“TUDO FAZ SENTIDO,
MAS É MERA
COINCIDÊNCIA”
ou
(UMA GUERRA
DECLARADA
CONTRA NÓS MESMOS.)
A minha “preguiça”
gosta de que, quando vou assistir a uma peça de TEATRO, eu saia
dela com a certeza de que gostei ou não. Se gostei, em maior ou menor grau,
escrevo uma crítica; em caso contrário, não escrevo, limitando-me, apenas,
a divulgá-la, no Facebook, única rede social que utilizo, sem
recomendá-la. É, apenas, para contribuir para a sua divulgação, quando há
amigos envolvidos no projeto; mas não a recomendo, não lhe dou o meu
aval. Não posso recomendar algo que não me agradou; pode agradar a
outros, porque não me considero o dono da verdade, mas tenho um nome, no
mercado, a zelar. Quando, porém, deixo o Teatro na dúvida, isso
me dá uma raiva, porque me fará pensar muito, refletir sobre os prós e os
contras, para, afinal, perceber para que lado a balança pendc mais.
Isso aconteceu, no último
dia 8 (junho de 2022), quando assisti a “TUDO FAZ SENTIDO, MAS É MERA
COINCIDÊNCIA”, no Centro Municipal Cultural Sergio Porto, espetáculo
encenado por “OS CICLOMÁTICOS CIA. DE TEATRO”, sob a direção de RIBAMAR
RIBEIRO, em comemoração ao jubileu de prata da COMPANHIA.
Recebo vários “e-mails”,
diariamente, convidando-me para estreias e procuro aceitar todos os convites,
fazendo “mágicas”, para que tudo caiba na minha agenda. E faço
questão de ler, minuciosamente, todo o “release”, enviado pelas assessorias
de imprensa, antes de ir ver a peça. Há aquelas (assessorias)
que, nos “releases”, pecam por carência de conteúdo e as que
exageram nas informações ou as repetem. Ou as que os redigem de forma
hermética, confundindo, mais do que clareando, a mente do pobre do crítico.
Mas isso é outra história.
A MARRON GLACÊ
ASSESSORIA E AGENCIAMENTO, dos meus queridos amigos GISELE MACHADO e
BRUNO MORAIS, que faz a divulgação do espetáculo, enviou-me o “release”
do espetáculo aqui analisado. Considero a MARROM GLACÊ uma das
melhores do Rio de Janeiro e, quiçá, do Brasil, porém, desta vez, eles
quase fizeram explodir a minha cabeça. Obviamente, o que uma assessoria de imprensa
põe no papel é baseado nas informações que chegam a ela pela produção do espetáculo.
Pronto! Já transferi a culpa. (Momento descontração!). Mas, também, não
estou aqui para culpar ou julgar ninguém, entretanto o fato é que, quanto mais
eu lia, e relia, o tal “release”, menos entendia a proposta do espetáculo
e o que eu iria ver em cena. Mas não precisava escrever tanto, “enfeitar
tanto o pavão”. Ainda que o texto seja, por muitas vezes,
hermético, dá para se entender, de uma forma não muito complicada, o recado que
o elenco deseja nos passar, enviado pelo dramaturgo, o próprio RIBAMAR
RIBEIRO, junto com FABIOLA RODRIGUES, a qual também faz parte do elenco,
completado por CARLA MEIRELLES, GETULIO NASCIMENTO, JULIO
CESAR FERREIRA, NIVEA NASCIMENTO e RENATO NEVES.
SINOPSE:
Abordando a relação das pessoas com
as tecnologias, a montagem questiona a adequação de convívio entre ambas
e sua influência nas relações interpessoais.
A trama evidencia a conexão virtual e
seu impacto na sociedade, apresentando uma família, supostamente, feliz, que
vai se desfazendo, aos poucos, analisando, através das vivências com as redes
sociais, as “fake news” e o “cyberbullyng”, dentre
outros aspectos digitais, como conviver com a internet, sem que ela seja o mote
de condução da vida.
Como se pode observar, pela
SINOPSE, não há nada de complicado para ser compreendido pelo público. O
que chegou perto de me gerar um nó na minha cabeça e fazer com que eu quase “ficasse
órfão de Tico e e Teco, os quais chegaram a pensar em me deixar sozinho”, foi a linguagem
empregada no “release”, e, também, acho que contribuiu, para isso, o
fato de eu ir preparado para assistir a algo que marcou o estilo e o repertório
da COMPANHIA, nesses 25 anos, e ser apresentado a algo
completamente diferente do que estão acostumados a mostrar, uma opção do diretor
e fundador dela, que respeito, por ser um direito que lhe cabe. Foi uma espécie
de choque, para mim? Foi. Acredito que, também, para muita gente, que, como eu,
é fã do trabalho do grupo. Mas não doeu; só causou uma certa estranheza.
Levei a viagem de volta até
minha casa, mais um tempinho, antes de pegar no sono, e o dia seguinte inteiro,
pensando na peça, cena por cena, detalhe por detalhe, para saber se eu
havia gostado dela e, portanto, dedicar-lhe uma crítica, até que, por
fim, cheguei ao meu veredito e bati o martelo: gostei do espetáculo. Como costumo
dizer, em tom de brincadeira, “não é uma Brastemp, mas dá para gelar a cervejinha
do domingo”, o que significa dizer que não me pareceu à altura dos espetáculos
anteriores da COMPANHIA, mas, é uma peça de boa qualidade, na qual alguns
elementos merecem destaque.
Não morri de amores pelo texto,
mas a ideia, ainda que não tão original, foi muito bem aproveitada. O cenário, meio “high tech”, criado por CACHALOTE MATTOS, por
exemplo, é um deles. Há uma “simbiose” muito grande, e produtiva,
entre ele e o trabalho de MAURO CARVALHO e VICTOR TAVARES, os quais idealizaram a iluminação.
A utilização dos “leds” e os demais efeitos de luz são
ótimos. Também me chamaram a atenção os criativos figurinos, assinados
por JULIA PAULA, bem dentro da proposta, até mesmo - podemos considerar
- meio “futurista”, do visual completo, de tudo o que se encontra
no espaço cênico.
A direção, de RIBAMAR
RIBEIRO, como sempre ocorre, me pareceu bem correta - sempre, insisto -,
dentro da proposta da peça, e, quanto ao elenco, este é da
melhor qualidade, completamente nivelado, adequando-se, em total harmonia e perfeição,
ao ritmo frenético, como são ditas as frases. Os diálogos são muito ágeis,
e os atores estão muito bem afinados neles. Parece um jogo de pingue-pongue; mas não entre
amadores, e sim daqueles travados entre os grandes campeões, numa Olimpíada,
por exemplo. As “raquetadas” são dadas de forma muito rápida e
vigorosa, assim como os “rebates”; e “a bola nunca vai ao
chão”. Em momento algum, percebi um titubear de algum dos que fazem
parte do excelente sexteto.
Não ficaria, porém, em paz com a minha consciência, se não destacasse o nome de um ator daquele elenco, GETÚLIO NASCIMENTO, que interpreta o “pet” da casa, o terceiro filho, “o de quatro patas”, o CACHORRO. Além de um ótimo ator, GETÚLIO canta, maravilhosamente, duas vezes, durante o espetáculo, sendo que, numa delas, interpreta um trecho de uma ária da ópera “Il Pagliacci” (“Os palhaços”), de Ruggero Leoncavallo, que quase me levou às lágrimas. Em outro momento, GETÚLIO nos brinda, lindamente, com o refrão de “Eleonor Rigby”, de Lennon e McCartney (“Ah, look at all the lonely people! / Ah, look at all the lonelly people!"). Foi o suficiente para me arrepiar. Pena que não cantou a canção toda!
Extraído do já citado “release”, uma declaração do diretor do espetáculo: “Abordamos a contradição, que é ver personagens conectados, o tempo inteiro, nas redes sociais e com a mídia, mas com as relações interpessoais se desfazendo. Então, falamos da existência da incomunicabilidade e desta excessiva narrativa narcisista do ‘eu’, onde temos que fazer com que tudo seja postado e visualizado o tempo todo. Esta é a reflexão do espetáculo, que coloca o dedo na ferida das consequências que este excesso de exposição e julgamento virtual pode trazer a curto e longo prazo. Que mundo queremos? Claro que queremos nos comunicar, mas será que não estamos sendo engolidos por esta tecnologia e esta falsa sensação de comunicação e globalização?”.
(Foto: Zayra Brum.)
É o caso, por exemplo, do absurdo de,
numa casa, pai, mãe e filhos, cada um num cômodo da residência, com a TV sintonizada
no mesmo canal. É o caso de uma “família”, sentada à mesa, para
uma refeição, sem que cada um largue o seu celular, sem trocar uma única
palavra entre si. É o caso de alguém tentar dialogar com outrem, que responde de
forma mecânica, sem prestar atenção à conversa, por estar, simultaneamente, respondendo
a um “e-mail”, pelo celular, conversando, pelo “zap”
- às vezes, com mais de uma pessoa, ao mesmo tempo – e vendo as notícias veiculadas
pelo G1. Isso é viver? Isso é fazer parte de um grupo social?
Isso é se reconhecer numa comunidade? Resumindo, é essa grande crítica que a
peça faz. Ela nos dá um grande “puxão de orelhas”, que não sei se
adiantará alguma coisa. O ser humano parece que não tem mais jeito. Não! Não é
pessimismo; é a nossa triste realidade.
(Foto Zayra Brum.)
Numa homenagem aos 25
anos de luta e resistência da excelente COMPANHIA, vai aqui um pequeno
histórico dela: “Uma companhia que nasceu nas ruas de Bonsucesso, fazendo
pedágio artístico, para montar seus espetáculos, hoje é uma companhia
reconhecida, nacional e internacionalmente, com mais de 200 prêmios teatrais,
com apresentações na Europa e América Latina, com temporadas em teatros
cariocas, de grande sucesso de público e crítica, composta pelos mesmos
integrantes e com diversos projetos na área educacional e artística em
andamento. Enfim, nós sabemos que fazer TEATRO no Brasil é um ato de
resistência e acredito que essa seja a nossa missão: levar arte para todos,
principalmente para as periferias e rincões brasileiros. Esta é a nossa
missão!”. Essas foram palavras de RIBAMAR RIBEIRO.
(Foto Zayra Brum.)
Aqui estão alguns dos grandes espetáculos encenados pela COMPANHIA,
detentores de vários prêmios e indicações a outros: “Consummatum Est
(2001), “Sobre Mentiras e Segredos (2006), “Genet –
Os Anjos Devem Morrer (2010), “A Farra do Boi Bumbá” (2015)
e “Ariano – O Cavaleiro Sertanejo” (2015).
FICHA TÉCNICA:
Texto: Fabiola Rodrigues e
Ribamar Ribeiro
Direção: Ribamar Ribeiro
Elenco (em ordem alfabética): Carla
Meirelles, Fabiola Rodrigues, Getulio Nascimento, Julio Cesar Ferreira, Nivea
Nascimento e Renato Neves
Cenografia: Cachalote Mattos
Assistente de Cenografia (Criação):
Julio Cesar Ferreira
Assistentes de Cenografia (Execução):
Bea Corado, Erika Monteiro, Macla Gouvêa
Cenotécnicos: Moisés Cupertino e
Carlos Felipe
Figurinos: Julia Paula
Assistente de Figurinos: Tiago Costa
Pesquisa de Figurinos: Getulio
Nascimento e Julia Paula
Aderecistas: Cristiane Evangelista e
Tiago Costa
Costureiras: Ana Maria Alves, Iara Gonzaga
e Izabel Maria Lima
Perucaria: Márcio Paulino e
Tiago Costa
Iluminação: Mauro Carvalho e Victor Tavares
Técnico de Iluminação: Victor
Tavares
Operador de Luz: Mauro Carvalho
e Victor Tavares
Música Original: Márcio Eduardo
Mello
Coreografia: Deyjeane Costa
Maquiagem e Visagismo: Getulio
Nascimento
Sonoplastia e Operação de Som: Ribamar
Ribeiro
Programação Visual: Nivea
Nascimento
Cineasta e Fotógrafo: Igor
Mattos
Assistente de Vídeo: Kayo Monteiro
Operação de Vídeo: Igor Mattos
Programação de Sistema: Anna Beatriz
da Costa Ribeiro
Administração de Redes Sociais: Nivea
Nascimento
Pesquisa Corporal: Ribamar
Ribeiro
Preparação Vocal e Fonoaudióloga: Juliana
Santos
Locução: Rodrigo de Oliveira
Administração: Jessica Pereira
Assessoria de Imprensa: Marrom
Glacê Assessoria
Fotos: Igor Mattos (estúdio) e Kaio Monteiro (cena)
Realização: Os Ciclomáticos Cia
de Teatro
SERVIÇO:
Temporada: de 02 a 24 de junho de
2022.
Local: Espaço Cultural Municipal
Sérgio Porto.
Endereço: Rua Humaitá, nº 163 –
Humaitá – Rio de Janeiro.
Tel.: (21) 2535-3846.
Dias e Horários: quartas, quintas e sextas-feiras,
às 20h.
Valor dos Ingressos: R$30,00
(inteira) / R$15,00 (meia entrada).
Duração: 70 minutos.
Classificação Etária: 12 anos.
Gênero: Tragicomédia
Contemporânea Tecnológica.
Agora, com a certeza de que gostei da peça, quero recomendá-la.
FOTOS: IGOR MATTOS
(estúdio)
e
KAIO MONTEIRO
(cena)
GALERIA PARTICULAR:
(Com Ribamar Ribeiro.)
E VAMOS AO TEATRO,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
OCUPEMOS TODAS AS SALAS
DE ESPETÁCULO
DO BRASIL,
COM TODOS OS
CUIDADOS!!!
A ARTE EDUCA E
CONSTRÓI, SEMPRE!!!
RESISTAMOS, SEMPRE
MAIS!!!
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TEXTO,
PARA QUE, JUNTOS,
POSSAMOS DIVULGAR
O QUE HÁ DE MELHOR NO
TEATRO BRASILEIRO!
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