“MOSTRA
CARROÇA
DE
MAMULENGOS:
TRÊS GERAÇÕES
DE ARTE
BRINCANTE”
ou
(A FAMÍLIA
QUE BRINCA
UNIDA
PERMANECE
UNIDA.)
De
saída, tenho que registrar a minha grande alegria, por ter assistido a um, dos
três, espetáculos que fazem parte da “MOSTRA CARROÇA DE MAMULENGOS: TRÊS GERAÇÕES
DE ARTE BRINCANTE”, em
cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro (CCBB-RJ): “O BABAUZEIRO”, no dia 01 de
fevereiro passado. Infelizmente, não pude assistir ao primeiro
espetáculo da trinca, “HISTÓRIAS DE
TEATRO E CIRCO”, e não sei se terei disponibilidade de tempo para conferir “JANEIROS”, a terceira peça da “MOSTRA...”, contudo, se não o
conseguir, espero poder fazê-lo, mais adiante, em São Paulo, para onde a
trupe seguirá, após o encerramento da linda e vitoriosa temporada carioca. Acredito
que os dois espetáculos, o primeiro e o terceiro, sejam tão fascinantes quanto
aquele ao qual assisti e sobre o qual escrevo agora.
Sou
dos que têm certeza de que a ARTE não existe, tão somente, no
eixo Rio-São
Paulo, mas sim que o talento artístico do brasileiro se desenvolve em
qualquer rincão deste país. Em muitas ocasiões, aplaudi grandes produções que
chegam ao Rio de Janeiro oriundas de outras partes do Brasil.
Desta feita, pude ovacionar e me deliciar (com) o trabalho de um grupo
brasiliense, a “COMPANHIA CARROÇA DE MAMUILENGOS”,
criada em 1977, pelo ator, compositor, artesão e bonequeiro CARLOS GOMIDE (BABAU). O que de
excepcional existe nessa trupe itinerante é que se trata de uma companhia
formada, exclusivamente, por membros de uma só família, abarcando três gerações.
Isso, porque, em 1980, CARLOS
conheceu a atriz brasiliense SCHIRLEY
FRANÇA e, juntos, constituíram família, que, há 47 anos, perto de completar
48,
percorre o país, convivendo com diversos brincantes da cultura popular. Em todo
esse tempo, o grupo se fez, e ainda faz, representar em turnês e festivais, de
norte a sul e de leste a oeste deste país, compartilhando, com outros artistas,
seu talento e criatividade, ministrando diversas oficinas e vivências,
apresentando-se em teatros, praças, feiras e ruas. A verdadeira ARTE POPULAR
-
o Brasil na sua essência -, desprezada por alguns, porém
aclamada pela grande maioria dos públicos. Particularmente, sou apaixonado por
ela, em qualquer modalidade em que se apresente.
“O grupo reúne, em seu repertório,
as seguintes montagens: “O Benedito” (1980), “Mamulengo É Terno Divino” (1981),
“O Palhaço Alegria” (1982), “Barraca da União” (1984), “A Engenhosa História da
Vida” (1990), “Os Quatro Elementos” (1992), “Histórias de Teatro e Circo”
(1996), “Afilhados do Padrinho” (2002), “Felinda” (2010), “Pano de Roda”
(2012), “Janeiros” (2015), “Plantão de Utilidade Lúdica” (2022) e “Babauzinha”
(2023) (extraído de “release” que recebi de PAULA CATUNDA, assessora de imprensa do
espetáculo.
Para marcar
a sua passagem pelo Rio de Janeiro, escolheram três trabalhos de seu acervo, ao
qual batizou como “MOSTRA CARROÇA DE MAMULENGOS: TRÊS GERAÇÕES
DE ARTE BRINCANTE”, reunindo
os títulos já citados no primeiro parágrafo. Chegam aqui, após grande sucesso
obtido com tal proposta em duas outras praças do CCBB: Belo
Horizonte e Brasília. Os três espetáculos que integram a mostra representam
diferentes recortes históricos da “CIA
CARROÇA DE MAMULENGOS”, formada por três gerações da família Gomide-França:
“O BABAUZEIRO” remete à origem, “HISTÓRIAS DE TEATRO E CIRCO” consagra
o nascimento dos filhos, e “JANEIROS”
representa a passagem da condução da companhia aos filhos.
Quem nos proporciona a
oportunidade de conhecer o rico e belo trabalho da companhia é o Banco
do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura,
a tão, injustamente, criticada pelos ignorantes, que não conhecem como ela
funciona, porém tão útil e necessária, a Lei Rouanet.
Desde quando foi criada, há 47
anos, o casal CARLOS e SHIRLEY vive na estrada, com seus oito
filhos e netos, os quais nasceram e cresceram em cena. Todos são brincantes,
atores, músicos, bonequeiros, contadores de histórias e palhaços. Pais,
mães, filhos, netas, noras e genros vivem o desenvolvimento de uma arte
que dialoga com a cultura popular do Brasil e do mundo. Isso não tem
preço.
SINOPSE DE “O BABAUZEIRO”:
Este espetáculo representa a origem do grupo, trazendo
os primeiros bonecos recebidos por CARLOS
GOMIDE das mãos do mestre paraibano Antônio do Babau.
Essa encenação pode ser
considerada o ponto de partida da tradição do mamulengo contemporâneo
brasileiro.
João Bondade contratou Benedito
para cuidar do seu pomar, onde as frutas eram cultivadas e distribuídas, gratuitamente, para a
comunidade.
João não queria que suas
frutas, cultivadas com tanto cuidado e amor, fossem vendidas.
Mané Vou-lá-Hoje, que “gosta
de levar vantagem em tudo”, vê uma boa oportunidade para ganhar
dinheiro fácil, colhendo as frutas, como se fosse para consumo próprio, mas que
se destinavam a ser comercializadas.
Sabirinho é um passarinho
raro (mistura
de sabiá com canarinho), e, com Mané por perto, está correndo
perigo.
Em cena, CARLOS GOMIDE revive o Babau,
dando vida a bonecos que foram recebidos das mãos de mestres desse folguedo.
No Babau, um dos nomes dos
bonecos do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, todas as relações de uma
sociedade estão representadas, em formas de bonecos: o político e o Estado,
o coronel e seus privilégios, o padre e a igreja, o vaqueiro e seu boizinho, o
médico e sua influência, o doido e suas loucuras, o policial e o abuso do
poder, os empregados e desempregados, deuses e diabos, criando todos os
ingredientes para encenações de dramas, comédias, romances e tragédias.
SINOPSE DE “JANEIROS” (Não sei se terei a oportunidade
de assistir.):
Em “JANEIROS”, o público acompanha o momento em que os filhos
assumiram a condução da companhia, para contar suas próprias histórias,
recriando linguagens e convidando outros artistas para contribuir com suas
criações.
Em cena, estão os irmãos Maria,
João,
Isabel
e Matheus.
Com lirismos e
brincadeiras, o espetáculo conta a história de um homem que plantou seu
sustento por onde passou.
Em suas andanças, ele
encontrou a velha mais velha da terra: a Mãe Coragem, que ousou domar o Boi
Bravo do Tempo.
Entra janeiro, sai janeiro,
e os artistas andantes estão na beira de um caminho, decidindo o que fazer da
vida, buscando encontrar, entre caixas, memórias e sonhos, o presente que a
velha plantou na terra.
É uma pena mesmo que eu não
tenha conseguido disponibilidade de tempo para assistir ao espetáculo
considerado “a grande pérola da mostra”, “HISTÓRIAS DE TEATRO E CIRCO”, que reúne cenas que existem há mais
de 30
anos. Mesmo assim, julgo oportuno registrar a sua SINOPSE:
SINOPSE DE “HISTÓRIAS DE TEATRO E CIRCO” (Não
assisti.)
“‘HISTÓRIAS DE TEATRO E CIRCO’ surgiu a
partir do nascimento dos filhos de CARLOS
GOMIDE e SCHIRLEY FRANÇA.
Traz cenas que
já existem há mais de 38 anos, como a da burrinha Fumacinha,
que, neste momento, está sendo interpretada pela décima quinta brincante do clã.
A montagem
traz toda a família Gomide-França para a cena: avós, filhos, noras, genros e netas.
Mais que um
espetáculo, nele, o público se vê diante de uma tradição rara de se ver, uma
trupe de artistas que, com quase meio século de vida e arte, segue uma tradição
familiar.
É fino e delicado,
mas traz a força de uma família determinada a preservar uma das raízes da
cultura brasileira.
As três montagens trazem a
ancestralidade e a tradição de toda a família Gomide-França para o
palco, totalizando 23 pessoas e muitos bonecos. A “MOSTRA...” é admirável, pela
oportunidade que dá ao grande público de conhecer uma tradição rara de se ver:
uma trupe de artistas que seguem uma tradição familiar, um modo de vida que
atravessa o tempo e a memória, que, em muito, lembra a lida dos artistas de
circo.
Simultaneamente
à “MOSTRA...”, “CIA. CARROÇA DE MAMULENGOS” também oferece, aos interessados,
gratuitamente, duas atividades: uma oficina e um seminário. Daquela,
infelizmente, quem me lê não poderá participar, visto que já aconteceu quando
estra crítica se tornar pública, entretanto quem tiver interesse poderá se
inscrever para o seminário “DIÁLOGOS SOBRE PEDAGOGIA BRINCANTE: A
CULTURA DE ENSINAR E APRENDER DENTRO DAS TRADIÇÕES POPULARES”,
ministrado por SCHIRLEY FRANÇA e MARIA GOMIDE, mãe e filha, no dia 25/02,
às 11h,
no Teatro
II do CCBB. Procurem a informação de como participar no “site”
do CCBB:
bb.com.br/cultura.
Como
eu já esperava, assisti a um belo e divertido espetáculo, que atraiu
espectadores suficientes para ocupar todos os assentos do Teatro II do CCBB – RJ – lotação esgotada
-, conforme vem ocorrendo desde o dia da estreia da “MOSTRA...”.
Os espetáculos da “CARROÇA DE MAMULENGOS”
são destinados às famílias. O público era formado por muitas crianças e
adultos; estes as acompanhavam ou iam por conta própria, como eu. O que
percebi, de tão interessante, e que jamais esperava ver, é como os grandes
reagiam, tanto quanto os pequenos. À minha frente, por exemplo, havia um homem
que atendia, alto e bom som, a todas as perguntas e provocações lançadas do palco
ao auditório. Um fato curiosíssimo, que merece ser destacado. Não sei se o
fazia “para aparecer” ou se, realmente, estava libertando a criança que
habita aquele corpo. Pela espontaneidade e empolgação como agia, prefiro
acreditar na segunda hipótese. Detalhe: ele estava acompanhado de uma mulher, a
qual, vez por outra, lhe seguia os passos.
Antes
do início da apresentação, uma das filhas do casal SCHIRLEY / CARLOS fez uma breve apresentação daquilo a que o público
iria assistir, contando a origem do grupo, o que considero uma profícua ideia.
E, ao final, os que atuaram se colocam à disposição do público, para responder
a perguntas, e mostram, um a um, os bonecos que entraram na representação e
como são manipulados. Muito interessante esse momento.
Por se
tratar de um espetáculo de TEATRO “diferente”, não farei
considerações sobre elementos de criação, como figurino, iluminação
e outros, que funcionam a contento, mas julgo pertinente um comentário sobre a cenografia. Tudo se passa
dentro de um enorme cubo, construído com material de sustentação, revestido de
tecido colorido. Os brincantes se colocam dentro dele e expõem os bonecos por cima,
por uma parte vazada. Um simples detalhe, mas que é digno de todo destaque, é
uma bandeira nacional, exposta bem acima do cubo, ao fundo, para deixar bem
registrado que se trata de um espetáculo genuinamente brasileiro, digno representante da
cultura popular e ao povo dedicado.
Merece
um elogio maior CARLOS GOMIDE, por
sua capacidade de se expressar em várias vozes, atribuídas a cada um dos
personagens representados pelos bonecos que manipula.
FICHA TÉCNICA:
“HISTÓRIAS DE TEATRO E CIRCO”
Concepção: Carroça de Mamulengos
Direção e Roteiro: Maria Gomide
Direção Musical: Beto Lemos
Brincantes: Carlos Gomide, Schirley França, Maria Gomide, Francisco Gomide,
João Gomide, Matheus Gomide, Pedro Gomide, Isabel Gomide, Luzia Gomide, Idália
Campos, Gabriela Carneiro, Luiza Silvino, Iara Gomide, Ana Gomide, Helena
Gomide, Naiá Gomide, Liana Gomide, Luna Gomide e Amari Gomide
Cenário: Carroça de Mamulengos
Figurinos: Isabel Gomide
Desenho de Luz: João Gioia
Criação e Construção dos Bonecos: Carlos Gomide
Cenotécnica e Adereços: Carroça de Mamulengos
“O BABAUZEIRO”
Direção, Dramaturgia, Cenário, Cenotécnica e Adereços: Carlos Gomide
Brincantes: Carlos Gomide, Maria Gomide, Francisco Gomide, João Gomide,
Matheus Gomide e Isabel Gomide
Figurinos: Isabel Gomide
Desenho de Luz: João Gioia
Criação e Construção dos Bonecos: Carlos Gomide e mestres da tradição
Fotos: Davi Mello
“JANEIROS”
Concepção: Carroça de Mamulengos
Dramaturgia: Raysner de Paula e Maria Gomide
Direção: Rodolfo Vaz
Direção Musical: Beto Lemos
Brincantes: Maria Gomide, João Gomide, Matheus Gomide e Isabel Gomide
Cenário e Figurinos: Wanda Sgarbi
Desenho de Luz: João Gioia
Criação e Construção dos Bonecos: Carlos Gomide
Assistência de Direção: Fernanda Vianna e Juliana Pautilla
Sonoplastia: Francisco Gomide
Contrarregra: Gabriela Carneiro
FICHA TÉCNICA DE PRODUÇÃO:
Direção de Produção: Silvio Batistela
Coordenação de Produção: Ártemis (Ártemis Produções Artísticas)
Coordenação Administrativo-Financeira: Alex Nunes
Produção Executiva: João Gomide
Coordenação Geral: João de Barro Produções
Arte Gráfica: Zé Maia
SERVIÇO:
Temporada: De 18 de janeiro a 23 de fevereiro de 2025.
Local: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Rio de Janeiro – Teatro II.
Endereço: Rua Primeiro de Março, nº 66 – Centro (Candelária) – Rio de Janeiro.
Informações: (21) 3808-2020 - ccbbrio@bb.com.br
Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada). (Estudantes,
maiores de 65 anos e Clientes Ourocard pagam meia-entrada.)
Bilhetes disponíveis na bilheteria do CCBB ou pelo
site bb.com.br/cultura
“HISTÓRIAS DE TEATRO E CIRCO”: Datas e Horários:
18, 19, 25 e 26/01 - Sábados, às 16h e 19h; domingos, às 15h e 18h.
“O BABAUZEIRO”: Datas e Horários: 01,
02, 08 e 09/02 - Sábados, às 16h e 19h; domingos, às 15h e 18h.
“JANEIROS”: Datas e Horários: 15, 16, 22
e 23/02 - Sábados, às 16h e 19h; domingos, às 15h e 18h.
“OFICINA DE CANTOS E CANTIGAS POPULARES”
(Já aconteceu.):
Dia: 01/02, às 11h, no Teatro II.
Entrada franca.
“SEMINÁRIO DIÁLOGOS SOBRE PEDAGOGIA BRINCANTE: A
CULTURA DE ENSINAR E APRENDER DENTRO DAS TRADIÇÕES POPULARES:
Dia 25/02, às 11h, no Teatro II
Entrada franca
Informações para a participação divulgadas no site bb.com.br/cultura.
Capacidade do Teatro II: 153 lugares
Classificação: Livre.
Funcionamento CCBB: De quarta a segunda, das 9h às 20h (fecha às
terças).
ATENÇÃO: Domingos, das 8h às 9h - horário de atendimento
exclusivo para visitação de pessoas com deficiências intelectuais e/ou mentais
e seus acompanhantes, conforme determinação legal (Lei Municipal nº 6.278/2017).
Assessoria de Imprensa do CCBB RJ: Giselle Sampaio
gisellesampaio@bb.com.br - 21 3808-0142
Assessoria de imprensa do espetáculo: Paula Catunda
É emocionante o trabalho em família desse
grupo. Tive a oportunidade de adentrar o auditório antes do público e
constatei o clima de amor, alegria e fraternidade que reinava entre muitos dos
componentes da trupe, adultos e crianças, que, por não atuarem em “O BABAUZAIRO”, já estavam na plateia,
acomodando-se para assistir ao espetáculo, o qual, para mim, já começou ali. RECOMENDO ESTE ESPETÁCULO E O PORÓXIMO.
FOTOS: DAVI MELLO ("O BABAUZEIRO") e retiradas da internet (Sem fontes discriminadas.)
É preciso ir ao TEATRO, ocupar todas
as salas de espetáculo, visto que a arte educa e
constrói, sempre; e salva. Faz-se necessário resistir sempre mais.
Compartilhem
esta crítica, para que, juntos, possamos divulgar o que há de melhor no TEATRO
brasileiro!
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