sexta-feira, 10 de junho de 2022

 

“TUDO FAZ SENTIDO,

MAS É MERA

COINCIDÊNCIA”

ou

(UMA GUERRA

DECLARADA

CONTRA NÓS MESMOS.)

 

 



        A minha “preguiça” gosta de que, quando vou assistir a uma peça de TEATRO, eu saia dela com a certeza de que gostei ou não. Se gostei, em maior ou menor grau, escrevo uma crítica; em caso contrário, não escrevo, limitando-me, apenas, a divulgá-la, no Facebook, única rede social que utilizo, sem recomendá-la. É, apenas, para contribuir para a sua divulgação, quando há amigos envolvidos no projeto; mas não a recomendo, não lhe dou o meu aval. Não posso recomendar algo que não me agradou; pode agradar a outros, porque não me considero o dono da verdade, mas tenho um nome, no mercado, a zelar. Quando, porém, deixo o Teatro na dúvida, isso me dá uma raiva, porque me fará pensar muito, refletir sobre os prós e os contras, para, afinal, perceber para que lado a balança pendc  mais.



       Isso aconteceu, no último dia 8 (junho de 2022), quando assisti a “TUDO FAZ SENTIDO, MAS É MERA COINCIDÊNCIA”, no Centro Municipal Cultural Sergio Porto, espetáculo encenado por “OS CICLOMÁTICOS CIA. DE TEATRO”, sob a direção de RIBAMAR RIBEIRO, em comemoração ao jubileu de prata da COMPANHIA.



      Recebo vários “e-mails”, diariamente, convidando-me para estreias e procuro aceitar todos os convites, fazendo “mágicas”, para que tudo caiba na minha agenda. E faço questão de ler, minuciosamente, todo o “release”, enviado pelas assessorias de imprensa, antes de ir ver a peça. Há aquelas (assessorias) que, nos “releases”, pecam por carência de conteúdo e as que exageram nas informações ou as repetem. Ou as que os redigem de forma hermética, confundindo, mais do que clareando, a mente do pobre do crítico. Mas isso é outra história.



         A MARRON GLACÊ ASSESSORIA E AGENCIAMENTO, dos meus queridos amigos GISELE MACHADO e BRUNO MORAIS, que faz a divulgação do espetáculo, enviou-me o “release” do espetáculo aqui analisado. Considero a MARROM GLACÊ uma das melhores do Rio de Janeiro e, quiçá, do Brasil, porém, desta vez, eles quase fizeram explodir a minha cabeça. Obviamente, o que uma assessoria de imprensa põe no papel é baseado nas informações que chegam a ela pela produção do espetáculo. Pronto! Já transferi a culpa. (Momento descontração!). Mas, também, não estou aqui para culpar ou julgar ninguém, entretanto o fato é que, quanto mais eu lia, e relia, o tal “release”, menos entendia a proposta do espetáculo e o que eu iria ver em cena. Mas não precisava escrever tanto, “enfeitar tanto o pavão”. Ainda que o texto seja, por muitas vezes, hermético, dá para se entender, de uma forma não muito complicada, o recado que o elenco deseja nos passar, enviado pelo dramaturgo, o próprio RIBAMAR RIBEIRO, junto com FABIOLA RODRIGUES, a qual também faz parte do elenco, completado por CARLA MEIRELLES, GETULIO NASCIMENTO, JULIO CESAR FERREIRA, NIVEA NASCIMENTO e RENATO NEVES.



 

SINOPSE:

Abordando a relação das pessoas com as tecnologias, a montagem questiona a adequação de convívio entre ambas e sua influência nas relações interpessoais.

A trama evidencia a conexão virtual e seu impacto na sociedade, apresentando uma família, supostamente, feliz, que vai se desfazendo, aos poucos, analisando, através das vivências com as redes sociais, as “fake news” e o “cyberbullyng”, dentre outros aspectos digitais, como conviver com a internet, sem que ela seja o mote de condução da vida.

 

 

 


    Como se pode observar, pela SINOPSE, não há nada de complicado para ser compreendido pelo público. O que chegou perto de me gerar um nó na minha cabeça e fazer com que eu quase “ficasse órfão de Tico e e Teco, os quais chegaram a pensar em  me deixar sozinho”, foi a linguagem empregada no “release”, e, também, acho que contribuiu, para isso, o fato de eu ir preparado para assistir a algo que marcou o estilo e o repertório da COMPANHIA, nesses 25 anos, e ser apresentado a algo completamente diferente do que estão acostumados a mostrar, uma opção do diretor e fundador dela, que respeito, por ser um direito que lhe cabe. Foi uma espécie de choque, para mim? Foi. Acredito que, também, para muita gente, que, como eu, é fã do trabalho do grupo. Mas não doeu; só causou uma certa estranheza.



       Levei a viagem de volta até minha casa, mais um tempinho, antes de pegar no sono, e o dia seguinte inteiro, pensando na peça, cena por cena, detalhe por detalhe, para saber se eu havia gostado dela e, portanto, dedicar-lhe uma crítica, até que, por fim, cheguei ao meu veredito e bati o martelo: gostei do espetáculo. Como costumo dizer, em tom de brincadeira, “não é uma Brastemp, mas dá para gelar a cervejinha do domingo”, o que significa dizer que não me pareceu à altura dos espetáculos anteriores da COMPANHIA, mas, é uma peça de boa qualidade, na qual alguns elementos merecem destaque.



        Não morri de amores pelo texto, mas a ideia, ainda que não tão original, foi muito bem aproveitada. O cenário, meio “high tech”, criado por CACHALOTE MATTOS, por exemplo, é um deles. Há uma “simbiose” muito grande, e produtiva, entre ele e o trabalho de MAURO CARVALHO e VICTOR TAVARES, os quais idealizaram a iluminação. A utilização dos “leds” e os demais efeitos de luz são ótimos. Também me chamaram a atenção os criativos figurinos, assinados por JULIA PAULA, bem dentro da proposta, até mesmo - podemos considerar - meio “futurista”, do visual completo, de tudo o que se encontra no espaço cênico.



        A direção, de RIBAMAR RIBEIRO, como sempre ocorre, me pareceu bem correta - sempre, insisto -, dentro da proposta da peça, e, quanto ao elenco, este é da melhor qualidade, completamente nivelado, adequando-se, em total harmonia e perfeição, ao ritmo frenético, como são ditas as frases. Os diálogos são muito ágeis, e os atores estão muito bem afinados neles.  Parece um jogo de pingue-pongue; mas não entre amadores, e sim daqueles travados entre os grandes campeões, numa Olimpíada, por exemplo. As “raquetadas” são dadas de forma muito rápida e vigorosa, assim como os “rebates”; e “a bola nunca vai ao chão”. Em momento algum, percebi um titubear de algum dos que fazem parte do excelente sexteto.



       Não ficaria, porém, em paz com a minha consciência, se não destacasse o nome de um ator daquele elenco, GETÚLIO NASCIMENTO, que interpreta o “pet” da casa, o terceiro filho, “o de quatro patas”, o CACHORRO. Além de um ótimo ator, GETÚLIO canta, maravilhosamente, duas vezes, durante o espetáculo, sendo que, numa delas, interpreta um trecho de uma ária da ópera “Il Pagliacci” (“Os palhaços”), de Ruggero Leoncavallo, que quase me levou às lágrimas. Em outro momento, GETÚLIO nos brinda, lindamente, com o refrão de “Eleonor Rigby”, de Lennon e McCartney (“Ah, look at all the lonely people! / Ah, look at all the lonelly people!"). Foi o suficiente para me arrepiar. Pena que não cantou a canção toda!




        

       Extraído do já citado “release”, uma declaração do diretor do espetáculo: “Abordamos a contradição, que é ver personagens conectados, o tempo inteiro, nas redes sociais e com a mídia, mas com as relações interpessoais se desfazendo. Então, falamos da existência da incomunicabilidade e desta excessiva narrativa narcisista do ‘eu’, onde temos que fazer com que tudo seja postado e visualizado o tempo todo. Esta é a reflexão do espetáculo, que coloca o dedo na ferida das consequências que este excesso de exposição e julgamento virtual pode trazer a curto e longo prazo. Que mundo queremos? Claro que queremos nos comunicar, mas será que não estamos sendo engolidos por esta tecnologia e esta falsa sensação de comunicação e globalização?”.


(Foto: Zayra Brum.)


  É o caso, por exemplo, do absurdo de, numa casa, pai, mãe e filhos, cada um num cômodo da residência, com a TV sintonizada no mesmo canal. É o caso de uma “família”, sentada à mesa, para uma refeição, sem que cada um largue o seu celular, sem trocar uma única palavra entre si. É o caso de alguém tentar dialogar com outrem, que responde de forma mecânica, sem prestar atenção à conversa, por estar, simultaneamente, respondendo a um “e-mail”, pelo celular, conversando, pelo “zap” - às vezes, com mais de uma pessoa, ao mesmo tempo – e vendo as notícias veiculadas pelo G1. Isso é viver? Isso é fazer parte de um grupo social? Isso é se reconhecer numa comunidade? Resumindo, é essa grande crítica que a peça faz. Ela nos dá um grande “puxão de orelhas”, que não sei se adiantará alguma coisa. O ser humano parece que não tem mais jeito. Não! Não é pessimismo; é a nossa triste realidade.


(Foto Zayra Brum.)


     Numa homenagem aos 25 anos de luta e resistência da excelente COMPANHIA, vai aqui um pequeno histórico dela: “Uma companhia que nasceu nas ruas de Bonsucesso, fazendo pedágio artístico, para montar seus espetáculos, hoje é uma companhia reconhecida, nacional e internacionalmente, com mais de 200 prêmios teatrais, com apresentações na Europa e América Latina, com temporadas em teatros cariocas, de grande sucesso de público e crítica, composta pelos mesmos integrantes e com diversos projetos na área educacional e artística em andamento. Enfim, nós sabemos que fazer TEATRO no Brasil é um ato de resistência e acredito que essa seja a nossa missão: levar arte para todos, principalmente para as periferias e rincões brasileiros. Esta é a nossa missão!”. Essas foram palavras de RIBAMAR RIBEIRO.


(Foto Zayra Brum.)


  Aqui estão alguns dos grandes espetáculos encenados pela COMPANHIA, detentores de vários prêmios e indicações a outros: “Consummatum Est (2001), “Sobre Mentiras e Segredos (2006), “Genet – Os Anjos Devem Morrer (2010), “A Farra do Boi Bumbá” (2015) e “Ariano – O Cavaleiro Sertanejo” (2015).

 


 

FICHA TÉCNICA:

Texto: Fabiola Rodrigues e Ribamar Ribeiro

Direção: Ribamar Ribeiro

 

Elenco (em ordem alfabética): Carla Meirelles, Fabiola Rodrigues, Getulio Nascimento, Julio Cesar Ferreira, Nivea Nascimento e Renato Neves

 

Cenografia: Cachalote Mattos

Assistente de Cenografia (Criação): Julio Cesar Ferreira

Assistentes de Cenografia (Execução): Bea Corado, Erika Monteiro, Macla Gouvêa

Cenotécnicos: Moisés Cupertino e Carlos Felipe

Figurinos: Julia Paula

Assistente de Figurinos: Tiago Costa

Pesquisa de Figurinos: Getulio Nascimento e Julia Paula

Aderecistas: Cristiane Evangelista e Tiago Costa

Costureiras: Ana Maria Alves, Iara Gonzaga e Izabel Maria Lima

Perucaria: Márcio Paulino e Tiago Costa

Iluminação: Mauro Carvalho e Victor Tavares

Técnico de Iluminação: Victor Tavares

Operador de Luz: Mauro Carvalho e Victor Tavares

Música Original: Márcio Eduardo Mello

Coreografia: Deyjeane Costa

Maquiagem e Visagismo: Getulio Nascimento

Sonoplastia e Operação de Som: Ribamar Ribeiro

Programação Visual: Nivea Nascimento

Cineasta e Fotógrafo: Igor Mattos

Assistente de Vídeo: Kayo Monteiro

Operação de Vídeo: Igor Mattos

Programação de Sistema: Anna Beatriz da Costa Ribeiro

Administração de Redes Sociais: Nivea Nascimento

Pesquisa Corporal: Ribamar Ribeiro

Preparação Vocal e Fonoaudióloga: Juliana Santos

Locução: Rodrigo de Oliveira

Administração: Jessica Pereira

Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Assessoria

Fotos: Igor Mattos (estúdio) e Kaio Monteiro (cena)

Realização: Os Ciclomáticos Cia de Teatro


 


 


SERVIÇO:

Temporada: de 02 a 24 de junho de 2022.

Local: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto.

Endereço: Rua Humaitá, nº 163 – Humaitá – Rio de Janeiro.

Tel.: (21) 2535-3846.

Dias e Horários: quartas, quintas e sextas-feiras, às 20h.

Valor dos Ingressos: R$30,00 (inteira) / R$15,00 (meia entrada).

Duração: 70 minutos.

Classificação Etária: 12 anos.

Gênero: Tragicomédia Contemporânea Tecnológica.


 



        Agora, com a certeza de que gostei da peça, quero recomendá-la.

 

 

 (Agradecimentos: elenco e diretor.)



FOTOS: IGOR MATTOS 

(estúdio) 

KAIO MONTEIRO 

(cena)



GALERIA PARTICULAR:


 

(Com Ribamar Ribeiro.)

 


 

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 DO BRASIL,

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A ARTE EDUCA E CONSTRÓI, SEMPRE!!!

 

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