecida, infelizmente. A idealização da peça é de SÉRGIO LOPES.




 


   SINOPSE:

A peça narra a vida de Hans Christian Andersen (GAB LARA) e os contos de fadas por ele criados, envolvidos pela rica tradição da literatura de cordel e ambientados no nordeste do Brasil.

O espetáculo é inspirado no enredo “Uma Delirante Confusão Fabulística”, de 2005, criado por Rosa Magalhães, para a escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense, a qual prestou homenagem ao famoso autor dinamarquês, em seu centenário.

O musical é uma deslumbrante fusão de elementos da cultura nordestina com o universo encantado dos contos de fadas, o encontro das praças e das ruas com os salões.

A história gira em torno de Rosa Cordelista (ELIZÂNDRA SOUZA) – o nome da personagem é em homenagem a Rosa Magalhães -, uma jovem determinada, que, apesar da desaprovação de sua mãe, sonha em se tornar uma grande cordelista, uma importante artista da literatura popular.

Movida pela força de sua imaginação, Rosa é transportada, em um sonho mágico, para um universo encantado, onde encontra o lendário Hans Christian Andersen.

Juntos, eles embarcam em uma jornada emocionante, repleta de personagens míticos dos contos de fadas do autor.

Nesse reino de fantasia, Rosa e Andersen se envolvem em uma aventura épica, em que um rei vaidoso, um imperador sábio e a poderosa Rainha da Neve competem pelo título de “Maior Monarca de Todos os Tempos”.

Por meio de desafios, músicas e danças, a jovem cordelista descobre que os sonhos e a criatividade são as forças mais poderosas que existem, capazes de transformar o mundo e nossas vidas. 

 

 






 



 

         Crianças e adultos esbaldam-se, encantam-se e se divertem à farta, diante de uma jornada mágica e fascinante que se descortina à sua frente, num espetáculo que pode ser considerado uma superprodução, classificação confirmada por uma respeitável FICHA TÉCNICA, representada por um elenco de 14 artistas, algo bastante difícil de ser encontrado nestes tempos de “vacas magras”, para o TEATRO - a não ser que haja um bom patrocínio - e artistas de criação premiados e reverenciados pelo público amante de TEATRO. Isso sem falar numa robusta infraestrutura de suporte que abarca mais de 10 cenários e 50 figurinos, criados pela eterna Rosa Magalhães e conduzidos pelo seu braço direito, o carnavalesco MAURO LEITE, ganhando vida.







 

         Aproveitando o gancho, que desfile aos nossos olhos alguns nomes, como o do já citado MAURO LEITE, responsável pela cenografia e pelos criativos figurinos! Tanto os cenários quanto as peças de roupas usadas pelos personagens, além de belas – algumas deslumbrantes –, são de um fino acabamento, uma prova de que houve total respeito ao olhar do público, que não paga para ver trajes mal acabados, como ocorre em muitas produções infantis. Para falar a verdade, eu chamaria esta mais de infantojuvenil. Outros nomes: complementando a cenografia física, de MAURO, ainda há a contribuição de BATMAN ZAVAREZE, que assina os vídeos projetados num telão ao fundo do palco. Ainda merecem uma citação destacada os nomes de RENATO VIEIRA, responsável pelas inúmeras coreografias, que agregam muito movimento às cenas, e MARCELO ALONSO NEVES, a quem coube a importante tarefa de fazer a direção musical do espetáculo, com ótimos arranjos musicais, tanto os instrumentais quanto os vocais.







 

         Um bom musical não abre mão de uma trilha sonora agradável e comprometida com o enredo. Três dos mais importantes e criativos compositores da chamada MPB assinam as 10 canções ouvidas na peça. São eles CHICO CÉSAR, PAULINHO MOSKA e ZECA BALEIRO. E o “setlist” é todo original mesmo, explorando variados ritmos. Um espetáculo que se propõe a “fisgar o peixe com tanta beleza plástica, além das mensagens, evidentemente, tinha que receber um efetivo reforço, vindo de uma iluminação alegre e colorida, pautada numa extensa paleta de cores que ajudam a “embalar o presente ‘comme il faut’”. É aqui que percebemos o talento de DANIELA SANCHEZ, a qual garante que tudo o que está em cena seja potencializado pelo seu desenho de luz.







 

        Sobre o palco, um elenco totalmente coeso, indo do(s) protagonista(s) aos personagens de menor peso na trama, mas absolutamente necessários. Peguei-me diante de uma dúvida quanto a apontar quem protagoniza o espetáculo. Creio que, do ponto de vista técnico e acadêmico, não seja uma tarefa das mais fáceis. A história gira em torno de dois núcleos, a meu juízo: os personagens Andersen e Rosa. Ambos os personagens são representados, de forma brilhante, por dois excelentes atores: GAB LARA, que, embora jovem, já é um velho conhecido meu, que vem de protagonizar outro musical, das obras mais lindas a que assisti, no gênero: “Querido Evan Hansen”. GAB tem um jeito “contido” de representar, muito dentro dos padrões econômicos de representação, em que o “menos é mais”. Uma excelente atuação. Mais uma. Quanto a ELIZÂNDRA SOUZA, a Rosa Cordelista, confesso que foi uma gratíssima surpresa vê-la atuando, e seu trabalho me chamou muito a atenção, da primeira à última cena. Ágil, carismática, participando diretamente, ou não, das ações é, sem dúvida, um dos pontos altos da montagem. Tem muito futuro essa jovem atriz.
















 

         Também merecem destaque, no conjunto e individualmente, ALINE WIRLEY (Que bela presença em cena! Como canta bem!); IGOR RICKLY, o Rei Vaidoso; RICA BARROS, o Imperador; SOFIE ORLEANS, o Rouxinol (Qualquer semelhança com o cantar do próprio é mera coincidência.); e a dupla CAROL RAMOS e ADRÉN ALVEZ, os Duendes. Ocorre que os outros cinco do elenco também se comportam de forma correta, quando atuam como “escada” para os personagens dos colegas de cena. Acrescento que alguns desses atores/atrizes ainda se apresentam como multi-instrumentistas. E mais um adendo: Todos, sem exceção, cantam muitíssimo bem.
















 

         Deixei o para o final das considerações acerca dos elementos que entram na montagem de uma peça teatral o texto, a espinha dorsal que irá sustentar todo o espetáculo. Jogo muitas luzes, duplamente, sobre o excelente trabalho de THEREZA FALCÃO como dramaturga: pela bela e merecida homenagem a Rosa Magalhães e por saber amalgamar os contos de Andersen e os elementos da literatura de cordel. Não merece o menor comentário crítico negativo a costura de alguns dos principais contos encantados do autor dinamarquês, desaguando numa estória muito interessante e criativa: “A Roupa Nova do Rei“A Pequena Sereia, “O Rouxinol e o Imperador da China, “Os Sapatinhos Vermelhgs, “A Rainha da Neve e “O Patinho Feio (Será que deixei escapar alguma história? Claro! "O Soldadinho de Chumbo".). Os aplausos a THEREZA se estendem ao seu corretíssimo trabalho de direção, o que, de certa forma foi facilitado pelo fato de a dramaturgia ser creditada também a ela.

 

 

 













 

FICHA TÉCNICA:

Apresentado por Ministério da Cultura e CAIXA Vida e Previdência.

Livremente inspirado no enredo “Uma Delirante Confusão Fabulística”, de 2005, criado por Rosa Magalhães.

Idealização: Sérgio Lopes
Texto: Thereza Falcão

Direção: Thereza Falcão

 

Elenco: Aline Wirley, Igor Rickli, Gab Lara, Elizândra Souza, Ricca Barros, Adrén Alves, Marcela Coelho, Giulie Oliveira, Sofie Orleans, Danni Marinho, Fábio D’Lélis, Carol Romano, Lígia Bié e Mikael Marmorato

 

Músicas Originais: Paulinho Moska, Chico César e Zeca Baleiro
Direção Musical: Marcelo Alonso Neves
Cenários: Mauro Leite

Figurinos: Mauro Leite

Imersão Visual: Batman Zavareze
“Designer” de Luz: Daniela Sanchez

“Designer de Som”: Andrea Zeni

“Marketing” e Comercial: Mauricio Tavares

Assessoria de Imprensa: Carlos Pinho

Fotos: João Pedro Hachyia

Direção de Produção: Filomena Mancuzo

Produção Executiva: Neco FX

Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet

Apresentado por CAIXA Vida e Previdência

Apoio – Caixa Seguridade

Realização – Inova Brand, Ministério da Cultura, Governo Federal - BRASIL, UNIÃO E RECONSTRUÇÃO


 

 


 














 

 


SERVIÇO:

TEMPORADA: De 08 de março até 27 de abril de 2025.
Local: Teatro Clara Nunes.

Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52, loja 370, Shopping da Gávea - Gávea - Rio de Janeiro – RJ.

Dias e Horários: sábados e domingos, às 15h30min e às 18h.

Valor dos ingressos: De R$ 19,75 a R$ 100, dependendo da localização do assento.

Vendas no “site” https://bileto.sympla.com.br/event/102316    

Classificação etária: Livre.

Duração: 60 minutos.

Rede social: https://www.instagram.com/sonhoencantadodecordel/  

Gênero: Musical Infantojuvenil.

 

 









 

 

RECOMENDO MUITO ESTE ESPETÁCULO, porque ele foi construído com muito cuidado, bom gosto e preocupação em levar um produto de qualidade aos pequenos e aos adultos e também porque não é todo dia que se tem uma peça que promove um encontro, “tão insólito quanto 'possível'”, de Hans Christian Andersen e os seus contos de fadas com a rica tradição da literatura de cordel e o nordeste brasileiro.






 

A título de uma interessante informação, faz-se necessário dizer que a homenageada, Rosa Magalhães, esteve envolvida neste projeto, desde seu início, o qual é seu último trabalho criativo, visto que faleceu em 25 de julho de 2024, aos 77 anos, entretanto, pouco antes de sua partida, naquela mesma noite derradeira de vida, em sua casa, fez os últimos desenhos que faltavam e deixou todos os figurinos do musical prontos, expostos e organizados em papéis, na sua mesa de trabalho. “Rosa Magalhães se junta a uma galeria de grandes artistas femininas brasileiras, como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Lygia Clark, destacando-se com suas contribuições cruciais para a evolução e diversidade da expressão artística nacional.”.









 

         Viva “SONHO ENCANTADO DE CORDEL, O MUSICAL”, “uma celebração da arte, da poesia e do poder dos sonhos, trazendo ao palco uma narrativa única, que emociona e inspira um musical para todas as idades”, como bem diz THEREZA FALCÃO.


































 

 

 

FOTOS: JOÃO PEDRO HACHIYA.)

 

 

 

 

GALERIA PARTICULAR

(Fotos: Ana Cláudia Matos.)



Com Gab Lara.



Com Aline Wirley e Igor Rickli.




Com Ricca Barros.



Com Adrén Alves.



Com Marcelo Alonso Neves.
 

 



É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as salas de espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO brasileiro

 



















































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