"SONHO
ENCANTADO
DE CORDEL,
O MUSICAL"
ou
(UMA GRANDE
CELEBRAÇÃO
SOBRE UM
PALCO.)
No
último domingo (09/03/2025), fui ao Teatro Clara Nunes, para assistir ao
espetáculo “SONHO ENCANTADO DE CORDEL, O
MUSICAL”, que eu já esperava ser de boa qualidade, pelos inúmeros comentários
elogiosos que recebi sobre ele, vindos de amigos de São Paulo, onde, antes de
estrear no Rio de Janeiro, a peça ficou em cartaz por dois meses, com imenso
sucesso, mais dois outros cumprindo viagens por outras praças. Como poderia não
me agradar um espetáculo de TEATRO em cujo título há estas três
palavras: “ENCANTADO”, “CORDEL” e “MUSICAL”? Três vocábulos
que, isoladamente, já contam com a minha simpatia; reunidos no título de uma
obra teatral, só poderiam ser bem recebidos. E o foi, superando as minhas
expectativas.
Antes
de adentrar o Teatro, circulava eu por um dos corredores do Shopping da Gávea, onde
se situa o Clara Nunes, quando uma amiga cruzou comigo e me perguntou a
que espetáculo eu assistiria, visto que há quatro teatros naquele centro
comercial. “Vai assistir ao infantil?” Não, vou ver “SONHO ENCANTADO DE CORDEL, O MUSICAL”.
Pensei: Como
assim? “Infantil”?” “É... Eu me enganei... É um musical!”. Infantil ou
musical? – questionei a mim mesmo. São duas coisas, ou categorias,
diferentes? Não poderiam ser uma única obra ou estarem as duas coisas contidas
numa só? Pois é exatamente isso que encontrei: um MUSICAL INFANTIL, que, a despeito do adjetivo, é
destinado à família, do neto aos avós. E como eu gosto disso, desse tipo de
espetáculo?!
O TEATRO
se presta, além de tantas outras coisas, a grandes celebrações, e, anteontem,
tive a oportunidade de ver uma, deliciosíssima, e, principalmente, participar
dela. Mas o que foi celebrado? A ingenuidade da infância; uma celebridade
do mundo das histórias infantis; o folclore brasileiro; a cultura
popular brasileira, mormente a arte dos cordelistas; a verdade
e a justiça;
uma mestra
do carnaval brasileiro; a vida e o próprio TEATRO. Tudo
junto e misturado, numa mesma obra, sobre um único palco. Foi exatamente isso
que encontrei naquele início de noite, atendendo ao convite de CARLOS PINHO, assessor de imprensa do
espetáculo “SONHO ENCANTADO DE
CORDEL, O MUSICAL”.
Trata-se de uma montagem onírica, singela e lúdica, belíssima e
de uma riqueza profunda, do ponto de vista da plasticidade, com o qual THEREZA FALCÃO, autora do texto e diretora
da montagem, homenageia um dos nomes mais importantes da arte popular inserida
nos desfiles de escolas de samba: Rosa Magalhães, a grande carnavalesca,
considerada uma mestra por todos os seus pares e pelo público em geral, recentemente
falecida, infelizmente. A idealização da peça é de SÉRGIO LOPES.
SINOPSE:
A peça narra a vida de Hans
Christian Andersen (GAB LARA)
e os contos de fadas por ele criados, envolvidos pela rica tradição da literatura
de cordel e ambientados no nordeste do Brasil.
O espetáculo é inspirado
no enredo “Uma Delirante Confusão Fabulística”, de 2005, criado por Rosa
Magalhães, para a escola de samba carioca Imperatriz Leopoldinense,
a qual prestou homenagem ao famoso autor dinamarquês, em seu centenário.
O musical é uma
deslumbrante fusão de elementos da cultura nordestina com o universo encantado dos
contos de fadas, o encontro das praças e das ruas com os salões.
A história gira em torno
de Rosa
Cordelista (ELIZÂNDRA SOUZA)
– o nome da personagem é em homenagem a Rosa Magalhães -, uma jovem
determinada, que, apesar da desaprovação de sua mãe, sonha em se tornar uma
grande cordelista, uma importante artista da literatura popular.
Movida pela força de sua
imaginação, Rosa é transportada, em um sonho mágico, para um
universo encantado, onde encontra o lendário Hans Christian Andersen.
Juntos, eles embarcam em
uma jornada emocionante, repleta de personagens míticos dos contos de fadas do
autor.
Nesse reino de fantasia,
Rosa
e Andersen
se envolvem em uma aventura épica, em que um rei vaidoso, um imperador sábio e
a poderosa Rainha da Neve competem pelo título de “Maior Monarca de Todos os Tempos”.
Por meio de desafios, músicas e danças, a jovem cordelista descobre que os sonhos e a criatividade são as forças mais poderosas que existem, capazes de transformar o mundo e nossas vidas.
Crianças e adultos esbaldam-se,
encantam-se e se divertem à farta, diante de uma jornada mágica e fascinante
que se descortina à sua frente, num espetáculo que pode ser considerado uma superprodução,
classificação confirmada por uma respeitável FICHA TÉCNICA,
representada por um elenco de 14 artistas, algo bastante difícil
de ser encontrado nestes tempos de “vacas magras”, para o TEATRO
- a não ser que haja um bom patrocínio - e artistas de criação premiados e
reverenciados pelo público amante de TEATRO. Isso sem falar numa robusta
infraestrutura de suporte que abarca mais de 10 cenários e 50
figurinos, criados pela eterna Rosa Magalhães e conduzidos pelo seu
braço direito, o carnavalesco MAURO
LEITE, ganhando vida.
Aproveitando o gancho, que desfile aos
nossos olhos alguns nomes, como o do já citado MAURO
LEITE, responsável pela cenografia e pelos criativos figurinos! Tanto os cenários quanto as peças de roupas usadas pelos personagens, além de
belas – algumas deslumbrantes –, são de um fino acabamento, uma prova de que
houve total respeito ao olhar do público, que não paga para ver trajes mal
acabados, como ocorre em muitas produções infantis. Para falar a verdade, eu
chamaria esta mais de infantojuvenil. Outros nomes: complementando a cenografia física, de MAURO,
ainda há a contribuição de BATMAN
ZAVAREZE, que assina os vídeos projetados num telão ao fundo do palco.
Ainda merecem uma citação destacada os nomes de RENATO VIEIRA, responsável pelas inúmeras coreografias, que agregam
muito movimento às cenas, e MARCELO ALONSO
NEVES, a quem coube a importante tarefa de fazer a direção musical do espetáculo,
com ótimos arranjos musicais, tanto os instrumentais quanto os vocais.
Um bom musical não abre mão de uma trilha
sonora agradável e comprometida com o enredo. Três dos mais importantes
e criativos compositores da chamada MPB assinam as 10 canções ouvidas na
peça. São eles CHICO CÉSAR, PAULINHO MOSKA e ZECA BALEIRO. E o “setlist” é todo original mesmo,
explorando variados ritmos. Um espetáculo que se propõe a “fisgar o peixe com tanta beleza
plástica, além das mensagens, evidentemente, tinha que receber um efetivo
reforço, vindo de uma iluminação alegre e colorida,
pautada numa extensa paleta de cores que ajudam a “embalar o presente ‘comme il
faut’”. É aqui que percebemos o talento de DANIELA SANCHEZ, a qual garante que tudo o que está em cena seja
potencializado pelo seu desenho de luz.
Sobre o palco, um elenco totalmente coeso, indo
do(s) protagonista(s) aos personagens de menor peso na trama, mas absolutamente
necessários. Peguei-me diante de uma dúvida quanto a apontar quem protagoniza o
espetáculo. Creio que, do ponto de vista técnico e acadêmico, não seja uma
tarefa das mais fáceis. A história gira em torno de dois núcleos, a meu juízo: os
personagens Andersen e Rosa. Ambos os personagens são
representados, de forma brilhante, por dois excelentes atores: GAB LARA, que, embora jovem, já é um velho conhecido meu, que vem
de protagonizar outro musical, das obras mais lindas a que assisti, no gênero: “Querido
Evan Hansen”. GAB tem um
jeito “contido” de representar, muito dentro dos padrões econômicos
de representação, em que o “menos é mais”. Uma excelente
atuação. Mais uma. Quanto a ELIZÂNDRA SOUZA,
a Rosa
Cordelista, confesso que foi uma gratíssima surpresa vê-la atuando, e
seu trabalho me chamou muito a atenção, da primeira à última cena. Ágil, carismática,
participando diretamente, ou não, das ações é, sem dúvida, um dos pontos
altos da montagem. Tem muito futuro essa jovem atriz.
Também merecem destaque, no conjunto e
individualmente, ALINE WIRLEY (Que
bela presença em cena! Como canta bem!); IGOR RICKLY, o Rei Vaidoso; RICA BARROS, o Imperador; SOFIE ORLEANS, o Rouxinol (Qualquer semelhança com o
cantar do próprio é mera coincidência.); e a dupla CAROL RAMOS e ADRÉN ALVEZ,
os Duendes.
Ocorre que os outros cinco do elenco também se comportam de forma
correta, quando atuam como “escada” para os personagens dos
colegas de cena. Acrescento que alguns desses atores/atrizes ainda se apresentam
como multi-instrumentistas. E mais um adendo: Todos, sem exceção, cantam
muitíssimo bem.
Deixei o para o final das considerações
acerca dos elementos que entram na montagem de uma peça teatral o texto,
a espinha dorsal que irá sustentar todo o espetáculo. Jogo muitas luzes, duplamente, sobre o
excelente trabalho de THEREZA FALCÃO
como dramaturga:
pela bela e merecida homenagem a Rosa Magalhães e por saber amalgamar
os contos de Andersen e os elementos da literatura de cordel. Não merece o
menor comentário crítico negativo a costura de alguns dos principais contos
encantados do autor dinamarquês, desaguando numa estória muito interessante e
criativa: “A Roupa Nova do Rei”, “A Pequena Sereia”, “O Rouxinol e o Imperador da China”, “Os Sapatinhos Vermelhgs”, “A Rainha da Neve” e “O Patinho Feio” (Será que deixei escapar alguma história? Claro! "O Soldadinho de Chumbo".). Os aplausos a THEREZA se estendem ao seu corretíssimo
trabalho de direção, o que, de certa forma foi facilitado pelo fato de a dramaturgia
ser creditada também a ela.
FICHA TÉCNICA:
Apresentado por Ministério da Cultura e CAIXA Vida e Previdência.
Livremente inspirado no enredo “Uma Delirante Confusão
Fabulística”, de 2005, criado por Rosa Magalhães.
Idealização: Sérgio Lopes
Texto: Thereza Falcão
Direção: Thereza Falcão
Elenco: Aline Wirley, Igor Rickli, Gab Lara, Elizândra
Souza, Ricca Barros, Adrén Alves, Marcela Coelho, Giulie Oliveira,
Sofie Orleans, Danni Marinho, Fábio D’Lélis, Carol Romano, Lígia Bié e Mikael
Marmorato
Músicas Originais: Paulinho Moska, Chico César e Zeca Baleiro
Direção Musical: Marcelo Alonso Neves
Cenários: Mauro Leite
Figurinos: Mauro Leite
Imersão Visual: Batman Zavareze
“Designer” de Luz: Daniela Sanchez
“Designer de Som”: Andrea Zeni
“Marketing” e Comercial: Mauricio Tavares
Assessoria de Imprensa: Carlos Pinho
Fotos: João Pedro Hachyia
Direção de Produção: Filomena Mancuzo
Produção Executiva: Neco FX
Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet
Apresentado por CAIXA Vida e Previdência
Apoio – Caixa Seguridade
Realização – Inova Brand, Ministério da Cultura, Governo
Federal - BRASIL, UNIÃO E RECONSTRUÇÃO
SERVIÇO:
TEMPORADA: De 08 de março até 27 de abril de 2025.
Local: Teatro Clara Nunes.
Endereço: Rua Marquês de São Vicente, nº 52, loja 370, Shopping
da Gávea - Gávea - Rio de Janeiro – RJ.
Dias e Horários: sábados e domingos, às 15h30min e às 18h.
Valor dos ingressos: De R$ 19,75 a R$ 100, dependendo da
localização do assento.
Vendas no “site” https://bileto.sympla.com.br/event/102316
Classificação etária: Livre.
Duração: 60 minutos.
Rede social: https://www.instagram.com/sonhoencantadodecordel/
Gênero: Musical Infantojuvenil.
RECOMENDO
MUITO ESTE ESPETÁCULO, porque ele foi
construído com muito cuidado, bom gosto e preocupação em levar um produto de
qualidade aos pequenos e aos adultos e também porque não é todo dia que se tem uma
peça que promove um encontro, “tão
insólito quanto 'possível'”, de Hans
Christian Andersen e os seus contos de fadas com a rica tradição da
literatura de cordel e o nordeste brasileiro.
A título de uma interessante informação, faz-se necessário dizer
que a homenageada, Rosa Magalhães, esteve envolvida neste projeto, desde seu
início, o qual é seu último trabalho criativo, visto que faleceu em 25 de
julho de 2024, aos 77 anos, entretanto, pouco antes de
sua partida, naquela mesma noite derradeira de vida, em sua casa, fez os
últimos desenhos que faltavam e deixou todos os figurinos do musical prontos, expostos
e organizados em papéis, na sua mesa de trabalho. “Rosa Magalhães se junta a uma
galeria de grandes artistas femininas brasileiras, como Tarsila do Amaral,
Anita Malfatti e Lygia Clark, destacando-se com suas contribuições cruciais
para a evolução e diversidade da expressão artística nacional.”.
Viva “SONHO ENCANTADO DE CORDEL, O MUSICAL”, “uma celebração da arte, da poesia e do poder dos sonhos,
trazendo ao palco uma narrativa única, que emociona e inspira um musical para
todas as idades”, como bem diz THEREZA FALCÃO.
FOTOS: JOÃO
PEDRO HACHIYA.)
GALERIA PARTICULAR
(Fotos: Ana Cláudia Matos.)
É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas as
salas de
espetáculo, visto que a arte educa e constrói, sempre; e salva. Faz-se
necessário resistir
sempre mais. Compartilhem esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o
que há de melhor no TEATRO brasileiro
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