NINGUÉM SABE
MEU NOME”
ou
(MAS TEM
QUE SABER!!!)
ou
(BASTA DE
INVISIBILIDADE!!!)
Sei que estou sendo repetitivo, mas sinto vontade de dizer e,
então, escrevo assim mesmo, e sempre o farei: é muito bom, bom demais,
quando eu vou a um Teatro, sempre, praticamente, com a melhor das expectativas,
coração e cabeça abertos, com vontade de gostar do espetáculo, e ele supera as
minhas perspectivas, como ocorreu no último sábado (25 de junho / 2022),
depois de ter assistido a um solo, com a atriz e cantora ANA
CARBATTI, “NINGÉM SABE MEU NOME”, em cartaz na Sala Multiuso
do SESC Copacabana (VER SERVIÇO.)
A tradicional "rodinha".
Idem.
Confesso que desejei assistir ao monólogo,
por conta da ficha técnica, “recheada” de nomes de
profissionais que eu admiro e respeito, mas não pela sinopse. E a
explicação é muito simples: ainda que eu considere da maior relevância,
necessidade mesmo, falar da questão do racismo, explícito ou estrutural,
da segregação racial, com relação aos negros, no Brasil,
para abordar a nossa realidade, já estou cansado de assistir a espetáculos
de TEATRO, tratando desse tema, de qualidade duvidosa e, até certo
ponto, em função da forma como o assunto é abordado, atingindo um resultado
oposto ao que era esperado pelos envolvidos nos projetos. Não conseguem conquistar
mais simpatizantes e companheiros de luta, para uma causa mais que justa, venha
isso de que lado vier, que é lutar por algo que pode, até mesmo, parecer
utópico, mas pelo que não devemos, nunca, negros, brancos, todos nós, desistir,
que seria um basta total a uma “aberração”, totalmente
inaceitável, o preconceito racial contra os pretos, de sangue vermelho,
como o de todos os seres humanos. Acabam, sim, é nos aborrecendo - a
mim, pelo menos -, perdendo a oportunidade de estimular uma resistência
maior, nessa luta. Já saí bastante “incomodado”, depois de ter
assistido a algumas peças. Basta dizer isso, sem dar exemplos. Não vou
entrar em maiores detalhes, visto que o importante, neste momento, é jogar
muitas luzes sobre este ótimo projeto, idealizado por ANA CARBATTI.
SINOPSE:
IARA (ANA CARBATTI) é uma mulher preta, de meia idade, mãe de MENINO
(O personagem só é citado e não assume uma identidade nominal.),
uma criança preta.
Em uma conversa
íntima com o público, questiona sua própria existência e sua
função na sociedade, como mulher e mãe: educar seu filho, para que cresça
e floresça, em sua pureza, ou despi-lo, ainda em tenra idade, de sua inocência,
de modo a prepará-lo para o enfrentamento de uma sociedade que
não o reconhece como igual.
Ou, ainda, se é
possível fazer as duas coisas, simultaneamente.
O tema é mais do que pertinente, oportuno, e,
infelizmente, parece sê-lo cada vez mais, e sua abordagem se dá por meio de um excelente
texto, da própria ANA CARBATTI, também idealizadora do
projeto, costurado, com muito cuidado e delicadeza, sem pieguismo (ou
pieguice, como acharem melhor), por INEZ VIANA e MÔNICA SANTANA,
habilíssimas na dramaturgia, com falas que tocam, direto, o coração do espectador,
sem voltas desnecessárias nem vitimização barata. Tudo o que aquela mãe fala, a
sua dor e preocupação com o futuro do filho, é verdadeiro e jogado no ar, para
ser captado e “digerido” por pessoas que conseguem exercitar a empatia
e se despir de qualquer preconceito racial. Parece que todos os que
compunham a plateia entenderam bem a mensagem que o texto nos
passa e acolheram, de verdade, aquela IARA, como demonstraram na ovação,
ao final do espetáculo, e nas reações que deixavam escapar, durante a encenação.
Faz-se um silêncio sepulcral, para que aquela mãe, representando todas as “iaras”
do mundo, especialmente as do Brasil, possa ser ouvida e
respeitada. Seria bom que também aquelas pessoas não praticassem qualquer outro
tipo de preconceito. Assim espero, uma vez que preconceito (PRÉ-CONCEITO)
é uma das coisas mais “burras” e inadmissíveis que existem
na face da Terra (QUE É REDONDA!!!).
Não vou repetir aqui, porque não tenho acesso, com precisão,
aos números que a protagonista nos mostra, acerca da grande quantidade
de negros mortos pelo Estado, uma boa parte deles crianças e
adolescentes, por balas “achadas”, entretanto qualquer cidadão
que não seja alienado e que acompanha o noticiário de cada dia, sabe que não há
nada de mentira nem exagero quanto àqueles números. Trata-se de algo, absurdo, inadmissível e abominável.
Apropriando-me de um trecho do “release”,
enviado pela assessoria de imprensa (JSPONTES ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO
– JOÃO PONTES e STELLA STEPHANY), os envolvidos no projeto nos
apresentam um “espetáculo solo que reflete sobre os
códigos racistas tácitos da sociedade, seus impasses, impactos e possíveis
propostas de reparo”. Infelizmente, sou obrigado a discordar quanto ao
emprego do adjetivo “tácitos”, que significa “o que não é
expresso por palavras; implícito, subentendido, subjacente, inexplícito,
escondido, encoberto, secreto, oculto, ignorado, recôndito, esconso e escuso”,
porque, pelo contrário, vejo e sinto, cada vez mais, escancarada a
aversão contra os negros, praticada por uma grande parte da sociedade, o que
leva IARA a abrir seu coração e nos contar que um de seus maiores sonhos
é “ver o filho, preto, ultrapassar a marca dos 30 anos”,
para o que não deixa de estar sempre alertando-o, como uma maneira de ele poder
atingir, ileso, a idade adulta, com uma lista de “recomendações”,
que sintetizam a angústia de milhões de mães no Brasil e no mundo: “seja
educado, não use óculos escuros, não reaja pela emoção, não responda,
não faça contato físico, não faça movimentos bruscos, não fale
muito, não fale, lembre-se do seu objetivo: voltar pra casa em segurança, corte
os cabelos, não perambule à noite, não use ‘pullover’ com capuz, deixe
as mãos sempre à vista, nunca esqueça a carteira de identidade, não faça
nada que leve as pessoas a terem medo de você, não corra, não grite
por socorro, não grite, respeite o código tácito, fique calmo”.
Toda essa sucessão de “advertências”, visando a uma
sobrevivência mais longeva, como um ser humano, como outro qualquer, nesta imensa
e cruel “selva de brancos”, é uma “ignomínia” sem
tamanho, um incomensurável absurdo. Mas ela o faz, conscientemente, porque
conhece, com sua experiência, muito maior que a do seu filho, de onze anos, o estigma
do negro numa sociedade que, paradoxalmente, é formada, em sua maioria, não por
brancos, mas por gente como os seus ancestrais, ou por misturas destes com o
branco, e outras etnias. Na verdade, o Brasil é o primeiro
país do mundo com maior população preta, fora do continente africano.
Pouca gente sabe disso; eu mesmo não sabia.
No decorrer do espetáculo, a mãe
se dirige à plateia, pedindo que o público a auxilie a saber como
agir, com relação ao filho, que sempre está “correndo perigo”: “Vocês
acham que é muito cedo, para falar sobre isso com o meu filho?
Vocês acham que é muito cedo, para falar sobre isso com o seu filho?
Ainda tem alguém aqui que ache que esse papo de perseguição do segurança é
coisa da minha cabeça? Que essa coisa do porteiro mandar preto
para o elevador... Vocês acham que eu estou assustada demais? Vocês
acham que eu estou assustando meu filho? Que eu estou tirando a
inocência dele? Vocês acham que a gente só deve falar sobre isso, quando ele vier
a sofrer algum tipo de discriminação? Vocês acham que estou provocando uma
fera? Que ele vai se tornar um homem preto rancoroso? E que a consequência
desse rancor vai ser pior do que a discriminação que venha a sofrer?”. É muita angústia para um desesperado coração de mãe. É muito sofrimento.
Por mais séria e importante que seja a temática abordada, o texto
alterna momentos de tensão com outros mais leves, até mesmo não deixando de
lado o humor e a empatia, visando a uma “uma
reflexão sobre como a sociedade ainda precisa compreender sua
responsabilidade e agir, para reparar sua dívida histórica com a
população preta” e, segundo o já citado “release”,
com o que concordo, plenamente – e isso é um dos principais motivos que me levaram
a gostar do espetáculo e a aplaudi-lo com todo o meu vigor - “a peça
foi concebida para dialogar com todos os públicos, e não somente
com o público preto, sem panfletarismo ou tons acusatórios, mas
amorosamente”, convidando, a todos, que se entendem brancos, num país
mestiço, a refletir sobre “o que ainda não foi feito
e é preciso fazer para combater o racismo estrutural”.
Muito me agradou a direção, a quatro mãos, de INEZ VIANA e ISABEL
CAVALCANTI, pela utilização dos recursos tecnológicos, da orientação natural passada
à atriz e pelo impactante final, que faz qualquer um engolir em seco e verter lágrimas. Não vou
dar “spoiler”, entretanto garanto que a cena é daquelas que ficam na nossa
retina, para sempre.
Da mesma forma, não posso deixar de elogiar o trabalho de direção de
movimento, desenvolvido por CÁTIA COSTA, assim como mencionar o correto
cenário, de TUCA MARIANA, o figurino, de muito bom gosto, desenvolvido por FLÁVIO
SOUZA, o lindo desenho de luz, assinado pela dupla LARA NEGALARA e FERNANDA
MANTOVANI, e a impecável direção musical de VIDAL ASSIS.
A propósito, são lindas e deliciosamente interpretadas, por ANA
CARBATTI, as duas canções da peça, compostas (letra e música)
por ASSIS VIDAL, com masterização e edição de TONINHO
(Estúdio Casa com Música): “Ninguém Sabe Meu Nome”
e “Oração de uma Mãe Preta”. Ambas as letras, pode-se dizer, fazem parte do texto da peça.
É comovente a maneira como ANACARBATTI se deixa conduzir, em
cena, ocupando todo o vasto espaço cênico, ainda que sozinha, preenchendo-o
plenamente. Como é linda a sua voz, o seu timbre de voz, quer falando, quer
cantando! Ela consegue atingir a todos – disso eu tenho certeza –, com uma
interpretação bem natural, verdadeira. Ela é a porta-voz de IARA,
com a maior propriedade, visto que leva, para o palco, a sua própria
realidade. Percebe-se como é total a sua entrega à personagem, a qual,
de vez em quando, eu confundia com a atriz, porque esse me parece ser um
dos propósitos do espetáculo. Uma atriz de muitíssimas
possibilidades, com um potencia de talento a esbanjar.
FICHA TÉCNICA:
Idealização: Ana Carbatti
Texto: Ana Carbatti
Dramaturgia: Inez Viana e Mônica
Santana
Direção: Inez Viana e Isabel
Cavalcanti
Direção de Movimento: Cátia
Costa
Cenário: Tuca Mariana
Figurino: Flávio Souza
Desenho de Luz: Lara Negalara e
Fernanda Mantovani
Direção Musical: Vidal
Assis
Fotografia: Estúdio Códigos
Vídeo / Foto: Helena Bielinsk e Daniel Barboza
Direção de Produção: Aliny
Ulbricht
Produção Executiva: Raissa
Imani
Direção de Comunicação: Daniel Barboza
Estágio de Produção: Karen
Sofia
Coprodução: Kawaida Cultural
Realização: Sesc Rio
Assessoria de Imprensa:
JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
Momento interatividade.
SERVIÇO:
Temporada: de 16 de junho a 10 de
julho / 2022.
Local: SESC Copacabana (Sala
Multiuso).
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160,
Copacabana – Rio de Janeiro.
Telefone: (21)2547-0156.
Dias e Horários: de 5ª feira a
domingo, sempre às 18h.
Valor dos Ingressos: R$30,00 e R$15,00
(meia entrada)
Duração: 50 minutos.
Classificação Etária:12 anos.
Capacidade: 48 espectadores.
Gênero: Drama.
Acho que esta crítica merece ser encerrada com um lugar destinado
a reproduzir algumas palavras, de uma das diretoras, INEZ VIANA,
as quais são incontestáveis, e não há volta: “Só o antirracismo
conseguirá nos devolver à humanidade perdida, em mais de 300 anos de
escravização. Não haverá liberdade, enquanto não houver igualdade. E
a hora de ajudarmos a IARA a fazer com que seu filho ultrapasse os 30, é agora.
Essa peça é uma das mais importantes que já fiz, em quase 40 anos de TEATRO. É
a palavra-semente que precisa ser espalhada pelo mundo. Por isso, todos os
dias, agradeço à extraordinária Ana Carbatti pelo honroso convite.”.
Desnecessário seria dizer que RECOMENDO, COM O MAIOR
EMPENHO, ESTE ESPETÁCULO!!!
FOTOS: HELENA BIELINSK
e
DANIEL BARBOZA
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
COMPARTILHEM ESTE
TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!
COM TODOS OS CUIDADOS!!!
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DO BRASIL,
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