“NA COXIA, COM...
...FÁBIO PORCHAT.”
Fazia
tempo que eu não retomava esta “sessão”, neste blogue,
porque não sobrava tempo para ela, em função da grande quantidade de espetáculos
de TEATRO a que assisto, quase todos os dias. Ocorre que só escrevo uma crítica
quando a peça me agrada e, felizmente, nos últimos tempos, a
maioria daquelas às quais tenho assistido é de boa qualidade para cima (BOA, MUITO BOA, ÓTIMA ou OBRA-PRIMA), de
acordo com a minha classificação, e lá vou eu escrever a crítica sobre
várias peças.
Resolvi tirar um tempinho e propus uma entrevista a um
querido e talentoso amigo, que dispensa apresentações. Ele aceitou o
convite, concedeu-me essa honra e, aqui, está o resultado do nosso “papo”.
Sempre faço questão de lembrar que não tenho formação de jornalista, o
que pode fazer com que as perguntas não sejam as melhores; mas as respostas,
essas, com certeza, são ótimas.
Foto: João Pedro Bartholo.
Combinei, pessoalmente, com o entrevistado, enviar-lhe as perguntas, para que ele respondesse a elas por meio de mensagem de voz, via WhatsApp, com o objetivo de facilitar-lhe, consumindo menos o seu tempo, que já é pouco, para tantas coisas que ele faz, E BEM, simultaneamente. Assim se deu. Eu transcrevi todas as respostas que ele me enviou, procurando ser o mais fiel possível às suas palavras, tentando adaptar a linguagem oral à escrita. Muito pouco tive de mexer aqui ou ali, sem, absolutamente, alterar o teor de qualquer resposta. Confiram minha conversa com FÁBIO PORCHAT:
1) O TEATRO ME
REPRESENTA (OTMR): Quando a “luz verde”, do
seu “semáforo”, ou “sinal”, acendeu, no sentido de
ter a certeza do que você gostaria de fazer, profissionalmente?
FÁBIO PORCHAT (FP): Eu sempre fiz TEATRO, na escola, não profissionalizante, cursinhos de TEATRO.... Eu adorava estar ali, mas nunca era um desejo da minha parte. Se você perguntasse, para o FÁBIO de 15 anos, o que ele queria ser, quando crescesse, ele não diria “ator, artista, roteirista”; nada disso, mesmo eu fazendo TEATRO. Obviamente, eu estava totalmente desconectado de mim mesmo, porque, olhando hoje, era nítido que eu faria TEATRO. Eu cheguei a fazer um curso pré-profissionalizante, com 17 anos, lá no INDAC (Instituto de Arete e Ciência), em São Paulo, mas também sem uma meta. Era mais porque eu gostava muito daquilo, era um ambiente que eu adorava. A “luz verde” veio no “Programa do Jô”, no “fatídico” “Programa do Jô”, quando eu fui, com a faculdade, para assistir, e pedi, lá na frente, para fazer um texto de “Os Normais”, que eu tinha escrito, e ali é que eu descobri o que eu queria. Larguei tudo, em junho de 2002, e me mudei para o Rio de Janeiro, para ser ator. Vim para fazer a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras).
2) OTMR: Depois de se formar, pela CAL, você
estreou sua primeira peça, ao lado do querido, talentosíssimo,
saudoso e inesquecível Paulo Gustavo, seu colega de
turma, no palco, em 2005, no minúsculo Teatro Candido
Mendes. Era “INFRATURAS”, um conjunto de esquetes, escritos
por você, sob a direção da querida Malu Valle. Não foi
sucesso de público, porque você mesmo já disse, em entrevistas anteriores, que “ninguém
ia sair de casa, para ver dois moleques desconhecidos”. Como, porém, o
meu lema, parafraseando o poeta Fernando Brant é “Todo
crítico de TEATRO e jurado de Prêmios de TEATRO tem que ir aonde o ARTISTA
está.”, eu fui testemunha daquele momento. Como você se sentiu, diante
daquela expectativa, de público, não correspondida? Pensou em parar e,
talvez, voltar ao curso de Administração de Empresas, ou fazer outra
coisa na vida?
FP:
Não! A gente sabia que o TEATRO não ia dar público mesmo. Claro
que contávamos com que fosse legal, mas imaginávamos que ninguém iria assistir
mesmo! A gente ficou... Claro que ninguém quer fazer COMÉDIA para cinco
pessoas na plateia! A gente queria mais gente. A gente divulgava muito, ia
filipetar na praia, colava pôsteres por toda a cidade, ficava nessa vontade,
mas a verdade é que sabíamos que não ia funcionar. A gente achava divertido o espetáculo,
gostava, mas não tinha essa ideia de que o TEATRO iria dar público, de
verdade. Isso foi uma coisa que a gente nunca criou, essa expectativa.
3) OTMR: Quando você
“viu a luz acender”, era para ser ator ou, especificamente um ator
de COMÉDIA?
FP: COMÉDIA!!! Desde o início, desde quando eu saí
de São Paulo, para ser ator, eu vim para o Rio
para fazer COMÉDIA, para escrever COMÉDIA, para ser um ator de
COMÉDIA. Então, eu já sabia que essa era a minha facilidade, que era isso
que eu sabia fazer e aí comecei a enveredar na COMÉDIA, na Escola
de Teatro; eu, Marcus Majella e Paulo Gustavo,
fazendo COMÉDIA, fazendo sempre cenas de COMÉDIA. Eu comecei a
escrever muita COMÉDIA... Então, desde o início, eu já sabia que ia
ser COMÉDIA.
Marcus Majella, Fábio Porchat e Paulo Gustavo.
Foto: autor desconhecido.
4) OTMR: Você sempre foi “o engraçado”?
FP: Eu sempre fui “o engraçado” da turma;
na escola, na Escola de TEATRO, com a família... Eu sempre
contava piadas, sempre contava histórias de forma divertida. Então, eu sempre
acabava sendo “o engraçado”.
5) OTMR: Como
surgem, de um modo geral, as ideias para um novo texto ou projeto?
FP:
Ideias, eu vou tendo sem parar, aos montes, assim, olhando ao meu redor.
Às vezes, vendo uma coisa de audiovisual ou de TEATRO mesmo, me dá uma
ideia. Eu anoto e vou tentando botá-las em prática. Ideia de um esquete para o “Porta
dos Fundos”, ou para um filme, ou para uma série, ou para o que quer
que seja. Então, tudo gera piada, gera ideia. No fim das contas... Você
percebe que ideia é uma coisa muito aleatória, porque tem poucos filmes sobre
criatividade, sobre ter ideias, porque as ideias, elas vêm do nada. Às vezes,
você está no trânsito e tem uma ideia de um negócio que não tem nada a ver com
trânsito. De repente, um hipopótamo... Mas por quê? Freud
explica, mas então... As ideias, elas vão vindo, vão surgindo, e eu tento
deixar a cabeça muito aberta, para ter ideias me forrando de conteúdo, pra ele
ir me inspirando.
6) OTMR: O
que pode gerar uma piada?
FP: Tudo pode gerar uma piada. A piada é, também,
o olhar pelo outro viés. Olhar pelo lado que o público não está esperando.
Muitas vezes, a COMÉDIA está naquele lugar, que todo mundo já pensou
naquilo, mas ninguém nunca falou, e, muitas vezes, está em surpreender o
público com uma virada. A gente faz uma virada de expectativa e fala: “Poxa! A gente faz o público olhar para um lado e vira pro outro!". Então, tudo pode ter
piada; da coisa mais pesada, mais triste, mais horripilante, mais escrota, mais
preconceituosa, que seja, tem piada ali. Cabe a cada comediante escolher que
tipo de piada quer fazer.
7) OTMR: Como
tanta gente, eu, também, às vezes, fico tentando definir “humorista”
e “comediante”. Já li várias teorias sobre isso. Como você difere
um do outro, se é que existe uma diferença entre ambos? Se existe diferença, “que
carapuça você coloca na sua cabeça”?
FP: Eu acho tudo meio a mesma coisa.
Humorista e comediante é tudo a mesma coisa. Tinha uma
definição, do Chico Anysio, de que comediante era o ator
e humorista, o que escreve. Quem escreve a piada e o texto é humorista
e quem só performa, na frente, é comediante. Eu não sei muito quão
importante isso é, na verdade, para a carreira de alguém. Claro que é bom que a
gente defina isso! Acho boa a pergunta, mas, no fim das contas, se você
fizer o outro rir, está bom, não é?
8) OTMR: Se
considerarmos a definição, “ao pé da letra”, do que venha a ser o
formato de um “stand up comedy”, chego à conclusão de que você
não é um “stand upper” (Criei o termo. Neologista em
inglês. Eu não quis fazer uma piada. Não levo o menor jeito para isso.),
uma vez que, “ligado a uma tomada de 220 volts”, você não para
quieto em cena, e, sozinho, ocupa o imenso palco do Teatro Casa Grande,
por exemplo, como vem ocorrendo nesta vitoriosa temporada do espetáculo
com o qual você está em cartaz, “HISTÓRIAS DO PORCHAT”, lotando aquele Teatro
de quase mil lugares (926, para ser exato.) Como crítico de TEATRO,
penso que você inaugurou um novo gênero teatral. O que acha
disso?
FP: Desde o início, desde quando eu comecei a fazer “stand
up”, eu tentei... Eu sou formado como ator, no TEATRO. Eu
gosto de fazer no Teatro. As pessoas gostam muito de fazer “stand
up” em bares, restaurantes, e tal, mas eu sempre gostei de fazer no Teatro,
porque eu sempre precisei de espaço para criar, para correr de um lado para o
outro, para usar o meu corpo. Então, eu sempre pensei nisso, eu sempre pensei o
“stand up” assim: Eu só tenho um microfone na mão, mais nada.
Então, como é que eu posso preencher o espaço teatral da forma mais completa
possível? Então, é ressignificar o espaço, o meu corpo, o olhar, e sempre
ação com palavra, palavra com ação, aquilo que Celina Sodré, uma diretora
de TEATRO, de quem eu sou discípulo, sempre falou: “Nunca é o
gesto; sempre é a ação. Tudo o que você está fazendo ali tem que ser de
verdade, tem que ser valendo. Você tem que ver aquilo que você está falando,”.
Eu vejo o gorila, eu vejo o hipopótamo... E só assim o público vê também,
porque, no TEATRO, se eu falo assim: “Aqui, tem uma janela.”. O
público aceita. Ele olha e fala: “Tá bom! Aqui tem uma janela.”.
Agora, se eu falar: “Aqui, tem uma janela de madeira, vermelha, com detalhes
em preto.”, você imagina imediatamente, imaginou a janela. E é isso que
é a “mágica” do TEATRO.
9) OTMR: Copiei da internet:
“A fórmula universal da piada se aplica a qualquer forma de piada,
seja uma anedota, esquete ou ‘bit’ de uma apresentação de ‘stand up’.
Toda piada tem uma preparação (‘setup’) e uma quebra (‘punch’), que constituem
a fórmula da piada”. Acho que perdi meu tempo, lendo isso, na internet.
Existe, na sua opinião, uma fórmula universal de piada?
FP: Existe, totalmente, uma forma universal da
COMÉDIA. COMÉDIA é matemática. Levanta, corta, levanta, corta... É o
“setup” e o “punch line”, é inversão de
expectativa. Há, inclusive, exercícios de piadas, de livros, para contar a
piada, para mostrar como é, como é que faz, e tal. Então, é totalmente assim.
Com certeza, tem esse tipo de pensamento por trás de uma piada, porque, é
claro, o comediante faz de forma automática. A pessoa com um grau de
experiência, ela faz, porque a COMÉDIA lhe vem automaticamente, mas, se
ele estiver com algum problema, com alguma questão em fazer piada, se ele for
na forma, ele acerta.
10) OTMR: Particularmente,
não sou adepto da interatividade do ator com o público, porque já
vi muita coisa que considero falta de respeito para com quem saiu de sua casa,
pagou por um ingresso e vai servir de chacota, aos olhos do resto da plateia. As
pessoas riem, porque não são elas que estão colocadas numa situação de ridículo
e constrangimento. “No do outro é refresco”. Jamais poderia
deixar de salientar que assisto a todos os seus espetáculos e jamais vi
você agir dessa forma com alguém da plateia; pelo contrário, quando faz uma
brincadeira com alguém do público, é sempre com muito respeito e elegância. Já
aconteceu, alguma vez, de, ainda assim, alguém ter demonstrado uma reação
negativa, quando de uma sua abordagem? Se isso acontecer, por exemplo, qual
deve ser a reação do artista?
FP: Nunca aconteceu de ninguém ficar chateado, de ser
chamado, de participar, e tal. É claro que eu, também, tento, ao máximo,
não ser desagradável! A pessoa que vai ridicularizar a outra, a ponto de ela se
sentir humilhada... Mas, ao mesmo tempo, não adianta também o ator
querer ir para a plateia, chamar as pessoas que não querem ir para o palco. Se
a pessoa, na plateia, diz que “Não, não, não!”, eu não levo;
melhor não levar, senão o constrangimento dela é o constrangimento da plateia,
porque, no fim das contas, aquela pessoa é um elemento daquele meio. A plateia
se percebe, percebe ela como uma participante desse grupo, mesmo que eles nunca
tenham visto aquela pessoa, antes, na vida. Então, se você desagradar a um
membro da plateia, a plateia fala assim: “Pera aí! O próximo posso ser eu.”.
Então, tem esse olhar meu, de carinhoso, com a plateia. “Que bom que
vocês estão aqui! Que bom que vocês estão assistindo a esse “‘show’!” E
eu pergunto quem nunca foi ao Teatro. Não é? Eu acho isso uma
coisa mágica, a pessoa escolheu ir à minha peça. Ela nunca foi a um Teatro
a vida toda. E, às vezes, não são adolescentes; são senhoras, são pessoas mais
velhas, que nunca tinham ido ao Teatro. Eu acho isso
emocionante e gosto de levar a pessoa para o palco, para ela entender o que é o
TEATRO de verdade.
11)OTMR: Não quero,
absolutamente entrar na esfera da política, para não criar nenhuma situação de
constrangimento. Você sabe que temos o mesmo pensamento, a mesma posição, com
relação a esse assunto. Antes de 2018, você já teve algum problema,
por ter feito piada com algum político?
FP: Nunca fiz alguma piada, no palco, que tivesse
alguma coisa com políticos, mas, no “Porta dos Fundos”, aí,
sim, já deu questões, já deu problemas, porque a verdade é dura para os
políticos. (RISOS) Quando você os ridiculariza,
eles, que estão nos ridicularizando, eles se sentem ofendidíssimos, não querem.
Mas não! Só no “Porta dos Fundos”. No “Porta dos Fundos”,
alguns políticos já entraram nessa.
12) OTMR: Alguns atores
costumam desenvolver uma excelente “química”, em cena, com determinado(a, os, as) colega(s). Um desses grandes exemplos é de você e Miá Mello,
atriz e pessoa que eu adoro, que emplacaram um sucesso absoluto, na
série, para a TV, “MEU PASSADO ME CONDENA”, e nos três filmes
com o mesmo título. Vocês têm algum projeto, em mente, para um trabalho
juntos?
FP:
Miá Mello é minha mulher da vida jurídica. Eu amo a Miá,
a gente, realmente, tem uma “química” muito boa e eu quero voltar
com o “Meu Passado Me Condena”, de alguma forma; não sei como, se
é uma nova série, se é um novo filme. Ideia é o que não falta. Eu e a Miá,
a gente se dá muito bem. Então, com certeza, vai ter coisa nova vindo aí.
13) OTMR: Você prefere
escrever para outros interpretarem ou para si próprio?
FP:
Eu gosto muito de escrever, gosto de escrever para mim, porque, como aquilo
saiu da minha cabeça, eu sei, exatamente, a entonação que eu pensei, quando
tive aquela ideia, e não, necessariamente o ator que está lendo vai ter
aquela mesma entonação. É claro que ele pode melhorar aquilo que está escrito,
o jeito, tudo, mas, sempre que eu escrevo um texto, eu gosto de estar próximo
de quem está interpretando, para eu poder tirar qualquer dúvida, olhar e, até
mesmo, as mudanças serem feitas com uma compreensão do todo, e não só em busca
de uma piada rápida, um “hahaha”, que você conquista ali, porque,
também, aquele texto está contando uma história. Então, eu gosto de estar
acompanhando, sempre, de perto, não importa o que seja, os textos que eu
escrevo. Mas eu adoro escrever para outras pessoas também. Acho que as
pessoas abrilhantam o seu texto, pegam o seu texto e melhoram ele, não é? O bom
comediante, o bom ator, enfim...
14) OTMR: Sempre que
preciso escrever a palavra COMÉDIA, nas minhas críticas, faço-o
grafando todas as letras em maiúsculo, em respeito a esse gênero,
tão pouco reconhecido, de uma forma geral, pelo público brasileiro e, até
mesmo, por alguns atores, que a consideram uma “arte menor”;
pura estupidez. Louvo a sua iniciativa, ao criar um Prêmio de
Teatro, especificamente voltado para a COMÉDIA, o “PRÊMIO DO
HUMOR”. Você, quando encontra tempo, para ir ao Teatro,
costuma privilegiar as COMÉDIAS?
FP: Na minha vida, não só o TEATRO, mas o cinema,
séries... Eu assisto de tudo. Eu acho que, como ator, eu preciso assistir de
tudo e saber de tudo. Eu adoro COMÉDIA.
Eu sou daquele público bom. Eu rio bem, eu rio alto, eu gosto de ir ao Teatro,
eu sento na primeira fila... Eu adoro ir a COMÉDIAS, ver peças. “A
Casa dos Budas Ditosos”, com a Fernanda Torres; “Os
Ignorantes”, com o Pedro Cardoso; Regina Casé...
Pegar essa gente grandiosa e ir lá, assistir. É uma maravilha, quando você
acerta na mosca. É excelente! Eu não privilegio COMÉDIA. De um modo geral, eu privilegio o
conteúdo. Eu vou assistir àquilo que está acontecendo, o que está sendo
feito. E, quando é uma boa COMÉDIA, é uma
maravilha. Eu adoro rir.
15) OTMR: Não gosto dessa coisa de “top não sei
quantos melhores...”, mas quais os comediantes que marcaram
sua vida, antes de se tornar um profissional da COMÉDIA, e os
que, ainda hoje, o influenciam?
FP: Falar de COMÉDIA,
no Brasil, é fácil, não é? A gente tem tantos grandes comediantes!!!
A gente pode pegar a trinca máxima: Jô Soares, Chico Anysio
e Golias. Eu botaria aí, também, o Lúcio Mauro, o Agildo
(Ribeiro). Tem tanta gente boa, realmente. Dercy! Imagina, se a gente
for lá para trás! Mas, para dizer os meus, assim de pertinho, aqueles que eu
acompanhei, a minha trinca é Pedro Cardoso, Regina
Casé e Fernanda Torres. Não à toa, eu citei os três, na
resposta anterior, porque eles três formam, pra mim, o que eu quero ser,
quando crescer. De COMÉDIA, de tempo,
de olhar, de crítica, de entrega, de conversa com o público. Eles são aquilo que
eu acho de melhor, assim. Mas eu amo o Falabella. Eu colocaria o Falabella
aí, nesses mosqueteiros, que são quatro.
16) OTMR: Você disse,
num recente “PAPO DE SEGUNDA”, ao prestar uma justa homenagem ao Jô
Soares, que estávamos inaugurando uma nova era, em termos de TV:
“antes de Jô e depois de Jô”. Você diria que, na sua vida, aquele
dia em que, na companhia de colegas da faculdade, você foi assistir a uma
gravação do “Programa do Jô” e lhe fez chegar às mãos aquele
bilhete, que o levou a chamar você para apresentar um esquete, também poderia,
para o FÁBIO, marcar duas eras: antes e depois do “Programa do Jô”?
FP:
Com certeza, a minha vida é antes e depois do Jô, porque
foi lá que eu descobri o que eu queria fazer da minha vida e lá transformou a
minha vida no que ela é hoje. Eu larguei tudo o que eu tinha, tudo o que eu
estava fazendo, para fazer uma outra coisa que se mostrou a coisa mais acertada
pra mim. Então, com certeza, aqueles meus 18 anos, no “Programa do Jô”,
me transformaram completamente.
17) OTMR: Oficialmente,
a censura, esse organismo de retrocesso, não existe mais no Brasil,
entretanto, sei de casos em que colegas seus, de profissão, já receberam “sugestões”
para “evitar” este ou aquele assunto. Isso já lhe
aconteceu alguma vez?
FP: Eu acho que cada plataforma tem a sua própria censura,
digamos assim, o seu limite. Assim, na TV aberta, você pode falar um
tipo de coisa; no “streaming”, você pode falar outra; no TEATRO,
é mais liberado. Então, em cada lugar, tem um jeito, um público que você
atinge, que você pode falar. E é claro que há assuntos tabus, no Brasil,
quando a gente quer falar de política, ou de religião, ou quer falar de aborto,
racismo... Eu acho que, no humor, não pode ter nada sagrado. A gente
tem é que, exatamente, dessacralizar tudo e falar de tudo.
18) OTMR: Você já
passou por alguma situação de “saia justa”, no palco, que nunca
tenha contado e possa ser tornada pública agora?
FP: Eu tive uma dor de barriga violenta, no meio de
uma cena, num “stand up”, eu sozinho, no palco, e eu tive que
sair, para ir ao banheiro, mas não avisei ao público. Fingi que deu um problema
no áudio e saí correndo, para ir ao banheiro. Fui e voltei, em 30 segundos, e
deu certo. Eu já tive uma apresentação em que a minha calça rasgou, bem na
parte da bunda, e eu tive que fazer toda a peça sem poder virar para
trás, para ninguém poder ver a minha bunda. Tudo bem que eu estava de cueca,
mas, mesmo assim, não é uma situação boa, não é?
19) OTMR: Qual é a ética do ator de COMÉDIA?
FP: Não sei, exatamente, qual é a ética. Eu acho
que o que existe mais é a ética de cada um, o que você está disposto a
fazer, falar, e até que ponto você quer chegar ao lugar para fazer as pessoas
rirem. Às vezes, tem piadas horríveis, escrotas, más, e você pode querer
comprar essa briga. Essas piadas não são, necessariamente, ruins. Elas podem
ter graça e serem de péssimo gosto, de péssimo caráter. Eu acho que a ética
é de cada um. Sobre o que você quer falar, até onde você quer ir e o que
você sente que é a sua COMÉDIA.
20) OTMR: A pergunta é bem “batida”, mas acho que sempre cabe um espaço para ela: Qual é o limite para o humor?
FP: Não existe limite para a poesia, limite para a ficção
científica, limite para a aventura, como também não existe limite para o
humor. O limite, para todas as formas de expressão, é a Constituição.
Tudo o que está na Constituição não pode ser feito ali, não é? O
resto, tudo pode. Acho que é simples assim.
21) OTMR: Até que ponto
o projeto “PORTA DOS FUNDOS” alavancou a sua carreira?
FP: O “Porta dos Fundos” me popularizou, me
fez ser conhecido e me fez estourar, como um novo comediante, um comediante
da nova geração. Eu já fazia “stand up”, as pessoas, na internet,
sabiam quem eu era, mas, quando veio o “Porta dos Fundos”, que
ultrapassou tantas barreiras... Então, é um divisor de águas, sim, na minha
vida, também, o “Porta dos Fundos”. Em 2013,
que é quando o “Porta...”, estreou em 2012, mas 2013
foi um ano que mudou a minha carreira, porque eu fiz muita coisa, por conta do “Porta
dos Fundos”.
22) OTMR: Vamos
imaginar que estamos no “QUE HISTÓRIA É ESSA, PORCAHT?”, nas
perguntas do final do programa. Que pergunta você gostaria que eu lhe fizesse
e que não fiz?
FP: A
pergunta: “Com quem você gostaria de ter trabalhado e que não está mais
entre nós?” E eu diria: Nair Bello e Rogério Cardoso,
porque são brilhantes, hilários, e eu gostaria de ter feito alguma coisa com
eles.
Foto: autor desconhecido.
OBSERVAÇÃO Nº 1: Houve uma pergunta que não foi respondida pelo FÁBIO, por um lapso, certamente, mas eu faço questão de colocá-la aqui, para tornar pública uma opinião minha e que sustentarei sempre:
OTMR: Pela minha experiência de mais de cinquenta anos dedicados ao TEATRO, sinto firmeza, ao dizer que todo ator de COMÉDIA pode vir a atuar bem, interpretando um personagem dramático, entretanto a recíproca não é verdadeira, na minha visão. Acho que ninguém pode querer ser engraçado, se não o é, naturalmente. Tenho a certeza de que duas coisas são fundamentais para o indivíduo chegar a ser um bom ator de COMÉDIA: uma inteligência acima do normal e uma capacidade para improvisar sobre qualquer coisa que surja, de repente, o que implica um raciocínio muito ágil. Você concorda? Em caso de uma resposta positiva, o que mais não pode faltar a um ator de COMÉDIA?
OBSERVAÇÃO Nº 2: Para mim, FÁBIO PORCHAT reúne essas “duas coisas
fundamentais” e, consequentemente, consegue raciocinar “na velocidade de
um raio”.
Foto: João Pedro Bartholo.
Os meus maiores e sinceros agradecimentos ao nosso entrevistado.
Foto: Nataly Mega.
FOTOS: CRISTINA GRANATO
E VAMOS AO TEATRO,
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